domingo, 29 de dezembro de 2019

Coragem de Enfrentar a Imagem que Tenho de Mim Mesmo.


                Este por certo é o desafio do momento, parar para refletir, para enfrentar o quanto não estou sintonizado com a natureza como um todo e com a humana em particular, um mundo de flagrantes e importantes desigualdades como o nosso só pode ser construído sobre a negação do ser humano por ele mesmo.

                Quanto mais construo minha imagem pública com seu alicerce construído na ficção, com o objetivo de encontrar amparo e aceitação social, mais me afasto da minha natureza humana, do que realmente sou, o que em uma sociedade globalizada como a nossa desgraçadamente alavanca a multiplicação deste comportamento.

                Invariavelmente passo a mentir para todos construindo um modelo filosófico sem fundamento por ser descompromissado com o meu real existir, suas bases são uma imaginária percepção do que o outro gostaria de ver em mim, o que se reproduz nas vivências paralelas a minha própria.

                Descobrimo-nos a criar uma caricatura nossa via adulteração de nossos sentidos e talentos, perdemos a capacidade de mostrar nossos diferentes humores e sentimentos, deixamos de viver para corresponder a imagem que de nós desenhamos.

                Abro assim mão de avançar em humanidade, pois perco a condição de avaliar e decidir em nome de um roteiro escrito por mim, para mim mesmo, em um outro momento que sempre não corresponde ao atual, passamos a ser atores de outra que não a nossa história.

                Para toda esta farsa construímos palavras e frases maravilhosas onde o compromisso com elas é muito maior do que o conosco mesmo, assim nos despimos da humanidade por uma falsa coerência, escravizando-nos a conceitos que não correspondem ao humano que somos.

                Por certo romper com este ciclo vicioso não tem facilitadores, muito ao contrário, a cada dia é mais complicado em um mundo polarizado como o nosso, nossos amigos e menos ainda nossos inimigos estão dispostos a aceitar nosso posicionamento livre a cada passo que exercemos, eles preferem o atrelamento automático a um senso comum de uma das linhas de pensamento.

                Viver continua a ser optar a cada momento e assumir o compromisso com sua opção vivendo assim cada um de nós a nossa verdade que é de fato a única existente.