quarta-feira, 24 de outubro de 2018

O Outro Lado da Moeda


                Alem de toda a circunferência com sua cinta constante a moeda sempre tem dois lados, mesmo que não queiramos vamos admitir o obvio que como nação todos nós perdemos, estando por vir mais quatro anos de decadência, dificuldades sociais, políticas e econômicas das quais não temos como fugir, independente de quem vença o pleito, as cartas estão dadas, o aumento do caos que por aqui se estabeleceu é uma realidade que nem o argumento nem a violência são capazes de vencer.

                Vamos admitir, porém que dos dois lados da moeda, mesmo sendo em tom de torcida de futebol durante um clássico onde o adversário é tudo de ruim, nunca em tempos nenhum tivemos tantos participando do debate sobre a nação que queremos, cabe então a todos nós mantermos este nível de participação pós-apuração não mais sobre a canalhice do adversário, mas sobre situações concretas deste país que necessitam ser discutidas e encaminhadas como novas resoluções para construirmos uma sociedade mais justa.

                Temos muito a estudar e investigar sobre os últimos quatro anos, sob-hipótese alguma temos o direito de abrir mão desta análise, pois o futuro da nossa gente é dependente da interpretação correta dos movimentos que estão por traz do acontecido, qualquer governo que se estabeleça de fato não será o resultado de uma maioria e sim uma simples fotografia de um momento atípico na cena nacional, ir a fundo à reflexão sobre os mecanismos criados para gerar este clima de instabilidade social e identificar os oportunistas que trabalharam em seu beneficio pessoal parindo este caos é um dever nosso como sociedade.

                Em paralelo ao compromisso anterior nos cabe também em sintonia com a democracia e suas instituições não abrirmos mão de todas as pautas, o novo governo deve por ser um serviço à população administrar o país ouvindo o consenso de seu povo em cada medida a ser executada priorizando o direito ao trabalho justamente remunerado, uma educação que impulsione o homem a sua utopia e uma saúde que valorize o direito universal a vida, este é um direito nosso, o direito de ser ouvido quanto a diretrizes a serem executadas pelos nossos delegados administradores.

                A eleição na verdade começa na segunda feira, depois da festa dos vencedores, para cada um dos itens temáticos que compõe o compêndio Brasil que queremos, cabe a nós lapidar a melhor proposição para, independente de qual dos dois for o novo presidente, a execute em nosso nome, caso contrario voltando o nosso povo ao silêncio pacato da responsabilidade repassada aos governantes continuaremos a vivenciar o que se estabeleceu nestes quinhentos anos, uma riqueza natural espoliada e um povo empobrecido e explorado.

                Quantos mais de nós assumirmos o compromisso do bom debate, maiores são as possibilidades de rompermos esta corrente predatória que nos mantém no subdesenvolvimento e sob a tutela dos interesses internacionais.

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Tradição, Família e Propriedade tem Outro Nome: Hipocrisia e Barbárie.


                A quem pretendem enganar com este seu canto de sereia, que como é do conhecimento de todos hedionda na realidade e linda no encanto do seu canto, com seus chavões contra a corrupção e o roubo, comprometidos por quinhentos anos de espoliação das riquezas do país e exploração do seu povo o candidato fascista e seus cúmplices reaparecem depois de minguados doze anos, em que o povo concedeu-se ser senhor do seu destino, com esta revindicação de exclusividade na rapina em nome de uma fantasiosa moralidade associada à defesa da tradição, família e propriedade.

                O que pregam como tradição é o direito de submeter à maioria a sua verdade particular, tão sua que lhes parece digno de ser impingida via autoritarismo militarista e perpetuada por um ensino utilitarista que desarme a população atual e futura de seu direito ao pensar, optando pelo odioso “colocar cada um em seu lugar” por práticas de discriminação das minorias revertendo o processo libertador que hoje as mesmas estão vivenciando. 

                O que apregoam como defesa a família, infelizmente seu modelo não é um conjunto harmônico de pessoas que se amam que querem crescer juntas, mas uma estrutura patriarcal autoritária de peças e papéis previamente definidos, uma célula mater da sociedade onde a ordem fala mais alto que o amor, é este direito de voltar ao passado, que imaginávamos já superado em todo o mundo, que buscam restabelecer para propaga-lo nas instituições democráticas.

