sexta-feira, 30 de maio de 2014

Regressão de Corpo e Alma - Prólogo

     Assim como na tragédia grega, tão valorizada por Nietzsche, um pouco antes da entrada do coro e da orquestra, também aqui vou anunciar o que pretendo com esta Regressão de Corpo e Alma, espero no final todos estarmos preparados para viver a apoteose estética e sensorial do “ditirambo”, expressão máxima desta.

     Na psicanálise os especialistas dão muita importância, ao voltar no tempo com o objetivo de esclarecer o presente, a discussão permanente e continuada dos diversos flashes no tempo, detectando e analisando marcantes pontos de impacto em uma existência, o que termina por permitir limpar o presente das amarras colocadas pelo outro, eliminando as diversas falsas aparências visualizadas durante a vida.

     Bom minha proposta passa por aí vamos dissecar estes marcos da vida de meu personagem, pequenos fatos congelados no tempo e tentar reconstruir o hoje deste protagonista, conto com vocês para juntos deciframos quem e o que é o misterioso ser.

     Bom não podemos com certeza prever que todos verão a mesma figura, o mesmo ser humano, talvez tenhamos um ser multifacetado impossível de ser reconstruído em um só espaço, que seja, vamos buscar conhecer esse cara pelos seus rastros, vocês e eu funcionando como equipe. 

     Depois podemos sentar em uma mesa de bar, organizarmos um “ditirambo” como na tragédia grega e invocarmos sobre a mesa a figura exata que detectamos sua personalidade limpa de interferências psicossociais, ou caso incapaz, criarmos nossa torre de babel onde desencontrada resulta apenas um borrão por sobre a mesa.

     O que tenho hoje em mãos são milhares de palavras que anotei durante inúmeras sessões de regressão partindo do hoje até o seu mais antigo passado recuperável, claro o que ainda não fiz e o quero fazer com vocês é olhar na sequência cronológica da vida dele, por isso vamos publicação a publicação para ver o que conseguimos.


     Que seja o que a Natureza quiser, esse é o desafio proposto, já comprei esta briga, imagino alguns de vocês também o farão, vamos analisar o momento de cada publicação e projetar o hoje do personagem como justa e direta consequência da sequência de momentos vividos, bom em frente...  

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Morte do Filósofo

     Morreu o pensador, nenhuma chance de ressurreição, causa desuso, muitas facetas do hoje não permitem sua existência e nenhum ativista quis assumir sua causa, simplesmente podemos declará-lo extinto salvo raras deformações psicossociais que poderíamos chamar indivíduos dignos de espetáculos circenses, pois os veem com espanto e humor.

     Você poderia pensar que há um espaço para ele nas empresas, no mundo de negócios, pode ir tirando o cavalinho da chuva, não há nenhum interesse nesse espaço por tal figura, este espaço é marcado pela soma de pequenas aptidões especializadas, onde se valoriza a dedicação exclusiva e a especialidade, e seria um caos admitir a presença de alguém que ultrapassasse esse requisito, colocaria em risco a inteligência do status dirigente.

     Você poderia apostar no grupo de amigos (ou o que conceituamos como amigos hoje) como a oportunidade ímpar de sua sobrevivência, mas pode esquecer, pois ele é completamente incapaz de clicar em curtir por qualquer frase, foto ou filminho apenas para manter-se ocupado distraindo-se da vida.

     Você poderia colocar o amor como oportunidade ideal de seu florescimento onde encontraria a oportunidade ímpar de dedicar-se ao encontro do melhor caminho para dois através da reflexão e amadurecimento de ideias, infelizmente também não é por aí, ele é um chato, nunca seria uma alma gêmea, pois sabe de antemão que isto é apenas uma fantasia criada com carinho para explicar um monte de necessidades individuais.

     Quem sabe você pensou na religião, acredite se quiser no espaço da caridade e do perdão pensa-se apenas em dogmas, verdades pré-escritas que exigem fé, e fé não pode ser a grade que aprisiona o pensar do filósofo.

     Política, eu poderia nem comentar esse ícone social, pois um mecanismo de marketing e poder em nenhum momento pode permitir que seus seguidores ousem refletir sobre suas estratégias e artimanhas.


     Talvez ainda encontremos alguns espécimes de pensadores espalhados em blogs pouco lidos...

segunda-feira, 26 de maio de 2014

A Arte Ria - Desencontro

     Uma década atrás, assim eu o via entretido em buscar recursos técnicos para a plateia agradar, trazer-lhe todas as respostas cercá-la de opções de convivência, sim o vejo agora, vivendo este flashback, em espiral roda cadeira, flashback, cadeira!!! Retorna no tempo, anos de convivência festiva, porém sinais claros já havia, os caminhos eram paralelos, completamente diferentes.  

