quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Meio Cheio & Meio Vazio

     Bem já é época, passam os dias por mim e quanto mais os vivo mais rápidos eles se tornam no seu caminhar, transformou-se em praxe interrogar-me em cada fim de ano para fechar uma contabilidade de atitudes, já o sei é um balanço sem sentido prático visto que o já feito não tem retorno e o a fazer só o momento preciso determinará os ingredientes necessários para a tomada de decisão.

     Todavia não posso negar a humanidade tem a maior explosão de “boa vontade” por metro quadrado em um curto espaço de tempo todos os anos neste período, eu como todos consigo domar o que determino serem meus vícios, e planejo o que imagino serem minhas futuras virtudes, nunca canso de redimir-me do que carrego como imaginárias culpas, sim não são reais e me são impingidas como se o fossem bem o sei.

     Desejo para o mundo um conjunto de abstratas maravilhas virtuais embutidas em sequências de palavras, expressas em frases escritas, faladas ou montadas em vídeo como se pudessem representar algo real, são apenas a projeção intelectual de uma resposta à cobrança de outrem com toda a sua carga de descompromisso no sentido de qualquer possível dirigir-se em direção a alguém, cada vez mais me especializo em representar a vida em lugar de vivê-la é a sentença que leio em mim mesmo.

     Meio vazio é saber-me impotente em conter a multidão que busca exercer seu poder sobre outros iguais, com suas estratégias de fins a justificarem meios, onde suas verdades tão particulares obtidas pela simplificação conceitual de que seus esforços são legítima defesa contra o que prepotentemente definiram como seu direito de posse na humanidade e na natureza. 

     Meio cheio é perceber-me inquebrantável quando sistematicamente presto contas só e tão somente a mim mesmo pelo simples fato que sendo justo comigo mesmo o sou para com todos, não encontro nenhuma possibilidade de corresponder-me em meus anseios sem estar o fazendo em relação a toda a humanidade e natureza.

     Só temos essa relação meio vazio meio cheio, pela transição que vivemos neste momento histórico, esgotam-se rapidamente todas as razões que justificam manter este modelo equivocado de sociedade, o homem desinteressa-se rapidamente por seu entorno sem significado e inicia a busca interna das verdades que perdemos com o pecado original da posse.


     Estou acostumado a olhar pelos dois lados, tanto o do meio cheio como o do meio vazio, só assim consigo alçar voo, só assim consigo enfrentar-me no combate pela verdade, só assim consigo sentir-me pleno, justo e gostar de mim como pedra fundamental de relacionamentos com iguais, então que venha 2016.    

domingo, 27 de dezembro de 2015

Polêmica Estória de Difamação

     Ele me chamou, estava no meu canto quieto nulo como sempre, quis compreender, não havia história possível, fiquei atento pretendia decifrar o que viria, não consigo fugir sempre quero saber, na medida em que ele caminhava na minha direção, cada vez mais próximo eu perplexo tentava desvendar o motivo, sabia que havia algo por trás da simples chamada do meu nome, não conseguia desvendar sua oculta motivação me faltavam lembranças.

     “Cara percebeste o que fizeste”, foi o impacto da primeira frase que ouvi após o meu nome, continuei perplexo não tinha a menor ideia sobre o que ele estava falando, mas por certo além da surpresa me remoia uma culpa, bem coisa minha eu sei sempre por trás da indisposição de terceiros acreditava ter parte nisso, alguma coisa eu teria por certo feito.

     “Não posso crer que tenhas escrito sobre nós”, continuou ele, calado eu tentava resolver o enigma de onde ele queria chegar? Rapidamente minhas últimas postagens passaram pelo meu cérebro, em uma revisão impecável concluí não nunca tinha escrito algo que tivesse a ver com ele, nem poderia nossas relações senão inexistentes eram estritamente sociais.

    “Droga essa era uma questão de nós dois nunca te autorizei a colocá-la em público”, continuava ouvindo-o enquanto ele acelerava os passos, agora sim eu estava mesmo enlouquecido nunca nada de relevante e inspirador tinha acontecido entre nós que justificasse uma publicação minha nem direta nem indiretamente, convivíamos por mero acaso, por passarmos pelos mesmos lugares e era só.

     “Minha confiança em você está destruída não posso mais me relacionar com alguém que escancara meus sentimentos”, agora sim já ouvi essas palavras com ele parado na minha frente, ele está perturbado foi a última coisa que me passou na cabeça, pois não tinha intimidade suficiente para relatar qualquer coisa que tivesse nos acontecido, até porque não nos aconteceu nada realmente, ou será que algo possa ter havido talvez eu tivesse tão bêbado que não mais me lembrava, lá vou eu de novo achando razões para os outros.

     Lembrei-me então de uma postagem em primeira pessoa por mim publicada, e percebi pelas críticas que me dirigia que simplesmente ele deduziu que o texto tinha algo a ver consigo, bom tenho que abrir o jogo para vocês eram questões de foro íntimo, que nunca tinha comentado com ele nem com mais ninguém, onde me criticava por certas posturas individualistas que tomava, e sei lá que número de chapéu ele assumiu como do tamanho de sua cabeça vendo o mesmo como uma afirmação direta de imaginárias confidências por si a mim feitas.

     Ficou nebuloso escrever, pois só posso falar do que sei por mim mesmo e não tenho como garantir que isto não encaixe em um pensar de alguém, se este alguém o ler e julgar como uma referência direta à sua vida, não tenho como contestar, a imagem desenhada na cabeça de quem lê nada tem a ver com a por mim projetada, mas isso só funciona no mundo real que como todos sabem inexiste.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Natal do lado de dentro e de fora.

     Quando enfrento olho no olho o meu espectro, aquele que nunca quero sua existência admitir mesmo que desde sempre o conheça como meu eu real, surpreendo-me com a pouca significância que ele encontra nos acontecimentos, pode parecer grotesco a você para ele um sim e um não tem um mesmo gosto, andar na chuva a descoberto gera o mesmo prazer do sol escaldante, muitas vezes o sorriso é mais forte na derrota que ele sabe percebida pelos outros do que na própria vitória por estes festejada.  

     Pois é, tempo de temas natalinos, com crise ou sem crise movimentam-se as engrenagens destinadas à circulação do vil metal, apelido dado à moeda circulante, também conhecido por dinheiro, a mensagem que como um todo o conjunto social passa é de que afeto se compra, não é uma mensagem exclusiva desta data, hoje se propaga por muitas datas distribuídas no ano e destinadas ao mesmo foco uma improvável compra de felicidade.

     O contraditório é este continuado desvendar do efeito que um pequeno gesto, uma palavra com discrição dita, o próprio fato de comportar-me nos conformes de meus impulsos internos, preocupam-me em sua causa no outro, consigo encontrar milhares de motivos que justifiquem na origem de meus atos seu desconforto lhe dando sempre razão, como os aceitos não conseguem explicar-me minhas reflexões já que nunca há aderência nem reflexo em mim o ato do outro.

     Escondidos nestas grandes manifestações de júbilo como a comemoração natalina estão esmagados uma grande maioria de pessoas pela distribuição injusta da renda que as humilha na desproporção que percebem entre os prêmios de seus afetos em comparação às benesses dadas aos poucos que ostentam o poder produzido por apropriação indevida de recursos que de todos são porque quem os gera é a natureza.

     Aceito sim o permanente nascimento em mim da compreensão que causa e efeito existem de maneira absoluta apenas como origem e destino de mim mesmo, existe por certo uma imagem pública que coloco a circular ela pode tanto entristecer-se como alegrar-se, apenas reagir ou tomar a iniciativa de atacar, ser indiferente ou envolvente enfim apaixonar-se ou odiar, mas sempre é apenas o boneco marionete que coloco a representar a vida, pois o real esconde-se no eu que o manobra e desvenda.      

     O Natal, como nascimento tanto dentro como fora é o sonho dourado de sermos natureza, sonho este que não quero abrir mão, um mundo sem os artifícios que usamos no dia a dia em nossas relações pessoais e na ilusória sociedade que criamos para o desfrute de tão poucos.            

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Espaço Descoberto

     Sempre tive certeza de que você tinha razão na lógica do seu raciocínio, você que me desafiava todos os dias com seus ditos fatos reais, escancarando momentos infelizes da humanidade como se resultassem de fraquezas inatas ao homem, sua ideia de condená-lo a ser bom ou mau nessa dualidade que por si só justifica todas as coisas absurdas que ocorrem em nossa volta.

     Apenas nunca aceitei a base sob a qual estabeleceste essa lógica maquiavélica, condenar por critérios impossíveis de serem imparciais por si só estabelece falta de justiça, por que a revelação divina não é propriedade de todos? Com base em que descendência nascem alguns com maiores direitos, mais iguais? Quem determina esses critérios e com que autoridade?

     Nos falta por certo um grande esforço e determinação para desvendar a questão do existir, não consigo ver realmente empenho nesta busca, como se a descoberta pudesse nascer do simples passar do tempo, mantenho meu lamento quanto nossa dedicação em excesso à arte da especialização nos afastando do foco no principal que é a natureza humana.

     Sempre quis achar um espaço onde fosse possível construir relações livres, a não adaptação aos espaços pré-existentes sempre me perseguiu, não que me pareça obrigatório construir um espaço novo, o problema está em encontrá-lo pronto e adequado a esse tipo de propósito, reconheço que só podemos imaginá-lo viável partindo da ideia de que quem o utilizará seja livre, então vislumbraremos a materialização do espaço, segundo me parece, em um lugar que pode ser qualquer.

