domingo, 12 de maio de 2024

Tela Branca e a Vida Entrelaçadas

 

               A experiencia de assistir um filme, frente a frente com a tela branca, recolhido a intimidade da sala de cinema expande em qualidade nossa vida, pouco antes de todo este desastre que vivemos aqui no Sul, tive o privilégio de ver na sala redenção o nosso Verdes Anos, dos brilhantes diretores gaúchos Gerbase e Giba.

 

               Falar do filme é completamente desnecessário por sua qualidade já afirmada pelo público e por todo o pessoal ligado ao cinema, saliento apenas que neste momento quarenta anos após o seu lançamento continua mexendo com o público gerando satisfação e prazer.

 

               Sempre gosto de realçar que existe um filme para cada expectador, pois vivemos um processo de imersão ao mesmo à partir do seu conjunto individual de experiências de vida, pois então quis escrever este texto mostrando como misturam-se minha vida e o filme.

 

               Existe no mesmo algumas cenas dedicadas ao amor de um estudante por uma professora (Aparentemente procurada como terrorista pela ditadura), todas as cenas mostram características fortes de vontade e impossibilidades.

 

               Cheguei no ponto que queria, viver estas cenas assistindo o filme reviveram cantos da minha memória pessoal nos anos setenta no final da adolescência, e a isto chamo de entrelaçamento da vida com o filme, por óbvio como falei acima é diferente para cada um de nós.

 

               Também ali, houve vontades e impossibilidades, era uma época em que estava completamento envolvido pela militância no repudio á ditadura e na busca da libertação, minhas memórias retornaram e junto delas pessoas muito queridas á época.

 

               Aparece em minha frente a casa da Glória, residência dos maristas que tive oportunidade de frequentar em muitas oportunidades, que me ajudou com os muitos livros que me foram emprestados, impossíveis de serem obtidos fora dali.

 

               Também nesta casa conheci o saudoso irmão Antônio Cechin, que só por sua obra com os catadores e papeleiros da região metropolitana, que lhe causou duas prisões na época, seu trabalho humanitário é digno de um santo de um herói, também lá tive amigos que foram para ronda alta participar do núcleo inicial do MST.

 

               Mas o que queria lhes dizer é sobre a Ipirela, codinome por certo, que foi a lembrança a desencadear todas as outras, era Ipirela por ser alta e bela como a estrela dos comerciais dos postos Ipiranga, com quem vivi na época uma relação de mistério e afeto, similar ao do filme, vivemos o que podíamos sem nenhuma pergunta, e assim o foi até o dia que ela simplesmente desapareceu sendo alocada á um ponto mais seguro, provavelmente em outro país.               

O Criador Escravo da Criatura – Guerras.

 

               Desde que o homem traçou o primeiro traço no chão, montou a primeira divisória, e disse ‘Daqui para cá é meu’, estamos em guerra, onde ninguém ganha, a humanidade perde, mas por traz deste traço há um combate maior contra a natureza e em tal guerra todos percebemos a cada dia o gosto da inevitável derrota.

 

               Esta criatura que geramos em ideias traz um conjunto suficientemente fortes a justificar esta insanidade que são as agressões entre nós mesmos e contra a natureza, e infelizmente de bom grado muitos de nós criadores nos submetemos á criatura sujando nossas mãos de sangue direta ou indiretamente.

 

               É tempo de repensarmos a criatura, quaisquer ideias que defendem a propriedade e com isso o direito de pessoas e nações agredirem outras pessoas e nações, devem ser de imediato combatidas e expurgadas.

 

               Não há verdade fora da convivência pacifica entre os homens entre si e a humanidade com a natureza, tudo que nega isso é uma grande mentira que mata humanos e seres vivos em geral.

 

               Não é justo nem correto, em nome de uma falsa liberdade individual, aceitarmos que este tipo de pensamento prolifere, a análise critica das ideias é um bom combate e deve ser uma luta de toda a humanidade.

 

               As agressões por pessoas, organizações as mais diversas e nações deve ser alvo de uma tolerância zero, buscar libertar o criador da escravidão da criatura deve impulsionar toda a nossa criatividade como seres humanos.

 

               Vamos juntar nossos esforços para evangelizar nossos irmãos humanos na conquista da harmonia entre nós homens e a paz universal, nosso compromisso deve ser em esclarecer os seres humanos da debilidade das ideias que defendem agressões.

 

               Em hipótese nenhuma podemos aceitar nossa impunidade nas milhares de mortes nas disputas Palestinos x Israel e Rússia x Ucrania e muito menos nas ocorridas em desastres climáticos como o atual no Rio Grande do Sul.

 

               Devemos sim assumir a culpa e nos engajarmos na grande batalha de corrigirmo-nos para que um futuro melhor se anuncie.                

sábado, 13 de abril de 2024

O Criador Escravo da Criatura.

 

               Aí está a história que a humanidade escreve nestes milhares de anos, criou seu sistema de ideias chamado civilização, que hoje em tempos de exponencial velocidade, transformou-nos todos em escravos deste conjunto fictício de verdades.