     A plateia tinha seus parceiros e todos participantes dos espetáculos, porém eram comemorações em separado, o Palco era o espaço de agradar apenas, enquanto a plateia vivia a vida a sua maneira, com suas alegrias e tristezas, ele por outro lado alegrava-se em consumir do palco o viver dela.

     Ele insistia em preparar-se, buscava todas as maneiras de realizar as vontades da plateia, apoiava-a em suas manifestações de amor e ódio, corria a proporcionar melhores situações, cultivava os frutos resultado desta união com dedicação e zelo, porém era o ator, tinha sua personalidade não podia estar na plateia e sim apenas dedicar-se a ela. 

     Este caminho paralelo, suas vivências anteriores completamente diferentes, com interesses amplamente distanciados nos objetivos, só podia resultar no afastamento, cada qual seguia seu rumo pensando no outro, mas sem o nível de convivência desejado por alegrias diferentes impossíveis de serem compartilhadas.

     Juro que ele tentou, e tentou muito refazer os laços, mas a plateia já tinha decidido seria infeliz com esta peça, ela era uma apresentação que não correspondia ao seu instinto, nunca seria o seu interno viver, e ela não podia negar, qualquer movimento em volta do teatro, qualquer ocorrência em volta do palco parecia uma melhor representação, pois encaixava no seu modo de ser.

     Bendito os frutos que puderam então sim manter vivo o espetáculo, era o ponto de junção, talvez a afinidade única que podia render algo em termos de continuação.

     Artéria, sangue, corpo, tecidos nervosos, paixões, alma a arte da vida, continuamos outra hora, quem sabe...   

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Fio de vida

     Quando penso que minha verdade, a verdade de cada ser humano apresenta-se em uma fronteira muito próxima entre a loucura e a sanidade, as duas têm a sua razão própria, como identificar o que realmente vale?

     É muito fácil mentir para vocês, é muito simples mentir para mim, talvez esta seja a história de todos nós, construir algumas grandes ou pequenas estórias, faltando à verdade conosco e com quem convivemos, não por má fé e sim por desconhecimento do código interno que nos representa.

     O quanto do meu dia é um rosário de enganos? Meus interesses mais verdadeiros não estão escondidos nas ações e palavras faladas ou escritas? Não as moldo dizendo o que gostaria que fosse ouvido e escutando sob o filtro de meus interesses apenas o que quero. 

     Agora some essa minha postura equivocada a dos meus interlocutores com grandes possibilidades de estarem vivendo a mesma fantasia, agregue a quantidade de regras morais que recebemos de todos os meios de comunicação, desde o politicamente correto até os chamativos discursos com fatos editados para chocar na busca incessante de índices de audiência e provavelmente temos a receita de uma grande derrota.

     Eu Mantenho assim e talvez você também com constância razões particulares mal entendidas em nós mesmos, levando no dia a dia ao nosso próprio engano e ao do outro, vamos sim representando este falso construir algo que não corresponde nem a nossa verdade muito menos a do outro, apenas a uma verdade que satisfaz nosso engano.

     O caos costuma ser a Consequência gerada quando não se pode mais manter a estória, quando ela escancara por incongruência, não existe roteirista que a resolva, pois o confronto é conosco mesmo e no fundo sabemos que temos que assumir a história que inventamos e furiosos descarregamos a culpa em outrem, morrem aí as almas gêmeas, os grandes amores, as perfeitas amizades, o fio de vida que os unia se esvai.  

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Do Fim

     Escuridão... Bom aí é mais complicado buscar a luz quando há escuridão, não gosto de deixar buracos em aberto, corro tentando tapá-los, refazendo momentos, explicando situações, tentando demonstrar que não havia má intenção de ninguém apenas desencontros.

     Bolas de Fogo... Por óbvio, a relação eterna não existe por mais fogosa e explosiva que seja o desgaste é natural, pessoas sempre se magoam, considero importante entender o outro lado, conhecer suas razões e apoiar suas decisões, mesmo que sejam no meu ponto de vista em nada favoráveis a mim.

     Besta... Sempre me dedico a rever todo o acontecido, as marcas deixadas em todos, o que me parece correto pode ser na interpretação do outro “uma baita sacanagem”, nada a ver com a besta, apenas isso passa pelo jogo das expectativas que montamos em nós a respeito do outro que idealizamos.

