segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Luz, Rocha e o Mar.

     Sempre somos luz, sempre somos rocha, sempre somos mar, nós seres humanos sempre compomos este arco Iris onde multifacetados expomo-nos ao mundo, ora iluminados, ora firmes como fortaleza, ora constância em ondas ao encontro do outro, diversificados em diferentes níveis de intensidade combinamos a cada momento dado os elementos acima referidos redefinindo-nos.

     Todos somos ao mesmo tempo vitrines e olhares, sempre acabamos avaliando como avaliados nas mutantes situações, em cada encontro dependentes do nível de intensidade de cada uma das partes em cada um dos participantes, nunca o momento repete-se, sempre é uma nova água que passa pelo rio da vida.

     Luz, iluminar depende muito mais do iluminado do que do iluminador, quem absorve os raios os filtra conforme sua necessidade e possibilidade, portanto não posso querer iluminar a não ser a mim próprio e por ai reside o foco capaz de garantir serenidade, tenho que poder brilhar ao máximo para mim mesmo sem nenhuma pretensão de ser visto e principalmente com a sensibilidade de ver, sentir o fulgor das outras estrelas que nos cercam.

     Rocha, o reconhecimento de que somos finitos apresenta-se como grande alicerce na construção do viver pleno, esta fundação base sobre a qual se sustenta o entendimento pleno do que somos do que podemos e assim nos fortalecemos na aptidão por viver contra a inércia do fazer o tempo passar, por certo a decisão de optar constantemente por existir em plenitude é pessoal e intransferível e como no quesito anterior devemos sempre estar atentos em observar existências plenas que nos cercam e assim apreendermos.

     Não podendo garantir o nível de consistência físico-espiritual, podemos sim conviver, sempre que conscientes da fotografia do momento, com nossa maior ou menor consistência, não estamos condenados por não ser a rocha mais dura, toda força está em conhecê-la e assim agir e reagir adequadamente a cada situação que nos apresente.

     Mar, o eterno vai e vem das ondas com potências diferenciadas, com persistência infinita, nos lança definitivamente no otimismo capaz de garantir um constante ultrapassar dos inevitáveis obstáculos que nossos passos enfrentarão, em ondas avançamos no nosso existir fazendo-o de maneira melhor á medida que navegamos na régua do tempo, o refluxo é sempre um acumular de forças e nunca uma derrota ou um recuo, é sim sinônimo de ir em frente.


     Os Seres humanos, nos seus encontros e desencontros, vivem relação de completude ao sabor do momento de luz, rocha e mar de cada um, tal qual camaleão adaptam-se mutuamente na busca da utopia de eternidade.                        

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Transparência

Gosto de ver-me qual brisa invisível
Prezo sentir isento todo de massa
Vasculhando sem pista cada desnível
Teu corpo alma meu ser sempre perpassa.

Saliências, esquinas suas lindas partes
Completar sem tocar, sufocar, grudado
Sinto, exijo que nunca me descartes
Pois você é de mim o meu próprio lado.  

Feito na minha obra a argamassa
Cola-te em mim negação da ausência
Isenta qualquer chance para desgraça
 Pois viver depende da tua anuência.

Gratifica impulsionar a ser sol
Como tal sempre símbolo todo vida
Transparente instrumento lançado prol

No teu peito sempre encontrar guarida.

terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Louco, sim claro...

     Louco, sim claro porque não, sempre soube que não prostituir-se ao agradar fácil, que não iludir-se pela sedução do pretenso interesse descompromissado no meu bem estar demonstrado por terceiros, que não capitular ante uma manifestação desenfreada de bondade não é o comportamento desejado pelos parceiros de caminhada.

     Louco, sim claro porque não, sempre soube que não compartilhar verdades de uma maioria desenhada no momento por lá se sabe que influência, que não esconder suas verdades com uma máscara de convivência social, que não vender uma imagem de feliz bem sucedido conduzem ao discriminatório isolamento decretado aos perigosos para um falso bem comum.

     Louco, sim claro porque não, sempre soube que não pisar sobre os injustiçados roubando-lhes ainda o pouco que lhes sobrou, que não aderir ao sistema de mérito que nada mais é do que vestígios claros de privilégios herdados, que não aceitar a proteção de falsos deuses aos nossos desmandos contra a humanidade te torna pessoa não grata ao medíocre sistema estabelecido.   

