quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Meio Cheio & Meio Vazio

     Bem já é época, passam os dias por mim e quanto mais os vivo mais rápidos eles se tornam no seu caminhar, transformou-se em praxe interrogar-me em cada fim de ano para fechar uma contabilidade de atitudes, já o sei é um balanço sem sentido prático visto que o já feito não tem retorno e o a fazer só o momento preciso determinará os ingredientes necessários para a tomada de decisão.

     Todavia não posso negar a humanidade tem a maior explosão de “boa vontade” por metro quadrado em um curto espaço de tempo todos os anos neste período, eu como todos consigo domar o que determino serem meus vícios, e planejo o que imagino serem minhas futuras virtudes, nunca canso de redimir-me do que carrego como imaginárias culpas, sim não são reais e me são impingidas como se o fossem bem o sei.

     Desejo para o mundo um conjunto de abstratas maravilhas virtuais embutidas em sequências de palavras, expressas em frases escritas, faladas ou montadas em vídeo como se pudessem representar algo real, são apenas a projeção intelectual de uma resposta à cobrança de outrem com toda a sua carga de descompromisso no sentido de qualquer possível dirigir-se em direção a alguém, cada vez mais me especializo em representar a vida em lugar de vivê-la é a sentença que leio em mim mesmo.

     Meio vazio é saber-me impotente em conter a multidão que busca exercer seu poder sobre outros iguais, com suas estratégias de fins a justificarem meios, onde suas verdades tão particulares obtidas pela simplificação conceitual de que seus esforços são legítima defesa contra o que prepotentemente definiram como seu direito de posse na humanidade e na natureza. 

     Meio cheio é perceber-me inquebrantável quando sistematicamente presto contas só e tão somente a mim mesmo pelo simples fato que sendo justo comigo mesmo o sou para com todos, não encontro nenhuma possibilidade de corresponder-me em meus anseios sem estar o fazendo em relação a toda a humanidade e natureza.

     Só temos essa relação meio vazio meio cheio, pela transição que vivemos neste momento histórico, esgotam-se rapidamente todas as razões que justificam manter este modelo equivocado de sociedade, o homem desinteressa-se rapidamente por seu entorno sem significado e inicia a busca interna das verdades que perdemos com o pecado original da posse.


     Estou acostumado a olhar pelos dois lados, tanto o do meio cheio como o do meio vazio, só assim consigo alçar voo, só assim consigo enfrentar-me no combate pela verdade, só assim consigo sentir-me pleno, justo e gostar de mim como pedra fundamental de relacionamentos com iguais, então que venha 2016.    

domingo, 27 de dezembro de 2015

Polêmica Estória de Difamação

     Ele me chamou, estava no meu canto quieto nulo como sempre, quis compreender, não havia história possível, fiquei atento pretendia decifrar o que viria, não consigo fugir sempre quero saber, na medida em que ele caminhava na minha direção, cada vez mais próximo eu perplexo tentava desvendar o motivo, sabia que havia algo por trás da simples chamada do meu nome, não conseguia desvendar sua oculta motivação me faltavam lembranças.

     “Cara percebeste o que fizeste”, foi o impacto da primeira frase que ouvi após o meu nome, continuei perplexo não tinha a menor ideia sobre o que ele estava falando, mas por certo além da surpresa me remoia uma culpa, bem coisa minha eu sei sempre por trás da indisposição de terceiros acreditava ter parte nisso, alguma coisa eu teria por certo feito.

     “Não posso crer que tenhas escrito sobre nós”, continuou ele, calado eu tentava resolver o enigma de onde ele queria chegar? Rapidamente minhas últimas postagens passaram pelo meu cérebro, em uma revisão impecável concluí não nunca tinha escrito algo que tivesse a ver com ele, nem poderia nossas relações senão inexistentes eram estritamente sociais.

    “Droga essa era uma questão de nós dois nunca te autorizei a colocá-la em público”, continuava ouvindo-o enquanto ele acelerava os passos, agora sim eu estava mesmo enlouquecido nunca nada de relevante e inspirador tinha acontecido entre nós que justificasse uma publicação minha nem direta nem indiretamente, convivíamos por mero acaso, por passarmos pelos mesmos lugares e era só.

     “Minha confiança em você está destruída não posso mais me relacionar com alguém que escancara meus sentimentos”, agora sim já ouvi essas palavras com ele parado na minha frente, ele está perturbado foi a última coisa que me passou na cabeça, pois não tinha intimidade suficiente para relatar qualquer coisa que tivesse nos acontecido, até porque não nos aconteceu nada realmente, ou será que algo possa ter havido talvez eu tivesse tão bêbado que não mais me lembrava, lá vou eu de novo achando razões para os outros.

