terça-feira, 20 de setembro de 2016

Oh Meu! Pare de Mentir para Mim.

     Como queres que eu entenda sua inteligência seletiva que finge não perceber que a grande maioria da população não tem nenhuma possibilidade de competir contigo, insistes em catalogá-la no rol dos desinteressados pelo trabalho pela vida por atingir qualquer objetivo, se tivesses os pés na realidade serias sabedor que este local de chegada é inexistente, quando muito um ou outro caso prêmio de exceção no sorteio do acaso ocorre apenas para justificar a regra, essa verdade que você plantou em si mesmo sabendo nascida morta em sua lógica já que acreditar em oportunidades iguais para diferentes potenciais nada mais é do que discriminação poderosa exercida em benefício dos mais bem aquinhoados.

     Mais difícil é acreditar na sua visão econômica que esconde o fato de que qualquer acumulação só pode ser possível de ocorrer pela apropriação indevida do trabalho de outrem, algo que a simples operação matemática que envolve a quantidade obtida de cada um multiplicada pelo número de forças de trabalho alocadas bem demonstra, quanto e de quantos mais essa é conta direta da mais valia transformada em lucro sempre que possível reaplicada em capital, tanto mais tiro direta ou indiretamente de tantas mais pessoas mais eu tenho, o mais cruel disso é que forçosamente para manter esses privilégios precisamos de um enorme número de despreparados obrigados a se sujeitar a um estado tão próximo da insuficiência mínima que os jogamos no fio da navalha de um lado trabalho humilhante e do outro encaminhamento ao banditismo.

     Está bem que eu não tenha lá muitas luzes, todavia percebo não precisar de tantas para visualizar o que está em jogo em cada casta, sabidamente só tem um o próprio banqueiro do jogo como o seu ganhador final, organizados em castas onde em cada uma delas são distribuídos bilhetes para concorrer a um avanço de nível, o número de vagas além de ser limitado é determinado por um sorteio dirigido onde eventualmente não se consegue evitar um penetra o que não chega a ser uma perda, pois cria o mito da possibilidade de furar os bloqueios servindo também talvez até melhor ao sistema, resta a todo mundo continuar a fazer suas oferendas para agradar aos deuses confiando em sua ajuda num possível sorteio para a almejada promoção a hostes cada qual mais próxima dos mesmos.

     Você sabe por certo que não estou julgando-o, estou admitindo minhas limitações pessoais, para compreender que poder ilusionista é este que lhe enfeitiça ao ponto de acreditar que possa ter algo de justo no mais forte esmagar o mais fraco, fraco este criado frágil pelo próprio poderoso exatamente para ser vencido para ser explorado através de um processo continuado por gerações de sonegação de alimento, saúde e educação neste vampirismo social que construímos tão difícil me é crer que nisto acredite que me pego falando sozinho oh meu, pare de mentir para mim. 

domingo, 11 de setembro de 2016

A Arte Encantos e Desencantos.

     Ao insistirmos em associar a arte ao supérfluo desdenhamos de fato a vida que encarna essa tentativa de associação harmoniosa de palavras ritmos ou imagens, abrir mão da arte como manifestação clara da presença do ser humano é desistir de se investigar, independente de qual rótulo a associamos, ou seja, como esta se classifique é sempre o enfrentamento do homem pelo homem ante o ato de existir que cada uma das manifestações artísticas à sua maneira exprime e perpetua.

     Nos desencantos podemos contabilizar talvez como mais importante de quem a destrata por não lhe creditar devido valor a quem a defende como vital para o ser humano e não encontra tempo para com ela conviver, para abraçá-la hora e meia em uma sala de cinema não há tempo, para mística transformação das palavras escritas nos conceitos pensados por quem a lê inexiste essa hora e meia, para curtir uma pintura uma ilustração uma música uma fotografia um grafite, em síntese viver o prazer da essência de ser humano que por sua arte se desvenda sempre falta essa hora e meia que infelizmente está ocupada por todo e qualquer movimento destinado a distrair-se de si mesmo.

     Nos encantos registro o prazer de nos espaços culturais nos cafés nos bares nas ruas encontrarmos com quem se possa trocar opinião sobre leituras feitas filmes vistos saraus que participamos e tantas outras manifestações culturais experimentadas colhendo a gratidão do convívio com companheiros livre pensadores, cientes que só podem formar-se pelo continuado digladiar com as diferentes manifestações artísticas que vivenciadas explodem em valor dentro de cada um.

