terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Apequenar-se deste jeito, não podemos aceitar.


                Como entender um povo que abriu mão do livro por uma frase, que se tornou incapaz  mesmo até de analisar a sentença, apenas a empunha como se fosse uma arma a bradar contra qualquer um por viver um momento da mais absoluta incapacidade de ouvir e entender um argumento, tal qual um Quixote contra os moinhos de vento.

                Vem-me a todo instante a mente o ensaio sobre a cegueira de Saramago, onde foi parar o espírito critico da nossa gente, abdicamos de pensar para nos sujeitar a modelos tão infantis de soluções para um país do tamanho do nosso, torço para que venha logo o renascimento, só esta promessa, uma idade das trevas, eu penso já ser suficiente para pagarmos todos os nossos débitos com a mediocridade.     

                Não se consegue ouvir planos que não sejam de destruir o que lutamos anos para construir, mesmos estes os são proferidos, desmentidos, remendados e reafirmados, mostrando uma clara presença de falta de luzes, o fato é que não temos planos e sim inimigos, ou seja, queremos a batalha para que? Não interessa apenas queremos guerrear.

                A pujança do país e deste povo não merece uma geração anã como a que vinga hoje em nossos pagos, agarrada na sua vidinha sem visão do outro, brigando por pequenos confortos ganhos a custa da miséria alheia, diminuindo-se pela comparação com quem esta pior.  

                Não se reconstrói uma economia matando seu povo, é um sacrifício que historicamente se provou ineficiente em sociedades como a nossa movimentada pelo consumo, inaceitável em um mundo onde a mão de obra a cada dia é mais substituída pela automação nos encaminhar para um sistema educacional que prepara operadores, o que precisamos é propiciar o nascimento de pensadores.

                Tudo se encaminha para aumentar a diferença entre ricos e pobres, e quando construímos uma nação com uma maioria miserável estamos nos tornando vulneráveis à sujeição a outras nações transferindo bem estar para suas populações ás custas das nossas riquezas humanas e naturais.
               
                A velocidade dos tempos atuais nos obriga a resistir a este sucateamento da população e da nação pretendido, correndo o risco de não o fazendo de termos no futuro enormes dificuldades para nos tornarmos um povo próspero e bem sucedido, não temos o porte para sermos cobaias de experimentos econômicos e sociais, o que necessitamos é distribuir qualidade de vida, pois na esteira desta todos os nossos indicadores vão melhorar.

terça-feira, 11 de dezembro de 2018

Morta a Humanidade Reescreve-se Como Vida.


                Ressurreição, sim destruir-se por completo para nascer um novo ser, palavra que bem define o que está no porvir, é o mote dos tempos atuais de uma humanidade esgotada por completo em seu modelo de sociedade onde a competição canibalizou o ser humano.

                Os sinais da catástrofe que eu em particular considero como venturosa, por já estar no tempo de nos reescrevermos, são legíveis na dança maluca do nosso comportamento social, andamos as tontas de um extremo ao outro como que jogados ao sabor do vento, uma má corrente resultante da extrema desigualdade entre nós seres humanos.

                Na esteira destes tempos paira no ar um clima de insatisfação onde não nos mostramos felizes com a vida, com o trabalho, com o lazer e em especial com as outras pessoas que, para a grande maioria, estão sempre a roubar o seu direito, o seu espaço, em suma são candidatas á culpa das nossas frustrações e em extensão a serem inimigas.       

                Neste vácuo de felicidade criou-se o espaço para adesão do individuo ao ódio que julga como legítima defesa e exprime no julgar, condenar e executar a pena, emblemática libertação de instintos primitivos de sobrevivência, o nível de competição estabelecido não apenas valida a priori nosso comportamento condenando todos os que forem diferentes deste, como nos torna candidatos a aderir a projetos de salvadores autoritários para combater estes inventados inimigos.

                Esgota-se o modelo consumista à medida que nos aproximamos da absoluta desnecessidade do homem no trabalho, temos que admitir se gasta muito tempo na confecção de lixo e no próprio trabalho de competir, apenas para manter o modelo funcionando, com o efeito colateral de tornar as pessoas tristes e depressivas.

                Como é de conhecimento de todos existe riqueza suficiente para toda a humanidade viver com dignidade, a mesma deveria ser distribuída com um valor mínimo para cada ser humano independente de classe social, gênero, raça ou credo, complementado por qualificadas, universais, gratuitas educação e saúde.

                   Só as medidas acima já diminui consideravelmente o custo do estado toda a burocracia destinada a controle e administração torna-se desnecessária, pois a humanidade tem suas necessidades básicas atendidas, além de trazer o trabalho voluntario como algo prazeroso capaz de construir algo para beneficio de todos.

                A globalização nos permite hoje interagir em tempo real independente da nossa localização física com isso abre-se a possibilidade de uma gestão planetária, poderíamos ter um grande governo terra tornando o conceito de nação obsoleto, imaginem todos estes grandes orçamentos destinado a defesa disponibilizados para o bem do ser humano.

                O desafio é pensarmos em um novo mundo baseado na cooperação para substituir este morto da competição e para tal teremos que reescrever o homem e o pensamento humano em bases diferentes do que fizemos até hoje.

sábado, 8 de dezembro de 2018

Resistir é Obrigação, Direito Pessoal Intransferível.


                Se quiser me impingir um mundo onde a Pátria sobrepõe e esmaga o Povo, podes com certeza saber que vou resistir, nenhum sacrifício a mais é merecido por nossa população, suas fantasias de entregar nossa gente aos interesses internacionais e locais terão permanente combate de nossa parte.

                Como conviver com submeter duzentos e vinte milhões de habitantes e riquezas naturais exuberantes há um experimento neoliberal de competição extrema entre os habitantes, quando se sabe que as diferenças de preparo para as oportunidades são gigantescas entre a maioria e uma minoria privilegiada, resistir é preciso como obrigação de justiça.

                Como aceitar o sacrifício voluntário do setor industrial e de serviços por diminuição da renda do brasileiro via reforma trabalhista e da previdência diminuindo a capacidade de circulação interna de moeda o que é agravado por quebra de barreiras à competição externa na disputa deste escasso recurso, resistir é preciso para incentivar a economia nacional irrigando o poder de compra da população.

                Como não se injuriar com a exposição continuada da população a chavões desmoralizadores das instituições democráticas e dos mecanismos culturais e educacionais com fins óbvios de diminuir o espírito crítico da população desarmando-a em sua luta por qualidade de vida, resistir é preciso para construirmos uma sociedade de homens livres.

                Como partilhar o falso moralismo patriarcal onde massacram mulheres, raças, gêneros em nome de uma minoria exploradora que se mancomunou a falsos deuses para melhor exercer seus privilégios e ampliar ainda mais as grandes diferenças sociais hoje existentes, resistir é preciso para implantar uma sociedade colaborativa onde as riquezas são distribuídas entre todos.

                Como não combater o clamor ao ódio á guerra que como ideologia do novo tenta-se impor, por sinal o que temos de mais antigo na humanidade, apesar de nestes milhares de anos de nossa existência terem fracassado em trazer a felicidade para o ser humano agora se anunciam como caminho ao paraíso, resistir é preciso para negando o passado alcançarmos uma sociedade da paz.

                Como ser cúmplice de um processo de esmagamento do individuo pela imposição de falsas verdades universais reveladas por não sei que divindades para autodenominados eleitos há ser justiceiros, resistir é preciso para criar as condições de que cada ser humano e cada grupo social sejam capazes de encontrar o dinâmico caminho da busca de suas verdades, as quais ninguém tem o direito de sonegar.

                Resistir é obrigação, direito pessoal intransferível, vocação primeira do ser humano no compromisso consigo mesmo, que devemos exercer não por quem quer que seja, mas tão somente por existirmos.

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

Como Cometer Um Crime Sem Sujar a Mão.