     Por certo não estou falando de um pedaço de céu, muito menos de um recanto qualquer da Terra, menos ainda combinando duas palavras em formato de tese, hoje todos os esforços que realizamos apontam para o caminho da submissão, eventualmente a teses, às vezes a deuses e pior ainda muitas vezes a humanos, romper este ciclo, libertar-se como indivíduo é o único destino que nos possibilita a descoberta do espaço das relações livres. 


     Este é o fórum que todos procuramos a terra prometida boa e espaçosa onde “jorra leite e mel” se nos lembrarmos dos dizeres bíblicos, que é para mim o lugar onde não há governo, onde inexistem leis, e sim apenas a convivência fraterna de iguais em caminhada conjunta por paz e justiça celebrando a vida. 

sábado, 19 de dezembro de 2015

No Calor do Momento

     Aflito eu reescrevo meus passos tal qual nosso famoso Dom Quixote, passando por tolo quem como cavaleiro andante, apesar de todas as suas limitações, buscava sempre fazer em prol de outrem algo de justo, a sociedade o julgava com as lentes da notória hipocrisia da época, o que por certo se hoje fosse julgamento muito diferente não o teria, a famosa lei do desvio padrão quem foge da média é alvo do ridículo e da contestação apresentando-se estes como violência física inclusive.

      Por que aflito? Por uma natural ansiedade de encontrar mais e mais espíritos transformados nos caminhos da existência, em tempo de excesso de velocidade nas decisões difícil é curtir a paciência quando sonhamos com o homem novo, mas tenho consciência que este só pode nascer de dentro para fora como nos ensina a natureza do nosso acontecer, partindo de uma primeira célula e transmutando-se no ser complexo que o somos.

     Tropeçando seguidamente em indivíduos comprometidos com a forte negação do pensar em nome do viver, tentado fico a negar-me no princípio que me é muito caro de não aceitar viabilidade na intervenção sobre a vida de iguais, sempre penso em parar, chamar para uma conversa, dedicar um tempo como se possível fosse existir um espaço mínimo para mudarmos as pessoas.

     Sou adepto da violência zero tanto das organizações como dos indivíduos defendendo a eliminação completa das armas usadas para sua execução, incluindo entre as armas o próprio argumento, não só não devo, como nem mesmo tenho direito de portando sutileza tentar dobrar alguém em sua convicção, a crença construímos de maneira particular, pessoal e intransferível, posso admitir similitude entre as diversas construções cerebrais dos diferentes seres humanos que por assim serem podem definir-se por iguais.

     Não há calor do momento que justifique qualquer quebra a este preceito da soberania única e não delegável do corpo e da alma, quando assim o fazemos estamos destruindo a nós mesmos no que temos de mais nosso o direito de existir, malditas sejam as armadilhas intelectuais que criamos com intuito de dobrarmos os espíritos livres permitindo que se lhe roubem o existir submetendo-os à escravidão intelectual e física da dependência do outro.


     Para mim, a denúncia permanente dessas estruturas viciadas ponho como dever, a busca de uma existência transparente assumo como tarefa do meu dia a dia, dar visibilidade é sim tudo que me compete fazer permitindo que o livro assim escrito seja lido por quem o desejar, sempre com o discernimento de que o livro lido nunca é o escrito.   

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Encantamento o Canto da Sereia

     Hollywood nos ensinou a ver seres metade mulher metade peixe, são lindas e encantadoras as ditas sereias, andam pela terra causando fortes emoções em quem as vê, nem que seja tão somente nos filmes, quase todos nós sabemos que na antiguidade essas criaturas eram conceitualmente definidas como muito feias, mas quando cantavam sim senhores quando soltavam a voz não tinha quem lhes resistisse, o canto era o seu sublime encanto.

     Não está longe de ser um sonho universal de consumo a magia de camaleão que nos transforma na cabeça do outro no seu objeto de desejo, assim como a sereia que nos prende, nos escraviza ao seu poder de sedução, também queremos na convivência com quem pretendemos partilhar nossas causas envolvê-los nestas teias delicadas da ilusão.

     Não é todo o dia que abrimos as portas para a negociação, também nem sempre ela aparece como tal, por vezes é apenas um disfarce, uma sutileza que esconde uma imposição, é assim que somos, assim que funcionamos buscando os argumentos certos para o convencimento do outro independente de em nós tê-lo como interna razão, prometemos-lhe o que dele queremos cobrar tornando-o refém dos nossos desejos.

     Há momentos que, com o pretexto de abrirmos uma relação harmoniosa, cobramos do outro um pacto de aceitação mútua de atitudes espelhadas, caso não o queiras deves retirar-te ou ajusta-te as minhas ideias ou apronta-te para outra relação, em outras palavras o queremos moldado aos nossos sonhos encantado por nós exercendo o papel de sereia.

     Passamos a vida treinando dizer a coisa certa para a pessoa adequada, tanto o fazemos que dos nossos argumentos afastam-se a justiça e a verdade, sobrando apenas os fins para validá-los e justificá-los, toda a palestra destina-se então somente ao domínio almejado, nunca o objetivo é a busca de entendimento, assim corrigimos as frases conforme os fins desejados, não passando incólume das egoístas razões da meta pessoal a alcançar.

     Urge aumentarmos o silêncio do ouvir, aquele silêncio do ruminar as palavras na direção da compreensão do seu sentido que só pode existir agregado ao conhecer de quem as fala, colocando-se no contexto da disposição ao entendimento, extraindo o conteúdo não gramatical e sim de representação do ser e da sua existência e sua tentativa de se manifestar através delas.


     Quando as palavras colocam-se assim a serviço de ajudar a ver interiores de pessoas, auxiliar a sermos olhados em nossas essências, normalmente são poucas em número e sem pressa de acontecerem como companhia preciosa da prontidão sentinela de todos os nossos sentidos.   

domingo, 6 de dezembro de 2015

Perdido entre Cânions

     Assustadores paredões tal qual cânions conformam-me caminhos que por certo não escolhi criados também por processos de erosão se não em milhão pelo menos milhares de anos civilizatórios, esculpiram-se principalmente pela ação dos ventos do poder e das águas da acomodação, por certo um bom lugar para me perder de mim mesmo.

     A persistente ação do tempo, o qual nem podemos existência garantir, pode apenas ser uma explicação do nosso pouco saber, cismado sempre fico com o pouco que dedico a explorar poderes que o bem sei que tenho não como diferenciado, mas sim como igual, ou seja, direitos que todos os possuímos.

     Porque me tomo logo hoje a tratar desse tema, só pelo fato de ter certo entendimento que apenas a minha incompetência pode justificar os ultrapassados mecanismos que uso para viver, talvez essa palavra “viver” seja muito forte, quem sabe opto por “sobreviver” muito mais adequado a sofrível exploração das minhas potencialidades.

     Neste nosso mundo dos ocupados desesperadamente correndo atrás de preenchimento do tempo, que nos tira nossa sensata propriedade de autoridade sobre corpo e espírito, justifica-se o merecido vestir do apelido de marionete, por certo tendo ainda como agravo o estado de absoluto desconhecimento de quem nos manobra.

     Quanto tempo nós perdemos dissecando corpos e espíritos em busca de um entendimento que não está localizado nas partes e sim no todo, dessa junção poderosa de corpo e alma é que precisamos iluminação, seu funcionamento harmônico é o desafio de nossos tempos com a missão de entendendo-o assumirmos o controle total de suas potencialidades.

     Derrubar estes muros, fugir do caminho comum, encontrar nosso espaço-tempo individual elevarmo-nos na potência máxima do ser humano e assim tornarmo-nos capazes de alumiar a natureza exercendo finalmente a paterno-maternidade do próprio ato de ser.

     Perdidos entre cânions nunca mais, o fato é que desvendado o poder inexiste e como estrelas podemos voltar a brilhar no universo integrando-o em todas as suas forças no destino assumido em direção à vida.  

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Quão Difícil a Simples Alegria.

     Dobro a esquina, a cinco passos já na nova quadra percebo um vulto que se aproxima, apesar do sombreado das formas difusas já o processei se conhecido me é, salvo as raras vezes que como enganos justificam o acerto de sempre, meus mecanismos internos já identificaram o personagem, os músculos da face preparam-se para o cumprimento, para alegria do encontrar um meu semelhante.

     Assim como em um bonito dia de sol sem esperarmos num repente somos surpreendidos pelo povoamento do céu por nuvens negras e em sua companhia um vento forte cheirando a tempestade, também os movimentos das minhas fibras do rosto são suspensos em meio ao caminho da direção ao sorriso, o que deveria ser uma simples reação ao encontro doutra alma, transmuta-se em um grande circo com muitas atrações resgatadas da memória consciente ou não à procura de definir o modo de reagir.

      Perdi o momento, o tal do sorriso não nasceu, abortou-se entre o ser e o não ser, havia motivos de sobra para que emergisse contagiante em direção ao meu semelhante, claro algum “senão” por certo também sempre aparece, enquanto não processei seus prós e contras congelado o mesmo ficou, resultou sendo um instante meu interno sem que pudesse o outro compartilhar, ficou-lhe às escuras o meu manifestar.

     Assim quantas vezes aborrecido reclamo das caras sisudas, ou no mínimo indefinidas com as quais cruzo nas minhas andanças por aí, posso imaginar que em seu íntimo talvez nos tenham sorrido sem que eu o identificasse, o bem que poderiam fazer-me perdeu-se na absurda lógica do processo de decidir, faltou a decisão inicial de bem querer.