     Entristece-me quando me vejo a olhar esta máquina tão bem azeitada do excesso de informações parceira da insuficiência de conteúdos, hoje sabemos sobre tudo um pouco sem nos determos no entender muito de alguma coisa, somos muito rápidos estamos sempre na busca do fazer algo sem tempo para a contemplação de nós e dos outros, é certo que isso serve a alguém e que esse alguém não é o ser humano, mas sim um impessoal conceito nascido da velocidade de movimento que à sociedade nós imprimimos, nos leva sem rumo a corrermos para todos os lados tipo moscas tontas ou formigas disciplinadas sem parar para pensar aonde se quer chegar, pois se o fizermos concluiremos que quase tudo que realizamos sendo de uma completa inutilidade não nos traz prazer nem felicidade.

     Encontro na arte no ato de realizá-la e ou de partilhar a arte realizada a oportunidade de redenção para humanidade, pois esta se oferece como caminho inevitável de encontro do tempo para consigo mesmo cuja vivência nos levará a exercer a vocação inata do homem que é de lançar-se na direção do outro se realizando como animal social o que é da sua natureza. 

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Nós Duas Descendo a Escada, Vamos Juntos Nesta.

     Estive na estreia ontem do filme “Nós Duas Descendo a Escada” no Cine Guion, resumindo a experiência fui, vi e gostei, portanto recomendo irmos juntos com elas nesta descida de escadas que eleva o ser humano, cinema universal com assinatura gaúcha descortinando um coletivo de profissionais apaixonados pela arte das imagens em movimento a qual se dedicam nesta película liderados pelos lúcidos diretores Milton e Fabiano.

     História de amor não é um tema inédito para o mundo do cinema, o que as diferencia é o fato de ter a assinatura particular de quem a escreve, de quem a dirige e da equipe que viveu as filmagens do planejamento até sua finalização com consequente entrega para as distribuidoras e principalmente do cinéfilo que a assiste na tela grande com sua leitura única e é esta que tenho a pretensão de reproduzir nestas linhas.

     Começo descobrindo que “Nós duas descendo a escada” é Porto Alegre, as protagonistas circulam pelos lugares que são nosso dia a dia, na zona sul do nosso lindo Guaíba lembram nossos fim de tarde de olhar sonhador, no mercado público onde tantas vezes circulamos em tão boas companhias, já tivemos nossas confidências nestes mesmos bares que elas frequentam e olhamos os mesmos gastos grafites de nossos muros, também subimos e descemos as escadarias como a da Borges atrás de um encontro com a nossa sanidade que esperávamos encontrar na outra ponta, não faltou nem mesmo este corredor de entrada para as salas de cinema do Guion que percorremos aqui hoje para vê-las, os seus sonhos suas desilusões acontecem onde vivemos os nossos também.

     E como está bonita nossa cidade Porto Alegre no filme!

     A naturalidade da relação entre as duas protagonistas é um dos pontos altos do roteiro contextualizando uma desaprovação categórica, a discriminação, rejeitando o habitual comportamento que é o encaixotamento em guetos a que normalmente estão expostos os diferentes gêneros minoritários com seu confinamento a locais de convivência exclusiva, a oportunidade do encontro nos corredores de um prédio qualquer com atração imediata seguida da busca da conquista e sua concretização, seus encontros e desencontros carregados de afeto e sexualidade expressam realidades por todos nós vividas desde sempre.

     Merece referência também a questão social sendo que transparece para mim espectador que apesar de ambas estarem inseridas na classe média, uma representa os abastados desta e a outra está localizada na extremidade oposta desse extrato social, como não poderia deixar de ser carregam essa diferença de poder aquisitivo para a intimidade de sua relação, os conflitos inerentes ao desnível de situação econômica manifestam-se no jogo de poder e resistência que são experimentados por ambas resultando nas situações de crise durante o desenrolar do filme.


     Sua presença em uma das sessões do filme tem meu aval não que vocês o necessitem recomendo porque gostei e as coisas boas devem ser partilhadas entre todos nós, nós duas descendo as escadas, vamos juntos nessa. 

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Droga nós Conseguimos Extinguir o Ser-Humano.

     Nosso belicismo desfilou acompanhando-nos desde nossos primeiros passos no planeta, enquanto não eliminarmos todos os nossos concorrentes no passado longínquo não descansaremos, não sem antes piratear alguns genes que pudessem nos ajudar a ser o que somos hoje, não satisfeitos partimos como trogloditas a destroçar a natureza e por fim um trabalho insano de buscar extinguirmo-nos como seres humanos, agora o homem pode festejar conseguimos extinguir o ser humano.

     O sonho dourado da transcendência acalentado por Nietzsche de despojarmo-nos da casca ético-moral impingida a nós pela civilização e lançarmo-nos para a potência do super-homem do além-homem transmutou-se nesta carcaça sub-humana sem alma que hoje aí está com nossos movimentos desorientados sem livre-arbítrio iludidos pela fantasia mesquinha do direito de vivermos da existência e do trabalho do outro.

