O silêncio de
seus passos perturbava meus ouvidos a ausência completa de algum detalhe
identificador afetava minha visão, ao aproximar-me por certo encontraria sem
resposta qualquer tentativa de tato, o percebia tal qual um holograma
contrapondo um ser vivente, apostaria todas as minhas fichas que não
encontraria nele cheiro nem gosto, o que mais me espanta é que isso me
surpreenda.
No meu foco
determinado pelo fato de que o movimento sempre gera atenção, podia adivinhar
eu podia ler suas elucubrações mentais, essas inventavam futuros misturados com
flashbacks do passado a construir suas histórias do presente, para ele era
sempre madrugada por mais que o sol estivesse a pino, socializava-se no vazio
constante de outras existências, não o via diferente de um andante solitário,
entretanto o enxergava completo e íntegro.
Se me acusarem de
estar a ver fantasmas o negarei com veemência, posso até concebê-lo na
fronteira do real com o imaginário, que ele existe em mim não há como duvidar
por mais etéreo que o seja sinto o vento provocado pelo seu deslocamento no
espaço da minha convivência parecendo um hálito frio a refletir vida, ou pelo
menos a representar uma morte que anda e uma ideia que subsiste.
Já perceberam o
trabalho que tenho em buscar descrevê-lo, como se fosse possível definir
alguém, aí está uma utopia que insistimos em apropriarmos como viável em nós
outros, quando falei em não detalhe penso todos entenderam que é exatamente o
excesso desse a quem devo debitar a culpa por essa impressão, sendo muitos os
caracteres que o compõe eu não pude conseguir deter-me em um em particular.
Preciso contar a estória desse caminhante,
precisar é um termo por demais poderoso vamos ficar no correto que é quero
contá-la, para tanto é que me esforço em desenhar esse protagonista, sem ele
não há história nenhuma, poderia talvez deixar a própria sequência de fatos
rabiscarem seu perfil, confesso essa última opção me deixa inseguro quanto aos
objetivos aos quais me tracei quando iniciei esse texto, meu medo é que no fim
de tudo fique o nada.
Todavia lhes
adianto dificuldades à parte eu não falharei, essa estória terá a continuidade
adequada, me deem uns pares de dias e poderão então conhecê-lo, rastrear seu
caminhar e imagino que não se arrependerão.