sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Faça-se a Luz!

     Estamos alguns anos após 2000 e na mesa do bar o tema "Idade Média" corria solto, a víamos com a primeira fase sem luz depois do gênesis "Deus criou os céus e a terra. A terra estava informe e vazia", o que nos interessava era o porquê e o como chegamos a um momento de obscuridade tão grande, principalmente em sequência a civilizações do porte das egípcias, gregas e romanas, entre uma e outra jogada, a bola da vez era a igreja, não por ser a igreja, mas sim por ser o único poder estabelecido e baseado numa impossibilidade que é a Fé.

     Recordando "No princípio, Deus criou os céus e a terra. A terra estava informe e vazia; as trevas cobriam o abismo e o Espírito de Deus pairava sobre as águas. Deus disse: Faça-se a luz!”. E a luz foi feita, sim, disse presente o renascimento com pensadores como Descartes, Michelangelo iniciando uma bela resposta para as trevas.
                                                                                                                                                         
     Graças ao pessoal da sala PF Gastal pude ver nesta semana documentários sobre Poe, Vitor Hugo e Sartre com seu "Castor" (a brilhante feminista Simone de Beauvoir) e as minhas releituras do mês compostas por obras de Poe, Bukowski, Proust e Henry Miller, que esplendor o mundo até 1970 onde as luzes iniciadas pelo renascimento e principalmente a partir de Dostoievski brilharam ao máximo.

     Agora um pouco adiante do ano 2200, um mundo de encontros não mais em mesas e sim em temas que espalhados pelo espaço compartilham pensantes, nos encontramos no ponto "idade das trevas" e estamos partilhando o sentimento de um conjunto de anos, 1970 a 2014, tentando compreender como foi possível uma segunda idade média e entre as muitas explicações a que unia mais pensamentos é a de ser uma consequência óbvia de um imperialismo (a igreja da época) com sua democracia (a fé da época).     


     Deus onde estais? Precisamos um novo “Faça-se a luz!”, com ou sem você necessitamos semear pensadores e derrubar a sofisticada máquina imperialista, diferenciadora de homens, estabelecida como verdade hegemônica sobre a humanidade.

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Quando Vamos Derrubar os Muros!

     Fronteiras entre nações, como explicá-las, ainda temos espaço no mundo globalizado para o conceito de nação? Por que não uma governança global estabelecida sobre trocas mediadas de serviços, bens, alimentos e arte, pois encontramos hoje nas nações apenas minorias oprimindo no âmbito interno e externo as mesmas e seu conteúdo principal os humanos.

     Uma governança global por certo começaria muito bem eliminando os grandes desperdícios gerados pelos gastos militares, pois esses se estabelecem na fictícia proteção contra imaginárias nações inimigas, e ainda lucraríamos com o fim dos dispendiosos mecanismos de gestão governamental que se reproduzem na direta relação com a quantidade de países.

     No mundo onde a arte, o trabalho e a informação são sempre e cada vez mais universais a migração é uma realidade e só não acontece em maior número pelo continuado construir de barreiras protecionistas que separam os diversos povos, buscando filtrar a convivência através de interesses normalmente não bem explicados.   

     Poderíamos trabalhar com a identidade de um grupo de pessoas para justificar a manutenção dessas estruturas arcaicas, porém isso já perdeu desde muito tempo o sentido, e só se mantêm através de constante e violento esforço de propaganda, estamos sempre inventando inimigos para unir seres humanos artificialmente ligados entre si dentro de muros, e a construção destes sempre foram a partir de conquistas feitas pela violência da guerra.

     Para exemplificar, quem torce por uma seleção nacional? Na verdade as pessoas torcem pelo seu time e pode-se ver claramente que se envolvem mais com os eventos entre nações pessoas que no dia a dia não curtem o esporte em questão e ainda assim por forte pressão midiática e se você gosta de corrida de automóvel você torce por um determinado piloto? Por um time de construtores? Sim e nunca por um estado constituído.


     Poderíamos encontrar um conceito de governança global, que substituindo o sistema representativo estabelecido na maioria dos países, estivesse baseado em mediação voluntária nas relações de trocas entre as pessoas, muitas já realizam trocas de maneira independente do lugar e só não o fazem com maior intensidade pela permanente repressão dos governos a esse tipo de iniciativa, temos que estimular o aprendizado da vida em rede e seus mecanismos de relacionamentos, quem sabe não é esse o caminho da liberdade que o homem sempre almejou.

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Abaixo todos os Juízos de Valor

     Droga, sim que queimem no inferno todos os juízes de valor, é uma batalha inglória tentar livrar-me deles, uma luta permanente enquanto circulo pela nossa cidade, Porto Alegre, cruzando caminhos com muitas pessoas e colocando uma etiqueta aqui, rotulando outro ali, tenho que estar me policiando constantemente, sabendo que não são meus esses malditos níveis de qualificação para mais ou para menos, mas como estão arraigados, como aparecem de supetão, como emergem a cada olhar.

