Diz o dito
popular que a fé remove montanhas o dia a dia em sua realidade parece discordar
não só por sua comprovada incapacidade de afastar obstáculos geográficos como
por sua impotência quanto a quaisquer mudanças para um homem melhor a não ser
que nos arriscássemos a considerar aperfeiçoamento a perda da liberdade que se
manifesta em um livre-arbítrio definido pelo estranho direito de abraçar uma
verdade que a priori não é a sua e sim uma bondade de terceiros de uma entidade
iluminada fruto de nossa fértil imaginação ou ainda a humilhante submissão que
nos joga no masoquismo de uma censura permanente de conceitos cultuados por um
código acordado de bom senso, portanto não nossos e que resulta no eterno abrir
mão do crescimento como ser humano.
O exercício
despótico do poder é o primeiro monte intransponível não só a fé não o vence
como até existe uma estranha aproximação entre ambos, onde há poder a fé cresce
em sua proximidade, quase sempre cúmplice ajudando sua ampliação, conduzidos a
respeitar e cooperar com o sistema dominador constituído independente de seu
perfil, infelizmente nas questões da fé sempre se encontra intermediários com
autorização para interpretar as tábuas da lei dentro de suas conveniências,
para esse interposto sempre é aconselhável servir aos dois senhores ao que ele
próprio criou para escravizar o homem e ao que pode pagar melhor por esse
escravo, podemos ter certeza de que não é ao acaso que os arautos da fé estão
sempre qual mariposa no entorno da luz a circular em torno do poder constituído.
A diversificada
fobia da discriminação é um segundo cume intransponível sua própria natureza com
o conceito de eleitos estabelece a diferença entre os que acreditam e os que rejeitam
o pacote fechado de bondades e culpas, a partir dessa primeira separação entre o
trigo e o joio todas as outras se tornam possíveis muitas vezes desejáveis
escudadas por leis e juízos falando em nome de um pseudo bem universal, como se
pudéssemos simplificar todas as coisas nesse dualismo, discriminam-se
comportamentos, gêneros, grupos sociais, raças que injustificadamente são
associados ao mal por seu pensamento desalinhado das regras por definição
cegamente aceitas.
A perversa
escravidão do homem pelo homem talvez seja o obstáculo mais difícil senão
impossível de ser transposto prega-se o sucesso como uma benção mais forte do
que o sentimento de justiça mesmo que esse sucesso seja o acúmulo de mais valia,
movimentos de caridade milimetricamente calculada justificam a expropriação
indevida como se distribuição das sobras pudesse limpar consciências, de fato
agrupam-se rituais de mais iguais cobertos de méritos auto-ortogados em nome de
um sobrenatural que os isenta dos compromissos com a humanidade.
O que remove
montanhas não é a fé e sim o compromisso com o gostar de si ao limite de
transcender a submissão que nos diminui tornando-nos livres senhores tão somente
de nós mesmos e como tais andando lado a lado cooperativamente com outros
também libertos venceremos todos os obstáculos com os quais
nos defrontaremos.