     Além de perdermos todos, por certo um mundo repleto de alegrias que um sorriso tão bem representa ganhe qualidade de vida, fico pendente comigo mesmo de um proativo posicionamento na direção do outro meu igual, o que por certo diminui também a alegria interior aquela que ilumina o nosso existir.

     Presente na lista dos meus propósitos o ser mais alegre, para ser mais exato, manifestar-me com alegria do jeito que possa ser facilmente percebido por todos, e não apenas isso como também que o possam interpretá-lo como consequência do fato de me encontrar com eles.

     A convivência da alegria na sociedade por certo é um grande passo na contramão da violência, pessoas alegres não têm tempo de mal querer e contagiam o ambiente na direção da felicidade evitando a tensão do jogo entre dominados e dominadores no eterno exercer do poder.  

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

A Fantasiosa Procissão da Dor

     Lado a lado de pé em pé eles marchavam lentos a passo onde ninguém conseguia enxergar no outro senão fantasia, preservando-se para si a primazia na realidade da dor, caminhava na minha contramão essa procissão misteriosa, era uma coluna de personagens representando um teatro de dores, andavam juntos e nada tinham em comum a não ser sua dor particular, incapazes de ver noutro algo similar ao que sentiam em si, nele doía no outro era capricho.

     Quando encontro a tristeza escondida em alguém, nem sempre a identifico de pronto, impossível é entendê-la mais difícil ainda ser solidário com o incompreendido, parece-me fácil abandoná-la, sim livrar-me da tristeza, não sendo legítima em mim por ser imagem, no outro onde é real, machuca, parece um ácido que o vai comendo por dentro, pelo menos um pouco serve de bálsamo conversar sobre a mesma.

    Neste instante o vi com aquele buraco enorme, aquele vazio que preenche por dentro o desconforto físico de um sentimento de ausência, falta tudo excesso de nada, mexe os músculos do peito, provoca uma sensação de desconforto na barriga, complica o aparelho respiratório, seu coração bate rápido, sei que ele existe aposto no seu crescimento dentro do outro, apenas sou solidário tentando compreender o que vem a ser esse maldito vazio existencial.

     Este que vi ali com sua dor de amor, por sinal estranha falta de presença, também é visto envolvido em rimas poéticas onde projetam um sonho incompatível com a realidade, um romantismo que mais é autopiedade, muito é vontade de magoar-se, isso assim o é visto do meu lado quando por certo do outro lado que a curte em nada se parece com ilusão e sim se apresenta como ferida d’alma.

     Passo pelos que possuídos do doentio ciúme que nada mais é do que certificado de uma propriedade que se sabe inexistente, só existe na gente no outro é fraqueza ou alucinação, vejo-o refletindo sua insegurança na criação fantasmagórica de um vilão de novelas, ele cria, recria essa personagem que lhe sabota minando em si um ser menor do que realmente é.


     Protejo-me como posso para evitar incorporar-me nessa fantasiosa procissão, tento sempre que posso resgatar alguém dessa fila injusta, mas sou impotente, não existem argumentos que se encaixam na lógica interna desta construção inadequada que é a do ser tomado pela dor. 

sábado, 28 de novembro de 2015

Bailado Sinistro

     Disjuntos curtiram o mesmo tom, dançando em lugares diferentes a mesma música, apesar do número crescente somos poucos...

     Andando a esmo pelas calçadas de nossas cidades tropeço ante a cena insólita, aqueles dois de mim perfeitos desconhecidos a enfrentarem-se, na calçada, na rua, nos bares, nas casas, aos gritos troca de palavras ásperas quando não explosões de violência física ou ainda exercícios de discriminação com humilhação pública, os participantes são incógnitos a cena não o é, mais e mais vezes deparo-me com ela e sempre resulta para mim a sensação de um nocaute próximo do bem querer.

     Disjuntos curtiram o mesmo tom, dançando em lugares diferentes a mesma música, apesar do número crescente somos poucos...

     Quando percebo esbarro neste murro imaginário, de fato não tão ilusório porque força-me a interromper a direção do realizar-me como potência, é o discurso e sua força de possessão sobre o homem, o símbolo se faz criatura e a construção mental poder, suplantando a própria força do existir, criado à imagem e semelhança deste, funciona como plena justificação de atitudes dirigidas contra a vida, o que por certo nos diminui por nossa transmutação de seres donos da existência para fantasmas escravos das ideias.   

     Disjuntos curtiram o mesmo tom, dançando em lugares diferentes a mesma música, apesar do número crescente somos poucos...

     Não estando em fuga sinto-me foragido não encontro o mundo onde se enquadre o homem que acredito, neste bailado sinistro do consumismo não me encaixo senão por engano em momentos de fraqueza que por certo todos os temos, e quando tentado a abraçar a violência e a fantasia das ideias conto com a luz de tantos outros que como eu são estrangeiros neste modelo de sociedade para que possa aprumar meu rumo na busca da sustentabilidade da vida.

     Disjuntos curtiram o mesmo tom, dançando em lugares diferentes a mesma música, apesar do número crescente somos poucos...
    
     Só iniciamos esta metamorfose onde o homem se faz existência integradora no conjunto das forças naturais, harmonizando-se com seus iguais que o são todos os seres vivos e mortos substituindo o bailado sinistro pelo ditirambo que em seu coro é a própria personificação do seu ideal Homem-Deus-Homem, se devemos nos ajoelhar frente a alguém só pode ser perante nós mesmos.

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Decididamente Não Sei!

     Espera minha cara amiga necessito um pouco da tua paciência, desabam espaços sob os meus pés, não minha princesa, não estou bêbado, realmente o chão não mais é apoio confiável, rebelou-se por completo fazendo o que bem entende dando adeus ao meu equilíbrio, já sei vais dizer-me que estou exagerando, que estou lendo demais, desperdiçando meu tempo com pensamentos desnecessários, talvez até frequentando cinemas em exagero, valha-me deus este mesmo que inexiste, preciso de um ponto de apoio para poder ajudar a segurar a terra.

     Nada de confusões não sou candidato a super-herói ou à Atlas, para ser mais exato não sou candidato a nada, nem mesmo a um espaço em teu coração embora talvez o sonhe, apenas me credencio ao simples “Existir” este assim com letra maiúscula mesmo, não o que os dicionários traduzem por “ter existência real, ter presença viva, viver, ser”, a questão da vida que aí aparece não permite dúvidas o medo da morte a confirma, porém “real”, “presença” e “ser” são palavras por demais fortes para poderem ser aceitas assim ao sabor do vento.

     Se for para me jogar palavras pode deixar, quem as precisa? São fantasias puras nem mesmo podem ser entendidas da mesma maneira por mais de um ser humano, o que quero é poder olhar-te por inteira, observar um a um os detalhes de teu gesto, não só de olhos também de boca e língua, de nariz, de ouvido, de mãos e pele, cansei-me dos conceitos que apenas me afastam de ti, quero os sentidos que nos aproximam.

     Embora desconhecendo o autor da frase a “poesia fala dos mortos”, pois o poeta necessita matar seu objeto de paixão para sofrer o falar com o sonho inatingível, e assim construir sua musa, sem discriminação de gênero à imagem e semelhança de sua alma, inventando o amor, afaste-se de mim essa tentação intelectual coroe-me com a realização plena do meu corpo dos meus sentidos.


     Decididamente não sei se posso ser real a esse ponto extremo, que muito o desejo não duvide, espero não ser imagem modelada por outrem, sim a própria vida passo a passo construída e partilhada com todos que encontro no meu caminho, verdades do corpo são as mesmas do espírito e esta unidade em sua preservação deve ser resultado de nosso constante zelo, fica então a pergunta contigo nesta empreitada conto? 

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Hombridade Maculada

     Cara a cara recebo o pedido dela, reajo como um raio, na velocidade de uma faísca felicidade instantânea, eu gosto de ser solicitado, sempre tem um “porém” lembrei-me que o tinha tentado instantes antes em outra situação similar e falhara, martelava-me a dúvida sobre a possibilidade de sucesso a afasto contrapondo comigo mesmo que independente de qualquer restrição imaginável eu deveria tentar, por óbvio que nesses poucos instantes perpassaram em meus pensamentos as inúmeras possibilidades e suas consequências.

     Percebi em seu semblante a confiança de que eu poderia corresponder às expectativas, o mesmo estava belo, com um sorriso fácil, manifestando a certeza de um momento antecipadamente bem resolvido, o que ampliou a minha preocupação com a hipótese de uma possível falha, não gostaria de ser responsável por uma reviravolta no estado de espírito dela que agora me encantava.

     Admito certa alteração nos meus nervos, nada que pudesse transparecer para as pessoas ali presentes, me dominava aquele friozinho que nos atravessa por dentro nessas horas, o coração batia em compasso dessincronizado no tempo, o sangue expandia-se nas artérias por todos os membros, todas aquelas boas coisas que nos acontecem em relação aos outros ali estavam presentes em mim.

     Por outro lado ela estava apressada, não queria perder a oportunidade, tinha compromissos na sequência e certamente inadiáveis, admito que essa afirmação seja apenas uma suposição minha, mas só posso contar a história como ela acontece do meu lado e assim o estava vendo como uma oportunidade afinal minha aspiração era a realização do desejo dela.

     Deslocamos-nos afastando-nos da companhia dos amigos para um local reservado, a caminho a preveni que talvez não o conseguisse que tinha precedente, mas que não custava tentar, ainda bem que o fiz, pois realmente a lógica imperou, neguei fogo, falhei vocês sabem como nos desequilibra um momento desses, saber que lhe necessitam, que lhe querem e na hora H não ter a resposta, minha hombridade estava maculada.