     Louco, sim claro porque não, sempre soube que não amar-se tanto a ponto de prescindir do outro como muleta, que não acreditar na submissão a quem quer que seja como referencia de gostar, que não engordar o egoísmo de quem só aceita o outro quando ele tem a cara que o seu imaginário construiu te cola a etiqueta de desequilibrado físico emocional.

     Louco, sim claro porque não, sempre soube que não participar do canibalismo do homem pelo homem, que não aceitar e construir escadas de ascensão nas diferentes pirâmides inventadas para discriminar uma maioria ante autoproclamadas escolhidas minorias, que não louvar o poder por entendê-lo espúrio e usurpador te condenam a ser aprisionado em mecanismos de controle social escondidos na falsa ciência.

     Louco, sim claro porque não, sempre soube que não engolir verdades de um pretenso consenso estabelecidas por uma moral que humilha o homem, que não admitir o processo que domestica a cada homem desde a sua gestação é projeto claro de desmonte do ser humano te rotula de revoltado desagregador social.


     Louco, sim claro porque não, se não sou peça desta maquina infernal de construção de escravos, se não sou objeto de consumo destes organismos políticos sociais dedicados ao controle, se não preciso de mandamentos que não sejam os que eu consiga construir, se respeito todas as ideias desde que não seja obrigatória minha aderência a nenhuma delas, se necessito andar pelos meus passos e tão somente ao lado de quem também anda pelos seus então concluo que sou louco, sim claro...

domingo, 4 de fevereiro de 2018

Sobrevivente

     Sobrevivente inadaptado a realidade de ser amado pelo mundo, percorro a intimidade dos caminhos do gostar despojado de retornos, me parece adequado e suficiente o amar sem o bônus de ser amado, mesmo acreditando que só são reais relações partilhadas entre todos envolvidos admito preferir o carinho despojado da necessidade de reciprocidade.

     Sobrevivente o naufrago do dilúvio por optar não partilhar da arca dos escolhidos, prefiro a serenidade da morte que a caridade injuriosa da opressão de quem apesar de igual veste a superioridade da compaixão e catalogando-me como coitado acaricia seu ego pretensamente superior.

    Sobrevivente do tempo onde às pessoas primam por exigir condições para partilhar vida e emoção eu busco estabilizar uma relação na aceitação completa da independência dos seres participantes, aceitando como do outro tudo que ele pode e quer ser, independente das minhas necessidades específicas, que por sinal em tempo nenhum podem exigir o mínimo compromisso deste.

     Sobrevivente da interpretação por nossos filtros individuais de cada atitude de outrem, encontro o tempo para entender cada gesto como resposta a uma condição muito particular de vida de quem o exerceu, longe de não ferir meus sentimentos luto violentamente para ultrapassá-los na busca deste entender.

     Sobrevivente de uma geração incapaz de andar sozinho, portanto disposta a permanentemente negociar rendição, não pretendo entregar-me nunca exigindo qualquer coisa que seja senão o respeito ao que sou sem magoas acreditando sempre no meu bem querer.

     Sobrevivente de uma sociedade onde vinga a balança das medições, eu não encontro em mim qualquer definição de certo ou errado sobre o outro, sempre vejo um todo onde nada há de mal nem de bem apenas o igual entre muitos iguais.

       Sobrevivente dos rótulos e catálogos a definir por conceitos a mascara de cada um, eu prefiro o rosto puro com suas rugas refletindo o aprendizado da vida, amando seus vincos como pequenas verdades que me encantam, frente ao verniz falso do montar-se para exercer fascínio.

     Sobrevivente tão somente por não ter medo de morrer, tanto no espírito do outro quanto muito menos de cumprir meu destino de voltar ao pó, brigando com insistência em manter o foco no presente, longe de um passado que na soma de suas magoas e ou alegrias me vergue o dorso, bem como de qualquer sonho de futuro que comprometa o meu agora manifestar-se pleno.

     Sobrevivente por apenas querer com vontade ser e ver os outros serem, contemplando-os com a alegria de curtir esta tão sua felicidade e tentando muito que possam vê-la em mim, enfim um sobrevivente destes mais de três mil anos onde o homem combate o homem.