terça-feira, 30 de junho de 2015

Tela Grande em Final de Junho

     Caros programadores de cinema da nossa bela cidade, Porto Alegre, que lhes parece um pouco de sexta geração do cinema chinês, não seria uma boa ideia? Terminei a leitura de “O mundo de Jia Zhangke”, oportuno seria ver agora na tela grande o trabalho deste cineasta, e confirmar o somatório de elogios recebidos, não fiquei apenas lendo neste fim de mês, pude ver três filmes na semana “Django Livre” dirigido por Quentin Tarantino, “O Franco Atirador” a obra-prima de Michael Cimino e “Top Girl ou a Deformação Profissional” da Diretora Tatjana Turanskyj.

     Essa China, da poesia dos seus jardins e dos contos de rolo, da mudança acelerada de fotografia nessas últimas três ou quatro décadas, da alma de seu povo os cidadãos simples envolvidos por esse verdadeiro furacão de mudança, da qual o diretor Jia parece ser seu melhor pintor, é ela que eu preciso conhecer por meio da exibição dos seus filmes, já perceberam que gostei muito do livro e agora é preciso vê-los na sala de cinema que é seu lugar de direito não no computador, não ficaria feliz de por extensão de punição me vedar assim como o fizeram ao diretor aos seus primeiros filmes o circuito oficial de distribuição.

     Quanto a essa bela obra de Tarantino, sendo quota obrigatória ou não, sua qualidade de roteiro e filmagem é indiscutível, o debate que fica é a questão da escravidão se é oportuno seguir trabalhando o tema ou não, os argumentos contra e a favor são muitos, eu particularmente gostei do foco do filme, um faroeste onde nosso herói é um negro que cumpre todos os rituais desse tipo de filme vencendo a tudo e a todos e chegando ao seu objetivo que era voltar com a sua mulher a heroína negra que falava alemão, menção honrosa para a interpretação do caçador de recompensas por sua fina ironia.

     Discussão sobre o fracasso do Vietnã? Lembrem-se o filme O Franco Atirador foi lançado muito próximo da retirada americana daquelas terras, Cimino nos apresenta essa derrota sem poupar em suas imagens o verdadeiro caos que foram aqueles últimos momentos, mostra-nos ainda o contraste da alegria de uma cidade pequena antes da ida ao front e sua sorumbática face ao retorno do que sobrou da intervenção militar, um deficiente físico, um morto e um sobrevivente angustiado pelo terror vivido, bom filme soma muito para a luta contra essas guerras inúteis.        

     Não existe alma nessa profissão? Top Girl ou a Deformação Profissional, da diretora feminista nos pareceu incompleto, se atendeu o objetivo de chocar, chamar atenção para o descalabro das situações vividas, a quantidade de fraturas expostas nos envolvidos em cada um dos simples encontros sexuais, esqueceu-se por completo de mostrar o contraponto da pessoa que estava por trás da “deformação profissional” e tinha muito a mostrar, candidata fracassada à atriz, mãe de uma menina, tinha toda uma construção pessoal que podia ser explorada e da qual senti falta, realmente não consegui compreender a contribuição ao para o feminismo do filme.


     Pronto paguei minha dívida com vocês, partilhei minha semana em relação à sétima arte, se nenhum proveito desta narrativa for possível tirar no mínimo ficaram informados do que curti e talvez provocados a ver os filmes do seu particular ponto de vista, que por certo é a única maneira de vê-los.            

domingo, 28 de junho de 2015

O Jogo da antropofagia - Sociologia

     Nós reagimos contra uma educação tecnicista distanciada da construção do homem, refutamos uma noção de sexo utilitarista procriador proibido como prazer, nós abominamos o imperialismo americano ou qualquer outro, que nos tratava como quintal quando deveria ser uma liderança, era assim nossa geração jovem nos anos sessenta nos manifestávamos através de movimentos de militância política/social e optávamos por uma vida alternativa.

     Quarta fase do jogo efeito rebanho, os resultados eram medidos pela capacidade de apropriar-se da rebeldia jovem convertendo-a em submissão ao consumo, regra enquadrar no sistema espaços para criatividade, para o espírito de mudança dirigindo seus resultados para manutenção do status quo via simulada autonomia.

     Éramos muitos circulávamos jogando nossas bolinhas de gude contra os cavalos da repressão, nossas reuniões no bar da esquina, dentro dos grêmios escolares nas organizações jovens das igrejas onde discutíamos a vida e a sociedade, música era o tropicalismo, cinema novo a opção, realismo marxista na literatura e teatro, nossas trincheiras ambientadas a escancarar a existência de desigualdade e sonhar com ideais igualitários.

     Perdemos feio, foi uma derrota do tamanho da utopia sonhada, apreenderam muito conosco, no marketing para gerar massas de manobra, nas técnicas de gerenciamento para substituir o autoritarismo pela persuasão, maneira suave de exercer poder, podiam substituir a tortura e a força por grupos de trabalhos dirigidos a metas e resultados e com a febre encantadora do consumo a manter toda uma população ocupada, distraída, com a próxima aquisição e a cada década que chegava mais acomodação e conservadorismo.