     Gostamos de nos enganar imaginando que o que brota instantaneamente dentro de nós corresponde ao de mais nosso possível, algo tipo um instinto, uma verdade interna, quando de fato bem o sabemos é a continuada influência da civilização grudada na gente, em outras palavras não tem nada de nosso, tudo vem de outros.

     Sinto-me obrigado a contrapor violentamente esta maldita primeira impressão, despir-me dessa carga pesada para poder simplesmente olhar e curtir, sem passar por intermináveis escalas de valor, quando falamos de coisas ainda vá lá pode ser aceitável esse procedimento, mas para com as pessoas isso é inadmissível, porque tem que ser alta, baixa, magra, gorda, linda, feia quando são apenas e principalmente pessoas.

     A única certeza que tenho é a completa inadequação da comparação, pois é certo que determinar valor é comparar, mas comparar com quem? Com o que? De onde tiro os parâmetros se me conheço tão pouco, que nem comigo mesmo posso contrapor a presença do outro, nossos sentidos costumam nos trair constantemente e o bonito se torna feio sem que nada possamos fazer, pois o julgamento depende da quantidade de veneno presente em nosso fígado, em nosso espírito, na nossa alma.


     Quanto mais casca tiro, mais sujeira incrustada encontro e como é difícil limpar-se dessa achando a pureza do núcleo, descobrindo o que realmente somos, agregue a isso o fato de considerar que a tal da civilização, que é impossível evitar frequentar, tem como principal meta nos impingir receitinhas prontas de como não viver, mais aumenta minha determinação para me lapidar e assim abrir mão dessa nefasta herança.

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

No fundo do poço

     Poço, sim rumo ao fundo deste encontraremos as pistas que nos definem e que caracterizam o ser humano que somos fundo do poço é força de expressão, a busca do indivíduo por sua alma é além de difícil completamente imprevisível quanto ao seu conteúdo, assim vejo a vida e se considero que estamos todos em distâncias diferentes deste alvo que é ter clareza do que somos, devo compreender o fato de resultarem imagens diversas com respeito às pessoas e às coisas, não é justo exigir de quem está visualizando a grandiosidade do universo que tenha as mesmas respostas de quem olha as modestas riquezas de sua alma.

     Amigos de grande afinidade de pensamento, por vezes se desencontram no discurso, por quê? Pela natureza desigual do momento vivido, o mesmo fato responde por interpretações aparentemente divergentes e que o futuro talvez demonstre ter o mesmo ideário em sua origem, apresentam-se de maneira diferente conforme o respectivo marco do tempo, se considerarmos que não se pode antecipar o tempo é obrigação de quem pode olhar-se no passado achar o elo que liga os mesmos.

     Existe em nós o tempo da construção onde levantamos tijolos construindo sonhos, realizando projetos, agregamos informação e conceitos, em continuação nos deparamos com o momento da desconstrução onde buscamos eliminar tudo o que trouxemos de desnecessário buscando o mínimo do mundo para acharmos o máximo de nós, não diria que estamos na hora do tudo feito e sim no momento do fazermos em nós.

     Descobrir em nossos gestos, em cada pensamento, na manifestação das vontades, atitude por atitude quem nos influência e por que, substituindo a repetição impensada de filosofia de outrem por respostas conscientes nascidas de reflexão nossa, pessoal, frente a cada fato que a vida nos proporciona.


     Neste processo de decodificação, transparência me parece importante, porém cercada de cuidados para não magoarmos quem nos estima, pois não somos beleza pura, não somos nem maior, nem menor que ninguém, apenas um ser individual único que em momento algum pode corresponder à completa expectativa de alguém. 

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Direita Volver Marche!

     Vamos fazer um "minha culpa", conseguimos um resultado eleitoral decididamente à direita, elegendo um congresso e possivelmente a maioria dos executivos aos quais podemos prender sem nenhuma dúvida a etiqueta "conservador", com certeza o preço a pagar será alto, estamos adiando por mais quatro anos a reforma política e o enfrentamento do importante desafio que é a melhora da educação.

     Só cabe a nós mesmos a responsabilidade por este fracasso são doze anos no poder e no quesito educação nada fizemos, mantemos um ensino com alto grau de deficiência, herdado por influência americana nos tempos da ditadura, quando penso que nesse período poderíamos ter liberado um primeiro time com a marca de qualidade do ensino integral, capaz de decidir com o discernimento de quem aprendeu a pensar as melhores opções para nosso país, só tenho a lamentar-me por termos jogado fora esses doze anos. 

     Não podemos esquecer que os propósitos da direita, com suas enfeitadas e bonitas frases que nada dizem, têm sempre foco em manter a elite no controle, via educação insuficiente, primando por evitar o desenvolvimento da capacidade de análise crítica, defendendo uma livre iniciativa estabelecida sobre a velha história de vender oportunidades iguais para desiguais.

     Sei que o momento não é de riso, mas me lembrei da piada que fala do religioso que dizia dar tudo ao Senhor atirando as moedas da coleta para cima e deixando que ele, o Senhor, servisse-se do que quisesse, é assim que vejo a direita defendendo a violência econômica, policial e social contra o povo a quem acusa de não aproveitar as oportunidades que a democracia lhes oportuniza por negligência, preguiça e má índole.


