Ficção,
pura ficção os fatos perderam seu sentido próprio é a sociedade da pós verdade,
nos transformamos em uma fábrica de argumentos, os quais defendemos por citações
verdadeiras ou não e se justificam por si só, não interessa o contexto, não
interessa as múltiplas facetas do fato, interessa apenas a afirmação da versão
que me serve a qual defendo como único dono da razão.
Nos
templos que construímos para adoração destas novas divindades a regra é uma só,
ame-o ou deixe-o, assim no incondicional transformamos o amor em ódio, desrespeitando
a diversidade de visões em nome de uma fé robótica que nos divide em amigos e
inimigos, esta dualidade é uma opção pela cegueira.
Para os
amigos só encontramos acertos para os desafetos todos os defeitos como se
houvesse um bem e um mal absoluto o que nos tira a humanidade e nos transforma
em simples programas escritos por terceiros, tal qual um código incapaz de decidir
por sua própria conta tão somente obedecendo o raciocínio do programador.
Não é
muito difícil para nós humanos construir nossa própria farsa, em verdade por
natureza esta é uma tendência que se impõe, nossa memória seletiva visualiza só
o que nos interessa com o agravante de interpretar o fato vivido da maneira
mais adequada a suportarmos o momento atual de nossa existência.
Por
isso a importância de desenvolvermos o espírito crítico a priori sobre nossas
opções e sobre os fatos com os quais partilhamos o viver, reescrever
permanentemente nossa visão de nós mesmos, dos outros e dos acontecimentos que
presenciamos iluminados pela compreensão das múltiplas facetas possíveis que a sequência
de momentos nos permite absorver.
Se sou
um ser em constante mutação, o que dá significado ao viver, me obrigo a admitir
que o que vi nos minutos precedentes não o vejo mais agora, a não ser que em
lugar de usar os meus olhos utilizo os olhos de outrem e que assim o fazendo me
deserdo da liberdade de decidir.
Os
tempos são os de abrir mão do viver em troca da comodidade de nos auto
perdoarmos, boiando na cômoda correnteza da fé cega em verdades que nos
absolvem pelo nosso individualismo e completo desrespeito ao outro de nós diverso,
assim condenamos o diferente para tentarmos calar nossa consciência que insiste
em lembrar-nos que não é este o caminho.