     Especializamo-nos no desperdício, pois toda a pesquisa é movimentada pelo poder econômico e político, o trabalho intelectual é direcionado para o detalhe particular conforme interesse de quem exerce o poder, todos nossos esforços são contra o homem e a favor de sua submissão o que só podia resultar em uma sociedade cada vez mais egocêntrica dirigida a comprar a próxima inutilidade a ser lançada no mercado.

     A sociologia interpreta esses movimentos em um somatório de pequenos cases que escondem o todo, pois se tirarmos uma radiografia da sociedade, hoje encontraremos muito trabalho inútil com objetivos fantasiosos executados por homens depressivos, pressionados e distraídos por ínfimos minutos de prazer gerados por tão somente o momento da aquisição e posse de um objeto qualquer, no mesmo instante o mesmo torna-se obsoleto vira uma inutilidade. 

sexta-feira, 26 de junho de 2015

O Jogo da antropofagia - Teologia

     Acompanhou-me por toda a vida os benefícios obtidos, que não são poucos, por minha formação em ambiente religioso, seu principal reflexo uma posição crítica sobre o contexto no qual se inserem a questão fé, a questão instituição religiosa, a questão pessoas e seus deuses, a questão do ser inteiro.

     Terceira fase do jogo autoridade da fé, os resultados eram medidos por seu nível de sujeição a dogmas concebidos para tirar benefício do medo da morte, regra interferir na vida dos outros alimentando conceito de bem e mal com objetivo de exercer o poder.

     Quando colocamos em cheque a estrutura autoritária da pastoral da juventude diretamente ligada à hierarquia da igreja que ao invés de fornecer consultores preferia fornecer um dono, a crise gerou um recuo estratégico, afastar o padre nomeado como responsável via uma ida à Europa em curso de especialização, aguardar o esfriamento do movimento, disfarçar a derrota, ganhar um tempo, e planejar o retorno para quando fosse mais conveniente, isto é, possível retomar o controle.

     Como conviver em harmonia centros de formação de homens livres, incentivados por núcleos esclarecidos dentro da organização, com a estrutura formalizada que digladiava por manter-se como controladora de milhares de fiéis, enquanto a primeira fomentava o interesse no homem e em sua libertação a segunda buscava manter poder sobre o homem.

     A história está repleta de guerras geradas em nome da fé, quantos homens morreram nessas batalhas, mais triste ainda é a quantidade que abriu mão da vontade de viver em troca do consolo de um hipotético lugar de imortais, lembrem-se de que quando a Igreja não foi o poder foi a conselheira deste e ainda hoje se cometem as maiores atrocidades em nome de Deus.

     A teologia a serviço de uma organização, sustentada por esta, não encontra outra justificativa que não seja aprimorar o uso do ás na manga, o medo da morte, com objetivos que não são a justiça e a liberdade do homem e sim a diminuição deste pela submissão aos autodenominados representantes do criador.  

quinta-feira, 25 de junho de 2015

O Jogo da antropofagia - Psicologia

     Estava começando uma história, uma menina legal estudava comigo na universidade, algumas afinidades tipo atração física, como a conversa fácil, também buscas comuns de lazer, música e reflexões, parecia simples era só atirar-se a aventura de viver o maior tempo possível a dois.

     Segunda fase do jogo ”receita de bolo”, os resultados eram medidos pela leitura correta dos livros que infelizmente se traduz em descompromisso com quem estava a sua frente, regras ganhar o pão de cada dia sem qualificar-se.

     Pois é, passado um tempo, já estávamos o que na época chamava-se namorando fiz um carinho nos seus seios sem interromper-me ela imediatamente começou a tremer quase uma crise de pânico, o que vocês podem imaginar resultou em longas conversas, ela me contou que consultou um psiquiatra para entender o que lhe acontecia, era incontrolável, o mesmo lhe receitou pasmem vocês "ter relações com um professor mais velho", pois o problema estava ligado ao modo como ela via e sentia o relacionamento de seus pais.

     Ou seja, não ajudou em nada a moça, e sim aumentou o tamanho do problema, convenhamos a receita estava correta ela precisava superar as adversidades internas com um relacionamento compreensivo, alguém que pudesse com carinho conquistar-lhe a confiança e a conduzir com segurança o relacionamento a dois.

     Ponto para a antropofagia, o cara estava ganhando a vida à custa de outrem, em nenhum momento preocupou-se com a pessoa que estava a sua frente, tinha a receita de bolo nos livros que estudara, e diminuir as possibilidades de que ela pudesse ser feliz, o que de fato fez, estava dentro da sua maneira de ganhar o pão de cada dia, talvez até se candidatasse a ser o charmoso mais velho compreensivo.


     Sem alento, vemos com constância muito superior ao desejável a execução de procedimentos desse tipo em todas as profissões, autômatos na busca dos meios de consumo, resumem a vida nesta luta insana pelo melhor quinhão, independente de quantos seres humanos serão destruídos por seus atos, repito sem alento, pois os indícios apontam para uma maioria crescente se posicionamento nessa direção. 

domingo, 21 de junho de 2015

Alcova Espartana de uma Alma Ateniense

     Voltamos quando menos esperamos ao berço da cultura ocidental: a Grécia antiga, o sonho dourado da tragédia grega, do ditirambo onde o coro evoca e cria o Deus Dionísio, quem sabe alegre quem sabe sombrio era o povo transformando-se em Deus através da afirmação da vida em plenitude e globalidade.