     Enxofre... Então os finais acabam demorando-se, arrastados, pois não priorizo vivê-los emocionalmente, busco evitar situações mal cheirosas, apesar de admitir que todas as minhas emoções disponíveis afetadas o são, vivo-as, curto e separo dos passos a serem dados que procuro serem sempre iluminados pela razão.

     Anticristo... O que nem sempre ajuda muito no outro lado da história, não acredito na contradição dualista do bem e do mal, não gosto de sair de coisa nenhuma de maneira mal resolvida, gosto de fechar as pontas direitinhas e nunca mais precisar voltar a olhar para o passado, é então um final definitivo, pois não podemos deixar pendências que nos levem a voltar a remoer situações que não mais devem ocorrer.


     Apocalipse... Não acredito em reatar, terminou?  Tem que ser ponto final, pois do contrário é apenas uma crise e enquanto for crise tem solução, tem vida, mas sabe-se sempre quando o caminho do final está sendo trilhado, viver bem isso é constante tentativa minha para que no momento do apocalipse o grande e real final aconteça tudo esteja nos conformes e haja apenas a sensação de vazio gerada pela construção inacabada.  

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Do Início

     No início era o verbo... Sempre me posiciono como um observador e vejo os movimentos, aprecio-os, procuro preparar-me para as diversas nuances, não tenho o perfil para o jogo de caça e caçador, porém gosto do envolvimento do saber-se observado e retribuir a atenção.

     Faça-se a luz... Quando me dou conta, estou envolvido, apesar de buscar quase sempre evitar o compromisso, acaba tornando-se impossível, quando menos espero iniciou-se uma relação, e como sempre me envolvo de maneira intensa, assumo responsabilidades naquela linha do Pequeno Príncipe "és responsável pelo que cativas".

     No sétimo dia descansou... Mesmo não gostando de jogar o jogo, isso não quer dizer que ele não é jogado, entre avanços e recuos as coisas vão acontecendo e o envolvimento físico/emocional acontece, por isso busco sempre evitar ao máximo o primeiro contato.

     No Jardim do Éden... Não mais existe limite nem prazo, entro e dificilmente saio, valorizo os pequenos passos, verifico quando das dificuldades as poupanças de bons momentos e estes alavancam superá-las sei lá porque é assim que me acontece, talvez por excesso de otimismo consiga sempre destacar o lado melhor, talvez seja isso mesmo valorizar o somatório dos bons momentos e lutar para retribuir e chegar a uma situação de equilíbrio na relação.

     Do pecado original... Bom, a questão é que os acontecimentos acabam sempre forçando decisões e para mim decisões a favor, e nem sempre o outro encara assim também, pois a maioria das pessoas impressiona-se mais com o negativo, parece-me que prezam muito seu prejuízo, insistindo em ser assim, não consigo somar desvantagens, não consigo me sentir prejudicado, seria o perfil de ir levando, evitando conflito, um desleixo comigo mesmo?


     Da redenção... Os inícios são bons e necessários, sua consequência sim é imprevisível, se penso lá adiante tento evitá-los, porém, isso não tem como ocorrer não se está a salvo do outro.  

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Da Ficção

   Não só o que escrevo, mas o que todos escrevem é sempre ficção, pois está apoiado no presente e em sua conjuntura, o habitat exterior e interior de quem escreve, a verdade deste instante pode ser a mentira do imediatamente anterior e é de imprevisível definição no próximo momento.

   A própria ciência, construída sobre raciocínios lógicos, apoiada em pesquisas anteriores, deduzida a partir de verdades aceitas por todos, documentada e demonstrada nada mais é do que um continuado negar-se reflete sempre o momento da humanidade, estamos sempre montando um castelo de cartas que qualquer brisa pode derrubar.    

   Bato nesta tecla pela impossibilidade de reproduzirmos emoções, pois condições interiores e exteriores de um determinado momento não o permitem por serem irreproduzíveis e se mesmo assim tentássemos retratá-las por um texto já não seria mostrado o momento real e sim a análise daquele momento, pois quando o escrevemos estamos vivendo em circunstâncias muito diferentes das ocorridas.

   Isso passa de instante a instante, obrigando-nos a sempre contar uma estória e nunca a história propriamente dita, também me vejo vivendo o mesmo fenômeno nas minhas leituras e releituras, sempre é diferente, sempre tem sua marca da hora da leitura, sempre é vida real transformada em lembranças que nunca são as mesmas.

