Na geração do
descartável, me impressiona a facilidade com que catalogamos como inviável
pensamento sociopolítico por resultados obtidos em situações não ideais de
execução, o que não devia me surpreender, tem aquela antiga constatação de que
a história é escrita pelos vencedores, e como tal dificilmente pode representar
a verdade.
A experiência
comunista no leste europeu condenou todo um pensamento da inteligência
universal sobre sociedade igualitária ao conceito de “não serve” para a
humanidade, estancando um processo de crescimento filosófico que buscava
justiça social e qualidade de vida e substituindo-o por uma adesão aos
instrumentos de poder via uma sociedade de consumo, quando sabemos bem que o
problema foi o despreparo dos participantes e de seus líderes para sua
viabilização e não a ideia em si.
Acredito que é
inaceitável que alguém decrete uma sociedade de homens livres como impossível
de ser estabelecida, de ser bem-sucedida, apenas por defeitos de implantação
prática em primeira tentativa, sem derrubarmos os preceitos filosóficos que a
compõe, o que até hoje não foi feito, o que vejo é apenas um retorno ao tema do
pecado original, onde se decreta que os homens por natureza são incapazes de
viverem em igualdade e paz.
Em nenhum momento
vejo considerarem que se teoriza sempre a frente do seu tempo, o inglês Thomas
More com seu sonho refletido na utopia (1500), o suíço Rousseau e seu belo
trabalho sobre o contrato social (1700), o alemão Marx com seu projeto revolucionário
(1800) e o francês Sartre com seu compromisso de militância em prol da
sociedade igualitária (1900) representam uma linha contínua de pensamento
preocupada em viabilizar a sociedade igualitária tão sonhada, que merece
evoluir em novas experiências reais.
Estes últimos cem
anos de sociedade por definição injusta, preconceituosa e escravista tem feito
o mínimo necessário para se manter no poder guerreando e proclamando o fracasso
de quem a desafiou, e sua principal arma é construir um imaginário de
impossibilidade prática de existência da sociedade igualitária, temos assim o
centro do seu interesse, evitar a análise das causas do
fracasso da tentativa para condenar a ideia.