                O que advogam como propriedade é sempre o pedaço de chão cercado pelo mais forte e nunca a distribuição justa do trabalho humano, quem tem a propriedade a disposição da sociedade nunca precisou temer será sempre respeitado e benquisto, agora o que a tomou pela força necessita de armas e milícias para defendê-la sempre vê no outro o espelho de seus atos.

                E se pensássemos que a verdadeira tradição é a capacidade do homem em rever seus conceitos reinventando-se em uma sociedade dirigida ao bem comum, nossa tradição é da abolição da barbárie e não do retorno à mesma, já nos demonstrou a história que a repetição dos erros do passado sempre se apresentou como uma farsa urge avançar para alcançarmos a harmonia do afeto que somente é possível abrindo mão do autoritarismo, da discriminação e da exploração do outro.

                 E se pensássemos que a verdadeira família é associação de seres humanos em células de reprodução de bem querer, onde trocam entre si talentos para o crescimento de todos e transcende para a integração com outras iguais no que denominamos comunidade humana dos homens livres, a harmonia dos iguais desta família seria não mais a fonte de poder e sim a irradiação de uma luz á contribuir para a paz na humanidade.  

                E se pensássemos que a verdadeira propriedade, independente de ser publica ou privada, é um equipamento destinado a dar o conforto do teto universal ao homem, permitir o uso de seu talento no direito ao trabalho em prol de todos, nunca para a acumulação de riquezas individuais que leva ao desperdício, sempre para o bem estar de todos.

                Não nos enganemos cabe a cada um de nós decidirmos entre a guerra e a paz, infelizmente continuadamente estamos optando pela guerra, guerra entre as pessoas, guerra entre as nações quando tão somente a paz poderia levar a prosperidade tão sonhada, não é o que tiro dos outros que me engrandece e sim o que faço pelo outros me enriquece.

quinta-feira, 18 de outubro de 2018

Caminhando Sobre Minhas Pegadas de Resistente.


                Amigos, desde que lembro conhecer-me, ando a percorrer o caminho da resistência rumo à utopia de uma sociedade justa do ponto de vista social e econômico, onde os seres humanos não acumulem riquezas ás custas do suor e do sangue de outros, nesta estrada entre tantos que admiro gosto de citar homens como Gandhi sua luta contra o colonialismo na India, Mandela seu desafio ao racismo na África do Sul e Mujica sua busca por uma América Latina livre no Uruguai.

                Consciência eu tenho de que andamos em frente, eventualmente com retrocessos inevitáveis, mas sempre avante porque assim como as derrotas não me diminuem as vitórias não me aumentam, fazem parte apenas da luta e penso que assim há de ser enquanto viver.

                Minha primeira derrota ocorreu quando ainda criança, em 60, onde a espada de Lot (miniatura que empunhava orgulhosamente) perdeu para a vassoura de Jânio, porém em 62 quando da legalidade de Brizola, aí já pré-adolescente, tive minha primeira vitória contra a elite local apoiada pelos “interesses internacionais” como dizia o mesmo Brizola.

                Tombos sérios foram em 64 quando os tanques passaram por cima da vontade deste adolescente e na sequencia em 68 consagraram a ditadura torturadora com o AI5, eu participei ativamente de todos os movimentos na rua e dentro das escolas em busca da volta a democracia.

                Diretas Já foi aonde cheguei quando estávamos em 83/84, uma ampla mobilização que terminou na eleição ainda indireta de Tancredo que com sua morte legou o poder para um Sarney palatável a famosa transição da ditadura para a democracia, evitando expor os golpistas a expiação de seus crimes, finalmente em 89 eleições diretas elegendo um farsante caçador de marajás, Collor que assumiu a presidência nos anos 90.

