sexta-feira, 26 de setembro de 2014

No Olho do Furacão - Viajei!

     A viagem de sempre, são vinte e quatro anos de peregrinação à Meca do GeneXus, Montevidéu  a bela capital do Uruguai que ainda conserva em muito aquela imagem que tanto amamos da Paris do início do século passado que para nossa alegria espalhou-se pelo sul da América, com seus cafés, seus bares, seu povo. 

     Cá estou eu no centro do furacão em viagem interior, preparando-me para o deslocamento físico, misturando lembranças com vontades, recordando quando no apertado teatro de um banco, o Banco da República, se não me engano, éramos trezentos e representávamos trezentos, nós mesmos, e somávamos vontade a um ideal acalentado por cinco visionários, que incessante escreviam-no linha a linha.

     Hoje sei seremos três mil representando trezentos mil, e este patrimônio, esta comunidade é sim o grande legado, que a soma dos anos constrói e alimenta esta sim é a grande viagem onde todos os rumos ainda não se completaram, não sabemos ao certo o caminho e o estrago que o furacão definirá.

     Não me sai da cabeça, a Elis Regina nossa grande Elis cantando "ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais", assim vejo nosso momento como comunidade GeneXus, temos os alicerces da mudança, sim já  foram construídos, mas existe um tudo ainda por fazer, temos a tecnologia temos a possibilidade de fazê-lo mas nossas aplicações ainda são as mesmas dos tempos dos tabuladores, acanhadas respostas ao dia a dia, claro com muitos Gigabytes de tecnologia embarcada.

     Reencontrando este time profissional, esclarecido e amante da mudança, eu aposto na revolução que esta comunidade irá construir, sei que vou encontrar-me com muitos insatisfeitos como eu, que percebemos o ninho perfeito armado o suficiente para afrontarmos todas as forças que nos empurram para as soluções conservadoras e realmente inovarmos.


    Estamos aparelhados, somos massa crítica, bom então é a hora de colocarmos nossa contribuição e fazermos a mudança, pois essa só nós como comunidade podemos fazê-la. 

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Entre o singular e o plural

     Gosto de mulher, no plural, poderia gostar de homem? Certamente que sim e até optado por ser bissexual, escolha bastante comum na década de 1960, foi uma decisão particular minha que independe de conceito de bem ou mal como qualquer outra decisão que tomamos e vamos em frente, isto é, assumimos e assim o fazem as mulheres e os homens.

     Insisti acima com o “gosto de mulher no plural” o que vale para quem escolheu outro modelo de relação também, pois mesmo tendo apreço a quem no dia a dia decide-se a abortar novas relações com outros parceiros, admito que a mim não pareça natural, uma pessoa no singular não pode preencher a gama de interações que me são necessárias, por isso mais importante do que a opção tomada é o plural que me encanta e me atrai certo que também não poderei ser único a completar uma mulher.

     Assim vejo os homens e as mulheres fazendo suas escolhas e os estimo e respeito em primeiro lugar por terem escolhido, pois decisões são sempre corretas independente do caminho tomado, já dizia Descartes o importante não é decisão tomada, mas o ato de decidir.   

     Não sou médico, não sou psicólogo, logo apenas manifesto-me sobre o que é para mim o tema, não estamos falando de genética, não estamos falando de circunstâncias especiais de vida, não estamos falando de anomalias, estamos falando apenas de definir o gostar, buscar seu espaço particular de afetividade, buscar um modelo de relação com os outros que não necessita ser apoiado nem criticado, tão somente respeitado.

     O homem livre, o ser humano independente do sexo, constrói sua rede de relações de maneira individual, prepara-as e aperfeiçoa-as à sua maneira sem que interferência externa alguma o possa modificar, ele edifica seus sentimentos, seus alvos do gostar, como opção tomada no somatório de todos os instantes de sua vida, reassumindo-os a todo o momento.

     Obviamente que o entorno o obriga a posicionar-se, porém não o modifica, apenas oportuniza o escolher, livre e independente dos caminhos assumidos no passado, uma sempre nova decisão, seus e só seus são os caminhos e a felicidade que deles advêm.


     Quando aceito o individual de cada escolha obrigatoriamente eu como ser humano estou desautorizando qualquer possibilidade de não aceitação, de crítica, de preconceito, e não só como também a simples ideia de colocar em questão ou de analisar uma escolha de outrem não é admissível, pois só a estes compete decidir e analisar suas opções.

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

De pernas para cima!