     Aqui estou a contar-lhe isto agora que tomei todas as precauções, mantenho sempre meu bom zippo bem alimentado de fluído, voltei a usar um isqueiro desses descartáveis de reserva na minha mochila, assim penso em evitar em definitivo esses fiascos e nunca mais deixar na mão uma amiga com muita vontade de fumar.

domingo, 15 de novembro de 2015

Triste Homem que Colhe a Violência que Planta.

     Noite escura dos homens em plena cidade luz, não é um momento simples de tristeza, é momento de desolação de assumirmos a culpa todos, mata-se hoje com a facilidade da insensatez do homem, este que não consegue conviver com o outro sem a tentativa de explorá-lo, não é a hora de achar culpados os encontraríamos por todos os lados, é de reflexão séria sobre o organismo social que todos nós construímos e de reavaliar criticamente seus doentes fundamentos, rever as relações que definimos como corretas e por todos os lados vemos que não funcionam só geram violência.

     Transformamos tudo em um grande show, ora somos os gladiadores, ora somos o público sádico, aparecemos em postagens nas redes sociais, em manifestações coletivas, comunicando sentimentos inexistentes através de palavras vazias, em nada mudamos a postura do nosso dia a dia, continuamos a semear discriminação, exploração, falta de humanidade nos pequenos atos que empreendemos podemos então esperar um mundo diferente? Este é o nosso planeta feito a nossa imagem e semelhança, esta violência somos nós.

     Comovemo-nos com a barbárie, quando ela ocorre em um dos símbolos da gloriosa cultura ocidental porque não foi conosco, está longe e encaixa no conceito de unanimidade de bom tom, e quando ela está dentro de nossas casas, na nossa rua, em nosso bairro, nas nossas salas de aula e de trabalho? Por certo não sendo partícipe, o que muitas vezes o somos, voltamos o rosto para um ponto indefinido para o nada e nem mesmo a vemos, de tanto mentirmos para nós mesmos acreditamos que o inferno são os outros.

     Construímos leis para dobrar a coluna do homem de bem o submetendo ao flagelo do interesse minoritário da avareza, regulamos relações entre nações pela força do dinheiro ilegítimo que compra os seus exércitos com suas armas, celebramos acordos nas comunidades locais para justificar ter serviçais no nosso dia que mais parecem prisioneiros de guerra, discriminamos pela cor, pelo gênero, pelo aspecto, pela cultura, por simples diferenças artificialmente criadas com intuito de manter uma elite.

     Um basta à violência passa por entendermos que toda a morte, toda a mutilação física ou moral, enfim qualquer exercício de poder sobre um ou sobre muitos é uma manifestação fascista independente de sua origem e tão somente a eliminação desse fascista existente dentro de cada um de nós por uma análise crítica em todos nossos atos a ser realizada por nós conosco mesmo.               

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Rastro de Enganos

     Estou frente a frente a uma teia de aranha com sua bela arquitetura construída entre dois galhos de árvore, observo o labor desse animal ao construir sua armadilha destinada a suas incautas vítimas que corresponde a sua sina predadora ou quem sabe para se proteger dos seus inimigos por ocasião da troca da casca durante o crescimento, tenho certeza de que esse animal sabe exatamente o que esta fazendo.

     Lembrei-me do intrincado emaranhado de argumentos que montávamos em busca de um discurso coletivo, sim acreditei e muito nos movimentos de mudança, leitor assíduo de bases sociológicas e psicológicas a justificarem movimentos de massa, palavras de ordem que nos protegiam pela construção dos limites do que planejávamos ser o caminho de uma sociedade justa.

     Também observo uma colmeia, um formigueiro e seus integrantes envolvidos no trabalho coletivo, especializados em diversas funções partindo da segurança passando pela busca de alimentos chegando aos serviços domésticos com os cuidados dos recém-nascidos e da rainha, cada elemento tem sua função para concluir o trabalho coletivo.

     Não tenho nenhuma dúvida de que o homem que hoje sou só o é por causa de todo caminhar anterior, e este cara que vocês enxergam percebeu que qualquer movimento onde o indivíduo submete-se ao todo resulta sempre em uma simples troca de figuras, nunca em uma mudança real mesmo que apresente inúmeras conquistas sociais, construída sobre bases insuficientes insistirá em manter o paradigma de exercer poder com suas próprias tábuas da lei.

     Nesses devaneios oriundos do simples observar da natureza, onde vendo os aracnídeos lado a lado cada qual com sua teia formando no conjunto de todas essas construções uma comunidade, por outro lado no exemplo das formigas, das abelhas, onde todos trabalham em função de uma rainha, confesso caso tenha que escolher um modelo minha opção será sempre pelo primeiro.

     Criem-se as condições de o homem construir-se e teremos o alicerce da sociedade justa, onde desnecessárias serão as leis, dispensáveis serão os líderes com suas estruturas de poder, homens livres e justos podem caminhar lado a lado sem limites que não o tempo, sem defesas que não o simples existir, eles mesmos constituirão o argumento.     

     Geramos a linguagem com suas duas faces do mesmo, em uma o fantástico que representa a capacidade de sua descoberta para articularmos nossa comunicação, na outra a impossibilidade de sintonizar quem fala com quem ouve, somos todos mudos, somos todos surdos, pode-se chegar ao ajuste fino deste diálogo de surdo-mudo desde que trabalhemos muito não as palavras sim a relação.

     Com a linguagem perdemos a empatia de comunicarmo-nos plenamente pelos sentidos e encontramos o rastro de enganos que entre nós distribuímos pela lógica e seus argumentos, imagem fantasma e falsa do que realmente pretendemos. 

domingo, 8 de novembro de 2015

As Lições de um Morto Vivo

     Nos primeiros quinze dias ele era acompanhado por uma febre de quarenta ou quarenta e um graus com enorme dificuldade para se alimentar duas ou três colherinhas, dessas pequeninas de mexer o café, cheias de mingau sete vezes ao dia mais que isso o mataria, praticamente sua vida era defecar, também o fazia sete vezes ao dia, não as sobras do alimento como todos nós, mas sim um ácido composto de detritos de morte interna, vivia em função de tirar a morte de dentro do corpo e de substituí-la pelas pequenas doses de mingau que lhe repõem não exatamente a vida e sim a possibilidade de lutar por ela.         

     Ultrapassada a primeira quinzena a febre morreu, aqui estamos falando de um segundo período que compreende alguns meses, voltou a fome e esta o possuiu por inteiro, passou a ser seu único objetivo, via as pessoas sem enxergar nenhuma, tudo o que lhe interessava era a espera pela próxima hora de comer, essa passou a ser sua vida nutrir-se e esperar uma nova refeição, não conseguia em momento algum compreender por que os outros não o podiam entender nesta sua dedicação exclusiva ao objetivo de alimentar-se.

     Isso eu devo a Marguerite Duras, escritora Vietnamita-francesa que viveu a resistência em Paris na Segunda Guerra Mundial, da leitura de seu livro “A Dor” que por sinal não é para mim seu melhor livro, meus votos vão todos para “O Amante”, mas nesse primeiro ela nos fala de seu marido na época retirado praticamente morto de um campo de concentração nazista, mais de 1,70m pesando 37 quilos, era um morto-vivo, entretanto sempre esteve lúcido.

     Não encontrei melhor reflexão sobre a natureza humana do que ao ler essas linhas, existe clareza no relato da inteligência de todos os participantes do drama, intelectuais atuantes na resistência à dominação estrangeira, incluindo junto a estes o desafiador da morte, mostrou-me o homem como resultado de suas circunstâncias e assim o somos sempre, como ele o foi, primeiro vivendo só a eliminação da morte, depois só a necessidade de recompor-se como corpo para vida, essas eram suas circunstâncias e esse era o homem.

     Mais tarde já passado o pior momento, contaram-lhe sobre a morte na prisão da irmã de vinte e quatro anos, tinham sido presos juntos, essa morte não conseguia aceitar, teve o pedido de separação por parte da escritora o que sim pode compreender, outras circunstâncias outro homem, na sequência escreveu um livro sobre sua experiência no campo de concentração e nunca mais pode falar sobre o tema nem mesmo o nome do livro pronunciava.
    
     Luto por esta aproximação extrema comigo mesmo, não da maneira involuntária como na narração do livro, mas como resultado de um espontâneo e constante garimpo, vejo a complexidade que nos envolve no mundo contemporâneo funcionar como uma multidão de máscaras sobrepostas que me afastam de entender a vida, cada vez que retiro uma ao olhar-me no espelho percebo a existência de outra mais, pode parecer uma luta inglória, porém a entendo como a única possível de esclarecer-me sobre o que é a vida, penso que a descobrirei lá no fundo de tudo, quando desmascarado encontro-a por inteiro em mim.               

sábado, 31 de outubro de 2015

Vendaval de Barbárie

     Tempos difíceis, estamos vivendo um festival de barbárie na nossa terrinha querida, o Brasil foi invadido por uma onda de desinteligência, incompreensível pelo menos para mim é a falta de resistência a ela na sociedade, talvez a desesperança gerada por erros dos governos de esquerda abriram a guarda para o avanço de pensamentos pequenos, fascistas e discriminatórios, estamos produzindo atraso social em grandes quantidades, transformando-os em leis sem a contestação adequada das forças vivas do campo humano, estas estão envolvidas com a observação dos seus próprios umbigos e parecem nada mais ver.