     Nossa tarefa tornou-se muito mais difícil, teremos que levantar trincheiras na sociedade civil, sem esperança de apoio significativo dos mecanismos públicos de gestão, o que imagino só seja possível com um forte comprometimento individual, para evitarmos a regressão do pouco que conseguimos de avanço, com cada um de nós vivendo um dia a dia com posicionamentos transparentes, corretos e de continuada vigilância.    

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Almas Gêmeas

     Quando escutei "Cara sou sua alma gêmea, penso igual a você", de imediato reagi, meu amigo a igualdade nos debilita, a diversidade nos fortalece, preciso que você raciocine do seu modo e não como eu, só assim podemos somar valor, eu concordo, sempre haverá intersecções, pontos de vista que se encontram, mas o que expande o espírito humano é o que eu não pensei o que não lhe havia ocorrido o que um terceiro nos oportunizou.

     Porque me vem à lembrança isso hoje? Boa pergunta, talvez o pós-eleição com seus resultados previsíveis e não desejados, ou quem sabe apenas a visualização de tantas unanimidades tão bem definidas como burras pelo nosso grande Nelson Rodrigues, o todo sempre é heterogêneo e como tal funciona, nosso corpo traz em si essa lição quando uma mesma célula original divide-se em milhares de células especializadas, cada uma apreendendo sua função e vivendo-a na prática e assim garantindo o funcionamento do todo.

     Seguiu o interrogatório: "Então por que escreves? Por que disponibilizas para todos teus escritos?". Não fugi de responder, passei a explicar a ideia de que por princípio somos semente, apreendemos e passamos adiante nosso conhecimento então "c'est fini", quer dizer, aí termina nossa missão, essa é a regra básica da natureza vive-se para entender mentalmente a vida e passar adiante a descoberta, para escrever necessito refletir e publicando faço minha parte e justifico meu existir.

     Não satisfeito largou de primeira: "Por que dedicas tuas horas à leitura?". Não titubeei, lendo busco provocar-me, encontrar espaços internos, oportunidade de vasculhar os inúmeros buracos negros ainda virgens em mim existentes, interessante como uma frase, uma palavra, um momento, desencadeia frenéticas pesquisas, movimenta uma complexa rede de interligações e permite preencher uma lacuna antes vazia na minha construção filosófica.

     Somos um pouco cópia, gerados como síntese da vida de todo o sempre, constituídos da soma dos que viveram, tudo que aqui esteve antes de nós, contemos o DNA desses e dos que viverão, pelo menos assim o vejo enquanto não nos habilitarmos a domar o tempo.

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Na dança das cores

   Navegando do preto, ausência de todas as cores e como tal tem a beleza de todas, pois as absorve, até o branco onde a presença de todas as cores possibilita que as reflitam, convivemos em uma sociedade onde um espetacular arco-íris marca sua presença através de um mesmo ser humano diversificado em sua pigmentação por sua adaptação na própria pele humana aos diversos comportamentos da natureza, nada nos diferencia no essencial apenas no transitório e isto é o pote de ouro que a lenda diz estar na origem deste arco-íris.

    Difícil entender como as diferentes transformações por que passaram os seres humanos durante seus muitos anos de convivência com diversos níveis de exposição a raios ultravioletas pode ser parâmetro de segregação, propiciam perseguições covardes a grupos e indivíduos, quando na verdade deveriam gerar orgulho de nossa capacidade não só de mudarmos nossos pigmentos como transferirmos geneticamente os mesmos à nossa prole como um conhecimento a ser repassado.

     Não posso furtar-me a uma manifestação clara contra o preconceito, os cinco sentidos me permitem ver a beleza do homem em todas suas cores, ouvir a graça dos sons emitidos por diferentes tons, cheirar os perfumes das diferentes peles, apalpar as diferentes densidades e anatomias, saborear o gosto que nos oferece a natureza especial de cada um.

     A falta de preparo intelectual, que nos humilha por sua mediocridade, aparece plena na intolerância da cultura dos slogans, no policiamento dos comportamentos, no cerceamento da liberdade do indivíduo e muito mais na exclusão social dos desfavorecidos, o que vemos é um grupo social disposto sempre a atirar a primeira pedra, no grande espetáculo global de apedrejamento que se tornou este mundo globalizado, onde a maioria sempre forma-se em torno de um pseudo politicamente correto para expurgar seus pecados nas costas do outro.


     Por aqui neste nosso Brasil, não nos vejo diferentes, e precisamos com urgência, partindo de cada um em iniciativa pessoal e intransferível trilhar o caminho da busca da cultura, sem esperarmos por iniciativa de outrem, dar o primeiro passo, pois desde sempre o todo depende da parte e cada célula tem o seu papel a cumprir, sem esperar ou cobrar do outro qualquer coisa, só a cultura extermina o preconceito e possibilita o nascimento do homem por inteiro.