 Collor afastado, mandato tampão de seu vice Itamar preparando as eleições de Fernando Henrique Cardoso que assume a presidência em 95, um exemplo de guinada á centro direita, em sua posição inicial exilado sociólogo de esquerda, o vi avançando rumo o centro com as conquistas sociais minguando enquanto o governo corria no tempo, terminando mais á direita que ao centro.

Durante este tempo havia um pregador da pureza política, muito parecido com o discurso que hoje vemos do lado fascista, felizmente com o foco mais apropriado que é o da Justiça social e não o do autoritarismo e da violência, este elegeu Lula presidente nos idos de 2003, minha desconfiança política vinha da atitude de privilegiar a luta contra os irmãos de esquerda para a conquista do poder hegemônico nesta ala em detrimento a luta contra as elites exploradoras, postergada que foi para uma fase dois.

Só poderia dar no que deu um grande avanço nas políticas sociais, crescimento econômico e político em relação à comunidade internacional, o país assumindo uma liderança de uma terceira via mundial, melhor distribuição da renda e das oportunidades para o povo, mas sempre tem um senão, o acordo e envolvimento com uma classe política de direita vassala dos interesses econômicos da elite mundial e contaminada pela corrupção com avanço geométrico á partir do golpe militar de 64, a convivência com a lama o infectou em nome do manter-se no poder, os próprios professores de corrupção em um golpe de mestre o aniquilam em nome de uma luta onde nunca lhes interessou contar com a esquerda, manter a elitização da corrupção e desfazer dos avanços sociais.

Bem aí estamos preparados para mais quatro anos de resistência, independente de quem ganhe o processo eleitoral, que ainda posso sonhar e lutar para que seja uma derrota do novo caçador de marajás, teremos sim o fascismo nas ruas e teremos muita dificuldade de ver o PT criando sua comissão de verdade para entender seus muitos acertos e para apreender com seus erros, como prega o companheiro anarquista Noam Chomsky, mas para quem nasceu na resistência é apenas mais um episódio na luta por uma humanidade justa.  

segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Pedaço de Mau Caminho


                Um paraíso a espreita é tudo de bom para qualquer um de nós, as organizações religiosas se multiplicam para nos ajudar a acessa-lo, ótimo que existam em quantidade sempre que ajude o ser humano a encontrar a felicidade e a paz, semeando bondade para a humanidade na terra, pena que carreguem em seus braços uma classe de dirigentes.

                Os deuses não precisam de representantes, de intermediários, eles tão somente necessitam que os irmãos da fé se encontrem em comunidades para refletir sobre a melhor maneira de vivencia-la, nestes grupos de fiéis os diferentes talentos irão gerar a completude da conversa com deus.

                Infiltram-se nestas organizações castas de dirigentes no sentido amplo da palavra que é exercer governo, sempre que se queira conduzir a contrapartida é ter obedientes seduzidos,  correspondendo ao chefe nas suas vontades e recomendações, o que por si só já desmonta o amai-vos uns aos outros como a si mesmo, colocando por terra a igualdade entre os ditos eleitos, passamos então a ter um que aponta o caminho que fala em nome de deus para seus tementes ouvintes e não seus iguais.

                Podem chamar isso de carisma, podem catalogar como uma questão de mérito, mas o que não pode ser escondido é que o dirigente exerce poder, o que por si só já é um pedaço de mau caminho, e num instante transforma-se em onipotente, o que o desgarra da humanidade e o põe entre os deuses.

                Quem tem o poder passa a negociar com outros que também o tem, sua medida de força é a legião que comanda, com a garantia que a mesma seguirá sua vontade em qualquer tipo de guerra santa a serviço do bem temporal, negociatas que normalmente são feitas em ambientes de sigilo assegurado, por seus fiéis não será um contrato acordado por interesse, mas uma revelação da vontade do seu Deus ao seu representante.

                Também o que a antes eram comunidades de despojados a viverem felizes entre si repartindo o pão e o vinho, transformou-se por necessidade do dirigente de expandir seu poder, em organizações acumuladoras de riquezas que fazem da caridade uma distribuição das migalhas da farta mesa da classe governante da fé.