     Tendo recentemente a alegria de ler Natureza Humana, Justiça versus Poder, que relata o debate entre os grandes Foucault e Chomsky, acontecido há mais de quarenta anos, época impactada pela descabida e obtusa Guerra do Vietnã, esses dois filósofos de grandes luzes pessoais lançam-me em direção à construção de um grande futuro, acordo desse sonho obrigando-me a viver a tristeza da impiedosa realidade nacional, com seus legislativos de intelectualidade padrão “idade média” que nos levam à imersão em uma nova época de trevas, criando leis contra o homem com a leviandade só justificada por sua incapacidade de fazer qualquer raciocínio.

     Nada disso deveria surpreender-me, somos um país que desmontou o sistema educacional, não apenas na qualidade da proposta do que ensinar como também na destruição da autoestima dos educadores a tal ponto que hoje só ministra aulas quem não vê oportunidade de outra carreira, ou seja, o faz com o desinteresse de quem não é respeitado na sua missão o que é acompanhado pelo completo desinteresse das novas gerações pelo conhecimento, salvo como sempre os heroicos resistentes que como exceções justificam a regra.

     Lembrando-me do debate onde apesar de discordarem quanto à definição de natureza humana manifestaram-se unânimes pela desobediência civil como resposta justa a leis criadas para oprimir com o intuito único de exercer o poder, senhores se isto já era tão claro naqueles anos como justificar estes desmandos que estamos vivendo nos três poderes aqui e agora, a não ser pelo feroz egoísmo dos homens que deles participam com objetivo claro de antropofagia, isto é, devorar seus iguais para acumular riqueza e poder.


     Somos hoje apenas a casca fina das frases de efeito, ocas por dentro por falta de conteúdo, agressivas por fora se impõem no grito sem a lógica de argumentos, verdadeiros manifestos de fé em ídolos de barro associados ao culto da ignorância, que lamentavelmente como um todo o grupamento social não está sabendo como anular e contrapor com avanços para a natureza do homem e da sociedade, sim urge assumirmos a resistência.  

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

No Rastro dos Sentidos

     Não necessitamos ter afinidade com a ciência para entendermos a rede que existe entre os cinco sentidos e a mente, mas precisamos gostar de nós mesmos para tratar com carinho cada um dos movimentos internos provocados pela constante coleta de informação desses órgãos, eles trabalham incansavelmente para que possamos organizar em nós uma imagem precisa da natureza do nosso entorno.

     Permitir como fazemos quase sempre que as sensações estejam fora da percepção, administradas por controle remoto pelo inconsciente, significa sim abrir mão de nós mesmos, pouco a pouco transformamo-nos em objetos insensíveis, verdadeiros robôs que apesar de privilegiados por ter uma atividade cerebral de exceção muito mal a aproveitam.

     Uma simples rosa, nossa visão permite ver seus traços delicados com suas diferentes deslumbrantes cores, nosso olfato identifica os tons de seus cheiros, doces perfumes, nosso tato permite sentir o aveludado de suas pétalas bem como o leve rasgar dos espinhos na nossa pele, tudo isso passa de roldão, como que despercebido, ficando catalogado em nosso particular big data o qual aproveitamos muito eventualmente.

     Parar! É preciso parar, esquecer ou no mínimo contornar a velocidade das coisas, para concentrarmo-nos no momento e em suas circunstâncias, curtindo o valor que nos traz sua ação sobre nós e o seu papel transformador, conscientes de que estamos mudando, reconhecendo-nos como mutantes, com o intuito de não permanecermos o estranho que quase sempre somos para nós mesmos.

     É simplesmente espetacular e indescritível o que ocorre a partir de uma pequena sensação, nossos mecanismos internos disparam e se contrapõem com todas as sensações já vividas, com todas as reações já realizadas e as analisa em função de sensações similares, tudo isto ocorre sem que haja qualquer noção inteligível de tempo e o que é mais importante resultam deste fato múltiplas opções de atitudes a serem tomadas que nos permitem exercer o livre arbítrio.


     Meu grito hoje é por busca de tempo para nos olharmos, enxergar o suficiente com o objetivo de sermos mais gente e melhores, oportunizar que o desperdício permanente das nossas potencialidades seja evitado, que possamos extrair água da pedra, não como mágica, mas como exercício pleno de nossas capacidades, mais inteiros assim poderemos em conjunto descobrir um mundo muito melhor.                 

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

A intimidação física e moral

     Não pretendo entrar no debate político-ideológico nascido a partir da proposta do tema da prova de redação do Enem, porém o momento me estimula a explanar alguns pensamentos sobre a violência, já lhes adianto que por convicção acredito ser muito mais ampla do que no geral o contempla o debate público, vivemos em uma sociedade com viés definido de exclusão e dominação.

     Quem recorda algumas de minhas reflexões anteriores sabe que gosto sempre da análise dos assuntos pelo lado amplo não restrito a casos particulares, gosto de propagar a ideia de uma luta forte contra a violência em geral, podemos discutir casos específicos como a violência contra a mulher, contra a criança, contra as diferentes raças e muitos outros, apesar de entender e valorizar quem assim dedique seus esforços, eu defendo a localização e denuncia de toda e qualquer violência.

     Gosto de focar sempre na questão da preparação do ser humano historicamente deficiente e predadora para todos os sexos, muito mais o é para o feminino, quadro simples uma família, que somada á escola, é a base da preparação para a convivência social, os dois mecanismos claramente identificados com a opressão, essa família é composta por crianças de diferentes sexos que não tenham duvida além de oprimidas o serão diferentemente por causa do sexo.

     Iniciamos pela própria relação entre os adultos onde na maioria dos lares a mulher é submetida a uma relação desigual tanto na parte de manutenção da casa como nas responsabilidades com os filhos, isso quando não submetida á própria violência física e quase sempre a violência moral de lhe tirarem a liberdade sobre seu corpo, à menina cresce neste ambiente apreendendo a aceitar seu futuro papel.

     Desde pequenos o tratamento na maioria dos casos é desigual, onde a futura mulher é colocada em uma cerceadora redoma, alega-se proteção, em verdade é a iniciação a submissão, o rapaz é estimulado a sair à rua interagir com o mundo no aprendizado da liberdade, embora esta seja muito restrita pelo jogo econômico-social do poder.             

      Ainda no desabrochar da sexualidade por ocasião da convivência com outras crianças, se os adultos descobrem as brincadeiras inevitáveis de descoberta do prazer, instala-se a repressão certamente mais acentuada contra a menina, afirmo que na maioria dos casos a menina será fortemente reprimida e na maioria das vezes o menino elogiado por seu padrão macho de comportamento, não deixa de ser uma opressão a obrigação deste papel de garanhão que ele deve carregar por toda a vida.  


     Apoio decididamente as feministas na luta contra a insistência do poder estabelecido de retirar da mulher o direito à posse do próprio corpo com leis ilegítimas sobre aborto e comportamento social, o que se reproduz em quase todas as organizações dais quais ela participe.      

domingo, 25 de outubro de 2015

Promessa da Encruzilhada

     No imaginário do blues a encruzilhada era o momento de assinar o contrato com o demo e assim garantir no presente o sucesso como músico e no futuro distante a colocação no inferno d’alma, tudo dentro dos conformes da civilização cristã onde a festa, a alegria, a felicidade pessoal, o prazer dos sentidos, são aqui e agora a própria manifestação do mal, pois ao bem cabe o recolhimento, a tristeza, o sofrimento, a negação do prazer.

     Hoje nas fantasias ilusórias do poder o grande sonho é recuperar em meio da atual complexidade mundial os conceitos estabelecidos na encruzilhada do bem e do mal, associar sempre que possível à esquerda os ideais de liberdade, igualdade, solidariedade coletivos como usurpadores da liberdade individual, e à direita a oportunidade de disputar no corpo a corpo um diferencial para si na comparação com o outro a oportunidade do paraíso anunciado pela riqueza que representa o viver à custa de outrem.

     Não nos parece difícil montar este circo como pão sempre o há a receita esta completa, repetimos as mentiras com a insistência necessária para terem a cara de verdade, temos para isso a grande mídia que apesar de sua crise existencial nunca deixou de trabalhar para o poder, também temos dinheiro suficiente para trabalhar espertamente nas redes sociais com mensagens em vídeo, textos e caricaturas que associam pedaços de realidade fora do contexto com a esquerda e vinculando-os aos fatores de antemão conhecidos como responsáveis pela insatisfação do homem moderno.

     A parte da direita na encruzilhada é muito fácil de ser exercida, pois o enaltecimento da vitória pessoal como justificativa plena e completa de toda e qualquer atitude, amparada pelo seu deus construído sob sua medida para associar o sucesso à bem-aventurança, homologa toda a hipocrisia de seu comportamento, glorificando a mistificação pela inverdade como salvação do homem e do mundo.

     Já à esquerda com seus escrúpulos em relação ao homem está na parte mais difícil do debate, sabe que a igualdade só pode ser construída a partir do alicerce das oportunidades distribuídas de maneira homogênea entre todos na sociedade, obrigada a jogar o jogo na casa do adversário e com as regras por ele determinadas corre demasiadamente o risco de contaminar-se com a corrupção do poder.


     Em particular não acredito mais no jogo das massas, jogo todas as minhas fichas no crescimento individual do homem livre, que por sua força, sua independência, sua resistência, serve como profeta evangelizador do novo homem, que ao ser visto em sua serenidade, no continuado viver o melhor presente, frutifique em outros iguais livre pensadores.            

sábado, 24 de outubro de 2015

Pílula Dourada não é Literatura.