     Essa força espantosa da música que nos envolve em um diálogo profundo capaz de materializar o pensamento expresso por um coro, nos aponta o caminho da redescoberta da força viva que é o homem e sua capacidade de criar, da qual abrimos mão por ocuparmo-nos em excesso com a geração de conceitos e regras universais, isto é, destinada aos outros, em lugar de encontrar e exercitar o homem interior.

    Este recinto fechado de encontro de nossa alma com ela mesma só pode ser obtido com uma forte disciplina pessoal, podemos falar de manter uma guerra interminável contra as distrações de nós mesmos que nos impinge a sociedade de consumo, sempre nos oferecendo foco para milhares de pessoas, conceitos ou materiais tão longes de nosso querer que quando alcançados sempre resultam na insatisfação de sua inutilidade.  

     Quando percebemos não temos tempo para nada, estamos sempre ocupados demais para vivermos, iludidos pelo amanhã com suas fantasias que nos são vendidas, afastando-nos do presente que é o templo sagrado da alma humana, ou mais grave, debruçados sobre um passado que só poderia realizar-se novamente como farsa.             


     Alcova, sim o fechar-me em mim mesmo como espaço indivisível e inviolável para o simples existir, espartana pela absoluta pessoalidade das regras estabelecidas e executadas e quando falo na alma ateniense penso em movimento de ideias, em convivência entre homens livres, justos, senhores de si mesmos, capazes de articularem com desenvoltura seus anseios de não dependência, não se sujeitando a qualquer filtro moral de outrem em detrimento de sua verdade.   

sábado, 20 de junho de 2015

O Jogo da antropofagia - Iniciação

     Ora estava na quadra de basquete treinando, na época de pivô era considerado alto, ora como sócio-atleta do clube participava das reuniões dançantes, assim início da juventude o importante era no jogo das relações com amigos e com namoradas encontrar meu espaço emergente onde dividimo-nos entre esportes, álcool e paixão, ora bolas, tinha também os estudos e alguns movimentos para ganhar uns trocados.

     Primeira fase do jogo “fazer-se querido”, os resultados eram medidos pela popularidade entre os amigos e por quantidade de namoradas inventadas ou não, e a regra era adivinhar o comportamento desejado pelos outros jogadores.

     Quanto aos companheiros parecia simples era só iniciar a fumar e beber sair para dançar, falar das gurias, escolher alguém do grupo para ser a vítima, com isso agradava a todos, se possível criar histórias para buscar enciumar os companheiros e assim agregar a si prestígio no grupo, na sequência tentar corresponder, ser acreditado nas histórias contadas, com o tempo acabava que as leituras e os filmes muito ajudavam a jovem imaginação.

     Faz parte de nossa iniciação o ato de optar, na questão política social em plena Guerra Fria escolha foi a terceira via o maoísmo, e na ditadura a resistência brizolista e participação na esquerda cristã, embalado pelo movimento estudantil e a juventude católica.

     Bom o namoro complicava um pouco, mas os fins de noite dançantes eram uma boa alternativa, depois de algumas tentativas acabava-se ficando com alguém, e comigo não foi diferente apareciam as namoradas, e então o mais difícil era evoluir a relação, na memória encontro histórias inventadas para justificar um beijo, um carinho, gerar as oportunidades, claro meus eram os temores, minha experiência reduzia-se a umas coroas solitárias que gostavam de curtir a gurizada, imaginação foi a arma que utilizei e lembro bem de ter vivido coisas boas e assim o foi sempre eterno enquanto durava.

     Ainda falando em opções culturais, na música Rolling Stones e tropicalismo, na literatura Medo a Liberdade, Análise do Homem do socialismo freudiano humanista de Erich Fromm, Demian de Hermann Hesse autor fortemente influenciado por Nietzsche, no cinema as obras primas dos franceses (Godard, etc.), italianos (Fellini, Pasolini, etc.), ou como queiram do cinema europeu como um todo (Bergman, etc.) e do cinema novo brasileiro (Glauber, etc.), no turismo mochila nas costas e de preferência uma festa na casa dos pescadores em Garopaba - SC.      


     Buscando a memória social coletiva, desde pequenos, por nossos pais representantes da sociedade, somos treinados a fazer-se gostar, no modo Ivan Pavlov buscando as recompensas fugindo dos castigos desenvolvendo a capacidade de enganar e sofisticar, o suficiente para transformar uma relação que deveria ser natural, em um grande jogo entre jovens, em um conjunto de avanços e recuos estratégicos, adivinhações de necessidades e possibilidades, artimanhas mil enfim para atingir objetivos simples de convivência.                

sexta-feira, 19 de junho de 2015

O Jogo da antropofagia - Prólogo

     Encontro-me nesta situação inaudita, quando a descobri estava inserido neste maldito jogo e desde já o aclaro "declaro para quem de direito que o texto que segue é uma obra de ficção, qualquer semelhança com pessoas e fato real é mera coincidência", se escrevo sobre o mesmo o faço na condição de não saber se sou parte do imaginário do autor do jogo ou qual tipo de inteligência represento.

     Sobre o autor cabe ressaltar que é desconhecido, ou seja, existem muitas e apenas suposições sobre o mesmo, porém a falta de provas contundentes não nos permite confirmar qualquer uma dessas, quem o diz tê-lo visto nunca apresentou as comprovações e exigiu a fé na sua visão, umas das teorias com a qual simpatizo é de um conjunto de impulsos construído e influenciado por ideias antagônicas de pessoas através do tempo.

