terça-feira, 20 de dezembro de 2016

As Montanhas que a Fé não Remove

     Diz o dito popular que a fé remove montanhas o dia a dia em sua realidade parece discordar não só por sua comprovada incapacidade de afastar obstáculos geográficos como por sua impotência quanto a quaisquer mudanças para um homem melhor a não ser que nos arriscássemos a considerar aperfeiçoamento a perda da liberdade que se manifesta em um livre-arbítrio definido pelo estranho direito de abraçar uma verdade que a priori não é a sua e sim uma bondade de terceiros de uma entidade iluminada fruto de nossa fértil imaginação ou ainda a humilhante submissão que nos joga no masoquismo de uma censura permanente de conceitos cultuados por um código acordado de bom senso, portanto não nossos e que resulta no eterno abrir mão do crescimento como ser humano.

     O exercício despótico do poder é o primeiro monte intransponível não só a fé não o vence como até existe uma estranha aproximação entre ambos, onde há poder a fé cresce em sua proximidade, quase sempre cúmplice ajudando sua ampliação, conduzidos a respeitar e cooperar com o sistema dominador constituído independente de seu perfil, infelizmente nas questões da fé sempre se encontra intermediários com autorização para interpretar as tábuas da lei dentro de suas conveniências, para esse interposto sempre é aconselhável servir aos dois senhores ao que ele próprio criou para escravizar o homem e ao que pode pagar melhor por esse escravo, podemos ter certeza de que não é ao acaso que os arautos da fé estão sempre qual mariposa no entorno da luz a circular em torno do poder constituído.

     A diversificada fobia da discriminação é um segundo cume intransponível sua própria natureza com o conceito de eleitos estabelece a diferença entre os que acreditam e os que rejeitam o pacote fechado de bondades e culpas, a partir dessa primeira separação entre o trigo e o joio todas as outras se tornam possíveis muitas vezes desejáveis escudadas por leis e juízos falando em nome de um pseudo bem universal, como se pudéssemos simplificar todas as coisas nesse dualismo, discriminam-se comportamentos, gêneros, grupos sociais, raças que injustificadamente são associados ao mal por seu pensamento desalinhado das regras por definição cegamente aceitas.

     A perversa escravidão do homem pelo homem talvez seja o obstáculo mais difícil senão impossível de ser transposto prega-se o sucesso como uma benção mais forte do que o sentimento de justiça mesmo que esse sucesso seja o acúmulo de mais valia, movimentos de caridade milimetricamente calculada justificam a expropriação indevida como se distribuição das sobras pudesse limpar consciências, de fato agrupam-se rituais de mais iguais cobertos de méritos auto-ortogados em nome de um sobrenatural que os isenta dos compromissos com a humanidade.


    O que remove montanhas não é a fé e sim o compromisso com o gostar de si ao limite de transcender a submissão que nos diminui tornando-nos livres senhores tão somente de nós mesmos e como tais andando lado a lado cooperativamente com outros também libertos venceremos todos os obstáculos com os quais nos defrontaremos.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Conversa insana de bar

     Em torno de um trago línguas soltas refletem pensamentos do momento onde quase sempre mais vale ganhar a discussão do que ter razão e parece que o mundo virou uma enorme mesa de bar, o que por si só não é um mal caso como na parceria do boteco noutro dia estivesse tudo zerado pronto para um novo apito inicial e bola pra frente, a brincadeira do momento é juntar frases em forma de argumento sem compromisso com nenhum embasamento teórico ou prático, pensá-los está fora de cogitação é na força do grito palavras de ordem definidas como verdade primeira, portanto dispensam quaisquer justificativas ou razão desde que sejam gritadas com raivosa agressividade por falsos surdos empenhados em falar e descompromissados com o ouvir.

     Para que ler um livro se posso em qualquer citação ver a frase que me interessa mesmo que esteja fora do contexto da obra original ou inclusive que resulte de uma falsa interpretação desta, o importante é que me dê à razão e assim sirva como token incontestável a autorizar-me a gritar meus cantos de uma guerra antecipadamente ganha já que não reconheço o direito do adversário de ter algum tipo de reação inteligente, em outras palavras venço por decreto consagrando um desrespeito ao oponente e quase sempre derivando para um descambar em burlescas agressões como se o xingamento fosse a própria razão, por infelicidade é isso que encontro na maior parte das manifestações.

     Vejo também que nem sempre dá segurança este comportamento simplório muitas vezes é de bom tom ceder à tentação de criar nossas próprias mentiras falsificando os fatos no sentido de certificarem a nossa versão preferencialmente nos servindo como fala o dito popular de que um fato inventado repetido muitas vezes torna-se real no imaginário de quem nos cerca e até nós mesmos de modo inconsciente o renegamos como fruto de nossa fértil imaginação, satisfeitos propagamos inverdades sobre terceiros que como as penas de um travesseiro depois de espalhadas pelo vento impossível de ser recuperadas serão.

     Parece parte da receita nunca deixar de utilizar as ditas palavras sagradas Deus, família e propriedade, que tem a força de em seu nome validar qualquer coisa independente de ser uma simples argumentação, um ato violento ou até uma guerra de extermínio via subnutrição via desequilíbrio emocional via humilhação reiterada como o são as batalhas modernas, pois embora não sabendo os porquês essas invenções do homem permitem-lhe exercer a autoridade de tão bem plantadas que estão na dita moral da humanidade, chega a ser incompreensível pela negação de seu próprio significado os atos que se executam em nome dessa santíssima trindade de vocábulos que no fundo significam uma e mesma coisa o direito de exercer poder.


     Confesso minha impotência para lutar contra esse quadro mesmo assim não cedo ao impulso de retirar-me do campo de batalha, permaneço partilhando este mundão mesa de bar mesmo sendo a minha posição minoritária a que propaga e mantém a esperança do fim da exploração do homem pelo homem.       