                Talvez a mais funesta consequência desta casta de dirigentes seja a mudança de foco das organizações religiosas que por principio era o amor, que infelizmente tem o defeito de não sensibilizar dízimos, passou a ser o temor ao diabo com seu inferno o que tem um grande poder arrecadador de contribuições e de obediência.

                Para a sociedade o que restou é um aumento significativo de influência política das organizações religiosas no poder estatal, sendo que o potencial de votos, obtidos por revelação divina há seus representantes, significa um diferencial considerável em apoio político para postulantes as diversas esferas de poder de uma nação e vale ressaltar que quanto maior for à instabilidade social econômica maior será à força destas organizações.  

domingo, 14 de outubro de 2018

Meu Direito a Cegueira


                Tenho o direito de não querer ver, mas é impossível não compreender que um filho meu nascido no privilégio não tenha muito mais oportunidades de encontrar um espaço seu na sociedade do que o nascido na periferia em famílias desprovidas de quase tudo sendo uma obrigação de justiça corrigir esta distorção.

                Tenho o direito de não querer ver, mas é inaceitável não admitir que a sociedade brasileira deva o pagamento de sua divida com os tempos terríveis de escravidão do índio e do negro que exerceu neste país, sendo por sinal ainda hoje alvos de discriminação, para qual são exigidas justas providências reparadoras.    

                Tenho o direito de não querer ver, mas é injusto para a dignidade humana a não condenação do torturador por seu covarde desvio de comportamento, colocar estes crápulas no grupo dos heróis admirados é doentio por manifestar objetivamente a vontade de exercer o ato de desrespeito para com o homem quando deveria lutar para condená-lo na justiça por assassinato.

                Tenho o direito de não querer ver, mas é incompreensível que compares a felicidade econômica do opressor, império americano, contra os oprimidos Cuba, Coreia do Norte e Venezuela sujeitos a um implacável bloqueio econômico forçando-os a miséria com a hegemonia americana pós-final da guerra fria por pensarem de maneira diferente, o não aceitar que sua miséria é fruto de violência não justificável em favor interesses do opressor é uma falácia.

                Tenho o direito de não querer ver, mas é uma insensatez não perceber que a corrupção tem sua origem na necessidade de comprar um congresso nacional e um judiciário por um regime de ditadura militar que precisava de uma falsa legitimidade bipartidarista e que todos estão envolvidos nesta lama o que é imperdoável para um partido metido a esquerda como o PT, porém perfeitamente justificável para o candidato fascista que apenas precisa no discurso combater o que vive no dia a dia.

                Tenho o direito de não querer ver, mas é a própria negação do patriotismo não perceber que a elite brasileira como sempre coligada com os interesses estrangeiros para exploração da grande maioria da população brasileira, assustada com o sucesso da economia de um governo de centro esquerda, á partir da segunda vitória da candidata Dilma trabalhou incansavelmente para criar a crise social econômica e um golpe de estado, o que não é novidade já o tinha feito na década de sessenta.

                Tenho o direito de não querer ver, mas é impossível associar ódio, discriminação de gênero e raça, humilhação da mulher, exploração econômica do trabalho do outro com as ideias cristãs a não ser quando manipuladas por fariseus tão bem expulsos por Cristo a relho das portas do templo por simplesmente tornarem-se donos de Deus em nome de seus proveitos pessoais.        

                Tenho o direito de não querer ver, de colocar a venda nos olhos para não enxergar a injustiça, tapar o nariz para não sentir o mau cheiro do fascismo, blindar os ouvidos contra todos os avisos de bom senso, porém não posso negar que estou sendo partícipe deste momento da destruição do respeito humano na sociedade brasileira mantendo uma práxis da elite de oprimir a maioria da população em troca de um sonho de acumulação de riqueza e privilégios pessoais.  

sábado, 6 de outubro de 2018

Meio Século a Acompanhar a Implosão da Dignidade Humana.