     Por que minha surpresa com essa situação quem sabe resultado de alguma desinteligência, pois até agora não consegui compreender qual o objetivo do jogo, simplesmente tenho que jogar, parece que é assim mesmo, estou no tabuleiro, sou uma peça e qualquer movimento feito é parte do jogo, para ser franco vou mais adiante não sei realmente como me classificar como jogador, também se o soubesse não sei se faria diferença.

     Por favor, me perdoem se nestas linhas esteja colocando uma visão irreal do mesmo, mas é o que consegui refletir, aceito de bom grado as críticas bem provável que até precise delas para que possa me colocar nos eixos, como se diz por aqui, não tenho certeza se estou no bom caminho até porque todas as tentativas feitas para entendê-lo no convívio com outros jogadores resultaram em me deixarem inseguro quanto ao conhecimento do mesmo.

     O objetivo do que vão ler, salvo a hipótese que eu fui condicionado a fazê-lo no que não creio, é em primeiro lugar checar comigo mesmo o entendimento, depois checar com quem interessar possa, para isso vou contar-lhes algumas jogadas, sua interpretação de minha parte, ou de parte de outros de quem as ouvi, não me peçam para ensinar-lhes o caminho da vitória, pois não o sei. 

     Concluindo gostaria de ressaltar que o colocado aqui é de minha inteira responsabilidade, assim acredito esteja mostrando a minha visão do processo como um todo, o que de fato não é garantia de verdade ou existência, apenas é a minha verdade e também não o sei se poderia pensar em uma verdade universal, mas...  

terça-feira, 16 de junho de 2015

Mea Culpa, Mea Maxima Culpa

     Minha culpa, minha máxima culpa, não consigo curtir perdas, por outro lado também não sou sensível a ganhos, droga! Deve ser algo referente à famosa disciplina alemã, não que me falte vontade, às vezes eu insisto um pouco, aproveito um sinal qualquer que se apresente no tempo, tento apalpar, acariciar uma pequena contrariedade, algo que deu errado, algo que foi mal como se diz por aí, em uma relação, em um negócio, em uma iniciativa, mas sempre bate na trave e volta interiorizada como parte necessária da vida.

     Perdas, não sorria não estou falando que não as tive, ocorreram e foram muitas o que não fiz foi curti-las, chorar por causa delas até chorei apenas no embalo, no momento da emoção instantânea, chorar para mim é muito fácil, qualquer carga de emoção os olhos lacrimejam e é quase uma festa, causam arrepios sim, mas sem consequências, morrem aí não mudam a vida, não se prestam para uma bebedeira, não se encaixam em nada de útil ou inútil e sigo minha sina de caminhante, adiante para um novo processo, para um novo tempo, fica algo mais a ser arquivado no mundo das boas lembranças porque assim sempre ficam classificadas em mim as perdas.

     Ganhos, por certo, muitos anos vividos sem arrependimento nem convencimento, só pode ser uma soma de ganhos, até as perdas transformam-se em vantagens, claro as mesmas só o são para mim mesmo, mas a quem mais pode interessar a poupança de inqualificáveis fatos que são a explosão de vida livre do conceito da dualidade entre bem e mal.

     Não me sentindo passível de julgamentos de outros, conceito emitido por terceiros não tem correspondência sendo na verdade um problema deles, quando muito conseguem a mágoa do minuto e o imediato entendimento por mim das razões que os levam a assim o fazerem, eu compreendo seus atos e em um novo passo logo esqueço, virou uma linda página do livro da minha vida.

     Essas coisas que chamamos de acréscimos e decréscimos de qualidade de vida, só existem porque queremos que assim o seja, desenvolvemos necessidades e nos escravizamos a elas, o que tenho é suficiente em gênero e número e isso me basta.      
 
     Nunca serei um poeta, constatação confesso que um pouco me aborrece, não tendo a propagação no tempo de lágrimas por um amor perdido, por uma paixão desencontrada, por uma glória alcançada, como derramar poesia sobre o papel? Concluo estou realmente condenado à prosa... Minha culpa, minha máxima culpa.

segunda-feira, 15 de junho de 2015

Lado de Lá da Violência

     Por onde passo eu percebo um generalizado frêmito de indignação, e o tema é a violência, nos bares, nas redes sociais, nas conversas de ônibus, em todos os lugares ouço comentarem e o foco é sempre no governo, nos seus mecanismos de segurança e na ineficiência judiciária com leis ditas frouxas votadas pelo legislativo, quando não consideradas favoráveis aos violentos, assim acusa a opinião pública.

     Bom meus amigos não vou discutir com vocês a continuada incompetência de nossos governos, o são independente das suas cores, governos de poucas luzes, sempre mais preocupados com o manter-se como elite política e ajoelharem-se frente aos poderes econômicos, do que dedicarem-se a resolver os inúmeros e persistentes problemas que a sociedade brasileira enfrenta e quando falo em governo estou falando dos três poderes que bem se compensam em tirar o melhor proveito em benefício próprio.