 

               Fomos sim agregando dia a dia, simples ideias por nós apelidadas de verdades, e submetemos todos os seres humanos a obedece-las como o escravo obedece a seu presumido proprietário, esta nossa criação nos escravizou.

 

               Muitos de nós buscam libertar-se deste monstro por nós criados, mas toda uma construção autoritária de sociedade tem seu trabalho para submeter-nos exercendo seu poder desde antes do nosso nascimento até a morte.

 

               O tão famoso livre arbítrio já é hoje questionado por muitos cientistas que conseguem enxergar que por traz de cada uma de nossas decisões passam milhares de situações das quais não temos nenhum controle.

 

               Porque tudo isso é importante? Primeiro porque queremos sim ser seres humanos em plenitude, e para tanto precisamos ser livres e donos de nosso destino, em outras palavras temos que quebrar o autoritário projeto que é destinado a nós todos.

 

               Não vamos nos enganar, hoje isso é extremamente complexo, observem que todo este sistema está criando em grandes quantidades seres humanos que adotam verdades como questão de fé e se submetem a ser escravos deste é por que está dito que é.

 

               As estruturas de manipulação social estão tão bem construídas a ponto de construírem maiorias, que como tão bem sabemos só interessa aos medíocres e são ponto forte de involução da sociedade como um todo.

 

               Não nos resta opção que não seja quebrar a espinha dorsal do sistema, ou seja combater ao projeto de construir submissão desde o inicio de nossa vida, ou seja ainda no ventre materno.

 

               Conhecimento é descoberta, nunca imposição de informação, todas as nossas histórias estão construídas sobre o impor informação e não propiciar conhecimento, está aí neste patamar o bom combate.

sábado, 24 de fevereiro de 2024

O que são Lembranças senão Mentiras para nós mesmos.

 

               Cada qual com seu perfil particular e único, armazena lembranças, filtradas por nossa personalidade individual, por necessidade de sobrevivência, elas mentem nossa existência.

 

               Sim as mesmas são escritas e reescritas com o passar do tempo para tornar nosso presente possível e isso independe de nossa vontade.

 

               Nunca duvidamos que somos reflexo das circunstâncias ao qual nossa vida é exposta nas mudanças constantes do calendário, se nunca somos o mesmo isso também vale para nossas lembranças.

 

               O próprio fato de existir nos obriga a readaptarmo-nos, esta maquina viva complexa que somos reconstrói-se neste movimento eterno, porém finito, em todas as nossas partes, inclusive nas nossas lembranças.

 

               Nada a condenar nesta mentira que realizamos para nós mesmos, estamos apenas constatando o fato, e mais, ele é necessário como condição indispensável para viver o presente, só este jogo fraudado de lembranças permite ser o que somos.   

 

               Todo nosso poder de decisão, o tal livre arbítrio que de livre não tem nada, depende da analise instantânea de nossas circunstâncias atuais em contrapartida com infindáveis lembranças de circunstâncias anteriores redesenhadas em nós mesmos para refletir coerência e unicidade.

 

               Por certo o temperamento e o humor com que vamos nos construindo vai influenciar o cuidadoso retoque que vamos dar as nossas lembranças, vão apoiar nossos medos e nossas ousadias.

 

               Faz alguma diferença termos consciência deste processo que ocorre em nós mesmos, sim por óbvio que faz, nos ajuda a ampliar o espirito critico e com isso decidirmos com mais justiça para com nós mesmos e para com a humanidade.

 

               Gosto deste conceito, somos ficcionistas de nós mesmos, o que nos permite trabalhar com muito mais liberdade nosso dia a dia, nos liberta um pouco da opressão das circunstâncias que nos cercam, ampliando a participação de nossa vontade em todas as decisões que tomamos.

domingo, 24 de dezembro de 2023

É Muito Privilégio (Ter Tantos Natais Felizes), Muito Triste (Ver Tantos Sem Natal).

 

               Não consigo me lembrar de um ano sem um lindo Natal na minha vida, nasci e cresci cercado por carinho, o ponto mais alto de todos os que me amaram, todos dando seu melhor por um presépio, arvore de natal, um papai Noel, uma ceia e também presentes.

 

               No início, primeira infância, apenas enfeitiçado por este dia cheio de atividades, cujo ápice era ver aquela bela arvore de natal e o bom velhinho (Papai Noel que ainda não identificava com uma das pessoas que me amavam) tirando dela os mágicos pacotes de presente para distribuir entre os que a cercavam.

 

               Avançando nos tempos, já na infância, tínhamos dois grupos trabalhando para a felicidade de todos, nós a gurizada (meus irmãos e meus primos) construindo uma apresentação com poesias, cantos e representações, enquanto os adultos (avós, pais e tios) preparavam a ceia e os presentes no entono da arvore de Natal.

 

               Bom era tudo muito simples, com guloseimas e comida feitas com próprias mãos dos que nos amavam e presentes dentro dos padrões de famílias construídas com muita luta para ter uma vida digna e buscar a felicidade.

