sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Abraçados a Gaia

     Que momento, parece que encontramos todos, a paixão permanente que é Gaia, descrita pelos gregos como a Terra, a Mãe Terra, elemento primordial de uma potencialidade geradora fantástica, parece que deveríamos balizar pela observação da natureza o nosso dia a dia de comportamento humano, encontrando finalmente o equilíbrio e a realização plena.

     Como em todas as paixões, alto índice de emoção e insuficiente reflexão, esta nos concentra a buscar na natureza em sua capacidade de autoconservação, na sua continuada recomposição, com sua pretensa harmonia, os exemplos para o comportamento humano e a obtenção da chave tão procurada para a harmonia e felicidade do Homem?

     Do homem primitivo, com seu pavor do desconhecido ao homem atual com a tranquilidade do domínio, nesse longo caminho enxergamos nossas várias faces, inicialmente prestávamos nosso culto e sacrifícios aos deuses todos eles significantes de manifestações desconhecidas e não explicadas da natureza, nossa posição era extremamente defensiva baseada no fato de que cada passo dado era no objetivo de conseguir sobreviver.

     Hoje com a fácil bondade do vencedor, aparentemente definimos que a natureza depende de nossa boa vontade para sobreviver, um pouco de soberba é claro, e começamos a tratá-la de modo carinhoso, nos posicionando como seres superiores, que penalizados com a inocência presente na ignorância a perdoa com ar de liberalidade.

     Mas o que podemos aprender com a natureza, a força do leão ao matar o veado para alimentar os filhotes, a fraqueza da ovelha ao ser morta pelo tigre, a quantidade de vegetais destruídos por pragas de formigas, o caminho novo gerado pela raspagem violenta do esplendoroso tufão, a transformação em um despojado e submisso cão do antigo livre e altivo lobo, onde estão os caminhos da preservação e da harmonia só vejo nela a eterna luta pela vida.

     É-me importante descobrir se temos todo este poder que acreditamos ter, o que duvido muito, e se com a natureza não estamos apreendendo a construir uma sociedade perfeita de rainha, zangão e uma multidão de operárias abelhas. 

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

A Moral como instrumento de Posse

     Deparo-me no vai e vem dos dias, defesas intransigentes de procedimentos pessoais, frequentemente justificadas pela moral, como se esta fosse um salvo conduto e eliminasse a necessidade de questionamentos adicionais sendo assim tudo explicando e validado por um simples carimbo: “É moral”.

     Amigos, moral nada mais é que o conjunto de costumes, regras, tabus e convenções estabelecidas por cada sociedade, assim sendo como podemos medir a clarividência de um agrupamento social em um determinado período de tempo? Todos se acham tomados de luzes, o que sistematicamente o tempo acaba por desmentir, e sempre quando relemos a história, percebemos que as definições foram estabelecidas pela classe dominante, que é quem exerceu em sua época o poder.

     As sinalizações identificadas nos códigos morais são todas associadas à posse e à proteção desta, a deter poder sobre as coisas e as pessoas, e não poderia ser diferente, pois domínio e posse convivem quase sempre em uma relação de causa e efeito, e o conjunto humano que os cultiva se posiciona de modo conservador tanto pelo viés moral ou imoral cada um de sua maneira representando o "Status Quo".

     O buscar consciente de ser Amoral me parece o procedimento mais adequado, ignorar e não transgredir, buscar seu próprio referencial, isso nos aproxima da ética no sentido grego antigo de ser, uma ação genuinamente humana, e como tal não pode ser dissociada do indivíduo.

     Parece-nos muito mais simples adotarmos a moral como guia à nossa vida, mas ninguém pode nos garantir que ela trilha o caminho da justiça, como sempre na vida os valores são impostos pelos vencedores, logo não temos como separar a moral do exercício do poder e da obediência.

     Quando nos acusam de não sermos éticos, estão apenas definindo que mentimos para nós mesmos, em outras palavras creditam-se o falso poder de nos conhecer melhor que nós próprios nos conhecemos.


     Qualquer posicionamento tomado em nome da moral é apenas obediência, submissão, apoiando-se no vazio por falta absoluta de coordenadas próprias de pensamento. 

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

O Ressentimento me Qualifica?

       Domingo, meio-dia, nas mãos de alguns, copo de cerveja, na de outros, vinho, as palavras chaves eram ética e moral, estava posta a mesa do debate, sim Dia dos Pais todos meus filhos  presentes e sem exceção zelosos na defesa de sua opinião, quando um levantou a questão do ressentimento, o quanto o era eu aderente a este, mas o tema morreu no seu início, afinal realmente ética e moral como tema cativam muito mais e reforço minha ideia de em postagem posterior colocar minha opinião. 

       Sendo uma faísca sem consequência na conversa de domingo, assim não o foi na minha discussão particular, aquela comigo mesmo, já na caminhada de segunda este foi o tema principal, e fiquei remoendo-o até apresentá-lo nesta postagem, por sinal tendo sido a mesma postergada devido a uma boa gripe de uma semana que insistiu em abater meu ânimo.

       Confesso meu primeiro impulso foi de rejeição, passo seguinte foi buscar consolidar meu sentimento inicial com o verdadeiro significado da palavra, busquei informações "Ação ou efeito de ressentir; em que há mágoa, angústia ou rancor" e não satisfeito corri atrás dos sinônimos e encontrei misturados entre outros, ciúme, inveja, zanga e até dor.