     Estamos nos acostumando a delegar para quem de antemão já sabemos não vai assumir nossos problemas, com a violência não é diferente, transformamos todos os espaços que encontramos em muros de lamentação e não nos posicionamos individualmente para enfrentá-la também não somos solidários nesta batalha, viramos as costas, olhamos de longe, transferimos para terceiros, em síntese, nos omitimos.

     Na parada de ônibus, por volta de dez horas da noite, um cara de meia-idade, talvez um pouco bêbado sendo inconveniente em relação às duas moças ali presentes, elas tentaram parecer indiferentes, depois se moveram para outro ponto da parada, muita gente em volta, constrangimento, disfarce de cegueira, fuga de complicação, era tão simples a atitude de com respeito mostrar ao chato que o mesmo estava exercendo uma violência, ou acreditamos que as mulheres não estavam se sentindo agredidas, resultado não fizemos nada e a violência venceu e assim ajudamos no seu crescimento , encorpando-se para se manifestar mais forte em outra oportunidade.

     Cristo colocou os pacíficos no céu, pacíficos não os covardes, pacíficos não os omissos, ser pacífico não é submeter-se aos exercícios de força de quem quer que seja e sim é não ser o gerador de violência, como Mahatma Gandhi, Martim Luther King, que não tinham medo ao contrário enfrentavam permanentemente a violência e a venceram.

     Uma mulher caminhando, aproximam-se dois caras, umas quatro pessoas estão próximas, impossível não perceber o roubo iminente do seu celular, da corrente do seu pescoço, talvez os quatro aproximando-se um pouco estariam inibindo o assalto, mas diminuem o passo mudam o caminho e dão segurança aos bandidos para o ato, pois na opinião dos quatro isso é questão de polícia.


     O medo é salutar, ajuda a vida, aumenta a atenção, o medo nunca pode servir à submissão e sim nos ajudar a enfrentar os perigos com mais inteligência e agilidade e assim nos candidatarmos à vitória, optando pela omissão e pela covardia fortalecemos a violência.  

domingo, 14 de junho de 2015

Na hora Revela-se o Homem

     Uma criança, uma lomba, um carrinho e um pedaço de tempo, precisa algo a mais para definir o homem, se houver saúde todos os ingredientes estão aí presentes, esqueci o óbvio, falta o adulto a mãe e ou o pai e ou a avó e ou o avô e ou professores e ou qualquer outro responsável pela mesma.

     Ela sobe a lomba pega o carrinho e desaba morro abaixo, mostra-se prazerosa com a velocidade, fica desatenta procura mostra-se para o adulto, perde o rumo e... OK vira o carro contra um canteiro capota, murmurinho protestos imediatos dos responsáveis agora como sensores.

     O primeiro a nos definir é o tempo, sem o mesmo ainda não entendemos como funcionaríamos, sem o tempo não haveria criança, não haveria movimento, não saberíamos como definir este nosso estado, a partir de sua existência podemos encontrar o prazer, como vi na cara do menino declive abaixo, pois viabiliza o movimento, sim movimento e prazer fazem parte de nossa essência.

     Bom então começa o sermão, os famosos: não faz, vai se machucar, e outros tantos que já recebemos ou aplicamos, mas o menino volta a subir o aclive com seu carrinho e desloca-se para baixo novamente, repetindo os mesmos movimentos, muito mais atento ao que aprendeu no trajeto do que às censuras que lhe dirigiam, pois a vida lhe ensina e as palavras não fazem nenhum sentido para ele.

     Vemos a repetição como algo que também nos define, sei que não existem duas descidas iguais, mas estou falando da busca do prazer, do movimento que o gera, o faremos muitas vezes por certo agora com certos riscos assimilados e evitados por apreender, que é outro caráter todo nosso.

     Repete-se o ritual tantas vezes quantas lhe for possível, só uma força o interrompe um incidente, pode ser um machucado que o leve ao choro ou à arbitrariedade do adulto que o submete, ou ainda a atenção de algo mais prazeroso.


     A decisão aparece como inata ao ser humano e à medida que se seguem os fatos sempre diferenciados, pois não existem dois fatos iguais, resultam em decisões diferentes tomadas pela experiência cumulativa própria e nunca pela experiência de outrem, bom tudo que está nestes poucos minutos do existir do menino nos define o homem.

sexta-feira, 12 de junho de 2015

O Milagre da Multiplicação

     Nesta semana, meu lado cinéfilo cultivou a alegria de ver Planeta Fantástico (La Planète sauvage, 1972), Franco-Tcheco dirigido por René Laloux e Asas do desejo (Der Himmel über Berlin, 1987). Franco-Alemão escrito, produzido e dirigido por Wim Wenders, essa segunda película com direito ao debate com a turma das quartas-feiras lá na Aldeia e o resultado uma postagem mais leve, mais descontraída, apesar dos dois filmes caracterizarem-se por estimular a reflexão.

     Ambos trabalham o "final feliz", como é de bom tom na maioria das produções cinematográficas, esperança mágica que só o cinema pode realizar, são cenas rápidas nos últimos minutos, a animação termina com humanos em harmonia consigo mesmo e em paz colaborativa com outra civilização, já o drama conclui com um grande amor da bela trapezista com o agora humano antes anjo o pré-anúncio de ser felizes para sempre.

