sábado, 22 de outubro de 2016

Ponto Zero onde a vida e a estória se confundem.

     Somos todos escritores de estórias e as escrevemos para nelas acreditar, criamos nossa fé à imagem e semelhança do que nos conforte e justifique tornando para nós mesmos suportáveis nossos atos, não satisfeitos partimos para evangelizar a todos que encontramos pensando também destes encontrar a aprovação não dos nossos passos visíveis e sim daqueles secretos que tão bem escondemos e tememos que em algum dia sejam percebidos por outrem.

     Somos todos nós personagens de estórias escritas por muitos e diversificados autores com suas controversas e contraditórias biografias não autorizadas a nosso respeito onde nos vestem das fantasias que têm conosco nos reinventando à sua maneira, não que necessitem nos depreciar ignorar ou valorar é que se lhes exigem que cumpramos à nossa revelia o papel que lhes serve de alforria para os seus atos executar.

      O rastro deixado pelas letras espalhadas em diferentes pensares quase inelegível não nos permite montar um personagem são quase testemunho de nossa inexistência, percorremos nossos escritos e os que deixaram sobre nós buscando um equilíbrio que nos defina, tal montagem mostra-se impossível não pela complexidade sim pela parcialidade do montador que segue seu próprio roteiro.

     Se assim o imaginário nos escreve é porque nossos passos cambaleantes nem são tão próprios sendo sem dono refletem o multifacetado sonho de ninguém definido, certamente uma força desconhecida imprecisa de um ser que também criamos o que não mais permite separar o criador da criatura, certo é que não há espelho onde possamos algum dia olhar nossa imagem, logo mais um ponto na contabilidade de nosso inexistir.

     Perguntas-me porque assim me questiono se nunca me belisquei à procura da dor que me defina de pronto lhe respondo que é o que mais faço não sendo nenhum ato e nenhuma dor de fato em nada semelhante à outra resulta que vivo constantemente como o mar na areia da praia no seu eterno diferenciado ir e voltar jogado no ponto zero onde a vida e a estória se confundem em mim. 

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Sonhando em Ser Lobo, Devorada é a Ovelha.

     No imaginário identificava-se como lobo e adquiria o poder de comer muitas ovelhas assim seguia pastando os seus sonhos carnívoros no campo desandou a defender o direito dos lobos a servir-se de seus iguais no rebanho como se assegurasse para si um futuro promissor não mais de ovelha sim de lobo em seus devaneios não percebia que apenas validava o direito de a transformarem em um lauto jantar.

     Um lobo necessita de muitas ovelhas para viver talvez a cada dia faz-se necessário uma nova vítima, carnívoro como é sem esta morte, morto está, assim é construída a pirâmide da carnificina justificativa para grandes rebanhos de ovelha no interesse dos poucos lobos e estes por sua vez não se dão conta que exterminando o rebanho se condenam também à extinção.

     Na natureza esses exemplos reproduzem-se por todos os lados na ampla cadeia do existir onde cada morte alimenta outro ser sendo todos ora predador ora presa cada qual em seu adequado momento o que nos levar a pensar que não falamos de organismos unos e sim parte de uma coisa maior que é a vida.

     Este festim não só observamos e estudamos como o usamos para construir nossas teorias sociais e econômicas antropofágicas em uma sociedade hoje pautada pelo imaginário direito de sermos lobos de nós mesmos onde parece não conseguimos perceber nenhum dos paradigmas das fábulas acima descritas, ou seja, de que um lobo necessita devorar muitas ovelhas para sobreviver e como todos somos ovelhas candidatos a lobos sonhamos viver à custa de nossos semelhantes que por sua vez alimentam a mesma utopia em uma cadeia interminável de autoextermínio.

     Não pareceria muito mais simples sabendo de antemão que produzir para todos capazes somos de distribuirmos em parâmetros mais justos a produção do todo evitando ao máximo as grandes desigualdades, mobilizando-nos de modo cooperativo para um trabalho dirigido a saciar a humanidade e não o indivíduo, em que nossos talentos diferenciados somem-se em lugar de buscar subtrair do outro.

     Nosso domínio do conhecimento e da tecnologia nos garante permanente crescimento da riqueza, ocuparmo-nos em crescer e inovar nós poderíamos em lugar de gastar grande parte de nosso esforço a saquear o trabalho do outro em proveito próprio como se essa extorsão fosse a nossa única chance de bem viver, o alto custo desta guerra fratricida nos rouba a possibilidade de abundância para todos assim sonhando em ser lobo formamos uma pirâmide de devoradas ovelhas.                  

sábado, 8 de outubro de 2016

O Triste Canto Bipolar das Urnas

     Eleições em 2016 com seus resultados bipolares de um lado o grande vencedor a abstenção os votos brancos os votos nulos do outro a consolidação do golpe com o poder nas bases municipais distribuído entre os partidos de direita com direito a cereja do bolo da alegria infantil pelo esmagamento do projeto de poder do partido dos trabalhadores, ou seja, refletimos como população tanto de um lado como do outro da balança uma mesma sensação de “Não estamos nem aí para o governo, simplesmente o sofremos”, um negando voluntariamente seu direito ao voto e outro mais preocupado com a vingança e o aniquilamento de um projeto político.

     As redes sociais manifestam certo ufanismo pela derrocada da esquerda nesse último episódio eleitoral, está cristalizado nas manifestações postadas um gostinho de vingança o que podemos creditar a existência de uma grande mágoa por repetidas vitórias eleitoral do time liderado por Lula, a direita festeja muito mais uma vendeta do que a alegria pela conquista do poder municipal pelos seus candidatos percebe-se assim um ar de alma lavada.

     As manifestações do pessoal da esquerda por outro lado demonstram atordoamento frente ao resultado onde em quase todos os cantos não conseguiu nem chegar ao segundo turno mesmo havendo uma clara opção pelo voto útil como em Porto Alegre, suas colocações na rede espelham que, apesar de entenderem as dificuldades do momento esperavam números melhores, um sentimento de que iniciar do zero é preciso sendo reconstruir-se no médio ou longo prazo a única opção que sobrou.

     Não nos é difícil entender o cenário que gerou os resultados, uma operação de desmonte da esquerda iniciou-se a partir da segunda vitória da presidenta Dilma admitamos trabalhada nos três poderes e com o engajamento da grande mídia no processo, no legislativo a busca da salvação individual ante sua unânime imoralidade no trato dos bens públicos viu no golpe a oportunidade de autodefesa e perdão, no judiciário elitista nação particular eternamente ocupada com o aumento dos seus privilégios no seu vazio de poder encontrou na escolha de alvos seletivos apoiado na mídia seu momento de notoriedade, no executivo esgotado em sua capacidade de construir soluções públicas sem partilhar a maior parte dos recursos na rede de cumplicidades interpartidárias corrompidas por compromissos visando tão somente à manutenção do poder.


     Canto triste sim porque repleto de desencanto possibilita a minoritária elite de sempre continuar sua espoliação predatória do que é de todos, aumentando as já enormes diferenças sociais agora com o apoio de iludidos candidatos a ascensão social manipulados pela mídia parte interessada comprometida com o espólio acrescida pela força do uso cientifico das redes de comunicação, transformaram nós todos em instrumentos uteis ao dirigir nossa luta contra alvos equivocados propositalmente plantados e assim permitir o aumento da exploração do homem pelo homem que é o único caminho da acumulação capitalista.