     Lembrei-me então de uma postagem em primeira pessoa por mim publicada, e percebi pelas críticas que me dirigia que simplesmente ele deduziu que o texto tinha algo a ver consigo, bom tenho que abrir o jogo para vocês eram questões de foro íntimo, que nunca tinha comentado com ele nem com mais ninguém, onde me criticava por certas posturas individualistas que tomava, e sei lá que número de chapéu ele assumiu como do tamanho de sua cabeça vendo o mesmo como uma afirmação direta de imaginárias confidências por si a mim feitas.

     Ficou nebuloso escrever, pois só posso falar do que sei por mim mesmo e não tenho como garantir que isto não encaixe em um pensar de alguém, se este alguém o ler e julgar como uma referência direta à sua vida, não tenho como contestar, a imagem desenhada na cabeça de quem lê nada tem a ver com a por mim projetada, mas isso só funciona no mundo real que como todos sabem inexiste.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Natal do lado de dentro e de fora.

     Quando enfrento olho no olho o meu espectro, aquele que nunca quero sua existência admitir mesmo que desde sempre o conheça como meu eu real, surpreendo-me com a pouca significância que ele encontra nos acontecimentos, pode parecer grotesco a você para ele um sim e um não tem um mesmo gosto, andar na chuva a descoberto gera o mesmo prazer do sol escaldante, muitas vezes o sorriso é mais forte na derrota que ele sabe percebida pelos outros do que na própria vitória por estes festejada.  

     Pois é, tempo de temas natalinos, com crise ou sem crise movimentam-se as engrenagens destinadas à circulação do vil metal, apelido dado à moeda circulante, também conhecido por dinheiro, a mensagem que como um todo o conjunto social passa é de que afeto se compra, não é uma mensagem exclusiva desta data, hoje se propaga por muitas datas distribuídas no ano e destinadas ao mesmo foco uma improvável compra de felicidade.

     O contraditório é este continuado desvendar do efeito que um pequeno gesto, uma palavra com discrição dita, o próprio fato de comportar-me nos conformes de meus impulsos internos, preocupam-me em sua causa no outro, consigo encontrar milhares de motivos que justifiquem na origem de meus atos seu desconforto lhe dando sempre razão, como os aceitos não conseguem explicar-me minhas reflexões já que nunca há aderência nem reflexo em mim o ato do outro.

     Escondidos nestas grandes manifestações de júbilo como a comemoração natalina estão esmagados uma grande maioria de pessoas pela distribuição injusta da renda que as humilha na desproporção que percebem entre os prêmios de seus afetos em comparação às benesses dadas aos poucos que ostentam o poder produzido por apropriação indevida de recursos que de todos são porque quem os gera é a natureza.

     Aceito sim o permanente nascimento em mim da compreensão que causa e efeito existem de maneira absoluta apenas como origem e destino de mim mesmo, existe por certo uma imagem pública que coloco a circular ela pode tanto entristecer-se como alegrar-se, apenas reagir ou tomar a iniciativa de atacar, ser indiferente ou envolvente enfim apaixonar-se ou odiar, mas sempre é apenas o boneco marionete que coloco a representar a vida, pois o real esconde-se no eu que o manobra e desvenda.      

     O Natal, como nascimento tanto dentro como fora é o sonho dourado de sermos natureza, sonho este que não quero abrir mão, um mundo sem os artifícios que usamos no dia a dia em nossas relações pessoais e na ilusória sociedade que criamos para o desfrute de tão poucos.            

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Espaço Descoberto

     Sempre tive certeza de que você tinha razão na lógica do seu raciocínio, você que me desafiava todos os dias com seus ditos fatos reais, escancarando momentos infelizes da humanidade como se resultassem de fraquezas inatas ao homem, sua ideia de condená-lo a ser bom ou mau nessa dualidade que por si só justifica todas as coisas absurdas que ocorrem em nossa volta.

     Apenas nunca aceitei a base sob a qual estabeleceste essa lógica maquiavélica, condenar por critérios impossíveis de serem imparciais por si só estabelece falta de justiça, por que a revelação divina não é propriedade de todos? Com base em que descendência nascem alguns com maiores direitos, mais iguais? Quem determina esses critérios e com que autoridade?