    Por certo é um desserviço para a humanidade um determinado tipo de escritos que circulam por opção econômica das editoras no formato de livros, infelizmente aparecem como literatura quando são apenas pílulas douradas, frases de impacto escritas com objetivos claros e específicos de preencher uma necessidade detectada de antemão, na prática, feitos por encomenda visando um público pré-existente que os consumirá.

     Na lista dos mais vendidos mais um recorde de vendas, milhares de leitores muito bem orientados pela mídia de tempo em tempo elegem um novo guru, o assunto aqui são os famosos escritos de autoajuda, temo-nos de todos os tipos para quaisquer os gostos e necessidades, produzidos em série aparecem revezando-se nas listas dos dez mais, são puro ilusionismo tipo canto da sereia que é encantado não existe.

     Quando inventariamos as vendas farmacêuticas estão lá sempre no topo os antidepressivos, os percentuais de consumo desse tipo de medicamento são altíssimos, fala-se em números tipo quarenta por cento da população adulta os consome, não encontramos sinais de diminuição e sim de aumento do consumo, manter quimicamente um equilíbrio é parte da solução, sem investir no crescimento pessoal não resolve e cria dependência.

     Imagino que lhes pareça que estou misturando alhos com bugalhos, paciência tenho motivos para associá-los, podemos começar por similitudes quanto aos usuários, iniciados no consumo poucos abandonam o hábito, também a maioria é seduzida a complementar seu uso com outro produto do mesmo perfil, são as pílulas douradas que prometem a felicidade.

     O processo é perverso funciona em espiral, parte de um incômodo pessoal, a necessidade de superá-lo, a recepção de mensagens com promessa de felicidade eterna, a adoção do remédio ou do livro como descoberta de caminho, a euforia e o entusiasmo inicial do seu consumo, a frustração por descumprimento de função, e estamos de volta ao ponto de partida: o incômodo pessoal...

     Não considero correto misturar literatura com a indústria de produção de livros, descobrir uma estória com seus personagens, comportamentos, encadear situações, prender a atenção por cada parte e pelo todo, isso é escrever um livro, isso é literatura, porém aproveitar-se do conhecimento que temos de que pessoas em números expressivos têm necessidade de resolver seus problemas de autoestima, equilíbrio pessoal e publicar escritos para iludi-los são apenas negócios, acredito no viver a leitura de um livro e não no consumir uma sequência de frases motivacionais.  

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Caminhante Solitário Social

     O que temos não é uma frase solta, tampouco estamos desenhando e encadeando palavras, é em verdade um conjunto de metas que pretendem nortear este momento pessoal, embora possam ser também aderentes a outros espaços de tempo em minha vida, eventualmente terem caracterizado desde sempre minha existência, hoje gostaria de facilmente ser visto por esses sinais definidores e assim identificado por quem tivesse vontade de fazê-lo, muito prezo a sensação de prazer do movimento, o gosto de estar comigo mesmo e sempre ver os outros em seu lado talentoso.

     A opção pelo movimento que mostra o caminhante destacado no título, alimenta-se do prazer enorme que sinto ao observar a panorâmica móvel de trezentos e sessenta graus de meu entorno enquanto me desloco, visualizo os locais e suas pessoas seus seres vivos suas coisas, todos sempre me trazendo quantidade e qualidade de recados importantes tanto estéticos como intelectuais, me delicio com eles explorando em mim as mais diversas sensações o que realça a importância dos sentidos, e variadas ideias dando peso à importância do pensar, é no próprio movimento que me dedico a construir textos, me dá prazer elaborá-los em pleno deslocamento, por longo tempo  fico ruminando-os até encorajar-me a representá-los em escritos sendo que muitos, em outro momento,  transformam-se em postagens neste blog.

     Já o termo espremido entre o primeiro e o último, solitário, é a própria preocupação com o existir, não se explica não se justifica é apenas uma constatação por si mesmo, e se não consigo torná-lo compreensível no mínimo o tenho muito presente na constância com que o trabalho em mim, não me é muito importante se de fato o que sou é real, talvez seja apenas imagem projetada de algum sonhador que por sua vez bem poderia ser resultado de outro sonho sonhado, ser solitário é o tempo que tenho para mim e o divido com o imaginário de outros que também tiveram seu tempo nos livros, nos filmes e nas imagens que vejo.

     Social, sim me importa muito a leitura das pessoas e seus talentos que comigo cruzam, para elas dirijo as atenções do meu olhar, do meu cheirar, do meu escutar, esses três sentidos se destacam, pois os outros dois, o saborear e tatear, são aproximações perigosas que o bom senso exige evitar e guardar para momentos especiais, gosto de um bom dia solene e vigoroso seguido de algumas sentenças funcionais o que sempre é uma espécie de proteção à aproximação exagerada, busco evitar o receber e fazer confidências que nos arrastam para o envolvimento.


     Conheço por demais minhas fraquezas, manter os mecanismos de proteção é defender minha saúde física e mental, sou presa fácil das redes que os encontros propiciam por isso a distância premeditada, preciso muito cuidar do entender-me tenho muitas coisas a explorar em mim e admito já perdi muito tempo distraindo-me com relações onde além de não poder nada entregar de curtir-me esquecia.                       

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Dilema da Aceitação

     Um dos temas que sempre me agradou é a questão do processo de crescimento do homem e a revolução interna permanente ao qual ele se submete por convivência com os seres vivos, independente do tipo e da característica da relação, um caso particular que me parece muito interessante é o que chamaria de dilema da aceitação, ao qual por sinal sempre estamos expostos ao ingressarmos em um grupo pré-existente de seres humanos.

     Não gostamos de portas fechadas, buscamos entradas abertas para inserção social em um tipo de específico de viver, ou em um conjunto organizado de ideias, ou em uma opção de lazer, ou que seja em qualquer coisa, na maioria das vezes não procuramos pelo tema propriamente dito e sim por necessidade de sermos aceitos em um ou vários grupos sociais, o que ocorre tanto nos ambientes físicos como nos virtuais de convivência, talvez até mais nestes últimos nos dias de hoje.

     Os agrupamentos de pessoas têm sempre um código interno, particulares são sua moral e ética estabelecidas de maneira formal ou informal, sempre resulta em cumprir as regras de parte do candidato a ser iniciado, se avançamos um pouco percebemos que a necessidade de inserção social exige do indivíduo mudanças como salvo conduto para a participação neste ou naquele time.

     As mudanças podem ser interiores ou apenas manifestações externas, independente do caso prático de uma ou outra são traumáticas por igual, se internas pelo ruído permanente que os conflitos íntimos causam no bem-estar pessoal, caso externas pelo estado de vigilância continuada com intenção de evitar trair-se em frente a todos e expor-se à rejeição.

     Quando pensamos em transformação pessoal sempre temos como motivação a nossa relação com o mundo, porém temos diferentes maneiras de vivenciá-la sendo a mais inadequada a da capitulação, isto é, me modifico por osmose de ideias de outros, aceitando como verdade minha a que não me pertence e como tal fraudando a mim mesmo. 

     De fato estamos sempre em transformação, ou seja, o problema não está no ato que é desejável e sim no processo, quando mudamos precisamos da sintonia fina com nossos mecanismos internos de ser e pensar, avançar na nossa construção pessoal é para nós tarefa única e intransferível.     

     Coroar a hipocrisia como padrão de comportamento talvez seja a escolha feita com mais constância na convivência social, quando buscamos distrair-nos da solidão e garantir aceitabilidade, com isso substituímos a desejável transparência obtida na coerência com os valores e aspirações pessoais por uma experiência menor, esta opção pela diafaneidade, mesmo que com tal postura coloquemos em risco sermos aceitos, é sempre desejável.             

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

A Força do Ato Justo

     Lembro-me sempre daquela cena de um dos filmes do grupo inglês Monty Python, em plena Roma antiga no Coliseu, contemplando os gladiadores estavam vários pequenos grupos de esquerda ocupados em discutir entre si, pequenas diferenças resultavam em impossibilidade de convivência harmônica entre eles.

     Essa é uma lição antiga que ainda não apreendemos, continuamos a apresentar armas entre nós mesmos, a lutar por prioridades de pautas que na maioria das vezes são sim importantes, porém irrelevante é a discussão de sua ordem no plano das lutas sociais, em muitas oportunidades o que vemos é a submissão à tentação da vaidade tão comum por ocasião dos discursos, já lhes manifestei meu pensamento em outras oportunidades para mim tudo passa pela questão da resistência ao poder.

     As situações de conflito ocorrem a cada instante na relação entre o homem e a mulher, por exemplo, a questão do aborto é fundamental, pois devolve à mulher o direito ao seu corpo e a sua integridade, na relação entre as diversas raças a descriminação por características físicas é odiosa e em obsoluto inaceitável, no fato econômico a má distribuição da renda, renda essa gerada por recursos onde todos somos sócios por igual e teimosamente concentra-se nas mãos de poucos por clara apropriação indevida, opções de modo de vida são desrespeitadas constantemente como se possível fosse alguém determinar o comportamento pessoal de outro ser humano.  

     Urge a tomada de posição intransigente individual no varejo, no dia a dia, que seja o nosso exemplo baluarte de evangelização para o acréscimo das pessoas justas momento a momento, a cada situação de conflito sempre o posicionamento transparente de denúncia do poder e anúncio do exercício da resistência devem ser vividos e se mostrarem capazes de ser enxergados, provocando à reflexão de terceiros quanto à justiça de seus procedimentos, ampliamos assim a nossa capacidade de pensar, bem como também o fazem os que conosco cruzam caminhos.

