domingo, 24 de julho de 2022

O Personagem que Crio, em Nada Corresponde ao Buraco Negro Que Sou.

 

                Sem ilusões meu amigo, nosso repositório de lembranças nada mais são que fotos arquivadas aos milhões impossíveis de identificar qualquer realidade diferente das que os contínuos olhares nossos ou de outrem a descrevem.

 

                Não tem erro a cada vez que desenterramos uma destas fotos vemos outra coisa que além de não combinar com a leitura anterior, tem o agravante, de não corresponder em absoluto a realidade vivida.

 

                Não pense, porém que isto seja um problema, apenas é a expressão plena de nossa humanidade, realmente a vida humana não seria possível se não nos fosse dado o direito, de cada um de nós, reescrever continuamente nossa história.

 

                Está bem, você queria que eu escrevesse estória e não história, de fato não faz nenhuma diferença, pois pela impossibilidade da segunda as duas se confundem e se fundem, somos sim uma permanente mistura de estória e história.

 

                O quão longe estamos de entender este imenso buraco negro que somos, está diretamente ligado a insistência que pregamos verdades como nossas, entretanto qualquer pequena analise que fizermos, das influências que sofremos, nos mostrará que necessitamos uma vida tão somente para iniciar este processo.

 

                O processo inegável, vivido por cada um de nós, é momento a momento reescrevermo-nos para nós e para os outros, olho de novo aquela foto da lembrança e reconto novamente minha história para mim ou para outrem.

 

                Em determinado espaço de tempo tenho mais culpa ou mais mérito, sem ilusão culpa e mérito são a mesma coisa, definem apenas uma sensibilidade de momento e que bom que assim o seja, pois reflete o fato de estar a existir.

 

                Por certo não estou a desestimular, podes crer ao contrário, nascemos vocacionados para escrever e reescrever esta história fantástica que cada um de nós somos, vamos lá mãos a obra, até nos encontrarmos na imensidão, buraco negro, de mistério que somos cada qual de nós.           

domingo, 17 de julho de 2022

Na Real Nada Mais Somos Que Pura Ficção.

 

                Viventes somos construtores de história e como tal em momentos no tempo somos a intersecção das nossas histórias com as histórias dos outros, neste instante perdemos toda a substância passamos a ser ficção pura.

 

                Todas a imagens que buscam nos dar realidade, nada mais são do que pinturas criadas por mim e por outros com base em circunstâncias de vida até anteriores aos nossos próximos nascimentos, tal qual uma foto é a própria irrealidade.

 

                Este nosso momento de presença em histórias de vários seres humanos simultaneamente nos abre o espaço de sermos até a negação de nós mesmos, como definir qual é nossa face verdadeira, tão somente podemos duvidar de todas elas, inclusive da que acreditamos ser a nossa.

 

                Nunca de fato conseguirei separar completamente as influências as quais fui submetido, tal qual acontece comigo também ocorre com todos, o famoso ver de fora, por isso imparcial e isento é uma utopia e como tal impossível de ser alcançada.

 

                Em síntese estamos permanentemente refazendo os traços do esboço de nosso retrato, o certo é que esta aí uma obra condenada a nunca ser acabada, o que determina nossa incapacidade de sermos reais, precisamos contentar-nos de imagens ficcionais de nós mesmos.

 

                Não pensem que isto nos desmereça, apenas somos “aquela metamorfose ambulante” como tão bem definiu o criativo Raul Seixas, e assim o ser é a própria definição do existir, não parar nunca de retocar com o pincel a pintura que somos ao viver.      

 

                Também quando definimos esta tarefa como utópica não queremos desestimular sua execução, ao contrário estamos na verdade afirmando que construirmo-nos como realidade é um grande sonho a ser sempre e ardentemente perseguido.

 

                Quando dizem que não há vida se não houver sonhos, estamos frente a frente com o desafio proposto, sonhar o encontro da imagem que nos represente como real e não como fantasia nossa e de outrem.

 

                Nossa melhor obra de ficção sempre será nós mesmos, tal como uma escultura que vai nascendo da rocha. vamos descascando milhares de influências que nos escondem de nós mesmos em busca de nos revelarmos aos nossos olhos e da humanidade.