     Nos falta por certo um grande esforço e determinação para desvendar a questão do existir, não consigo ver realmente empenho nesta busca, como se a descoberta pudesse nascer do simples passar do tempo, mantenho meu lamento quanto nossa dedicação em excesso à arte da especialização nos afastando do foco no principal que é a natureza humana.

     Sempre quis achar um espaço onde fosse possível construir relações livres, a não adaptação aos espaços pré-existentes sempre me perseguiu, não que me pareça obrigatório construir um espaço novo, o problema está em encontrá-lo pronto e adequado a esse tipo de propósito, reconheço que só podemos imaginá-lo viável partindo da ideia de que quem o utilizará seja livre, então vislumbraremos a materialização do espaço, segundo me parece, em um lugar que pode ser qualquer.

     Por certo não estou falando de um pedaço de céu, muito menos de um recanto qualquer da Terra, menos ainda combinando duas palavras em formato de tese, hoje todos os esforços que realizamos apontam para o caminho da submissão, eventualmente a teses, às vezes a deuses e pior ainda muitas vezes a humanos, romper este ciclo, libertar-se como indivíduo é o único destino que nos possibilita a descoberta do espaço das relações livres. 


     Este é o fórum que todos procuramos a terra prometida boa e espaçosa onde “jorra leite e mel” se nos lembrarmos dos dizeres bíblicos, que é para mim o lugar onde não há governo, onde inexistem leis, e sim apenas a convivência fraterna de iguais em caminhada conjunta por paz e justiça celebrando a vida. 

sábado, 19 de dezembro de 2015

No Calor do Momento

     Aflito eu reescrevo meus passos tal qual nosso famoso Dom Quixote, passando por tolo quem como cavaleiro andante, apesar de todas as suas limitações, buscava sempre fazer em prol de outrem algo de justo, a sociedade o julgava com as lentes da notória hipocrisia da época, o que por certo se hoje fosse julgamento muito diferente não o teria, a famosa lei do desvio padrão quem foge da média é alvo do ridículo e da contestação apresentando-se estes como violência física inclusive.

      Por que aflito? Por uma natural ansiedade de encontrar mais e mais espíritos transformados nos caminhos da existência, em tempo de excesso de velocidade nas decisões difícil é curtir a paciência quando sonhamos com o homem novo, mas tenho consciência que este só pode nascer de dentro para fora como nos ensina a natureza do nosso acontecer, partindo de uma primeira célula e transmutando-se no ser complexo que o somos.

     Tropeçando seguidamente em indivíduos comprometidos com a forte negação do pensar em nome do viver, tentado fico a negar-me no princípio que me é muito caro de não aceitar viabilidade na intervenção sobre a vida de iguais, sempre penso em parar, chamar para uma conversa, dedicar um tempo como se possível fosse existir um espaço mínimo para mudarmos as pessoas.

     Sou adepto da violência zero tanto das organizações como dos indivíduos defendendo a eliminação completa das armas usadas para sua execução, incluindo entre as armas o próprio argumento, não só não devo, como nem mesmo tenho direito de portando sutileza tentar dobrar alguém em sua convicção, a crença construímos de maneira particular, pessoal e intransferível, posso admitir similitude entre as diversas construções cerebrais dos diferentes seres humanos que por assim serem podem definir-se por iguais.

     Não há calor do momento que justifique qualquer quebra a este preceito da soberania única e não delegável do corpo e da alma, quando assim o fazemos estamos destruindo a nós mesmos no que temos de mais nosso o direito de existir, malditas sejam as armadilhas intelectuais que criamos com intuito de dobrarmos os espíritos livres permitindo que se lhe roubem o existir submetendo-os à escravidão intelectual e física da dependência do outro.


     Para mim, a denúncia permanente dessas estruturas viciadas ponho como dever, a busca de uma existência transparente assumo como tarefa do meu dia a dia, dar visibilidade é sim tudo que me compete fazer permitindo que o livro assim escrito seja lido por quem o desejar, sempre com o discernimento de que o livro lido nunca é o escrito.   

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Encantamento o Canto da Sereia

     Hollywood nos ensinou a ver seres metade mulher metade peixe, são lindas e encantadoras as ditas sereias, andam pela terra causando fortes emoções em quem as vê, nem que seja tão somente nos filmes, quase todos nós sabemos que na antiguidade essas criaturas eram conceitualmente definidas como muito feias, mas quando cantavam sim senhores quando soltavam a voz não tinha quem lhes resistisse, o canto era o seu sublime encanto.