     Planeta Fantástico nos fala de uma terra destruída pela guerra e a consequente migração dos humanos para outro planeta, nessa sua continuada insensatez, subordina-os a uma raça mais evoluída que os divide entre domesticados e selvagens, a relação autoritária dos poderosos encontra paralelos em nosso comportamento habitual com a natureza, nossa vocação para a desunião e o nosso pequeno conhecimento por pouco não nos levam ao extermínio no filme, lembrei-me de “O mundo de Sofia” do norueguês Jostein Gaarden, assim como o livro nos abre os segredos da filosofia, o filme é didático como que a iluminar-nos para percebermos os pequenos passos a serem dados, ou evitados, visando à sobrevivência da espécie.

     Asas do Desejo nos defronta com a Alemanha pós-Segunda Guerra, ainda dividida pelo famoso muro de Berlim, o diretor a mostra quase uma Alemanha por habitante, a divisão territorial, a individualidade insatisfeita como regra geral, um tratado filosófico sobre a natureza humana, seus dissabores quanto à solidão das posições individuais, a força da protagonista que foge ao lugar comum, sua busca da relação livre com o outro e da pureza, a não aceitação da solução pronta de terceiros visível na trapezista e também nas crianças, o olhar permanente para a relação livre com o outro, saí do filme pensando em ler e reler não o roteiro e sim a transcrição completa dos diálogos pela sua carga poética, psicológica e filosófica.


     Muito mais que minha visualização dos filmes, me parece enriquecedor o que para cada um dos cinéfilos apresenta-se como o filme visto, que não é um e sim o número de assistentes multiplicado pelos momentos que esses refletem sobre o filme, esse milagre da múltipla criação só um bom diretor associado ao seu público pode fazê-lo e expandir esse ato criativo para após a permanência na sala de exibição não é nenhuma surpresa.

quarta-feira, 10 de junho de 2015

Poeira nos Olhos

     Sabe quando vem aquele vento e te enche os olhos de areia, você não consegue mantê-los nem abertos nem fechados, como se não bastasse enxergar mal, ainda tens aquele incômodo, aquela chatice de comichão que gera vontade de esfregá-los, o que como é sabido por todos nós só piora a situação acaba lesando os mesmos.

     Pois nós como brasileiros estamos exatamente nessa situação, irritados não conseguimos ver corretamente, pois nos jogaram poeira nos olhos, desde sempre se cultivou certa malandragem dos políticos tipo "roubou, mas fez", hoje estamos mais para "cada um por si e ninguém por todos", por trás de cada ato praticado por dirigentes, pior que de qualquer tipo de organização pública ou privada, não é terrível?  Sempre uma vantagem em causa própria, agravado pelo fato de que os três poderes parecem disputar uma competição de "Humilha e afana Povo".

     Por outro lado o que vemos hoje nas ditas redes sociais é que estão atirando em qualquer direção, infelizmente sem pontaria, talvez por causa da poeira nos olhos, por certo a ideia é movimentar-se, criticar alguém, curtir uma crítica, e nada de buscar as origens do problema, continuamos apenas fazendo burburinho sem nenhuma perspectiva de mudança, apenas curtimos a surra ao Judas do momento, rindo do outro esquecemos a personagem de piada ao qual nos reduziram, ao falar mal do outro esquecemos a humilhação que sofremos.

     Precisamos mesmo de tantas estruturas, cada uma delas com tantos penduricalhos e cada dia se criam novos, enxugar a máquina pública significa diminuir executivos nos três poderes, diminuir a geração de problemas a resolver, é muita gente para administrar, temos os caras pagos para cuidar de toda e qualquer coisa que fazemos ou até que pensamos fazer, além das intervenções de vontade exclusivamente pessoal de quem se acredita no direito de meter-se na nossa vida. 


     Tenho posição política clara, de esquerda desde sempre, mas não pretendo entrar em nenhum tipo de profissão de fé, prefiro trabalhar a ideia de romper o padrão, encontrar um novo caminho, pois o sistema atual tem se provado extremamente perverso para a sociedade, vamos proteger nossos olhos e assim evitando a poeira talvez encontremos a luz para a construção de um mundo novo baseado na justiça como qualidade primeira do ser humano.       

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Meu Lado Pré-Histórico

      Você que agora lê esta postagem pode pensar este cara é o que filosoficamente chamamos de anarquista, apesar das minhas simpatias pelos nossos amigos o alemão Max Stirner, o francês Pierre-Joseph Proudhon, e os dois russos Michael Bakunin e Peter Kropotkin, pensadores que são considerados os pais do movimento por colocarem no papel o pensar dos trabalhadores da época, confesso não pertenço a correntes filosóficas e sim tenho muitas afinidades com suas ideias.

     Estou mais sintonizado com a ideia de quebrar a capacidade que geramos de aprimorar a submissão, diminuindo a grandeza do homem, que chamamos de civilização e teria gostado se na primeira encruzilhada a opção tomada pelos nossos antepassados tivesse trilhado outro caminho, não é por acaso que vemos as palavras hoje serem mais importantes do que as pessoas como denuncia Rousseau e a negação da vida fruto do pensamento teológico e filosófico como afirma Nietzsche.

     Na questão da linguagem encontro o fim da manifestação livre e direta, tudo o que digo sempre é composto de uma rede de intenções e objetivos, ou seja, estou mais preocupado com o efeito que pretendo obter do que com a manifestação propriamente dita, e não pense que como ouvinte é diferente, interpreto frase a frase como contrapartida aos meus preconceitos, escolho a versão mais adequada a minha necessidade do momento, resultado não há comunicação e sim um artifício, um jogo.