                Não sei por que me surpreendi 17 por cento de aumento dos crimes racistas, antissemitas ou homofóbicos, segundo estatísticas do FBI publicadas em 13 de novembro de 2018, no primeiro ano do governo Trump, confirma a suspeita que o discurso truculento do presidente americano encontra eco na passagem do sentimento de ódio de alguns por minorias impulsionando-os para atos criminosos práticos contra as mesmas.

                Este alerta tantas vezes feito por amantes da paz era questionado como um excesso de importância para o tipo de discurso formulado, este seria apenas um estilo de quem adota posições extremas de direita para aumentar popularidade com a valorização de uma posição agressiva, agora encontra resposta nas estatísticas da violência divulgadas pelo próprio governo.

                Mais do que um salvo conduto o discurso de ódio de quem exerce o cargo de gestor de uma nação é internamente em um ser humano abraçado á discriminação, um apelo à execução do crime, pode-se atribuir ao orador a coautoria da violência, diria até que temos aí algo como cometer um crime sem sujar a mão.

                A responsabilidade de quem almeja e assume a liderança de um processo político está diretamente associada às consequências de seus atos, no caso americano ao discurso da violência e do ódio deve ser imputada a autoria intelectual do aumento da violência contra as minorias.

                 Estamos em meio a um processo em que as lideranças políticas guindadas ao governo brasileiro pelo voto da maioria, têm apresentado antes, durante e após o processo eleitoral um discurso ainda mais virulento quanto à discriminação das minorias do que foi apresentado pelo candidato americano, o que nos faz pensar em consequências similares em nosso país.

                No caso Brasil apresentam-se os agravantes, da crise econômica, da crise educacional, do alto nível de violência já existente, da incipiente democracia, nos sugerindo preocupações maiores quanto aos tempos que estão por vir.

                Urge melhoramos nossos indicadores de criminalidade tornando-os mais claros quanto sua motivação e mais exatos quanto aos seus números para buscarmos a solução adequada em cada tipo de crime, necessitamos buscar a correção das causas muito mais do que a repreensão do acontecido lutar por uma pacificação nacional pelo conhecimento.

                 Porém um grande movimento contra o discurso do ódio é indispensável para evitarmos um genocídio de minorias em nome de uma depuração da sociedade, não podemos deixar imune quem cometa o crime sem sujar a mão ao despertar o instinto justiceiro de pessoas despreparadas para a convivência com o diferente, um grande não a qualquer discurso de ódio me parece o primeiro passo para uma pacificação nacional.

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Educação e Cultura não é Um Caso de Polícia.


                Mão de obra pode ser substituída por robôs, desenvolvimento social e econômico só pode ser alcançado por criativos pensadores, sem inteligências com espírito critico não há utopia não existe o novo, ergamos nossas barricadas em defesa de uma educação e cultura pluralista e universal.

                Historicamente o autoritarismo tem como primeiro alvo as estruturas educacionais e a área cultural, a mesma história nos explica a causa, um povo deficientemente trabalhado pelas escolas e sem acesso a cultura é candidato a submeter-se e assim facilitar o despotismo no poder.

                Foi à mesma escola que preparou os dois lados do ultimo debate nacional, o que por si só atesta sua universalidade, inaceitável é atacá-la para ter um só lado, vergonhoso é criar um grupo de alcaguetes para manter reféns professores e alunos de um tribunal de inquisição a reviver tempos tristes da humanidade, resistir é repetir o “mas que ela gira, gira” de Galileu apesar do lado do vento da opinião pública.

                O primeiro baluarte a ser defendido é a liberdade intelectual e pedagógica do professor, tal qual qualquer outro ser humano tem seus acertos e seus erros só fortalecendo-o podemos ajudar nossos filhos a crescerem, vamos pagar melhores salários, vamos investir na formação constante de nossos mestres, vamos respaldar a atitude de respeito do aluno com seu professor, só uma escola forte e livre é capaz de apoiar o crescimento desta juventude que aí esta e da que a de vir.

                Em particular tenho minhas desavenças com o modelo de educação hoje existente no mundo, voltado a despejar conteúdos em lugar de oferecer apoio ao descobrimento, acredito em uma escola, desde os níveis mais iniciais, voltada a uma cogestão pela comunidade docente e alunos, apoiada por grupos de estudo da metodologia e dos conteúdos pedagógicos, agora acreditar que um professor possa conduzir a maneira de pensar do aluno é de uma ingenuidade ou má fé incompatível com o século vinte e um.

                O segundo grande desafio que vejo para o ensino é a ampliação dos recursos físicos para permitir um tempo muito maior de inserção do aluno na comunidade escolar, penso sempre em educação integral gratuita amparado pelo estado que será seu maior beneficiário, uma organização escolar voltada a permanente discussão da melhoria para a sociedade na qual esta inserida participando ativamente das decisões que esta deva tomar no seu dia a dia.

                Quanto à cultura a liberdade de criação é condição primeira para a existência de homens livres, ao contrario do que muitos apregoam devemos sim ampliar a democracia e a sinergia entre população e a atividade cultural, ajudar a todos a expressarem-se via a arte disseminando formação cultural acessível a todos os cidadãos.

                Sim educação e cultura não é um caso de polícia e sim a oportunidade de vida intensa e plena para toda a população nacional com a eliminação da discriminação e das grandes diferenças socioeconômicas.

terça-feira, 13 de novembro de 2018

Amigo, Não Tenho Medo da Tua Violência.

                Sim amigo não pense que há novidade na sua violência contra o ser humano, por todos os anos de caminhada o que mais vi foi o homem com sede do sangue de outros homens, em nome de seus deuses, de seu núcleo familiar, de sua propriedade e do baixo conceito de si próprios, o que há de novo é o tirar a mascara e mostrar-se para todos assim escravo do seu instinto violento e agressivo.

                Pode enfeitar maquiando-se como homem de bem, pode disfarçar-se de honesto justiceiro, mas não consegues esconder os caninos do teu instinto selvagem que só tem saciedade no ódio descarregado sobre os seus iguais que discriminas, sua magoa com você e por extensão com o mundo exige o fim do outro.   

                Mas não se enganes por aqui por meu lado não há temor, não existe medo, resistir à violência é uma luta permanente para os homens de boa vontade, prestando contas para si mesmo, para mais ninguém, todas as noites se obrigam a revisar cada ato seu quanto à aderência ao projeto de ter uma humanidade melhor feita de seres humanos melhores.

                Engessar uma sociedade a funcionar em modelos psicografados por pretensas entidades morais de existência nunca comprovadas, fruto de verdade fantasiosa, fé megalômana, é grande violência contra a liberdade de comportamento humano, portanto sujeita a permanente rejeição em nome da dignidade humana.

                Defender e aprimorar um modelo socioeconômico que tem como alicerces a discriminação, pois separa os eleitos dos enjeitados com regras próprias definidas em seu beneficio, e a exploração do homem pelo homem, pois admite ganhar o pão com o suor dos outros, é grande crueldade contra a vocação de liberdade do ser humano, portanto deve ser permanente combatido em nome de uma sociedade colaborativa saudável.

                Atacar a cultura e a educação pluralista em nome de uma falsa ordem obtida por produção em série de cidadãos via camisa de força da proibição ao contraditório, pois exige submissão a tudo por todos, é grande brutalidade contra o livre arbítrio do ser humano, portanto exige todos os nossos esforços em defender e apoiar a cultura e a educação como possibilidade única a permitir que o homem se construa por inteiro.

                Todas as suas ideias serão bem-vindas e fazem parte do grande debate que é viver em sociedade, mas o desrespeito pelo ser humano e a redentora imposição destas são uma violência sórdida e desumana as quais não podemos nos sujeitar, por isso certamente resistiremos até o momento do encontro juntos de uma sociedade justa.

                Amigo, não tenho medo da tua violência, sua própria existência perde todo o sentido sem o contraditório, vou exercer meu direito de ser um pacifico lutador da paz contra tuas ideias de guerra nem que isto signifique uma justa desobediência civil como tantas que a história nos tem mostrado.       

quinta-feira, 8 de novembro de 2018

De Humanidade em Estado de Guerra Podemos Esperar Respostas de Paz?