 

               Os anos passam, mas o que aprendemos vivemos, chegou minha vez de gerar esta mesma alegria agora para filhos e sobrinhos, o guri bobo continua dentro de você, olha que muita alegria me deu colocar filhos e sobrinhos dentro do carro e desfilar pela zona sul de Porto Alegre a cantar feliz natal para todos que encontrávamos a medida que contemplávamos as casas enfeitadas no caminho.

 

               Então é muito privilégio poder curtir uma vida tantos momentos felizes, porém em nenhum momento consigo esquecer a quantos essa felicidade é negada, o que me deixa sim aborrecido pela minha incapacidade de resolver.

 

               O momento atual em que se encontra a humanidade aumenta muito esta divisão entre felicidade e tristeza, pois cada vez tiramos mais de quem pouco tem e não satisfeitos com isso hoje estamos matando pessoas por nos julgarmos, sem mais nem menos, do que no direito de fazê-lo.

 

               Todo este privilégio desmorona ao contemplar tanta injustiça, tanta falta de humanidade e agora em especial com esta nova casta, tanta crueldade, urge reencontrarmos nossa humanidade não só para salvar o planeta como e principalmente para salvar a humanidade que hoje é o seu principal predador.

quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

Forma, Forma que deforma.

 

               Caminhante me deparo dia a dia com vultos, encontro-os frente aos meus passos, encontro-os avançando em minha direção, cada qual soma detalhes, sempre tão diferentes, expressando belezas diversas.

 

               Está aí um momento mágico, cada vulto torna-se uma beleza particular, são formas muito diferentes, é a diversidade de cada um de nós, e como são belas no seu conjunto único.

 

               Humano, por certo cada um destes encontros, representa uma paixão de minuto, paixão esta que vive na oportunidade e se despede dentro da gente na imediata busca da outra que nasce com o acaso do próximo encontro.

 

               Tanto insistem em programar formas perfeitas destinadas a enquadrar os outros em padrões pré-programados, que nos distraem da beleza de cada um em busca dos defeitos em relação a forma idealizada.

 

               Estas molduras, ditas perfeitas, nada mais são do que a necessidade de criar desejos, e assim satisfazer as necessidades de uma sociedade dirigida ao consumo, na prática, escravizam quem vê e quem é visto, condenando-os a uma insatisfação permanente.

 

               As obras de arte espalhadas pelo passar dos tempos, com seus artistas maravilhosos a descrever o padrão do seu momento na civilização a qual pertence, nos aponta para esta diversidade da beleza.

 

               Poder estar absorvido desta multiplicidade de formas belas compostas por diferentes idades, raças e gêneros é uma benesse conquistável, sempre que se esteja liberto do colonialismo dos padrões pré-definidos por necessidades do sistema.

 

               Nós almejamos o belo e este nos cercará por todos os lados, sempre que possamos olhar sem os filtros do preconceito, ao nosso alcance há um paraíso ao qual podemos definitivamente aderir por vontade própria.

 

               A desconstrução do pré-conceito é uma tarefa de vida toda, não podemos esquecer que já o carregamos desde o nascer com toda a força que a genética da ancestralidade exerce sobre nós, ampliada na sequência pelo autoritarismo da educação dita civilizatória.       

 

sábado, 9 de dezembro de 2023

Sou Muito Pouco para o Muito que sois.

 

               Sem precipitação adianto que o meu muito pouco não é menor nem maior do que o seu muito, estamos tão somente tratando das intersecções entre teus e meus desejos com o modelo de desejos oferecido.

 

               Como construir uma sociedade de consumo sem modelar um conjunto de desejos e trabalhar freneticamente para que os mesmos sejam parte do modelo mental da maioria dos seres humanos.

 

               Então voltando ao primeiro parágrafo, meu muito pouco é a falta de aderência a este pré-fabricado modelo de desejos e o seu muito é a opção sua pelo mesmo, resulta que na vocação de ambos de lançarem-se um ao outro ficamos em dificuldade para seguir um mesmo caminho lado a lado.

 

               Somos seres vivos com uma incrível condição de adaptabilidade, tanto as condições naturais como nas construídas pela própria humanidade, mas todos nos adaptamos de maneiras diferentes particulares de cada um.

 

               Por princípio a infância, a pré-adolescência e está ultima em particular imprimem um modo operante que vamos levar a partir dos tempos como guia comportamental para enfrentarmos os diversos acasos do porvir.

 

               As décadas 50/60/70 foram propícias a desenvolver indivíduos de perfil anárquicos e revoltados, como fruto de grandes mudanças do pós-guerra e este time se adapta ao controle social dos desejos estabelecidos a partir de 80, questionando-os um a um, portanto como consequência rejeitando a maioria.

 

               Esse processo por certo os torna recessivos ao mundo de consumo, conseguem compreender perfeitamente as necessidades do outro, entretanto há não ser sob farsa, não conseguem viver o que não acreditam.

 

               Continuamos insistindo que não há melhor ou pior nestes diferentes comportamentos, são apenas as diferentes faces dos seres humanos no existir e que por certo temos que valorizar com muito respeito.