                Aqui, agora, caminhando sobre meus próprios passos durante pouco mais de meio século nesta via crucis (caminho da cruz) por que passa a humanidade exclamo aos quatro ventos “eu vi a implosão da dignidade humana” e abro as cortinas para que a percebam. 
                Perto dos dez anos atento a voz do radio, requisitado em nome da legalidade, me marcou aquela imagem, barba por fazer, a metralhadora pendurada nos ombros, o Brizola em seu discurso inflamado a conclamar o povo na resistência pela legalidade em frente ao palácio do governo estadual, foi meu primeiro aprendizado sobre golpes planejados contra a dignidade humana, graças a este esforço nesta ocasião conseguimos evitar.
                Enquanto convivia com uma afirmação de políticas publicas destinada a corrigir as grandes distorções existentes na sociedade brasileira, na minha memória a luta pelas reformas de base ficou marcada como grande tema do governo em sua conversa com a população em busca da preservação de sua dignidade, em paralelo percebia o pacto entre a elite brasileira e os mecanismos de intervenção do império representando os interesses internacionais dirigidos a sabotá-la.
                Não se passaram dois anos acompanhei aquela procissão programada com esperteza sempre que se torna necessário, o arrastar-se pelas ruas, como serpente venenosa, dos defensores da tradição, da família e da propriedade, sempre petulantes falando em nome de Deus sob a benção da imprensa comprometida com a elite econômica, cumprindo seu papel de precursor dos tanques nas ruas para esmagar a digna liberdade com sua mais pura ditadura.
                Quatro anos onde cada vez mais eu vi o mostrar à cara do golpe militar, de A5 na mão a usar o direito que só a violência armada lhe concedia contra a população, enquanto do nosso lado fazíamos os cavalos dançarem sobre bolinhas de gude nas manifestações sempre que tentavam nos dispersar, do lado deles mais hábeis por seu uso indevido de força bruta, liquidavam a população nos porões da ditadura, torturando, semeando morte de nossos amigos pelo simples fato destes com eles não concordar e seu regime de força não aceitar.
                A ilegalidade do regime prosperou com os métodos que mais conhecemos grandes investimentos em obras destinadas a propagandear o regime e grandes desvios de dinheiro a sustentar sua manutenção e comprar parte da população, os inocentes úteis de sempre, bipartidarismo hipócrita destinado a criar um simulacro de democracia, quanto a nós continuávamos há percorrer o tempo, oprimidos em nosso pensar, com as manifestações culturais censuradas e os conteúdos pedagógicos alterados por reformas destinadas a aparelhar as mentes contra o pensar.
                Ninguém consegue a alma libertária calar e conseguimos a muito custo espremer a violência para o canto das cordas no ringue, obrigando-a via transição política a nós a democracia devolver, mas a elite em nenhum tempo abriu mão de conspirar contra o povo, uma anistia de mentirinha com salvaguarda para torturadores, mas este povo buscava para a nação uma solução que harmonizasse as pessoas através de uma justa distribuição de renda contrariando privilégios históricos a bradar pelos quatro cantos a dileta frase “eleição direta já”.
                Não que a vitória tenha sido alcançada apenas avançamos e neste avançar passamos por percalços tipo Sarney, modelo Collor de modernidade e uma estranha aproximação da direita do sociólogo antigo exilado Fernando Henrique, mas ainda nos tinham reservado noticia pior, como depois o vimos, a imposição de um golpe de estado de gabinete e a construção de novos modelos baseados na manipulação tecnológica de dados dos comportamentos pessoais para manter a elite no poder, era o tempo de trabalhar a globalização na rede.