     Este grau de selvageria disfarçada pelo fino verniz de um ideal de progresso para a humanidade com seus negócios mal cheirosos sempre nos vangloriando do número de mortes, as quais os gângsteres gravavam como marcas em suas armas e nós o fazemos pelo acúmulo de objetos inúteis de ostentação social, cada um desses símbolos de poder está de modo inevitável e definitivo comprometido com a exploração de alguém, com a fome de um, com a miséria de outro, com a morte de alguém, o que não podemos identificar e aceitar como atitude de um humano.

     Tornou-se inviável separar o trigo do joio para tal teríamos que começar do zero queimar a roça, plantar novamente, cuidá-la desde o início acompanhando todo o crescimento com vigilância redobrada, mesmo assim muitos focos brotam em meio aos jovens de preocupação com a qualidade de vida, não aquela do falso brilhantismo do excesso de acúmulo do exagero de consumo que só pode ser conseguido com a ilegítima usurpação do trabalho alheio, e sim com a realização própria pelo trabalho para a humanidade o que na medida adequada corresponde às necessidades inerentes ao ato de viver, talvez aí esteja a semente de nossa recuperação como um conjunto de indivíduos.


     As ciências exatas são o pavor atual da maioria permito-me entender esse fenômeno como reflexo de nossa vocação atual para avestruz enfiando nossas cabeças em buracos para fugir do perigo representado pela lógica do pensar o que por certo nos amedronta, os nossos filósofos eram grandes matemáticos e hoje pacíficos nós aceitamos sermos arrastados pela vida de rebanho evitando sempre pensar e decidir o que historicamente nos definiu como espécie.

domingo, 4 de setembro de 2016

Libertou-se Meu Grito “O GOLPE Espelha Minha Servidão.

     Sufocava-me preso na garganta a angústia dos últimos acontecimentos nesta caricatura de nação que é o nosso amado Brasil, a acalentada necessidade de RESISTIR convivia com a indesejável impotência de um livre pensador frente ao inevitável GOLPE de ESTADO que crescia no útero de uma terra amaldiçoada pelo espectro dos usurpadores de sempre a serviço da desigualdade entre os homens, nasceu o Golpe libertou-se meu Grito “O Golpe espelha minha servidão”.

     Vejo Platão revirar-se no túmulo o seu sonhado governo de uma aristocracia de sábios filósofos tem aqui agora sua antítese com o governo da ignorância, não são tiranos déspotas não são medíocres democratas não são oligarcas estabelecidos pelo seu próprio poder econômico ou por sua brilhante falsa retórica, são apenas medíocres serviçais da escravidão do homem pelo homem que se aproveitando do continuado esforço de despreparar a população para pensar por si só servem decididamente ao desmonte de qualquer indício de avanço no sonho de deixarmos de ser apenas instrumentos dos objetivos do capital, como qualquer outra máquina usada no seu único e exclusivo interesse.

     O resistir urge acontecer no seio da sociedade não através de receitas prontas, pois já as experimentamos e nos deixaram o gosto amargo de criar este acinte que nos desgoverna hoje, bem o sabemos que estão prolongando artificialmente uma concepção de organização social já morta que conduz a sociedade para esta antropofagia que denominamos sociedade de consumo capitalista com seus deuses graduados pelo tamanho do seu vampirismo de mais valia adorados pelo volume de sangue extraído do trabalho humano.

     Quão longe estamos daquele homem idealizado aquele que se realizava pelo seu trabalho para a humanidade ao nos encaixarem como peças especializadas neste gigantesco mecanismo de gerar uma riqueza supérflua e um homem aleijado pela pequenez do seu pensar, brilhante no detalhe completamente incapaz de entender-se como um todo universal.

     Os homens livres hão de brotar lançar suas flores inundar a terra com seus frutos serão maioria e contaminarão a natureza com a doçura de suas vidas é o contraponto obrigatório do poder quando exercido com crueldade e tirania a resistência nasce e cresce no interior da lama podre esta que é morte alimenta a vida, pois o tirano pelo excesso condena-se a sua ruína.

     Não aceito a servidão não quero escravos, o ato de resistir não depende de uma palavra de ordem não tem um mentor a receitá-lo, resistir é um ato unipessoal libertário que se completa na vocação humana do ir ao encontro do outro sendo o caminho da desobediência civil na situação a qual nos submetem um ato certamente justo desta resistência, assim sintetizo meu grito dizendo que não me sinto obrigado a compactuar com que aí está.