A experiencia
de assistir um filme, frente a frente com a tela branca, recolhido a intimidade
da sala de cinema expande em qualidade nossa vida, pouco antes de todo este
desastre que vivemos aqui no Sul, tive o privilégio de ver na sala redenção o nosso
Verdes Anos, dos brilhantes diretores gaúchos Gerbase e Giba.
Falar do
filme é completamente desnecessário por sua qualidade já afirmada pelo público
e por todo o pessoal ligado ao cinema, saliento apenas que neste momento quarenta
anos após o seu lançamento continua mexendo com o público gerando satisfação e
prazer.
Sempre
gosto de realçar que existe um filme para cada expectador, pois vivemos um
processo de imersão ao mesmo à partir do seu conjunto individual de
experiências de vida, pois então quis escrever este texto mostrando como
misturam-se minha vida e o filme.
Existe
no mesmo algumas cenas dedicadas ao amor de um estudante por uma professora
(Aparentemente procurada como terrorista pela ditadura), todas as cenas mostram
características fortes de vontade e impossibilidades.
Cheguei
no ponto que queria, viver estas cenas assistindo o filme reviveram cantos da
minha memória pessoal nos anos setenta no final da adolescência, e a isto chamo
de entrelaçamento da vida com o filme, por óbvio como falei acima é diferente
para cada um de nós.
Também
ali, houve vontades e impossibilidades, era uma época em que estava
completamento envolvido pela militância no repudio á ditadura e na busca da
libertação, minhas memórias retornaram e junto delas pessoas muito queridas á época.
Aparece
em minha frente a casa da Glória, residência dos maristas que tive oportunidade
de frequentar em muitas oportunidades, que me ajudou com os muitos livros que
me foram emprestados, impossíveis de serem obtidos fora dali.
Também
nesta casa conheci o saudoso irmão Antônio Cechin, que só por sua obra com os catadores
e papeleiros da região metropolitana, que lhe causou duas prisões na época, seu
trabalho humanitário é digno de um santo de um herói, também lá tive amigos que
foram para ronda alta participar do núcleo inicial do MST.
Mas o
que queria lhes dizer é sobre a Ipirela, codinome por certo, que foi a
lembrança a desencadear todas as outras, era Ipirela por ser alta e bela como a
estrela dos comerciais dos postos Ipiranga, com quem vivi na época uma relação
de mistério e afeto, similar ao do filme, vivemos o que podíamos sem nenhuma
pergunta, e assim o foi até o dia que ela simplesmente desapareceu sendo
alocada á um ponto mais seguro, provavelmente em outro país.