                Pude ver que nunca perderam a receita, nunca deixaram de ter o império a lhes financiar, se então desta feita não cabia mais os tanques na rua botar, novos tempos, novas maneiras de o golpe prosperar não seria difícil encontrar, por aqui no meu canto acompanhando todos estes ardis do sistema agora conectado e globalizado ficou cada vez mais difícil encontrar maneira de quebrar o encanto deste falso canto das sereias com notas fascistas no ouvido do povo ecoar.
                Mais um momento me cabe viver na história agora com a construção de uma circunstância muito favorável ao crescimento do fascismo, explorando o lado conservador da população brasileira em especial de sua classe média que sonha enquanto trabalha para a elite parte da mesma vir a ser.     
                Receita fácil de sucesso, um punhado de frases grotescas, propagar a ideia de pulso forte, defender a família patriarcal com sua propriedade, brincar de hipocrisia moralista apontando o dedo acusador de imoralidade para gêneros diferentes, atacar educação libertária e a diversidade cultural, encontrar um alvo inimigo para uma guerra santa, falar sempre em nome de Deus, autodenominar-se salvador da pátria.
                Para tal receita funcionar temos pequenas condições a serem cumpridas, é preciso antes preparar o cenário como dantes já tínhamos visto, temos que contar com os que se vendem como sempre por 30 moedas o que convenhamos num Brasil no estagio que nos encontramos hoje não é muito difícil, há candidatos por todos os lados.
                Não esquecer nunca dos patrocinadores, claro que temos os de sempre o império e seus parceiros do mundo dos negócios locais e internacionais, uma mídia comprometida com interesses de quem a sustenta, acrescido dos inocentes úteis para bem servir a causa.
                E o respeito à dignidade humana, que se imploda, é o que pregam, pois para os mesmos dignidade é servilismo, é entrar nos eixos, o famoso manda quem pode obedece quem precisa, em sua matemática simples sabem que aumentando os mais precisados multiplicamos as vantagens dos exploradores.
                O primeiro ataque sempre é contra a educação, reforma sobre reforma para evitar qualquer indicio de escola libertária o primeiro combate é contra o espírito critico, sabota-se via o ensinar utilitário, de preferência em uma escola autoritária insistente em trabalhar o decorar contra o pensar.
                O segundo movimento passa sempre pela exploração do medo a morte, aí nada melhor do que fechar uma parceria com as religiões, onde trabalhar este temor permite que se faça qualquer coisa em nome dos deuses, e como temos leitores da vontade divina, muito estranho como são seletivos estes deuses na escolha de seus ministros, acho que é esta nossa vocação para sempre precisar de representantes.
                No terceiro tempo é disfarçar o autoritarismo camuflando-o como um movimento de salvação nacional, o que em tempos de rede soberana com suas noticias falsas aliadas à desinformação de uma comunidade afastada do ato de pensar é muito fácil via algoritmos opressores poderosos manipuladores dos grandes bancos de informação.
                Então como puderam ver circulei por pouco mais de meio século nesta sequencia de atentados a dignidade humana e sua consequente implosão, estão criando um ser humano desprovido de sensibilidade na direção ao outro, concentrado cada vez mais nas dificuldades que encontra na solução tão somente de suas necessidades particulares.