       Acordei e finalmente reencontrei-me com a civilização, na cozinha a barata com suas finas e delgadas pernas, confortavelmente deitada de costas, debatia-se, mexendo-as entre a vida e a morte, realmente era a prova de existência e a mostra da civilização que aí esta.

     Meu software interno de imediato chamou-me atenção para Kafka, acordando e vivendo sua metamorfose, enquanto deliciava-me com esses pensamentos, em paralelo, de maneira concorrente foi me lançado Raul Seixas, sim metamorfose ambulante, Raul Seixas o homem das cobras e aranhas que coitadas realmente não têm culpa nenhuma de eu ter visto uma barata agonizante.

     Vocês estão dizendo, vejam como este cara está confuso, ele mistura todas as coisas, acostumados que estamos em ver a reta como melhor caminho entre dois pontos, ilusão esta que o tempo sempre destrói nos trazendo a realidade do que não podemos entender.

     Enquanto essas tarefas executavam-se em paralelo na minha mente, a inteligência das pessoas envolvidas iluminava a imagem de Lucy, não exatamente a imagem da mulher, bonita e muito boa atriz por sinal, e sim o tema recorrente da ficção inteligente, olha aí novamente o Senhor Tempo, que tão bem trabalha o roteiro do filme.

     Seria impossível enumerar aqui a quantidade de interelações que conseguimos trabalhar, as histórias paralelas que vivenciamos em nosso cérebro, quando os confrontamos com os ridículos dez por cento que nos dignamos a utilizar, assim pensei retornando ao filme.

     Lembrei-me de que não sei se antes, durante ou depois de Proust, quando se defronta com o passado e o presente disputando em seu ser o mesmo espaço, brigando segundo a segundo um som lembra outro não se sabe mais qual se ouve, vemos uma paisagem, vemos outra, não sabemos em qual tempo estamos vivendo certamente nos dois simultaneamente.

     Sim amigos nós precisamos domar o tempo e para tal fugirmos destes malditos “dezporcento” que insistimos em como limite colocar na nossa capacidade de viver.     

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Um passo uma Lembrança outro passo...

     Alô, bom dia, como vai você... Sim, essa cantiga do início da adolescência atinge-me em cheio durante minha caminhada, já perceberam que estou em um dia leve, o fato que provocou lembrá-la é eu insistir em cumprimentar as pessoas com as quais me deparo neste caminhar diário cujo objetivo é manter a circulação em dia, e nunca são poucas as pessoas que encontro entre elas trabalhadores, corredores, passantes e também outros caminhantes.

     Um olhar bem amigo... Claro não é surpresa o continuado e repetido ar de desconfiança que desperta nosso enxergar, nosso cumprimentar, tão diferentes como as pessoas são as reações que se manifestam, algumas se negam ao cumprimento, o que respeito como sinal de uma distância que se quer manter, outras aos poucos sendo cativadas retornam cada dia mais simpáticas, o que recebo com alegria na alma.
  
     Um claro sorriso... Vejo principalmente, quase sempre no trabalhador, que começando cedo tal qual é o horário em que gosto de caminhar, responde com espontaneidade e calor humano a nossa atitude, talvez mais desarmado, talvez mais espontâneo, talvez mais simples, por outro lado, provavelmente devido ao longo tempo de opressão social, retornar a essa saudação é muito mais complicado para a mulher.

     Um aperto de mão... De qualquer maneira estamos em uma "sinuca de bico" difícil o contato entre as pessoas tem que vencer esta dicotomia, violência, invasão de privacidade, depressão e como contraponto a civilidade, a convivência fraterna e fortaleza pessoal.

     De nada custa ao coração... As questões do coração são sempre difíceis, pois estamos em permanente luta conosco mesmo somando e subtraindo impressões de quem encontramos impressões estas por mais que insistimos em colocar como comprovadas são apenas sensações produzidas pela nossa sensibilidade interna, nossos personagens nós os construímos ao nosso bel-prazer e sem o compromisso com o que na realidade o são, principalmente se de fato não os conhecemos, aplicamos rótulos comandados pelo somatório de nossas experiências anteriores.
  

     Fazer um bem assim ao seu irmão... Não vamos discutir se seria bom para quem a recebe a nossa atenção, estamos falando de disponibilidade para correr riscos, as aproximações entre pessoas sempre têm como inevitável desafiar nossa tranquilidade e acrescentar o belíssimo bônus que representa o encontrar-se no outro.

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Porque é tão difícil votar!