     Não está longe de ser um sonho universal de consumo a magia de camaleão que nos transforma na cabeça do outro no seu objeto de desejo, assim como a sereia que nos prende, nos escraviza ao seu poder de sedução, também queremos na convivência com quem pretendemos partilhar nossas causas envolvê-los nestas teias delicadas da ilusão.

     Não é todo o dia que abrimos as portas para a negociação, também nem sempre ela aparece como tal, por vezes é apenas um disfarce, uma sutileza que esconde uma imposição, é assim que somos, assim que funcionamos buscando os argumentos certos para o convencimento do outro independente de em nós tê-lo como interna razão, prometemos-lhe o que dele queremos cobrar tornando-o refém dos nossos desejos.

     Há momentos que, com o pretexto de abrirmos uma relação harmoniosa, cobramos do outro um pacto de aceitação mútua de atitudes espelhadas, caso não o queiras deves retirar-te ou ajusta-te as minhas ideias ou apronta-te para outra relação, em outras palavras o queremos moldado aos nossos sonhos encantado por nós exercendo o papel de sereia.

     Passamos a vida treinando dizer a coisa certa para a pessoa adequada, tanto o fazemos que dos nossos argumentos afastam-se a justiça e a verdade, sobrando apenas os fins para validá-los e justificá-los, toda a palestra destina-se então somente ao domínio almejado, nunca o objetivo é a busca de entendimento, assim corrigimos as frases conforme os fins desejados, não passando incólume das egoístas razões da meta pessoal a alcançar.

     Urge aumentarmos o silêncio do ouvir, aquele silêncio do ruminar as palavras na direção da compreensão do seu sentido que só pode existir agregado ao conhecer de quem as fala, colocando-se no contexto da disposição ao entendimento, extraindo o conteúdo não gramatical e sim de representação do ser e da sua existência e sua tentativa de se manifestar através delas.


     Quando as palavras colocam-se assim a serviço de ajudar a ver interiores de pessoas, auxiliar a sermos olhados em nossas essências, normalmente são poucas em número e sem pressa de acontecerem como companhia preciosa da prontidão sentinela de todos os nossos sentidos.   

domingo, 6 de dezembro de 2015

Perdido entre Cânions

     Assustadores paredões tal qual cânions conformam-me caminhos que por certo não escolhi criados também por processos de erosão se não em milhão pelo menos milhares de anos civilizatórios, esculpiram-se principalmente pela ação dos ventos do poder e das águas da acomodação, por certo um bom lugar para me perder de mim mesmo.

     A persistente ação do tempo, o qual nem podemos existência garantir, pode apenas ser uma explicação do nosso pouco saber, cismado sempre fico com o pouco que dedico a explorar poderes que o bem sei que tenho não como diferenciado, mas sim como igual, ou seja, direitos que todos os possuímos.

     Porque me tomo logo hoje a tratar desse tema, só pelo fato de ter certo entendimento que apenas a minha incompetência pode justificar os ultrapassados mecanismos que uso para viver, talvez essa palavra “viver” seja muito forte, quem sabe opto por “sobreviver” muito mais adequado a sofrível exploração das minhas potencialidades.

     Neste nosso mundo dos ocupados desesperadamente correndo atrás de preenchimento do tempo, que nos tira nossa sensata propriedade de autoridade sobre corpo e espírito, justifica-se o merecido vestir do apelido de marionete, por certo tendo ainda como agravo o estado de absoluto desconhecimento de quem nos manobra.

     Quanto tempo nós perdemos dissecando corpos e espíritos em busca de um entendimento que não está localizado nas partes e sim no todo, dessa junção poderosa de corpo e alma é que precisamos iluminação, seu funcionamento harmônico é o desafio de nossos tempos com a missão de entendendo-o assumirmos o controle total de suas potencialidades.

     Derrubar estes muros, fugir do caminho comum, encontrar nosso espaço-tempo individual elevarmo-nos na potência máxima do ser humano e assim tornarmo-nos capazes de alumiar a natureza exercendo finalmente a paterno-maternidade do próprio ato de ser.

     Perdidos entre cânions nunca mais, o fato é que desvendado o poder inexiste e como estrelas podemos voltar a brilhar no universo integrando-o em todas as suas forças no destino assumido em direção à vida.  

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Quão Difícil a Simples Alegria.

     Dobro a esquina, a cinco passos já na nova quadra percebo um vulto que se aproxima, apesar do sombreado das formas difusas já o processei se conhecido me é, salvo as raras vezes que como enganos justificam o acerto de sempre, meus mecanismos internos já identificaram o personagem, os músculos da face preparam-se para o cumprimento, para alegria do encontrar um meu semelhante.