                Os movimentos da sociedade mundial têm sua lógica e seus agentes de poder, só quando não os investigamos podem nos surpreender no dia a dia, o que ocorre em cada ponto do mapa nada mais é do que consequência do eterno jogo entre a paz e a guerra.

                Neste jogo de braço independente do lado ocorre como a história testemunhará erros e acertos, nossa tarefa é apoiar o que gera a felicidade da humanidade e combater o que entristece e afeta a dignidade do homem, assim por certo estaremos vivenciando a cidadania.

                A guerra exerce fascínio sobre os medíocres enquanto esta não os atinge em particular, isenta-lhes o conhecimento de si mesmo, pois tem um inimigo, a soma de todos os males, que por oposição, lhe agrega todas as virtudes, inclusive o libera da reflexão, existem lideres para apontar caminhos e inimigos, logo é só segui-los, por tradição milenar, apesar de indigna, de que os despojos são do vencedor, acalenta em cada batalha o sonho de sua riqueza aumentar.

                A paz ao contrário por ser resistência, como toda minoria, nos cobra o labor diário do autoconhecimento e a busca das motivações que geram as ações do seu igual, não existe paz sem aceitação da diversidade do ser humano, quem busca a harmonia não pode aceitar a submissão, deve trilhar sempre o caminhar lado a lado com outros homens livres.

                Hoje a humanidade está em guerra permanente, o individuo moldado para competir, a família, célula primeira, organizada de forma autoritária e dominadora, desrespeitando sua vocação de ninho de afetos, um mercado que valoriza o predador concentrador de riqueza contra a construção colaborativa e exércitos nacionais brincando de dar tiros pelo mundo.

                Os pequenos avanços que a paz tem sobre a guerra são construídos pela vontade de paz que a própria guerra fortalece, o poder econômico sustenta o processo de violência instituído no dia a dia e investe todo o necessário para manter a elite da guerra no poder.

                Tudo aponta que o avanço de minorias extremistas partidárias da guerra, que nos mostram a cada dia mais sua cara em todos os lugares, é uma reação normal aos avanços da paz, como nos apresenta a diversidade tendo o direito ao respeito nas leis de muitos países, o encurtarem das distancias na distribuição de renda nos países mais desenvolvidos e os direitos humanos caminhando no rumo de um consenso universal.

                Como a vitória da paz é inevitável, urge ampliar nosso esforço de resistência a projetos autoritários e violentos, necessitamos estar ciente que essa é nossa obrigação para acelerar a edificação da Humanidade como uma comunidade única de homens livres. 

segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Se o Outro é Nosso Espelho é Um Direito Teu Eu Comentar Seu Comentário.


                Se me vejo um livre pensador inserido em uma comunidade por obra do acaso, não aparelhado por algum grupo específico, mas exposto aos acontecimentos de um circulo cada dia maior de atores globais em atos e ideias, me obrigo a reagir aos acontecimentos exprimindo meu pensar como contribuição mínima.     

                Partindo do principio que cada ser humano, resultado das experiências de uma vida que sempre será única, tem uma visão particular das pessoas e da natureza que o cerca podemos trabalhar a hipótese que traz crescimento a manifestação publica de terceiros sempre que a mesma esteja no campo das ideias e não no julgar e rotular iguais.

                Quando partimos para a dualidade favorável/contrário não estamos debatendo e sim realizando um plebiscito o que serve para contagem de maiorias, nunca para o crescimento pessoal, este tipo de movimento sempre leva ao discurso do ódio, damos muita importância ao perder ou ganhar mais até do que a ideia que esta por trás do tema, o ódio encaminha a violência verbal e física propiciando comportamentos emotivos negativos contra o homem, portanto contra a sociedade.

                É acima de tudo um direito do outro que eu me manifeste, como resposta a nossa vocação de ser político no sentido amplo da palavra direcionado ao outro, ao exercê-la estou definitivamente contribuindo para o olhar-se ao espelho por parte do meu igual permitindo-lhe que cresça no conhecimento de si pela experiência vivida.

                A aderência das ideias por mim defendidas não tem nenhum significado prático além de uma tola vaidade, seria muita pretensão de minha parte a narrativa do convencimento pela sua própria impossibilidade, o ser humano sempre tem uma interpretação particular do que os seus sentidos percebem e cada um de nós constrói seu próprio imaginário.

                Meu discurso oral, escrito ou em qualquer outro tipo de manifestação cultural tem completude no próprio ato de discursar, o tamanho maior ou menor e até a inexistência de publico em nada intervém em sua execução, porém isto não me desobriga de fazê-lo em função do meu compromisso de inserção social e por certo terá influência na contabilidade dos afetos que vivenciamos na comunidade.

                Se me focalizo hoje neste tema é por acreditar que estamos em um momento muito especial onde tantas vozes antes mudas começaram a se expressar, minha frase de alento para que continuemos e assim cada um de nós possa se ver melhor, a ampliação do conhecer-se é o próprio processo de transmutação em um ser humano melhor.

                Quanto mais homens melhores constituírem a base social na qual estamos inseridos mais harmonia teremos em nosso caminho, por certo também veremos mais prazer e felicidade entre nós mortais.

domingo, 4 de novembro de 2018

Há Algo de Podre Escondido em Um Governo de Salvação Nacional.


                Sepulcros caiados, uma fina pincelada de cal recobre com um puro branco a podridão que escondem dentro da caixa preta, assim nos mostrou a história dos movimentos de salvação nacional, sua característica messiânica invoca um ato de fé cega e tem como consequência primeira a exclusão dos que pensam de maneira diversa.

                Em uma democracia temos partidos políticos que nada mais são do que diversidade de ideologias, todo partido tem a sua e por isso se chama partido ou como queiram partes do todo, democracia é o bom debate destas organizações para que em um dado momento uma destas exerça a governabilidade, mas quando falamos em salvação nacional abrimos mão da convivência em nome da dualidade ame-o ou deixe-o.

                Esta dicotomia por si só elimina a democracia, o céu para quem tem fé tem como contrapartida o inferno para quem não acredita, sua falsa busca de uma unidade só aceita a unanimidade, não ocorre à discussão sadia na busca do melhor caminho no país onde se estabelece, infelizmente nosso ultimo episódio eleitoral foi transformado em um plebiscito para eleger uma salvação nacional e os indícios já aparecem.    

                A começar pelo desrespeito ao mandamento “Não tomarás o nome do senhor em vão”, em um país laico de ampla diversidade religiosa iniciar um discurso de vitória com uma oração é ungir-se como eleito por Deus para representá-lo frente ao povo, em outras palavras quem não compartilha com suas ideias está contra Deus, logo condenado, resta-nos perguntar por que, quando e como Deus lhe deu esta delegação?  

                A promiscuidade entre os três poderes, aparentemente dirigida por interesses não locais, misturando legislativo que decreta o golpe, com o judiciário que dirige sua ação em eleitos alvos específicos, com o executivo oriundo do golpe ameaça o equilíbrio da sociedade, pois nos deixa sem defesas para quaisquer tipos de atrocidades.

                Um plano de governo concebido por maioria militar, organização cujos participantes tem a vocação e o preparo para a defesa nacional, por si só não contempla o largo espectro que compõe a base social e sempre tem características autoritárias que se são boas na guerra são péssimas na paz, logo anunciam um clima belicoso no porvir.

                Perseguir estudantes, professores e artistas completam o panorama, pois a educação e a cultura sempre são amparo à reflexão e ao livre pensar, o caminho escolhido de enfraquecê-los permite entender que não será aceito qualquer tipo de resistência, governos autoritários começam assim destruindo a diversidade.

                Por ultimo trabalha-se a questão da maciça propaganda patriota vestindo o falso traje da exclusividade do amor ao país, busca-se um ufanismo redentor da resposta única que nega toda a evolução da humanidade que tem sido sempre construída sobre a verdade de hoje como negação da verdade de ontem.

sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Dominada a Natureza a Nova Meta é Destruir o Homem.