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Descaminhos, o Homem e sua consciência.

     Pois é quando falamos do moralmente certo ou errado como indivíduo, o modo como cada um se percebe, da maneira que expõe suas motivações pessoais em suas manifestações públicas à interioridade que as mesmas desnudam ou nos obrigam a admitir o descaminho da consciência por forças de manipulação do coletivo ou somos forçados a aceitar que os novos tempos estejam carregados de um individualismo insano por sua superficialidade e egocentrismo autodestrutivo, cada qual com seu ódio gratuito feroz dispensado de razões que não justificam simples e puramente o seu existir.

     Fica dia a dia mais transparente na ingenuidade e virulência de seus argumentos a legião dos incapazes de vivenciar, experimentar ou compreender seu mundo interior, envolvidos que estão na superficialidade de palavras de ordem que colocam foco não apenas no desmerecimento do outro como também na atitude de agressão tanto por palavras como por atos assim compensando sua falta de autoestima com este falso autoelogio que é a diminuição de outrem, jogam no time que vê seu próximo como concorrente logo alguém a ser vencido.

     Prefiro sempre desconfiar dos acasos em particular da direção majoritária dos ventos da opinião e dos fenômenos políticos de efeito dominó em blocos de nações de forte sujeição econômica ao império, respeitadas as diferentes situações de maturidade política social e econômica as desestabilizações de estruturas de poder e sua renovação seguem sim uma preparada receita de bolo com objetivos maiores que os interesses internos do povo desses países.

     De qualquer maneira não podemos esquecer os esforços permanentes de orientação externos voltados a adequar a educação às necessidades de mão de obra para o dito mercado global, foco sempre na operação, buscando a formação de operadores para o sistema, desprestigiando o pensar global que coloque em risco a engenharia de poder hoje existente, na opinião deles o que o mercado necessita são especialistas de preferência desconectados das mobilizações em redes globais voltadas à realização do homem e da humanidade e em particular na desvinculação com a sua comunidade local.

     Quando recordo das discussões no passado sobre propaganda subliminar no intuito de ultrapassar a camada de segurança da consciência despertando o desejo do consumo livre de filtros individuais, constato que em nossa ingenuidade não nos apercebemos que isso seria utilizado para gestão dos homens a nível global, o simples fato de a sociedade ter geometricamente aumentado sua conectividade com a consequente escuta e armazenamento em grandes bancos de dados dos comportamentos individuais e coletivos permite hoje dar a mensagem correta, mesmo que fruto de falsificação grotesca, na mídia e nas redes sociais e assim obter a modelagem dos comportamentos políticos dentro da sociedade no chamado efeito rebanho. 

domingo, 4 de dezembro de 2016

Esparrama-se a Morte no seu Duplo a Vida.

     Em todo o acontecer o seu duplo faz-se presente o que nos facilita interpretar o existir por sua própria negação e amplia as possibilidades do nosso ponto de vista, portanto potencializa o pensar, desdobrando-se em várias visões com os seus diferentes ângulos consigo ver o que aparenta ser um mesmo fato que assim despido se mostra por inteiro a nós com sua existência multidimensional quem sabe uma extensão da realidade expandida hoje anunciada como o futuro na sua dimensão virtual.

     Na prática só me é permitido entender o carinho ou a agressão representada por uma delicadeza ou por uma grosseria independente de ser física ou intelectual se puder me colocar não só sobre a perspectiva do amante e do amado do agressor e do agredido como também de todos os partícipes diretos ou indiretos da ocorrência, deveria ser capaz não só de avaliar o dar e o sentir de um beijo o dar e o sentir de um soco independente de real ou figurativo, representado por sua imagem de um sorriso projetando felicidade ou de um olho roxo indicando dor, de um espírito enaltecido ou de uma alma humilhada como também das suas consequências nos parceiros que em sua cadeia de relacionamentos os atores irão interagir em sequência ao ato original.

     Do mesmo modo que vivo um pouco a cada instante posso exercitar a morte passo a passo consciente que não devo considerar essas duas ações entre si analógicas e sim complementares, sempre que possa virar-me do avesso pela percepção de que somos olhares e de que somos dados simultaneamente acumulo análises ampliando-as, à medida que consiga avançar ainda mais a ponto de sair de mim mesmo e visualizar-me pelo outro, sim não desconheço que são tantos outros, mas quanto mais o forem maior o big data que tenho à minha disposição a permitir-me construir os algoritmos necessários do verdadeiro conhecimento da minha essência isto é da própria existência que sabido transcende em direção ao outro.

     O tom é a competição não aquele da sonhada construção de um mundo mais justo pelo crescimento do outro como baliza da melhoria global onde cada passo acima de um leva os outros consigo e sim o do rancor dos fracos de espírito incapazes de avançar e que por isso concentram todos os seus esforços para diminuir os outros assim satisfazendo seu amor próprio pela comparação entre os piores carregando consigo a humanidade nesta queda livre o desfiladeiro da desesperança.

     Esparrama-se a morte no seu duplo a vida cada vez mais apequenada em um tempo que é hoje diminuída por esta volúpia do movimento esta superficialidade das leituras pela metade e das manifestações impensadas, da visão estreita de um espírito mal formado incapaz de entender a diversidade das pessoas das coisas e dos fatos, assim o é não pelo acaso, mas pela ação deliberada de uma sociedade que necessita em todos os níveis especializar-se com intuito de ter o suficiente número de peças para o bom funcionamento desta máquina infernal que é a sociedade capitalista com seu objetivo de produzir lixo destruindo a natureza acumulando riqueza e semeando angústia e infelicidade.