     Assim como em um bonito dia de sol sem esperarmos num repente somos surpreendidos pelo povoamento do céu por nuvens negras e em sua companhia um vento forte cheirando a tempestade, também os movimentos das minhas fibras do rosto são suspensos em meio ao caminho da direção ao sorriso, o que deveria ser uma simples reação ao encontro doutra alma, transmuta-se em um grande circo com muitas atrações resgatadas da memória consciente ou não à procura de definir o modo de reagir.

      Perdi o momento, o tal do sorriso não nasceu, abortou-se entre o ser e o não ser, havia motivos de sobra para que emergisse contagiante em direção ao meu semelhante, claro algum “senão” por certo também sempre aparece, enquanto não processei seus prós e contras congelado o mesmo ficou, resultou sendo um instante meu interno sem que pudesse o outro compartilhar, ficou-lhe às escuras o meu manifestar.

     Assim quantas vezes aborrecido reclamo das caras sisudas, ou no mínimo indefinidas com as quais cruzo nas minhas andanças por aí, posso imaginar que em seu íntimo talvez nos tenham sorrido sem que eu o identificasse, o bem que poderiam fazer-me perdeu-se na absurda lógica do processo de decidir, faltou a decisão inicial de bem querer.

     Além de perdermos todos, por certo um mundo repleto de alegrias que um sorriso tão bem representa ganhe qualidade de vida, fico pendente comigo mesmo de um proativo posicionamento na direção do outro meu igual, o que por certo diminui também a alegria interior aquela que ilumina o nosso existir.

     Presente na lista dos meus propósitos o ser mais alegre, para ser mais exato, manifestar-me com alegria do jeito que possa ser facilmente percebido por todos, e não apenas isso como também que o possam interpretá-lo como consequência do fato de me encontrar com eles.

     A convivência da alegria na sociedade por certo é um grande passo na contramão da violência, pessoas alegres não têm tempo de mal querer e contagiam o ambiente na direção da felicidade evitando a tensão do jogo entre dominados e dominadores no eterno exercer do poder.  

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

A Fantasiosa Procissão da Dor

     Lado a lado de pé em pé eles marchavam lentos a passo onde ninguém conseguia enxergar no outro senão fantasia, preservando-se para si a primazia na realidade da dor, caminhava na minha contramão essa procissão misteriosa, era uma coluna de personagens representando um teatro de dores, andavam juntos e nada tinham em comum a não ser sua dor particular, incapazes de ver noutro algo similar ao que sentiam em si, nele doía no outro era capricho.

     Quando encontro a tristeza escondida em alguém, nem sempre a identifico de pronto, impossível é entendê-la mais difícil ainda ser solidário com o incompreendido, parece-me fácil abandoná-la, sim livrar-me da tristeza, não sendo legítima em mim por ser imagem, no outro onde é real, machuca, parece um ácido que o vai comendo por dentro, pelo menos um pouco serve de bálsamo conversar sobre a mesma.

    Neste instante o vi com aquele buraco enorme, aquele vazio que preenche por dentro o desconforto físico de um sentimento de ausência, falta tudo excesso de nada, mexe os músculos do peito, provoca uma sensação de desconforto na barriga, complica o aparelho respiratório, seu coração bate rápido, sei que ele existe aposto no seu crescimento dentro do outro, apenas sou solidário tentando compreender o que vem a ser esse maldito vazio existencial.

     Este que vi ali com sua dor de amor, por sinal estranha falta de presença, também é visto envolvido em rimas poéticas onde projetam um sonho incompatível com a realidade, um romantismo que mais é autopiedade, muito é vontade de magoar-se, isso assim o é visto do meu lado quando por certo do outro lado que a curte em nada se parece com ilusão e sim se apresenta como ferida d’alma.

     Passo pelos que possuídos do doentio ciúme que nada mais é do que certificado de uma propriedade que se sabe inexistente, só existe na gente no outro é fraqueza ou alucinação, vejo-o refletindo sua insegurança na criação fantasmagórica de um vilão de novelas, ele cria, recria essa personagem que lhe sabota minando em si um ser menor do que realmente é.


     Protejo-me como posso para evitar incorporar-me nessa fantasiosa procissão, tento sempre que posso resgatar alguém dessa fila injusta, mas sou impotente, não existem argumentos que se encaixam na lógica interna desta construção inadequada que é a do ser tomado pela dor.