                A ambição insaciável do ser humano projeta-o em direção ao combate do seu igual, hoje com a natureza domesticada no caminho da extinção, tendo esta deixada de ser adversária busca-se um alvo mais divertido, á morte do homem, nossa selvageria que sempre cobrou vidas humanas passa a tê-lo como foco único de seu terror.

                Como entender e aceitar um organismo social que tem em minoria os defensores do conviver colaborativo, ser livre só pode existir no darem-se as mãos para encontrar o melhor para todos, é impossível aceitar a lógica de que a competição traz melhores frutos para a humanidade do que a construção em harmonia.

                Ao fazer uma analise da competição encontramos uma quantidade enorme de esforço despendido no próprio exercício da batalha, que nada constrói a não ser o sucesso na luta travada, por obvio este labor poderia ser convertido em grande aumento de bem estar se realizado por uma comunidade de parceiros na busca do bem comum.

                Fracassamos na nossa relação com a natureza e a cada dia que passa verifica-se com mais vigor o estrago que estamos fazendo na vocação primeira do homem que é a felicidade, se avançamos na tecnologia, o que é inegável, retrocedemos na construção de homens livres e o que temos visto é a alegria efêmera que nos proporciona a destruição do outro.

                Ao não construir-se como homem livre a vitória do ódio, da humilhação do irmão tem o sabor amargo da exigência permanente de outro alvo a ser destroçado tal qual o serial killer, psicopata encontrado na literatura e na vida real, só uma nova vitima saciará seu espírito inquieto e haja sacrifícios humanos para saciar esta fome.

                A falta de alegria nas ruas, a ampliação interminável dos muros, o aumento considerável do medo, a impaciência agressiva defensiva no encontro do outro, a geométrica ampliação dos atingidos pela depressão, a substituição da relação presencial pela virtual, são indicadores precisos deste autoflagelo da humanidade.

                Precisamos urgente encontrar uma saída para esta armadilha que nós mesmos criamos, pensamos que passa pelo combate a acumulação de riqueza o primeiro passo nesta direção, guardar excesso não acrescenta nada para quem o faz e representa sempre diminuição de bem estar para a maioria da população humana.

                E proclamo aqui como mentirosa a afirmação que o homem é indolente por natureza, nós humanos sempre fomos inquietos e se hoje muitos não o são é pelo desanimo originado pelo boicote de seus esforços pela vida submetidos que estão à opressão do poder.

                Vamos devolver ao homem a alegria de viver ajudando-o a gostar-se de si mesmo, devolvendo-lhe qualidade de vida pelo seu trabalho, encaminhando-o ao reaprendizado da fraternidade universal que tantas benesses nos trazem e principalmente agruparmo-nos na luta pela construção da comunidade de homens livres.  

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

A versão Brasileira do Alzheimer Político.


                Em qualquer busca de navegador encontramos a definição para Alzheimer “as conexões das células cerebrais e as próprias células se degeneram e morrem, eventualmente destruindo a memória e outras funções mentais importantes”, quais os agentes que escreveram o roteiro e dirigiram o filme destes quatro últimos anos vividos no Brasil? É a incógnita do momento conhecemos apenas alguns atores e não a ficha técnica, esta falta de memória nos levou a loteria que é o momento político atual no país.

                Nos falta no todo instituições fortes de investigação que encontrem os operadores das marionetes em cada uma das cenas deste verdadeiro teatro de bonecos que foi-nos apresentado no palco da política brasileira nestes últimos quatro anos pelas instancias de poder, infelizmente conhecemos apenas fragmentos do todo com o brilho de cada um dos atores na representação do seu papel, o povo brasileiro por certo mereceria muito mais do que esta representação.

                As causas não são difíceis de detectar iniciando por uma imprensa superficial sem autonomia investigativa vivendo das benesses do poder como lhe foi ensinado pela ditadura militar, o que é agravado por sua incapacidade de encontrar como adequar-se ao novo dinamismo das comunicações estabelecido pelas redes sociais, passou a viver de manchetes sensacionalistas na busca do curtir da população em geral, sem investigação não há memória sobram apenas sensações e a partir destas ultimas é que a população passa a se manifestar.

                Na verdade, apesar dos esforços em amenizar, vivemos em uma economia de péssima distribuição de renda que privilegia o acumulo de riqueza na parte mais alta da pirâmide social, desconsiderando os grandes oligopólios de mídia despreocupados com o tema não há recursos para sustentar este trabalho investigativo, o que nos leva como brasileiros a um estado de desinformação ofuscando a qualidade de nossas decisões transformando-nos em uma sociedade sem memória e deficiente em seu pensamento funcional.

                O caráter ainda elitista de nossos instrumentos de ciência e tecnologia e a falta de investimento sério na área cultural mantém um afastamento muito grande entre população e o capital de conhecimento nacional, nossos esforços nesta área são na maioria destinados aos burocráticos programas de publicações cientificas, dificultando a inserção de seus resultados no dia a dia do cidadão, hoje completamente despreparado para resistir ao poder manipulador dos algoritmos construídos sobre os grandes bancos de dados de comportamento humano.

                Mesmo não sendo portador das informações desejáveis, portanto não sabedor se os objetivos foram atingidos como o desejado pelos seus mentores, eu posso enxergar sem sombra de duvida uma atuação concatenada nas diversas instituições de poder forçando uma crise econômica e política com o objetivo de mudar radicalmente os rumos da nação e enquanto não recuperarmos a memória destes últimos quatro anos entendendo cada um dos mecanismos usados e quem os ativou estaremos á mercê deste caos lotérico que se instalou na nação.  

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

O Outro Lado da Moeda


                Alem de toda a circunferência com sua cinta constante a moeda sempre tem dois lados, mesmo que não queiramos vamos admitir o obvio que como nação todos nós perdemos, estando por vir mais quatro anos de decadência, dificuldades sociais, políticas e econômicas das quais não temos como fugir, independente de quem vença o pleito, as cartas estão dadas, o aumento do caos que por aqui se estabeleceu é uma realidade que nem o argumento nem a violência são capazes de vencer.

                Vamos admitir, porém que dos dois lados da moeda, mesmo sendo em tom de torcida de futebol durante um clássico onde o adversário é tudo de ruim, nunca em tempos nenhum tivemos tantos participando do debate sobre a nação que queremos, cabe então a todos nós mantermos este nível de participação pós-apuração não mais sobre a canalhice do adversário, mas sobre situações concretas deste país que necessitam ser discutidas e encaminhadas como novas resoluções para construirmos uma sociedade mais justa.

                Temos muito a estudar e investigar sobre os últimos quatro anos, sob-hipótese alguma temos o direito de abrir mão desta análise, pois o futuro da nossa gente é dependente da interpretação correta dos movimentos que estão por traz do acontecido, qualquer governo que se estabeleça de fato não será o resultado de uma maioria e sim uma simples fotografia de um momento atípico na cena nacional, ir a fundo à reflexão sobre os mecanismos criados para gerar este clima de instabilidade social e identificar os oportunistas que trabalharam em seu beneficio pessoal parindo este caos é um dever nosso como sociedade.

                Em paralelo ao compromisso anterior nos cabe também em sintonia com a democracia e suas instituições não abrirmos mão de todas as pautas, o novo governo deve por ser um serviço à população administrar o país ouvindo o consenso de seu povo em cada medida a ser executada priorizando o direito ao trabalho justamente remunerado, uma educação que impulsione o homem a sua utopia e uma saúde que valorize o direito universal a vida, este é um direito nosso, o direito de ser ouvido quanto a diretrizes a serem executadas pelos nossos delegados administradores.

                A eleição na verdade começa na segunda feira, depois da festa dos vencedores, para cada um dos itens temáticos que compõe o compêndio Brasil que queremos, cabe a nós lapidar a melhor proposição para, independente de qual dos dois for o novo presidente, a execute em nosso nome, caso contrario voltando o nosso povo ao silêncio pacato da responsabilidade repassada aos governantes continuaremos a vivenciar o que se estabeleceu nestes quinhentos anos, uma riqueza natural espoliada e um povo empobrecido e explorado.