     Na questão da vida, já consegui enganar-me adiando o presente em nome de objetivos futuros, como se fosse salutar abrir mão de viver hoje em nome de outra vida, depois percebendo que era um jogo comigo mesmo, viciado através de conhecimentos implantados em mim por anos e anos de civilização, nesse jogo o perdedor e ganhador se confundem o resultado tende a ser sempre o mesmo a provável obtenção de depressão, angústia e violência.

     O incansável olhar o outro para balizar meus atos, não atende ao princípio mínimo que é viver o homem justo consigo mesmo, então insisto na volta à pré-história por seu único caminho possível, descascar as camadas de conceitos de outrem impingidos desde aquela época até hoje e criar em mim o homem novo, o que gostaria fosse possível acontecer para cada um dos participantes da grande comunidade dos seres humanos, esses homens novos certamente não necessitariam de nações e seus governos a gerenciar suas relações.

sábado, 6 de junho de 2015

Trilha do Poder - Ruptura Final

     Não estamos falando de respostas, mas sim de perguntas:

     Quando falamos em evolução como uma quantidade de alterações que ocorrem a todo o momento e sempre em tempos mais curtos, não serão apenas apresentações diferentes de uma mesma coisa, agregamos tecnologia, porém não adicionamos o novo, não construímos o homem, evoluem as coisas que utilizamos e não nós seres humanos.

     Pensava nisso ao ver um filme do início de 1900, "O Gabinete do Dr. Caligari", da época do expressionismo alemão, era ainda cinema mudo, a tecnologia rudimentar da indústria do cinema a época é essa a única diferença que encontrei, o pensar cinema já tinha os rituais que vejo nos filmes atuais, agora com alta tecnologia embutida, mas os mesmos recursos criativos presentes, só falei nesse filme por ter sido o mais recente poderia falar  em tantos outros.

     Pensava nisso ao analisar a questão do uso servil do trabalho humano, exploração do homem pelo homem, não se mantém igual nas relações de trabalho, não observamos o mesmo fenômeno, apesar das técnicas de liderança, de gerenciamento e outras tantas modernidades destinadas a mobilizar, trazendo o que antes era manifestação pura e simples de força para o campo da persuasão, não encontramos aí o desejo de buscar a ocupação permanente do outro ao nosso serviço, alterando apenas a tecnologia empregada sem que dominador e dominado tenham crescido individualmente.

     Não são todas essas coisas resultado do jogo entre poder e resistência, hoje muito mais sofisticado, porém não diferente do primeiro instante da sua descoberta, continuamos com o gatilho armado, prontos para a explosão final nos destruirmos uns aos outros, continuamos utilizando muito pouco da nossa capacidade, pois estamos em permanente ocupação com o jogo e assim desviando-nos do objetivo de encontrar nossa plenitude.

     Não seria o momento de usarmos toda esta tecnologia para libertarmo-nos, para mais tempo conosco mesmos, com a natureza, rompermos em definitivo com nossas pequenas guerras, que em seu conjunto no contexto global reflete-se neste clima de violência generalizada entre pessoas, organizações e nações.

     O enfrentamento constante entre nós mesmos em sua origem não tem a questão de só encontramos nossa identidade a partir do contraponto do outro derrotado ou vitorioso, o que nos permite dizer com clareza que não nos enxergamos e sim apenas vemos uma deturpada imagem nossa no outro nosso espelho, classifico-me como melhor ou pior e nunca como igual diferenciado pela unicidade do ser.


     Falta-me a resposta, mas trilho o caminho de olhar mais para mim, dou-me o tempo de entender-me, vejo como funciono comigo mesmo, olho os outros com a curiosidade natural de conhecê-los nunca julgá-los, fujo de ter necessidade de fazer algo e busco apenas ser justo.               

quinta-feira, 4 de junho de 2015

Trilha do Poder - Agora Impessoal

     Eu vi por este caminho passarem os mais diversos tipos de líderes, os militares, os religiosos, os políticos ora apresentando-se como reis, presidentes, ditadores, déspotas esclarecidos, entre outros, sempre advogando o poder em nome de deuses ou de povos e principalmente justificando-o em nome do bem comum e do enfrentamento de inimigos poderosos.

     Criamos nações, criamos identidade para estas nações e principalmente inventamos objetivos particulares para essas mesmas nações que justificavam o enfrentamento com outras nações de metas também particularizadas, assim crescia nosso poder no constante enfrentamento cujo objetivo era apenas sobrepor nossa verdade sobre a do outro.

     Até hoje continuamos com esse nosso brinquedo, sempre tivemos a nação hegemônica e as nações desejosas a candidatarem-se a o serem, os impérios com o nome que o quisermos dar, sempre trataram de classificar a sociedade em castas para subjugar o povo em currais filosóficos de subordinação.

     Hoje a estrutura de organização social aliada ao avanço geométrico da tecnologia criou estruturas intelectuais de poder muito mais fortes do que os eventuais nomes que as exercem, por trás da pessoa, imagem descartável facilmente substituível, o exercício do domínio mantém-se intacto pela ética e pela moral que o definem, acontecem hoje estes jogos de disputa entre o poder e a resistência em todos os níveis da sociedade, em todas as relações entre pessoas, bem como entre organizações.