    O que não invalida o fato de a descrevermos, pois por ser ficção tem certamente um valor nominal morto por ser passado e também vivo em todas as releituras que faremos ou que outros o farão e assim infinitamente poderão criar vidas novas nas almas das pessoas.

   Assim quando tento montar um conto, analisar uma situação do dia a dia, passar uma reflexão, narrar uma ocorrência ou simplesmente dizer algo no papel, estou apenas permitindo que os poucos leitores produzam suas próprias escritas, pois não leem o que escrevi (nem mesmo eu o leria) e sim o seu próprio texto.


   Vivo isso no momento de escrever, se não decidisse apertar o gatilho para dizer "publicar", continuaria toda a vida a reescrever o mesmo texto, a mesma sentença, cada releitura uma nova forma, um refazer.  

terça-feira, 13 de maio de 2014

A Arte Ria - Vida a I Mobil Idade

        Certo, justo, sim a plateia por inteira de costas, e ele imóvel gesticulando em pensamento, interpretando n'alma, sessão após sessão, teimosamente dedicava-se integralmente a aceitar esta virar-se de costas, permanecia fiel a sua plateia e ao sonho de novamente ser aplaudido, ou pelo menos não mais ouvir os xingamentos que mesmo de costas lhe proferiam, nunca conseguiu entender quão grave era sua representação para que seguisse nesta procissão de imobilidade.

        Às vezes tentava uma bobagem, entrar bêbado no palco, tentar uma aproximação flertar com a busca de outra plateia, porém ele sempre soube que era impossível romper este estranho detestar, sentia-se odiado sem entender, mas compreendia que isso não poderia ter nada com ele era apenas uma necessidade da plateia de buscar um inimigo que ajudasse a suportar algo que era tão só dela.

     Se ele insistia na imobilidade, eu bem o sabia, lhe parecia que tinha um ciclo a concluir, porém essa o destruía aos poucos lhe tirava todo o foco todo o prazer de dedicar-se às suas artes, tão somente a plateia com este continuado humilhar-lhe poderia o fazer reagir e como vimos foi assim que aconteceu, houve uma última apresentação, o que lhe parecia impossível, ele conseguiu finalmente encerrar tudo.

  Agora e este momento que ele corroeu em sua alma, buscando esclarecer com esta regressão, o vejo perplexo saber-se complemente impotente para em nenhum momento controlar a relação, as variáveis colocadas mostram claramente que era completamente maluco quebrar o rumo a este final indesejado, parece que ele não representa e tão somente é participante de uma tragédia com a qual não tem coautoria.
  

Artéria, sangue, corpo, tecidos nervosos, paixões, alma a arte da vida, continuamos outra hora, quem sabe...      

quinta-feira, 8 de maio de 2014

A Arte Ria - Re Capitulando Pecados

          Quase sempre que o encontrei com os olhos úmidos, poucas vezes o foi por emoções tristes, mas muitas por pequenas alegrias de afeto, a calmaria interna de sempre, não para mim nunca escondia os redemoinhos que aos pares agitavam os subterrâneos de sua alma, jogava a culpa ora sobre si ora sobre a incompreensão, quando bem sabia que culpados não havia e a sentença sempre foi de absolvição.

          O que precisava urgente era mais tempo no camarim, necessitava rever do fim ao início, as pequenas decisões tomadas que o condenaram a destruindo a relação construir o grande equívoco, nunca teve dúvidas do fracasso e o viveu consciente da inevitabilidade de lutar contra o fantasma no qual não acredita o destino.

          Ele sempre soube, é assim mesmo que funcionam, os pecados armazenados aos pouquinhos cada gesto interpretado como um desamor cada defeito ou virtude visto como ameaça pois só podemos ver o outro que desejamos e nunca o outro real. Magoamos muito sem saber, magoamos muito sem querer, pois não somos agentes e sim apenas um espelho onde o outro se enxerga e se administra.

          Ele sempre soube que o teatro não existe, a plateia vive suas angústias, seus desencontros, a infinidade de suas verdades não resolvidas, por sua vez o ator, como personagem, imitação barata de algum roteiro onde ele é tão seu próprio mocinho quanto dela o vilão bandido.

          Vi-o lembrar-se de alguém que tinha dito "O tamanho do amor é o limite do Ódio", teria não amado para não conseguir odiar? Sentir-se odiado e apenas conseguir responder com tristeza e não aceitação, do constante somar apenas diminuir-se, talvez fosse esse o seu maior pecado, precisava superar a luz para voltar no tempo.