                Quantos mais de nós assumirmos o compromisso do bom debate, maiores são as possibilidades de rompermos esta corrente predatória que nos mantém no subdesenvolvimento e sob a tutela dos interesses internacionais.

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Tradição, Família e Propriedade tem Outro Nome: Hipocrisia e Barbárie.


                A quem pretendem enganar com este seu canto de sereia, que como é do conhecimento de todos hedionda na realidade e linda no encanto do seu canto, com seus chavões contra a corrupção e o roubo, comprometidos por quinhentos anos de espoliação das riquezas do país e exploração do seu povo o candidato fascista e seus cúmplices reaparecem depois de minguados doze anos, em que o povo concedeu-se ser senhor do seu destino, com esta revindicação de exclusividade na rapina em nome de uma fantasiosa moralidade associada à defesa da tradição, família e propriedade.

                O que pregam como tradição é o direito de submeter à maioria a sua verdade particular, tão sua que lhes parece digno de ser impingida via autoritarismo militarista e perpetuada por um ensino utilitarista que desarme a população atual e futura de seu direito ao pensar, optando pelo odioso “colocar cada um em seu lugar” por práticas de discriminação das minorias revertendo o processo libertador que hoje as mesmas estão vivenciando. 

                O que apregoam como defesa a família, infelizmente seu modelo não é um conjunto harmônico de pessoas que se amam que querem crescer juntas, mas uma estrutura patriarcal autoritária de peças e papéis previamente definidos, uma célula mater da sociedade onde a ordem fala mais alto que o amor, é este direito de voltar ao passado, que imaginávamos já superado em todo o mundo, que buscam restabelecer para propaga-lo nas instituições democráticas.

                O que advogam como propriedade é sempre o pedaço de chão cercado pelo mais forte e nunca a distribuição justa do trabalho humano, quem tem a propriedade a disposição da sociedade nunca precisou temer será sempre respeitado e benquisto, agora o que a tomou pela força necessita de armas e milícias para defendê-la sempre vê no outro o espelho de seus atos.

                E se pensássemos que a verdadeira tradição é a capacidade do homem em rever seus conceitos reinventando-se em uma sociedade dirigida ao bem comum, nossa tradição é da abolição da barbárie e não do retorno à mesma, já nos demonstrou a história que a repetição dos erros do passado sempre se apresentou como uma farsa urge avançar para alcançarmos a harmonia do afeto que somente é possível abrindo mão do autoritarismo, da discriminação e da exploração do outro.

                 E se pensássemos que a verdadeira família é associação de seres humanos em células de reprodução de bem querer, onde trocam entre si talentos para o crescimento de todos e transcende para a integração com outras iguais no que denominamos comunidade humana dos homens livres, a harmonia dos iguais desta família seria não mais a fonte de poder e sim a irradiação de uma luz á contribuir para a paz na humanidade.  

                E se pensássemos que a verdadeira propriedade, independente de ser publica ou privada, é um equipamento destinado a dar o conforto do teto universal ao homem, permitir o uso de seu talento no direito ao trabalho em prol de todos, nunca para a acumulação de riquezas individuais que leva ao desperdício, sempre para o bem estar de todos.

                Não nos enganemos cabe a cada um de nós decidirmos entre a guerra e a paz, infelizmente continuadamente estamos optando pela guerra, guerra entre as pessoas, guerra entre as nações quando tão somente a paz poderia levar a prosperidade tão sonhada, não é o que tiro dos outros que me engrandece e sim o que faço pelo outros me enriquece.

quinta-feira, 18 de outubro de 2018

Caminhando Sobre Minhas Pegadas de Resistente.


                Amigos, desde que lembro conhecer-me, ando a percorrer o caminho da resistência rumo à utopia de uma sociedade justa do ponto de vista social e econômico, onde os seres humanos não acumulem riquezas ás custas do suor e do sangue de outros, nesta estrada entre tantos que admiro gosto de citar homens como Gandhi sua luta contra o colonialismo na India, Mandela seu desafio ao racismo na África do Sul e Mujica sua busca por uma América Latina livre no Uruguai.

                Consciência eu tenho de que andamos em frente, eventualmente com retrocessos inevitáveis, mas sempre avante porque assim como as derrotas não me diminuem as vitórias não me aumentam, fazem parte apenas da luta e penso que assim há de ser enquanto viver.

                Minha primeira derrota ocorreu quando ainda criança, em 60, onde a espada de Lot (miniatura que empunhava orgulhosamente) perdeu para a vassoura de Jânio, porém em 62 quando da legalidade de Brizola, aí já pré-adolescente, tive minha primeira vitória contra a elite local apoiada pelos “interesses internacionais” como dizia o mesmo Brizola.

                Tombos sérios foram em 64 quando os tanques passaram por cima da vontade deste adolescente e na sequencia em 68 consagraram a ditadura torturadora com o AI5, eu participei ativamente de todos os movimentos na rua e dentro das escolas em busca da volta a democracia.

                Diretas Já foi aonde cheguei quando estávamos em 83/84, uma ampla mobilização que terminou na eleição ainda indireta de Tancredo que com sua morte legou o poder para um Sarney palatável a famosa transição da ditadura para a democracia, evitando expor os golpistas a expiação de seus crimes, finalmente em 89 eleições diretas elegendo um farsante caçador de marajás, Collor que assumiu a presidência nos anos 90.

 Collor afastado, mandato tampão de seu vice Itamar preparando as eleições de Fernando Henrique Cardoso que assume a presidência em 95, um exemplo de guinada á centro direita, em sua posição inicial exilado sociólogo de esquerda, o vi avançando rumo o centro com as conquistas sociais minguando enquanto o governo corria no tempo, terminando mais á direita que ao centro.

Durante este tempo havia um pregador da pureza política, muito parecido com o discurso que hoje vemos do lado fascista, felizmente com o foco mais apropriado que é o da Justiça social e não o do autoritarismo e da violência, este elegeu Lula presidente nos idos de 2003, minha desconfiança política vinha da atitude de privilegiar a luta contra os irmãos de esquerda para a conquista do poder hegemônico nesta ala em detrimento a luta contra as elites exploradoras, postergada que foi para uma fase dois.

Só poderia dar no que deu um grande avanço nas políticas sociais, crescimento econômico e político em relação à comunidade internacional, o país assumindo uma liderança de uma terceira via mundial, melhor distribuição da renda e das oportunidades para o povo, mas sempre tem um senão, o acordo e envolvimento com uma classe política de direita vassala dos interesses econômicos da elite mundial e contaminada pela corrupção com avanço geométrico á partir do golpe militar de 64, a convivência com a lama o infectou em nome do manter-se no poder, os próprios professores de corrupção em um golpe de mestre o aniquilam em nome de uma luta onde nunca lhes interessou contar com a esquerda, manter a elitização da corrupção e desfazer dos avanços sociais.

Bem aí estamos preparados para mais quatro anos de resistência, independente de quem ganhe o processo eleitoral, que ainda posso sonhar e lutar para que seja uma derrota do novo caçador de marajás, teremos sim o fascismo nas ruas e teremos muita dificuldade de ver o PT criando sua comissão de verdade para entender seus muitos acertos e para apreender com seus erros, como prega o companheiro anarquista Noam Chomsky, mas para quem nasceu na resistência é apenas mais um episódio na luta por uma humanidade justa.  

segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Pedaço de Mau Caminho


                Um paraíso a espreita é tudo de bom para qualquer um de nós, as organizações religiosas se multiplicam para nos ajudar a acessa-lo, ótimo que existam em quantidade sempre que ajude o ser humano a encontrar a felicidade e a paz, semeando bondade para a humanidade na terra, pena que carreguem em seus braços uma classe de dirigentes.

                Os deuses não precisam de representantes, de intermediários, eles tão somente necessitam que os irmãos da fé se encontrem em comunidades para refletir sobre a melhor maneira de vivencia-la, nestes grupos de fiéis os diferentes talentos irão gerar a completude da conversa com deus.