     Identifico em grandes pensadores como Rousseau e Nietzsche a figura dos seus heróis sempre definidos como solitários caracterizados por vontade individual de justiça, que seria o bem primeiro do indivíduo, assim descartados da carga genética de conhecimento poderiam conviver com seus iguais sem exercer o poder e elevando o homem à transcendência.


     A palavra-chave continua sendo Educação, mas com o conceito de libertar o homem da civilização, criar o ambiente ideal para que ele desenvolva suas potencialidades naturais de crítica e participação social com a inata noção de justiça evitando assim esta absurda dualidade de bem e de mal que está por trás da relação poder versus resistência.     

terça-feira, 2 de junho de 2015

As Janelas de Vida

     Vi minha personagem ao meio-dia e ela estava entre duas amigas, confesso não sei seu nome, de imediato me dei conta da grande mudança, havia uma barriga linda de gravidez presente nela, e não era recente pelo menos quatro meses de um bebê deviam estar ali naquele ventre, o fato apareceu para mim assim como que do nada, não conseguia lembrar-me de qualquer vestígio no passado que indicasse que ela pudesse estar vivendo esse momento.  

     A ideia é situar-vos na experimentação que tive, são janelas de vida que se abrem no tempo, para nós durava já um ano de pequenos pedaços de convivência, que poderíamos resumir assim, muitas vezes no mesmo deslocamento do início do dia na rota casa-trabalho, eventualmente um encontrar-se na ida ou volta do almoço já que trabalhávamos próximos e algumas vezes no ônibus ou à espera dele ao retornar do serviço para casa.

     Nunca houve qualquer conversa nenhum tipo de contato, apenas olhos a procurarem-se contando uma história silenciosa, certamente indecifrável não só para os outros, mas sim para nós também, defino assim como pequenas interseções de um conjunto de relações muito maior que cada um experimentava por seu lado, completamente desconhecido para o outro.

     Perpassam na vida de todos nós milhares dessas janelas, com personagens diferentes em diversos caminhos, cada qual dos envolvidos contando uma história diferente unilateral só existente no seu imaginário, mas são histórias que tem um início e um fim em cada um desses instantes, a memória recupera-se de imediato, traça um plano de continuidade com o passado que estando hibernado em nós renasce com força no momento, isso por maior que seja o intervalo em que nos desencontramos.


     Se eu fui surpreendido, de maneira prazerosa por gostar de crianças, o foi exatamente por não conhecer nenhuma das circunstâncias que compunham o enorme tempo que representava nossas vidas em relação aos poucos minutos que convivíamos, e só estou lhes fazendo essas confidências porque situações agradáveis podem deixar de serem curtidas por ignorar tantas dessas histórias paralelas que inevitavelmente vivemos como seres multifacetados em nossas relações.  

segunda-feira, 1 de junho de 2015

A Arte de Moldar Pessoas

     Pode-se falar sempre no presente, independente da década a qual quisermos nos referir nesta curta história que denominamos civilização, os mecanismos de modelar seres humanos são os mesmos apenas acompanhados de mais ou menos tecnologia, o grave neste quadro é a alta prioridade destinada a esse trabalho e a enorme quantidade de esforço Humano dedicado nessa direção, por certo sempre ter sido assim em nada nos absolve.   

     O esforço global dirigido para colocarmos um molde padrão para as pessoas é um verdadeiro vale tudo, desde o seu nascimento inundamos de histórias falsas o Homem, o objetivo é estabelecer conceitos que o acompanhe em toda a sua vida e nos dê o resultado esperado: a falsa impressão de liberdade.

     Sem desconsiderar o valor literário o que não colocamos em discussão, podemos tomando um exemplo analisar a fábula da cigarra e da formiga como ameaça à criança, caso não se enquadre ao esquema de trabalhar e juntar o desejado pelo status quo, ela estará condenada à morte por frio e fome, não nos faltou esperteza e falsidade para impingirmos uma ideia em alguém que esteja em fase de crescimento, está claro que uma criança só vê cigarras em poucos dias quentes de verão o que legitima no seu eu interior a história, já as formigas ela as enxerga todos os dias, nós o sabemos a cigarra preguiçosa que só quer cantar em vez de ficar enchendo os porões de comida não existe, ela apenas tem um mês nos meses quentes para procriar, e daí vem o seu canto destinado a encantar os parceiros, e nesse período vencer os predadores, garantir a propagação da espécie e morrer. 

     Assim criamos muitas fábulas, todas falseando a realidade e impingindo posições a serem tomadas pelo adulto no amanhã, não podemos esquecer também que nossa história sempre foi escrita pelos vencedores, em outras palavras não tem porque corresponder aos fatos reais e sim aos fatos por nós desejados, tanto assim o é que à medida que os tempos avançam seu estudo vai sendo modificado com o intuito de a adaptarmos aos novos tempos.


     Nossas estruturas educacionais ainda são antigas apoiam-se no conhecer o revelado por outrem e não no descobrir novas perguntas e suas consequentes novas respostas, algo tem que se buscar no sentido de inutilizar o conceito de molde e assim valorizar a liberdade real e não a propagada que é atrelada a responder a conceitos pré-definidos.