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Instantâneos da Morte Celebrada – miniconto.


                Era um caçador de vida, equipado com sua sensibilidade em busca dos instantâneos que a festejassem, deparou-se cada vez mais com a morte celebrada, o resultado do movimentar no qual estava envolvido lhe trouxe mais e mais esta indesejável surpresa, dedicou-se a investigar e mostrar a mesma com o intuito de alertar para os descaminhos na natureza que o homem estava a plantar.
                Sua arte era precisa, sobre bem querer estava construída, os fatos apesar de negar a vida lhe trazem a gana de encontrar saída, outro homem sabia que por traz de cada momento existia, e este outro é o que ele buscava querendo-o por inteiro ver revelar-se em irmandade, pois sem esta nem humanidade existiria.
                Se por um lado na vila testemunhara: “Espaço exíguo, digno da periferia, acumula em um mesmo quarto múltiplos moradores, ela ali parecendo ser o centro de tudo, certeza de ter ela já nove anos ele não a teve, no entorno dela apesar de menina promovida à mãe dona de casa, circulavam aos seus cuidados os irmãos menores cuja fome aliviar a preocupava, em meio ao ruído eventual de tiros da vizinhança no eterno jogo entre traficantes e policiais, ressentia-se nesta dita casa da presença de adultos na maior parte do dia”.
                No bairro classe média teve o contraponto: “Quarto seu privativo, cercada de eletrônica ao mundo sempre estava conectada por seus celulares e computadores, apesar dos seus nove anos parecia já mocinha, pelo seu quarto guloseimas espalhavam-se parcialmente consumidas, tantas vezes batiam-lhe á porta para perguntar se de algo precisava que isso a obrigava a durante a maior parte do dia, espantar estes adultos intrometidos”.
                Por aí passava como observador seu primeiro dilema lhe era muito difícil entender como alguém poderia acreditar e defender a existência de oportunidades iguais entre estas duas meninas durante suas vidas, ainda mais lhe perturbava o fato de saber que as primeiras desfavorecidas estão em muito maior numero que as segundas privilegiadas em sua distribuição na sociedade em que vive e não por acaso, mas por políticas concretas de exclusão social.
                Conviveu um dia em escola publica cuja falta de investimento envelhece e arruína a infraestrutura, cujos esforçados professores tem nos seus próprios recursos o único apoio a pedagogia e a didática isso com seus já minguados ganhos, perceber como grita alto para os alunos a presença da merenda em qualidade tão sacrificada por negociatas que tão bem se conhece, como não bastasse seus currículos de horas e conteúdos insuficientes, o que torna cada vez mais difícil evitar que dela a gurizada se ausente.
                Pode por outro lado estar noutro dia em colégio bem murado e gradeado com suas salas de aula repletas de tecnologia onde viu circular uma mocidade bem nutrida por entre as diversas cantinas com atividades previstas para todo o dia, conteúdos diversificados atendendo corpo e espírito, recheado de oportunidades para os mais diversos experimentos a atrair sua vontade pelo estudar.
                Não é dificil imaginar este segundo dilema que insistia em lhe desafiar, o desigual investimento econômico na construção do ser humano de amanhã não estará por óbvio aumentando e perpetuando as diferenças entre os homens, como ele poderia aceitar que pessoas consigam defender isto como justo, sem sentir vergonha de sua condição de construtores da desigualdade, pregando o fim de quaisquer políticas de eliminação das mesmas em nome de uma espécie de seleção natural, digo aqui ele sentiu muita vergonha desta absurda falta de humanidade que estava a presenciar.
                Estavam cada vez mais pesados os passos de seu caminhar na periferia, ruas mal cuidadas qualquer chuva um barro de patinar, postos de saúde lotados de filas por senhas a madrugar, desrespeitosos ônibus destinados às pessoas empilhar para seu ir trabalhar, filas de desempregados para garantir o trabalho mal pagar, a segurança do desrespeito ao humilde o confundindo com um marginal, enfim o ser humano transformado em utilitário para o sistema funcionar.
                Nos ditos bons bairros a vida apesar da fartura e do conforto, não lhe facilitaram o andar, suas ruas repletas de automóveis a se digladiar disputando centímetro a centímetro para na frente estar, sem ninguém respeitar, mau humor, estresse e depressão cercavam-no como resposta a alta exigência de competição, os cachorros amestrados dentro de muros e cercados, câmeras e seguranças por todo lado e o medo a prosperar, a perda total de valores pelo corpo a corpo estimulado como modo operacional do profissional vencedor.
                Incompreensível lhe era este terceiro dilema, estava muito claro em sua observação que a felicidade prometida em toda a pirâmide independendo de onde cada qual se encontra, na base ou no topo, não era atingida, ser isso característica do próprio sistema como a maioria não percebia ou não o queria ver era-lhe difícil compreender, o que lhes é permitido ter é a tristeza de ver o outro dobrar-se frente os azares e as dificuldades como falsa felicidade.
                Por certo o encontrarão por seus caminhos ouvindo sempre, revelando sua interpretação dos fatos, dificilmente o enxergarão em discussão, mas não se negará a fazer suas observações, não manifestará vontade de ser entendido e respeitará todos os rumos desde que não contra o homem.
                Não esperem respostas as suas perguntas, o que ele poderá propiciar é originar reflexões que em cada um podem amadurecer a simultaneidade entre pergunta e resposta, ou seja, a própria celebração da vida.
                Tudo tem seu tempo, como observador, à morte celebrada em sua pele ficou marcada por estes instantâneos, apercebeu-se que o ser humano necessitava reconstruir-se por inteiro, para ele agora era tempo de evangelizador assim trocando a pele da morte pela vida poderia seguir em frente sem perder sua fé na humanidade.