                Infiltram-se nestas organizações castas de dirigentes no sentido amplo da palavra que é exercer governo, sempre que se queira conduzir a contrapartida é ter obedientes seduzidos,  correspondendo ao chefe nas suas vontades e recomendações, o que por si só já desmonta o amai-vos uns aos outros como a si mesmo, colocando por terra a igualdade entre os ditos eleitos, passamos então a ter um que aponta o caminho que fala em nome de deus para seus tementes ouvintes e não seus iguais.

                Podem chamar isso de carisma, podem catalogar como uma questão de mérito, mas o que não pode ser escondido é que o dirigente exerce poder, o que por si só já é um pedaço de mau caminho, e num instante transforma-se em onipotente, o que o desgarra da humanidade e o põe entre os deuses.

                Quem tem o poder passa a negociar com outros que também o tem, sua medida de força é a legião que comanda, com a garantia que a mesma seguirá sua vontade em qualquer tipo de guerra santa a serviço do bem temporal, negociatas que normalmente são feitas em ambientes de sigilo assegurado, por seus fiéis não será um contrato acordado por interesse, mas uma revelação da vontade do seu Deus ao seu representante.

                Também o que a antes eram comunidades de despojados a viverem felizes entre si repartindo o pão e o vinho, transformou-se por necessidade do dirigente de expandir seu poder, em organizações acumuladoras de riquezas que fazem da caridade uma distribuição das migalhas da farta mesa da classe governante da fé.

                Talvez a mais funesta consequência desta casta de dirigentes seja a mudança de foco das organizações religiosas que por principio era o amor, que infelizmente tem o defeito de não sensibilizar dízimos, passou a ser o temor ao diabo com seu inferno o que tem um grande poder arrecadador de contribuições e de obediência.

                Para a sociedade o que restou é um aumento significativo de influência política das organizações religiosas no poder estatal, sendo que o potencial de votos, obtidos por revelação divina há seus representantes, significa um diferencial considerável em apoio político para postulantes as diversas esferas de poder de uma nação e vale ressaltar que quanto maior for à instabilidade social econômica maior será à força destas organizações.  

domingo, 14 de outubro de 2018

Meu Direito a Cegueira


                Tenho o direito de não querer ver, mas é impossível não compreender que um filho meu nascido no privilégio não tenha muito mais oportunidades de encontrar um espaço seu na sociedade do que o nascido na periferia em famílias desprovidas de quase tudo sendo uma obrigação de justiça corrigir esta distorção.

                Tenho o direito de não querer ver, mas é inaceitável não admitir que a sociedade brasileira deva o pagamento de sua divida com os tempos terríveis de escravidão do índio e do negro que exerceu neste país, sendo por sinal ainda hoje alvos de discriminação, para qual são exigidas justas providências reparadoras.    

                Tenho o direito de não querer ver, mas é injusto para a dignidade humana a não condenação do torturador por seu covarde desvio de comportamento, colocar estes crápulas no grupo dos heróis admirados é doentio por manifestar objetivamente a vontade de exercer o ato de desrespeito para com o homem quando deveria lutar para condená-lo na justiça por assassinato.

                Tenho o direito de não querer ver, mas é incompreensível que compares a felicidade econômica do opressor, império americano, contra os oprimidos Cuba, Coreia do Norte e Venezuela sujeitos a um implacável bloqueio econômico forçando-os a miséria com a hegemonia americana pós-final da guerra fria por pensarem de maneira diferente, o não aceitar que sua miséria é fruto de violência não justificável em favor interesses do opressor é uma falácia.

                Tenho o direito de não querer ver, mas é uma insensatez não perceber que a corrupção tem sua origem na necessidade de comprar um congresso nacional e um judiciário por um regime de ditadura militar que precisava de uma falsa legitimidade bipartidarista e que todos estão envolvidos nesta lama o que é imperdoável para um partido metido a esquerda como o PT, porém perfeitamente justificável para o candidato fascista que apenas precisa no discurso combater o que vive no dia a dia.

                Tenho o direito de não querer ver, mas é a própria negação do patriotismo não perceber que a elite brasileira como sempre coligada com os interesses estrangeiros para exploração da grande maioria da população brasileira, assustada com o sucesso da economia de um governo de centro esquerda, á partir da segunda vitória da candidata Dilma trabalhou incansavelmente para criar a crise social econômica e um golpe de estado, o que não é novidade já o tinha feito na década de sessenta.

                Tenho o direito de não querer ver, mas é impossível associar ódio, discriminação de gênero e raça, humilhação da mulher, exploração econômica do trabalho do outro com as ideias cristãs a não ser quando manipuladas por fariseus tão bem expulsos por Cristo a relho das portas do templo por simplesmente tornarem-se donos de Deus em nome de seus proveitos pessoais.        

                Tenho o direito de não querer ver, de colocar a venda nos olhos para não enxergar a injustiça, tapar o nariz para não sentir o mau cheiro do fascismo, blindar os ouvidos contra todos os avisos de bom senso, porém não posso negar que estou sendo partícipe deste momento da destruição do respeito humano na sociedade brasileira mantendo uma práxis da elite de oprimir a maioria da população em troca de um sonho de acumulação de riqueza e privilégios pessoais.  

sábado, 6 de outubro de 2018

Meio Século a Acompanhar a Implosão da Dignidade Humana.


