Sem
ilusões meu amigo, nosso repositório de lembranças nada mais são que fotos
arquivadas aos milhões impossíveis de identificar qualquer realidade diferente
das que os contínuos olhares nossos ou de outrem a descrevem.
Não tem
erro a cada vez que desenterramos uma destas fotos vemos outra coisa que além
de não combinar com a leitura anterior, tem o agravante, de não corresponder em
absoluto a realidade vivida.
Não
pense, porém que isto seja um problema, apenas é a expressão plena de nossa
humanidade, realmente a vida humana não seria possível se não nos fosse dado o
direito, de cada um de nós, reescrever continuamente nossa história.
Está
bem, você queria que eu escrevesse estória e não história, de fato não faz
nenhuma diferença, pois pela impossibilidade da segunda as duas se confundem e
se fundem, somos sim uma permanente mistura de estória e história.
O quão
longe estamos de entender este imenso buraco negro que somos, está diretamente ligado
a insistência que pregamos verdades como nossas, entretanto qualquer pequena
analise que fizermos, das influências que sofremos, nos mostrará que
necessitamos uma vida tão somente para iniciar este processo.
O
processo inegável, vivido por cada um de nós, é momento a momento
reescrevermo-nos para nós e para os outros, olho de novo aquela foto da
lembrança e reconto novamente minha história para mim ou para outrem.
Em
determinado espaço de tempo tenho mais culpa ou mais mérito, sem ilusão culpa e
mérito são a mesma coisa, definem apenas uma sensibilidade de momento e que bom
que assim o seja, pois reflete o fato de estar a existir.
Por certo
não estou a desestimular, podes crer ao contrário, nascemos vocacionados para
escrever e reescrever esta história fantástica que cada um de nós somos, vamos
lá mãos a obra, até nos encontrarmos na imensidão, buraco negro, de mistério que
somos cada qual de nós.