     Tenho conversado com o pessoal neste momento que antecede as eleições, tenho ouvido mais justificativas de exclusão, estamos falando cada vez de mais pessoas a explicar seu voto pela exclusão de outrem do que pela opção consciente por um candidato, não creio que o problema seja das pessoas a concorrer ou dos partidos disputantes e sim uma questão sistêmica.

     Bom, senhores, constatado que o espírito é o de buscar o “dos males o menor”, ficamos dependentes de resultados improváveis na próxima gestão, não estamos procurando a calmaria e sim fugindo da tempestade, merece o assunto certamente outra abordagem, não a analise dos candidatos, não o estudo dos partidos e sim o sistema político "democracia representativa" ainda atende as necessidades do mundo atual.

     Parece-me muito misterioso que todas as discussões sobre governo estão a mais de duzentos anos em torno do mesmo eixo, anarquismo, socialismo e democracia, a humanidade discute desde sempre até hoje o fim do direito divino, o que vamos admitir foi uma solução muito bem construída pela revolução francesa e os pensadores da época.

     Estaremos perdendo nosso momento na história, trabalhando sobre uma unanimidade que tem se mostrado insuficiente, não funcionando como resposta as necessidades de gestão das nossas comunidades, estaremos condenados a perder a oportunidade de construímos outra ideia de autogestão da sociedade humana.

     O quadro assemelha-se ao da avestruz colocando a cabeça na toca: não enxerga nada, mas todos a veem, assim não enxergamos o quanto estamos de todo vulneráveis a um sistema político que não aceita contraponto instala-se como verdade absoluta e quem o contesta é visualizado como um doente social, um herege enfeitiçado pelas forças do mal.


     Hoje vamos votar, sim o faremos, mas precisamos urgentemente colocar na mesa a busca de um novo contrato social, caso não o obtivermos nos condenaremos a acelerar a negação da alma humana e sua aviltante degradação.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Coração Ancorado

       Muito mais que guerreiros, nós humanos somos nômades, talvez até a postura combativa tenha origem exatamente nesta característica de sermos uma comunidade com vocação a se deslocar, e a busca de novos espaços obrigatoriamente nos leva a ter uma postura agressiva como resposta aos desafios do novo, nos é difícil adivinhar na caminhada o perfil hostil ou amigável do que iremos encontrar.

       Não podemos negar a história nos mostra, estamos sempre em busca de lugares novos, assim foi a migração dos asiáticos para a América onde formaram suas comunidades indígenas, a colonização europeia na África com a exploração do homem e do solo, os portugueses com seus barcos navegando para a América e hoje nossos esforços em busca do espaço e seus novos mundos, sem esquecermos que os que mais parecem acomodados dedicam-se cada vez mais ao turismo sim pessoas buscando frequentemente deslocar-se em busca do novo.

       Os nômades têm por característica a formação de comunidades, o povo em movimento dá muita importância ao conjunto social, estabelecido com igualdade, pois só do conjunto proviam suas necessidades e cuidavam de sua prole, já quando estacionamos, formamos nosso gueto chamado de famílias, demarcamos lugares, criamos cercas, estabelecemos posses sobre seres vivos ou mortos.

     As relações humanas comportam-se também diferenciadamente nas duas situações, como nômades tendemos a encontros livres com parceiros dedicados ao realizar-se em momentos de felicidade conjunta onde cada parte realiza-se vivendo o presente sem projeção de futuro, por outro lado enterrados em um lugar, antinaturais em minha opinião, construímos a monogamia jogando a âncora e aprisionando nosso coração, não exatamente em alguém e sim acorrentados a imagem construída em nossa alma e dane-se nossa parceira que passe a mesma o resto do seu tempo de vida tentando corresponder a essa fantasia que é só nossa.   
    
       Nossa postura é abrir mão da surpresa do encontro desconhecido cheio de emoções contraditórias onde se aproximam vidas diferentes buscando realização através da interação entre pessoas livres, por montarmos no tempo a mulher dos nossos sonhos construída dia a dia em nossa alma, isso é tão nosso como o é depois cobramos durante uma vida que nossa parceira se adapte a esse nosso sonho.

      Confesso que não tenho nenhuma autoridade para afirmar isso, porém penso que no caso da mulher isso me parece ter um agravante, pois enquanto nós homens inventamos uma mulher normalmente baseados em uma de carne e osso, elas têm seu príncipe encantado construído desde sempre, já a partir de seus sonhos de menina.