     Como não consigo ver muita afinidade entre minha maneira de pensar com nenhum desses conceitos, pois é clara nossa tendência à cegueira quando falamos de nós mesmos, saí a buscar o que visualizavam eles de circunstâncias e encaminhamentos de minha vida pregressa que assim permitiam associar minhas atitudes a sentimentos que realmente não cultivo em minha alma.

     Somos fortes em deixar pistas, em deixar rastros, os meus são por demais salientes, visíveis, expostos e não me foi difícil identificá-los apresentaram-se sob uma característica marcante de não me agarrar ao passado, mais do que isso, simplesmente arquivá-los na pasta do esquecimento, são rastros reais que não mais serão por mim pisados e nunca mais poderão me levar à sensação de ressentimento, quando eu o sei nada tem a ver e sim é apenas minha vocação de evitar contatos desnecessários, não consegui vestir o chapéu, mas pude observar o quão fácil é interpretarmos movimentos de terceiros e associá-los a maneiras de pensar que em nada lhes são justos. 

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Ti e as Algemas da Fé.

     O desencontro entre a fé, baseada na impossibilidade da dúvida e a ciência que é a própria dúvida me leva a refletir sobre as juras que diariamente o fazemos em relação a metodologias, ferramentas, linguagens e soluções na área de TI. 

     Nosso comportamento tentado pela fé, ou seja, a acreditar em verdades simplesmente por acreditar, tirando a possibilidade de duvidar, é completamente incompatível com a racionalidade exigida pela tecnologia da informação.

     Montamos nossas verdades em cima de conceitos que usamos no dia a dia, nos agrupamos em guetos tecnológicos, escolhemos nossos sacerdotes, nossos gurus, negando a principal verdade da ciência que é a evidente permanência e constância no erro como impulsionador do novo.

     Pois diferente da fé que sempre está certa, pois é apenas um ato de vontade, a ciência sempre está errada é na verdade a melhor foto de um momento, o que conseguimos estabelecer como marco e que de antemão sabemos o tempo o irá senão desmentir projetá-la a outro patamar.

     Como podemos não duvidar do caminho que escolhemos para nossos projetos, se assim o fizermos estamos nos contradizendo como técnicos, nossas opções merecem a dúvida constante como oportunidade de fazermos o projeto necessário para o amanhã que nos atenderia hoje.

     Temos tomado seguidas vezes a cômoda opção de já tudo sabermos, de ter encontrado o caminho da salvação, o próprio paraíso tecnológico onde temos a melhor solução, o mais produtivo método, esquecendo-nos de que o céu só existe para quem desistiu da vida.


     Vamos pagar o preço da dúvida, vamos questionar nossos métodos, vamos discutir o como e o porquê das ferramentas com as quais trabalhamos, vamos impulsionar o futuro, buscar a descoberta do amanhã, que só o questionamento sério, a pesquisa continuada, a humildade do conhecimento e principalmente o abandono da vaidade que nos estaciona no que já é passado, sem abrirmos mão de apresentar resultados no presente.

terça-feira, 5 de agosto de 2014

A Força de uma Imagem

     Entro no apartamento me informam que ela está no quarto, chego lá e a vejo na cama, deitada, imóvel, linda, muito pálida, só o rosto fora do edredom cercado de seus cabelos brancos, em minha memória grava-se este instantâneo carregado de emoção, essa imagem irá me perseguir a partir deste dia semana adentro, sim a fragilidade da vida presente na minha mãe.

     O alívio que foi ver apesar de tão somente os lábios e os olhos mexerem-se, e a emoção de ouvir a história desencontrada, como sempre, que ela passou a me contar, nem sei se contar-me era de fato a situação, penso mais narrava, mais contava a ela mesma, sim são somente suas essas histórias, atemporais como os sonhos, misturando mortos e vivos, nada de noção de tempo, mistura de protagonistas reais com situações inverossímeis.

     Certo o pensamento me traz de volta para a imagem, não propriamente a imagem, pois ela está em constante mudança, mas as sensações do momento ficaram e emocionalmente envolvido, tive receio e continuo vendo que tenho pouco tempo para curti-la sinto necessidade de mais visitá-la e é difícil aceitar que o tempo esgota-se para nós.

     As imagens movimentam coisas importantes dentro da gente, assim como as crianças que estão nos porta-retratos ao lado da cama encontro permanente com os filhos que já não são de convivência diária em corpo presente, porém sempre tal qual um ímã tem a convergência do nosso pensamento atraído, seduzido pelo prazer de tê-los como tais.

     Todas as imagens completam-se por sensações e pensamentos, são por si só um mundo em um momento, têm a força de uma história eterna na escassez do tempo, nos permitem sentir carinho, sentir força, sentir vida completa em nós com os outros, são um ponto que se prolonga no infinito como uma reta do nosso existir.


     Não sei se possível é, sei que não tenho em mim condições de fazê-lo, não tenho nenhum controle sobre as imagens que guardo e que se me apresentam no tempo, porém independendo da minha vontade elas existem e são parcelas importantes da minha vida, como seria bom se as tivesse sob meu controle, por mim escolhidas e definidas, hoje me contento em simplesmente vivê-las.