          Artéria, sangue, corpo, tecidos nervosos, paixões, alma a arte da vida, continuamos outra hora, quem sabe...

segunda-feira, 5 de maio de 2014

A Arte Ria - Só Li Dão Vida

                Percebi estampado no olhar do seu rosto, ele no camarim, a cadeira de sempre, só estava pensando naquelas cortinas que depois de quase 25 anos fecharam-se pela última vez, lacradas em definitivo, identifiquei claramente que vive nele a certeza de que sua amada parceira deste tempo todo, a plateia, nunca mais!  Sabe que não mais conseguirá olhar a si mesmo através dela.

                Sim solidão, terá todo tempo do mundo, solidão, como o teve, solidão, nestes últimos anos para envolver-se em seus devaneios, não mais alimentando a esperança de reencontro entre ele e a plateia, mas sim para separar um a um os conflituosos pensamentos em permanente competição, segundo por segundo de sua atenção, disputando o mesmo espaço no mesmo instante, o que só é uma impossibilidade para a ciência.

                Só me atrevo a revelar seus pensamentos, pois o conhecendo desde sempre, sei o quanto ele gostaria de revelar-se, conversar sobre isso, percebi que ele sempre soube que era impossível, frente a frente emoções desviam os pensamentos, confundem o pensar por argumentos feitos para o outro e nunca validados consigo mesmo, se diz de tudo só não o que se sente, só não o que se quer menos ainda o que deveria.
 
                Uma história sempre deveria começar pelo fim, ele sabia bem disto as vaias, críticas furiosas das últimas apresentações o entristeciam apesar de lembrarem antigos aplausos, velhos carinhos, pequenas compreensões, que assim seja solidão por si só não é um mal, o fim da esperança sim é o mal maior, todo este tempo ele imaginou que podia não mais gaguejar, que podia não mais esquecer parte do texto, que podia não mais trocar as palavras, que podia transmitir a vida tão merecida para a plateia.

                Que estranho momento o envolvia eu percebia com lucidez, a loucura dos desencontros que nele aconteciam simultaneamente, muita tristeza aquela simples do irrealizado, um desejo ardente que com início de nova temporada, com o novo personagem, com outro ator que não ele, conseguisse saber por notícias, ruídos distantes, que a plateia construindo uma relação que ele não mais era capaz, estava envolvida e feliz, o contraponto, finalmente para ele libertado tinha a certeza feliz da solidão.


                Artéria, sangue, corpo, tecidos nervosos, paixões, alma a arte da vida, continuamos outra hora, quem sabe...      

sexta-feira, 2 de maio de 2014

Da Loucura

     Meu questionamento inicial passava pela realidade da vida acordada comparada à vida sonhada, confesso apenas tratei o entorno da questão, nunca me dediquei a lembrar-me dos sonhos, anotá-los buscar sua repetição e continuação, o que era inato em mim na infância, confesso relaxei, talvez retome esse tema, meus próximos presentes o dirão.

     Bom, no momento tenho trabalhado a questão da fronteira entre a razão do dito são e do dito louco, pois como dizem os filósofos, a loucura tem sua própria razão, em outras palavras o louco tem fortes bases racionais para justificar seu comportamento, como posso estabelecer as fronteiras entre essas duas razões, quanto conceitualmente louco o sou, talvez o que chamo em mim de racionalidade seja na verdade loucura e lembro que gostava na minha adolescência dos Mutantes cantando "mais louco que eu é quem não é feliz".

     Difícil aceitar ao natural, o escondido dentro de mim, minhas decisões que apesar de socialmente aceitas, internamente demonstram uma grande contradição, escolho um rumo insisto nele, vou até as últimas consequências.

     Quando verifico alguém falando com um ser imaginário, e insistindo na realidade de sua existência, penso nada tem de diferente aos vários diálogos que enfrento comigo mesmo, talvez apenas ele tenha uma imaginação mais fértil que a minha e consegue visualizar o ser representado por cada conversa.

     Essas fronteiras entre a razão e a loucura, entre o sonhar e o acordado, entre a fantasia e o real, tenho-as administrado bem? Qual a quantidade de processos que executo em nome das minhas fantasias? E quantas atitudes dirigidas por plantações feitas por outros sem que tenha consciência?

     Não que seja importante me definir como são ou louco isso em nada mudaria minha essência, porém sempre me parece importante transparência interna, principalmente a clareza do conhecimento de o que realmente sou e não como me veem, pois a priori ninguém me vê apenas enxergam a imagem que fazem de mim em suas cabeças e esta em nada pode me afetar.

   Sim é um tema que trabalho, e mais devo trabalhar o lado são da minha loucura.