     Desde sempre não me agrada o discurso voltado para o outro, me conforta a troca fraterna de opiniões até como desafio continuado e crítico ao meu pensar, não acreditando que o texto em si possa somar a alguém algum conteúdo, a não ser como um amadurecer interno da obrigação de refletir funcionando como contraponto, por outro lado entendo a influência poderosa que tem o observar das atitudes de outrem, o quanto me alegra quando as percebo como justas e tanto que me ajudam a decidir-me por portar-me com mais justiça.   

     Não é necessário juntarmos centenas de pessoas para gritarem palavras de ordem, porém é imprescindível termos sempre em maior número independente de se conhecerem ou partilharem teses, pessoas caminhando lado a lado praticando, independente do tamanho, atos de justiça. 

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Difícil Entender, Devo Ser Muito Burro...

     Desculpe-me o querido animal, que pelo que sei é bastante inteligente, mas acordei com esta frase na cabeça “Difícil Entender, Devo Ser Muito Burro...”, bom só soprá-la nos seus ouvidos nada significa me sinto na obrigação de explicar-lhes, é o que farei, vamos falar de coisas que muitos dizem mortas, mas que de fato estão mais vivas do que nunca: o conceito de esquerda e direita e suas contradições no dia a dia.

     Quando escutei em uma conversa da qual participava o conceito de que Michel Foucault com o avançar da idade foi se posicionando mais à direita, só pude aceitar tal afirmação pela juventude dos postulantes, não que com o passar da idade seja muito difícil a transição do pensamento mais de esquerda para mais de direita, pois o aproximar-se da morte nunca o é sem consequências, mas sim pela justificativa usada de que tenha passado a preocupar-se com o indivíduo em substituição ao foco inicial que era a coletividade.

     Quando falamos da tão sonhada sociedade de homens livres, usufruindo igualmente da distribuição dos frutos da produção, só a podemos conceber se construída sob o alicerce sólido de homens completos, lançados para exercer a potência, capazes de se enfrentarem de igual para igual na busca do consenso, que nada mais é que a soma coletiva dos inúmeros talentos pessoais, se for para construí-la sob a forma de rebanhos estaremos criando novos candidatos à Stalin que tanto mal fez a mais importante tentativa de uma sociedade comunista, justa e igualitária.

     Lembrei-me da injusta acusação feita a Camus, a partir de sua desavença com Sartre, de um volver à direita, brilhantes ambos pensadores de esquerda desentenderam-se basicamente sobre a necessidade de seguir uma disciplina partidária apesar dos disparates autoritários acontecidos na antiga União Soviética, como se possível fosse faltar com a verdade, no intuito de salvar uma boa ideia, por meio da subtração do conhecimento de sua má execução.

     A ideia que bem define a direita é a de a titulo de mérito pessoal reservar-se o direito de parasitar outros seres humanos direta ou indiretamente, e hoje a justifica desenvolvendo toda uma filosofia conceitual de meritocracia, que esquece propositalmente das históricas diferenças de chances a que a sociedade submete todos nós, é a própria lei do acaso somado a um comportamento oportunista que descamba sempre em pré-conceito e prepotência.                             

     Desenvolver ao máximo seus talentos sempre foi uma posição igualitária, de esquerda, o que nada mais é do que uma defesa intransigente do Homem, da construção de todas suas potencialidades e de sua colocação a serviço de outros homens e da natureza, de tal maneira que os frutos da sociedade sejam igualmente partilhados por todos.


     Cresce hoje o barulho da direita pela obsolescência da necessidade de argumentar na sociedade do curtir, da falta de tempo para pensar, do escândalo da proliferação de imagens fora de contexto e contra o ruído só nos resta tapar os ouvidos, construir a partir de nós mesmos os momentos sociais de igualdade e sustentabilidade e assim exercer nossa posição de esquerda.        

domingo, 11 de outubro de 2015

Não há Limite para o Sonho!

     Acordado ou não o sonho é inevitável e ilimitado, não lhe é barreira o tempo, o espaço, muito menos o outro, seus limites são o infinito de nossa existência olhada de dentro para fora por nós mesmos, talvez seja o único local onde podemos olhar de frente a morte, dialogarmos com ela e a vencermos, posso me ver morto sabendo-me vivo.

     Quanto ao outro, claro está que nada pode contra meus sonhos, ou contra os seus, determino, ou determinamos, todos os parâmetros desta convivência sem chance de qualquer interferência, posso ser feliz, desastrado ou impotente a meu bel-prazer sem a menor manifestação de vontade de outrem, minha vitória ou derrota só eu as determino de acordo com o momento dos meus deuses internos e sua consequente projeção no meu estado de espírito.

     Se for do tempo que falo, olho-me no espelho e me vejo igual desde sempre e para sempre, os que me veem de fora se veem iludidos por uma forma e uma postura que em nada corresponde ao meu eterno e contínuo período interno, no qual os eventos reais se sucedem, e meus gestos, minhas falas, enfim minhas atitudes do ponto de vista deles não correspondem à realidade do meu ser são apenas ilusões vividas por eles nunca por mim.

     Se olho o espaço o sei infinito pelo simples fato de me ser permitido mesmo não saindo do lugar andar sempre em frente, mesmo nunca chegando desde sempre lá estar, vejo a mim mesmo esperando no lugar que sei que sempre meu será, pois posso e sou onipresente, todos os lugares me pertencem e me representam e assim o são para todos vocês.

     Se assim divago é por bem querer a vida, por saber que por mais que tentem, não poderão interferir nos meus propósitos, caso me perguntem qual a graça de uma vida assim já vivida? Minha resposta é sempre andamos sobre nossos passos e essa repetição é que nos leva em frente, este jogo de perguntas e respostas já é previamente resolvido e assim o é porque sempre encontro as perguntas partindo de respostas que de antemão sei.   

     Está aí o único direito que me reservo, ao qual não permito contestação, o direito de sonhar de olhos abertos ou fechados e dono de um mundo só meu construí-lo da maneira e do jeito particular desejado pela minha alma, e tal direito que me outorgo é universal logo um direito de todos e como tal a única realidade justa e verdadeira.


     Que assim seja, concluo essa reflexão de domingo chuvoso, desejando que nossos sonhos se encontrem na imensidão do tempo e do espaço e sejam felizes para sempre.  

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Mulher como Mistério, Homem com Medo.

     Salvo em nossa infância quando brincamos entre crianças com nossa sexualidade independente de parceiros e traumas, o que é argumento favorável à defesa da tese da artificialidade dos fantasmas internos que aparecem por ocasião das relações adultas (serão adultas?) entre homens e mulheres, a espontaneidade infantil contraposta aos ardis da maturidade demonstra a carga de pré-conceitos da qual somos vítimas por imposição social durante o aprendizado de crescimento (ou seria uma domesticação?).

     Não esquecendo que a intervenção opressora de adultos abusando da inocência dos pequenos é a única causadora de abalos no equilíbrio psicológico dos menores, o que não acontece nas relações estabelecidas entre eles na mesma faixa etária que resulta em preparação para vida, não são exercício de poder e sim construtoras de relacionamentos e posturas em relação a futuras ligações afetivas, são nada mais que experiências. 

     O desenvolvimento de uma aura de mistério especificamente em relação à mulher, nada mais é do que uma extensão da falta de naturalidade nas relações entre seres humanos em geral, todos guardamos defesas ao relacionarmo-nos com alguém, por termos sido preparados para tal, manipulamos nossas palavras e atitudes escondendo a motivação real do seu executar, e o fazemos tão bem que até de nós mesmos conseguimos ocultá-la.

     O Mistério interessa, mantém a chama do interesse, com a permanente busca de decifrá-lo multiplicamos encontros fugindo da tendência natural de relações diversificadas, não estamos falando de má fé, estamos sim tratando da consequência visível de um processo de colonização cultural.

     O medo acompanha o homem nas suas relações com o sexo feminino, por mais que seja escondido ou disfarçado por atitudes machistas, ele está sempre presente, o próprio machismo deve ser visto como um mecanismo de defesa. Posso ter medo do que possuo? Mas impor dominação é admitir o medo e só a exerço para vencer a insegurança que tenho na relação.

     Estivemos muito próximos de superar essa questão do mistério e do medo no entorno da década de sessenta, após um grande avanço na questão da liberdade nas relações entre os dois sexos, a sociedade como um todo retornou a uma posição conservadora, principalmente pelo advento da AIDS e acredito que tão somente após a liberação econômica da mulher, que por sorte está em avançado andamento, retomaremos o caminho para relações livres e maduras.   

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Desagregação de Corpo e Alma!

     Uno é o homem equilibrado no atender as necessidades do corpo e o espírito, a harmonia dessas duas partes compondo um todo saudável é sobrevivência de qualidade, o que só é possível neste contrato vital entre as individualidades onde uma respeita a outra, a subjugação de uma pela outra desagrega a entidade gerando a decadência, juntos representam o ilimitado e se autoalimentam crescendo em potência, a saúde da sociedade é dependente em quantidade de seres assim estabelecidos.

     Hoje a desagregação nos chega via definição de um padrão físico e mental ao qual devemos nos submeter, e com que força insistente se manifesta esta requisição, com ameaça de não sermos belos, de não termos sucesso, de não sermos felizes caso não nos moldemos pelo figurino proposto, passa sempre pela reprodução em série de perfeitos seres humanos definidos por outrem.