                Aqui, agora, caminhando sobre meus próprios passos durante pouco mais de meio século nesta via crucis (caminho da cruz) por que passa a humanidade exclamo aos quatro ventos “eu vi a implosão da dignidade humana” e abro as cortinas para que a percebam. 
                Perto dos dez anos atento a voz do radio, requisitado em nome da legalidade, me marcou aquela imagem, barba por fazer, a metralhadora pendurada nos ombros, o Brizola em seu discurso inflamado a conclamar o povo na resistência pela legalidade em frente ao palácio do governo estadual, foi meu primeiro aprendizado sobre golpes planejados contra a dignidade humana, graças a este esforço nesta ocasião conseguimos evitar.
                Enquanto convivia com uma afirmação de políticas publicas destinada a corrigir as grandes distorções existentes na sociedade brasileira, na minha memória a luta pelas reformas de base ficou marcada como grande tema do governo em sua conversa com a população em busca da preservação de sua dignidade, em paralelo percebia o pacto entre a elite brasileira e os mecanismos de intervenção do império representando os interesses internacionais dirigidos a sabotá-la.
                Não se passaram dois anos acompanhei aquela procissão programada com esperteza sempre que se torna necessário, o arrastar-se pelas ruas, como serpente venenosa, dos defensores da tradição, da família e da propriedade, sempre petulantes falando em nome de Deus sob a benção da imprensa comprometida com a elite econômica, cumprindo seu papel de precursor dos tanques nas ruas para esmagar a digna liberdade com sua mais pura ditadura.
                Quatro anos onde cada vez mais eu vi o mostrar à cara do golpe militar, de A5 na mão a usar o direito que só a violência armada lhe concedia contra a população, enquanto do nosso lado fazíamos os cavalos dançarem sobre bolinhas de gude nas manifestações sempre que tentavam nos dispersar, do lado deles mais hábeis por seu uso indevido de força bruta, liquidavam a população nos porões da ditadura, torturando, semeando morte de nossos amigos pelo simples fato destes com eles não concordar e seu regime de força não aceitar.
                A ilegalidade do regime prosperou com os métodos que mais conhecemos grandes investimentos em obras destinadas a propagandear o regime e grandes desvios de dinheiro a sustentar sua manutenção e comprar parte da população, os inocentes úteis de sempre, bipartidarismo hipócrita destinado a criar um simulacro de democracia, quanto a nós continuávamos há percorrer o tempo, oprimidos em nosso pensar, com as manifestações culturais censuradas e os conteúdos pedagógicos alterados por reformas destinadas a aparelhar as mentes contra o pensar.
                Ninguém consegue a alma libertária calar e conseguimos a muito custo espremer a violência para o canto das cordas no ringue, obrigando-a via transição política a nós a democracia devolver, mas a elite em nenhum tempo abriu mão de conspirar contra o povo, uma anistia de mentirinha com salvaguarda para torturadores, mas este povo buscava para a nação uma solução que harmonizasse as pessoas através de uma justa distribuição de renda contrariando privilégios históricos a bradar pelos quatro cantos a dileta frase “eleição direta já”.
                Não que a vitória tenha sido alcançada apenas avançamos e neste avançar passamos por percalços tipo Sarney, modelo Collor de modernidade e uma estranha aproximação da direita do sociólogo antigo exilado Fernando Henrique, mas ainda nos tinham reservado noticia pior, como depois o vimos, a imposição de um golpe de estado de gabinete e a construção de novos modelos baseados na manipulação tecnológica de dados dos comportamentos pessoais para manter a elite no poder, era o tempo de trabalhar a globalização na rede.
                Pude ver que nunca perderam a receita, nunca deixaram de ter o império a lhes financiar, se então desta feita não cabia mais os tanques na rua botar, novos tempos, novas maneiras de o golpe prosperar não seria difícil encontrar, por aqui no meu canto acompanhando todos estes ardis do sistema agora conectado e globalizado ficou cada vez mais difícil encontrar maneira de quebrar o encanto deste falso canto das sereias com notas fascistas no ouvido do povo ecoar.
                Mais um momento me cabe viver na história agora com a construção de uma circunstância muito favorável ao crescimento do fascismo, explorando o lado conservador da população brasileira em especial de sua classe média que sonha enquanto trabalha para a elite parte da mesma vir a ser.     
                Receita fácil de sucesso, um punhado de frases grotescas, propagar a ideia de pulso forte, defender a família patriarcal com sua propriedade, brincar de hipocrisia moralista apontando o dedo acusador de imoralidade para gêneros diferentes, atacar educação libertária e a diversidade cultural, encontrar um alvo inimigo para uma guerra santa, falar sempre em nome de Deus, autodenominar-se salvador da pátria.
                Para tal receita funcionar temos pequenas condições a serem cumpridas, é preciso antes preparar o cenário como dantes já tínhamos visto, temos que contar com os que se vendem como sempre por 30 moedas o que convenhamos num Brasil no estagio que nos encontramos hoje não é muito difícil, há candidatos por todos os lados.
                Não esquecer nunca dos patrocinadores, claro que temos os de sempre o império e seus parceiros do mundo dos negócios locais e internacionais, uma mídia comprometida com interesses de quem a sustenta, acrescido dos inocentes úteis para bem servir a causa.
                E o respeito à dignidade humana, que se imploda, é o que pregam, pois para os mesmos dignidade é servilismo, é entrar nos eixos, o famoso manda quem pode obedece quem precisa, em sua matemática simples sabem que aumentando os mais precisados multiplicamos as vantagens dos exploradores.
                O primeiro ataque sempre é contra a educação, reforma sobre reforma para evitar qualquer indicio de escola libertária o primeiro combate é contra o espírito critico, sabota-se via o ensinar utilitário, de preferência em uma escola autoritária insistente em trabalhar o decorar contra o pensar.
                O segundo movimento passa sempre pela exploração do medo a morte, aí nada melhor do que fechar uma parceria com as religiões, onde trabalhar este temor permite que se faça qualquer coisa em nome dos deuses, e como temos leitores da vontade divina, muito estranho como são seletivos estes deuses na escolha de seus ministros, acho que é esta nossa vocação para sempre precisar de representantes.
                No terceiro tempo é disfarçar o autoritarismo camuflando-o como um movimento de salvação nacional, o que em tempos de rede soberana com suas noticias falsas aliadas à desinformação de uma comunidade afastada do ato de pensar é muito fácil via algoritmos opressores poderosos manipuladores dos grandes bancos de informação.
                Então como puderam ver circulei por pouco mais de meio século nesta sequencia de atentados a dignidade humana e sua consequente implosão, estão criando um ser humano desprovido de sensibilidade na direção ao outro, concentrado cada vez mais nas dificuldades que encontra na solução tão somente de suas necessidades particulares.

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Instantâneos da Morte Celebrada – miniconto.


                Era um caçador de vida, equipado com sua sensibilidade em busca dos instantâneos que a festejassem, deparou-se cada vez mais com a morte celebrada, o resultado do movimentar no qual estava envolvido lhe trouxe mais e mais esta indesejável surpresa, dedicou-se a investigar e mostrar a mesma com o intuito de alertar para os descaminhos na natureza que o homem estava a plantar.
                Sua arte era precisa, sobre bem querer estava construída, os fatos apesar de negar a vida lhe trazem a gana de encontrar saída, outro homem sabia que por traz de cada momento existia, e este outro é o que ele buscava querendo-o por inteiro ver revelar-se em irmandade, pois sem esta nem humanidade existiria.
                Se por um lado na vila testemunhara: “Espaço exíguo, digno da periferia, acumula em um mesmo quarto múltiplos moradores, ela ali parecendo ser o centro de tudo, certeza de ter ela já nove anos ele não a teve, no entorno dela apesar de menina promovida à mãe dona de casa, circulavam aos seus cuidados os irmãos menores cuja fome aliviar a preocupava, em meio ao ruído eventual de tiros da vizinhança no eterno jogo entre traficantes e policiais, ressentia-se nesta dita casa da presença de adultos na maior parte do dia”.
                No bairro classe média teve o contraponto: “Quarto seu privativo, cercada de eletrônica ao mundo sempre estava conectada por seus celulares e computadores, apesar dos seus nove anos parecia já mocinha, pelo seu quarto guloseimas espalhavam-se parcialmente consumidas, tantas vezes batiam-lhe á porta para perguntar se de algo precisava que isso a obrigava a durante a maior parte do dia, espantar estes adultos intrometidos”.
                Por aí passava como observador seu primeiro dilema lhe era muito difícil entender como alguém poderia acreditar e defender a existência de oportunidades iguais entre estas duas meninas durante suas vidas, ainda mais lhe perturbava o fato de saber que as primeiras desfavorecidas estão em muito maior numero que as segundas privilegiadas em sua distribuição na sociedade em que vive e não por acaso, mas por políticas concretas de exclusão social.
                Conviveu um dia em escola publica cuja falta de investimento envelhece e arruína a infraestrutura, cujos esforçados professores tem nos seus próprios recursos o único apoio a pedagogia e a didática isso com seus já minguados ganhos, perceber como grita alto para os alunos a presença da merenda em qualidade tão sacrificada por negociatas que tão bem se conhece, como não bastasse seus currículos de horas e conteúdos insuficientes, o que torna cada vez mais difícil evitar que dela a gurizada se ausente.
                Pode por outro lado estar noutro dia em colégio bem murado e gradeado com suas salas de aula repletas de tecnologia onde viu circular uma mocidade bem nutrida por entre as diversas cantinas com atividades previstas para todo o dia, conteúdos diversificados atendendo corpo e espírito, recheado de oportunidades para os mais diversos experimentos a atrair sua vontade pelo estudar.
                Não é dificil imaginar este segundo dilema que insistia em lhe desafiar, o desigual investimento econômico na construção do ser humano de amanhã não estará por óbvio aumentando e perpetuando as diferenças entre os homens, como ele poderia aceitar que pessoas consigam defender isto como justo, sem sentir vergonha de sua condição de construtores da desigualdade, pregando o fim de quaisquer políticas de eliminação das mesmas em nome de uma espécie de seleção natural, digo aqui ele sentiu muita vergonha desta absurda falta de humanidade que estava a presenciar.
                Estavam cada vez mais pesados os passos de seu caminhar na periferia, ruas mal cuidadas qualquer chuva um barro de patinar, postos de saúde lotados de filas por senhas a madrugar, desrespeitosos ônibus destinados às pessoas empilhar para seu ir trabalhar, filas de desempregados para garantir o trabalho mal pagar, a segurança do desrespeito ao humilde o confundindo com um marginal, enfim o ser humano transformado em utilitário para o sistema funcionar.
                Nos ditos bons bairros a vida apesar da fartura e do conforto, não lhe facilitaram o andar, suas ruas repletas de automóveis a se digladiar disputando centímetro a centímetro para na frente estar, sem ninguém respeitar, mau humor, estresse e depressão cercavam-no como resposta a alta exigência de competição, os cachorros amestrados dentro de muros e cercados, câmeras e seguranças por todo lado e o medo a prosperar, a perda total de valores pelo corpo a corpo estimulado como modo operacional do profissional vencedor.
                Incompreensível lhe era este terceiro dilema, estava muito claro em sua observação que a felicidade prometida em toda a pirâmide independendo de onde cada qual se encontra, na base ou no topo, não era atingida, ser isso característica do próprio sistema como a maioria não percebia ou não o queria ver era-lhe difícil compreender, o que lhes é permitido ter é a tristeza de ver o outro dobrar-se frente os azares e as dificuldades como falsa felicidade.
                Por certo o encontrarão por seus caminhos ouvindo sempre, revelando sua interpretação dos fatos, dificilmente o enxergarão em discussão, mas não se negará a fazer suas observações, não manifestará vontade de ser entendido e respeitará todos os rumos desde que não contra o homem.
                Não esperem respostas as suas perguntas, o que ele poderá propiciar é originar reflexões que em cada um podem amadurecer a simultaneidade entre pergunta e resposta, ou seja, a própria celebração da vida.
                Tudo tem seu tempo, como observador, à morte celebrada em sua pele ficou marcada por estes instantâneos, apercebeu-se que o ser humano necessitava reconstruir-se por inteiro, para ele agora era tempo de evangelizador assim trocando a pele da morte pela vida poderia seguir em frente sem perder sua fé na humanidade.

sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Asfixiados por Botas Sujas – miniconto.


                Era uma terra estranha, cuja vocação exercia-se no contraste, o que tinha de bela tinha de desumana, quem se dispunha a servir parasitava o povo, quem exigia a liberdade a queria para escravizar, confundia seus direitos com o poder de discriminar, onde a religião tinha seus deuses a serviço da violência, sua enorme riqueza era feita para poucos acumular, enfim uma pátria que condecora como mérito os desmandos do outro a explorar.
                Escutava-se o ritmado ruído surdo das botas sujas a asfixiar a cultura, negando-lhe crédito, sonegando-lhe valia é julgada por perdulária por desnecessária, a reflexão manifesta em arte por sua característica libertária é condenada.
                Seus mares com suas bonitas praias de águas azuis esverdeadas testemunhavam no dia a dia a miséria a espalhar-se, sua oligarquia gananciosa roubava a qualidade do ensinar para assim melhor ao povo aparelhar, seus juízes serviam os senhores para a injustiça perpetuar, o trabalho era destinado a locupletar os senhores de outras terras via assalariados feitores, traidores escolhidos no próprio local, para qualquer contestação violenta repressão vinha se manifestar.
                Escutava-se o ritmado ruído surdo das botas sujas a asfixiar a educação, negando-lhe o direito do ensinar o pensar, sabotando estudos de filosofia, sociologia e história em nome do pratico capacitar nas habilidades necessárias ao mercado de mão de obra para melhor servi-lo.
                Seu povo multifacetado com sua linda pura mescla de raças e culturas ao qual espalhavam boatos de nefastos inimigos que a qualquer momento viriam à liberdade de todos roubarem, como se esta dita liberdade não fosse uma farsa por sua sujeição a maquina de exploração e consumo, sob o tacão desta inverdade oprimiam a população com o falso refrão de assim protegê-la contra maldosos os defensores da tradição, família e propriedade.
                Escutava-se o ritmado ruído surdo das botas sujas a asfixiar o direito a justa distribuição dos benefícios da produção de toda nação, conceituando o tal de “mérito” pela capacidade de o sangue e o suor de outro acumular e abençoando quaisquer métodos como dignos de justificá-lo.
                Estive lá e assim a vi mais do que vê-la pude perceber que nada disto era novo que gerações mais gerações trabalharam com afinco para construir e mantê-la assim contraditória, destruindo as vontades libertárias, semeando o medo a falsos fantasmas e principalmente comprando via migalhas os feitores da escravidão prometendo-lhes parte do pão sonegado a multidão.
                Voltando a casa, porque o bom filho sempre a casa torna, ao discutir com amigos as impressões daquele lugar e as marcas que ele a mim está a deixar, lembrei-me de pequenas impressões que o convívio com as pessoas de lá me trouxeram e das quais não gostaria que estivéssemos a nos contaminar.
                Um me dizia que o joio do trigo nós temos que separar, que lhe parecia justo ao primeiro exterminar para o segundo prosperar, mesmo que queimasse no fogo algum aparente inocente por certo isto aconteceria porque alguma culpa este teria, julgava-se no direito de identificar quem era trigo e quem era joio simplesmente por ao outro se comparar, tinha sempre certeza de ser o certo logo o outro só poderia estar a errar, mas isto é do homem até posso aceitar, mas como pode a outro esta tarefa delegar dando-lhe procuração para em seu nome justiçar.
                Outro falava da propriedade sagrada a preservar, valendo qualquer violência que se pudesse imaginar, armado até os dentes para aproximações indesejadas afastar, este seu direito divino a vida do outro deveria preservar para suas posses não minar, talvez em sua memória estivesse alguma história, em outros tempos, ter sobre terreno do vizinho à sua cerca posto a caminhar e da defesa intransigente que fizera a esta posse indecente. 
                Um terceiro se punha como abençoado para o comportamento de cada um determinar, afinal ele tinha entendido em especial confidência do divino por certo, o papel que cada qual aqui deveria executar, em nome dos seus deuses, para se santificar, conhecia dos gêneros o comportamento a esperar e aos impuros o direito tinha de segregar e exterminar, cada um deveria reconhecer o seu lugar e assim o aceitar.
                Muitos me propagavam a diferença de posição social ao qual a genética os destinava, é tão obvio que uns nasceram para mandar e outros em seus cromossomas tinham a gene do obedecer, ao qual deveriam se resignar, pois este foi o direito que lhe deram ao nascerem os construtores do universo dos quais eles se julgavam os únicos bens amados e este poder herdar.
                Para nós não foi dificil antever o que pudemos constatar quando em comitiva, as mochilas nas costas, nos deslocamos em viajem para rever o povo e o lugar.
                Outdoors a conclamar “Ame-o ou deixe-o” misturavam-se aos espaços urbanos conclamando o povo a aprovação incondicional dos mandos e desmandos, tudo envolvido no acontecer de um ufanismo oficial enlouquecido.
                Atenção sempre em alerta, cuidado com a porta aberta, policiando seu dizer para evitar má interpretação e ficar a descoberta, circulava a multidão dispersa com medo do como a vão ver, evitava em grupos aparecer para contra a ordem não sugerir ser.
                Nas redes e mídias circulavam todas iguais às noticias, diferentes do boca a boca que corria em forma de quase sigilo, tinham a cara de um mesmo livro, sempre por um mesmo autor escrito.
                Espalhafatos eram os aparatos de grupelhos de justiceiros, enfeitados com seus símbolos vivos e barulhentos corriam atrás de suas inventadas bruxas para queimar, ofensas a moral e aos bons costumes por eles criados, não podiam aceitar, por isso estavam a usar seus mecanismos de combater e segregar.
                As frases eram curtas, incisivas, falsamente positivas, gritos de guerra prontos, acabados, como verdade por si só, sempre desnecessário sobre elas o refletir e o pensar, pois mostravam o poder e como tal sempre estão a acertar.
                Veículos militares por todos os cantos a circular a ordem impõe-se pelo medo que a violência ostensiva pode gerar além de pequenas milícias a paisana buscando assim a todos intimidar.
                Tudo era unanime, proibido era discordar, definitivamente você era bom por ser a favor, ou mau por contrariar, nesta dualidade tipo céu inferno você tinha que se adaptar.
                Encerrando nosso passeio por esta estranha terra, com estas sensações impregnadas na pele, ainda ao aqui chegar escutávamos n’alma o ritmado ruído surdo das botas sujas a asfixiar...