     Sabemos que o criador do modelo não é alguém específico, são apenas múltiplos interesses econômicos que necessitam manter em movimento a máquina de consumo, para tal são investigados todos os nossos comportamentos, explorados nossos pontos fracos, exaltados nossos pontos fortes e abusadamente construídas estratégias de manipulação e controle, a cada dia mais apoiadas em algoritmos de análise comportamental aplicados sobre enormes e ilegítimos armazéns de dados.

     Por incrível que pareça salvo honrosas exceções, não conseguimos enxergar o fato de que ao chegar neste padrão sugerido, perdemos valor em vez de agregar, pois fomos feitos para sermos diferentes em talentos e completarmo-nos uns aos outros e não apenas mais um artigo produzido em série dentro de uma esteira padronizada de fabricação de tolos e obedientes robôs. 

     Não sei por que ainda me surpreendo se conheço a velocidade e a quantidade de ordens de comando que nos são impingidas, sempre dentro do obsoleto esquema dual da punição e da recompensa, onde nosso posicionamento em relação à proposta feita define ora um, ora outro, ora prêmio, ora castigo, o certo é que perdemos a qualidade de seres multifacetados e nos defrontamos contra o precipício entre o bem e o mal, como se tal abismo existisse.   


     Que abismo está em nossa frente? Qual é o precipício de que falamos? O da permanente insatisfação com o que temos, pois a posse é efêmera, a inquietude humana é de nossa natureza e deve ser atendida e incentivada, a posse não é falta de consistência por si só, fundamenta-se em critérios de perda e ganho, se possuo me diferencio e me iludo, pensando ser vitorioso na comparação com quem não o tem.            

sábado, 26 de setembro de 2015

Algumas Cartas na Mesa

     Não escrevo em primeira pessoa por entender de respostas e sim por não saber as perguntas, por buscá-las com insistência e afirmá-las como rastos vivos de um existir, encontrada a questão certa, transito por um terreno mais calmo, sem sobressaltos, caminhando ao encontro de momentos de realidade, verdade relativa minha e são nesses que acredito nos eventos reais de cada um, para um instante muito específico de uma pessoa em particular temos a resposta correta para a pergunta certa, o que podemos definir como o orgasmo de um espírito, quantos mais o tivermos mais inteiros o seremos.

     As tentações são enormes para criar o meu deus, com ele conseguiria ter todas as respostas e obter todos os perdões, além do bônus de ser eterno, venço-as não por puritanismo e sim por teimosia, eu poderia estar mais próximo de naufragar na sedução do panteísmo, o famoso Deus sou eu e o todo, apenas não consigo gostar de bengala, transitando no meio que acredita no conceito de eternidade definida como o pequeno espaço de tempo onde como espelho sou confronto ao outro, assim oportunizo descobertas, concluo ser o contraponto para alguém já justifica por completo o existir.

     Não estamos falando de palco lotado, estamos falando do clamor no deserto, levantar a voz na solidão do homem para poder ser ouvido por si próprio, esse maravilhoso mecanismo de falarmos conosco mesmo, de concentrarmos argumentos nas diversas direções que se nos abrem cada tema, distribuindo nossos veredictos contraditórios na busca de um consenso conosco mesmo, sem dúvida uma dádiva abençoada com a qual nos contemplamos.

     Cada um tem a sua morte própria, pessoal intransferível exatamente do seu tamanho, verdade expressa pelo poeta Rainer Maria Rilke, dignidade perante mim mesmo é o meu sonho de morte, os outros nada tem a ver com isso é uma questão pessoal não passa por ninguém senão por mim mesmo, o que me permite ser aceito, marginalizado, reconhecido, contestado, apoiado, ignorado ou percebido e em quaisquer desses casos posso eu valorizar de forma positiva as opções de outrem por respeitar a sua dignidade.


     São essas algumas cartas na mesa que fazem neste momento a definição legítima e particular que direciona e justifica meus movimentos, descarto como fator de mudança os tão em moda agrupamentos e sustento para tal o desabrochar de individualidades que somadas em ritmo crescente vão transformando de dentro para fora este envelhecido modelo baseado na hipocrisia aí estabelecido.     

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

TI - No Mundo GeneXus é Hora de Peregrinação.

     Nossa Meca atende pelo nome de Montevidéu, nesta época do ano migramos por uma semana, o vigésimo quinto encontro anual do povo que trabalha com esta ferramenta de gestão de conhecimento, estarei entre os mais de mil peregrinos como desde sempre, expectativa renovada de refletir sobre as direções por onde andaremos nos próximos anos, somar um pouco, se possível, na amplitude das interações viáveis.

     Na eminência da civilização pós-industrial o software aumenta em muito sua importância por estar no subterrâneo de todas as iniciativas importantes de liberar o homem do foco no trabalho, libertando-o para a cultura e o lazer, que é o anúncio dos novos tempos que estão no porvir, todo esforço por facilitar sua construção é sempre bem-vindo, este é um espaço que a Artech fornecedora do GeneXus procura sempre bem preencher.

     Muito do nosso esforço deve ser dirigido em evitar o desperdício, lembro-me bem ainda quando na década de noventa, era um sonho acalentado pelo Engenheiro Breogán Gonda de sermos arquitetos de soluções, reaproveitando conhecimento existente, buscando sempre que possível a partir destes criar novos mundos, os novos tempos dizem não a repetição dos mesmos códigos milhares de vezes, necessitamos sim escrever código inovador e aproveitar o já construído pela comunidade de desenvolvedores.

     Muitas vezes confundimos tecnologia com inovação, inovação agrega valor à humanidade, tecnologia apenas a serve o que não lhe tira a importância, inovação hoje é liberar o homem do trabalho e facilitar-lhe o acesso à cultura, a tecnologia é necessária, mas definitivamente só avançamos com a inovação, existe toda uma vida pós-industrial a ser construída onde o foco principal é o homem e a sustentabilidade do planeta e para tal nossos softwares são peças chaves desde que comprometidos com esses princípios.

     Na GX2 temos refletido muito sobre processos ponta a ponta e sua cadeia de valor, pretendemos ter a felicidade das descobertas, que liberem o usuário final de todo o trabalho desnecessário, colocando em suas mãos a tecnologia que o possibilite ser inovador, bem o sabemos que isso só se constrói com a participação efetiva de todos envolvidos com a cadeia sustentável, onde não existe menor ou maior importância e sim a parte imprescindível do todo.


     O que levo na bagagem é apenas isso a vontade de estar com nossos companheiros, discutir com eles a construção deste mundo novo, dirigido à descoberta e não à produção, encontrando juntos os caminhos que nos façam mais felizes e completos como comunidade global em harmonia com a natureza.

sábado, 19 de setembro de 2015

Imersão no Passado, Exposição à Verdade.

     Privilegiado o espaço para a arte e a cultura nas agendas pessoais, esse passou a ter assento de horário nobre em quantidade e valor, não para alguns, sim para a maioria da população, consequência primeira desse fato a exposição à verdade interior de cada um, a filosofia renasceu associada a esse novo status das artes na sociedade, atingindo sua amplitude merecida que é a do tamanho da vida, vaticínio já pregado no passado correspondendo ao conceito de civilização pós-industrial, onde o trabalho perdeu sua condição de foco principal sendo substituído pela cultura.

     Novas e interessantes teorias apareceram para explicar a nossa existência, por certo ainda não conseguimos desatar esse nó, mas a vemos com olhos muitos mais abertos, uma valorização acentuada do presente, desse presente que insiste em se tornar passado, hoje pelo menos em ritmo menos alucinante, abriram-se as comportas para o aumento da convivência entre os homens e como condição imprescindível desta o culto à solidão como melhor preparação para a intensidade e fecundidade desses encontros.

     A verdade da morte como ápice da vida exige a troca de experiências físicas e intelectuais, gera o que seria tachado de uma leve irresponsabilidade em outras épocas, mas que de fato é a valorização da liberdade, só o livre arbítrio exercido em sua totalidade nos permite o relacionamento sem o jugo de preconceitos, igualitário por excelência, não estamos falando do “conheça-se a si mesmo” de Sócrates e sim do experimento da potência de Nietzsche.  

        Certamente vocês já se deram conta de que apesar da sofisticação tecnológica das estatísticas, o primado da vontade pessoal não nos permite ter certeza nem do número de humanos, muito menos das suas prioridades, o que vocês não podem ver é o momento de certa inquietação no espaço público compartilhado, alguns grupos analisam ecos de preocupantes ruídos sobre uma perda de individualidade, vindos de manifesta tendência em abdicar da possibilidade de pensar em troca de aderir ao pensamento já existente.         

     Lembrou-me um pouco da questão da Eva, do Adão, do paraíso e da maçã, minha pesquisa do passado sinalizou para um caminho de geração do caos através da ruptura da harmonia entre os próprios homens e da sua relação com a natureza, tem nos parecido claro, e cada vez mais partilhado é o repositório onde coloquei o tema, que urge investigar a história da humanidade, na busca de pistas sobre as motivações que levaram a essas alterações de comportamento com o intuito de não repetirmos o erro histórico.

     Quando fui desafiado a analisar aquele longínquo século vinte e um e seus três mil anos de história, quanto ao seu modo de relações sociais, perguntei-me aonde isso poderia me levar, qual tipo de contribuição aos meus pares isso traria, o desafio estava posto, o entendimento da precariedade que tinha levado o mundo a viver a fábula da torre de babel e a busca da vacina eficaz contra sua reincidência, é disto que se trata essa estória.