quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Aninhado Animado

As mãos cobertas do barro das palavras
Sonham a mulher esculpem-na modelo
Amante plena neste minério lavras
Independente doutrem a si mesmo obtê-lo.

Construir-se em obra de grande zelo
Insuficiente parece aos seus anseios
Também quem lhe complemente sem contê-lo
Presente está como seus devaneios.

Certo torne parte dos sonhos concretos
Pois encaixar-se na própria modelagem
É um mecanismo fácil dos mais diretos
Pra quem monta sua própria carceragem.

Bate forte a tua alma em meu peito
Quando divina teus encantos revela
Pequenos desenganos amo e aceito

Inteira quero-te sempre na minha tela.

segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Desdobrando os Joelhos.

     Sim desdobrando os joelhos ante esta coleção de deuses criados para humilhar o Homem frente ao poder, deuses que criam desajustados, são falsos desajustados porque capazes de amar, assim não podem ser aceitos pela maquina, massacrados por ditos normais insensíveis e desumanos que se creditam a imagem e semelhança de seus deuses para que estes os proclamem superiores nesta farsa a da dança do poder sobre seu semelhante.

     Sim desdobrando os joelhos ante esta fantasia que chamamos democracia, onde o controle social vampiriza o trabalho do rebanho para alimentar-se do sangue puro do que denominam de povo, onde cada vez menor em número maior em ferocidade vivem exclusivamente do trabalho do outro, disfarçando sua desonestidade em um autoproclamado mérito impossível de comprovar, não enxergam que são apenas os vendilhões do templo e se dão ao mérito de roubarem dentro de regras que legalizam esta mentira, sempre comendo o pão com o suor do rosto dos outros.

     Sim desdobrando os joelhos ante a imprudência de uma sociedade que concentra todo avanço tecnológico nas mãos e a serviço de quem tudo possui; Estes modernos escravocratas trabalhando bancos de dados poderosos com o objetivo de controlar o físico corpo e espírito e assim perpetuarem-se no prazer de ter multidões ao seu serviço, para tal constantemente trabalham falsos dilemas criando torres de babel para dividir e reinar.

     Sim desdobrando os joelhos ante a insanidade da maquina de consumo que engoliu seu criador e engorda mordendo seu próprio rabo que se alimenta neste canibalismo degenerado onde tudo perdeu o valor exceto a vantagem indevida sobre quaisquer semelhantes nos expondo nesta maluca gincana onde o prêmio disputado e indigesto é o ser humano subjugado.

     Sim desdobrando os joelhos ante a mentirosa caridade com seus falsos sentimentos onde o espírito não chora, onde o gesto em direção ao outro não ocorre, onde o carrinho inexiste, onde apenas um caudaloso rio de palavras, frases vazias que escondem o riso da hiena contido no “ainda bem que não é comigo, melhor assim...”, construção feita da caneta para fora nunca do coração.

     Sim desdobrando os joelhos ante uma maioria propositalmente conduzida ao viver medíocre por intervenção de sofisticadas técnicas de educação dirigida a geração de analfabetos funcionais, onde estimulam o fim do espírito critico para obter maquinas humanas na linha de produção de lixo.

     Sim desdobrando o joelho para de peito aberto lutar contra os altares de sacrifício humano que insistimos no dia a dia em construir, para acabarem as ofertas inúteis destinados aos falsos deuses, legítimos bezerros de ouro, que a insanidade humana construiu para deleite de alguns, quero poder simplesmente ser um libertário que sente e ama seus semelhantes sem governo, sem instituições, enfim sem qualquer coisa que não seja a comunidade igualitária de homens livres.  

quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Palavra Antagoniza Vida

     Encontro-me de tempos em tempos frente a uma situação que abomino é a de expressar-me com palavras que a outrem ferem causando dor e não por acaso a intensidade destes momentos ocorre na proporção inversa do tamanho do amor que sinto pelo meu interlocutor.

     Nem sempre consigo evitar, apesar de saber que todo o dia deveria fazê-lo, o estrago de uma frase inadequada tendo como destino quem muito amo, o gostar nos dá certas liberdades indevidas, por certo, onde o dito em nada corresponde ao sentido n’alma e assim sendo magoo quem nunca quis nem de leve desagradar.

     Acredito sim no direito irrestrito de quem a ouve tomá-la no sentido mais desagradável aplicando-se a indignação de considerá-la ofensa pessoal processar este desencanto como quebra de laços com necessária busca de reparação.

     Como curar a ferida infringida se não há borracha que apague a frase feita, o que foi sentido naquela oportunidade incorpora-se no imaginário da relação existente, sempre são frases mentirosas destinadas apenas ao argumento do momento, nascem mortas para mim que as proferi por imediato arrependimento de tê-las dito, no contraponto são eternas á quem as ouve, pois maculam seu bem querer por mim.

     Se pudéssemos sempre resolver tal impasse simplesmente com afeto e carinho seria tão lindo, lamentavelmente faltam pontes estas as sentenças destruíram, nos restam novas palavras novas possibilidades de desencontro na busca do bom caminho até cicatrizarmos a ferida aí sim com o instrumento da paixão que é o roçar dos espíritos e corpos que se amam.

     Não gostaria de condenar-me a filtrar a intensidade de uma relação pela razão, adoraria ter um apagador que colocasse tudo no seu devido lugar que de fato é vontade enorme de partilhar vida e nunca inúteis palavras, gostaria que como telepatia pudesse passar o sentimento real existente que em nada corresponde ao mal entendido.

     Desviamo-nos demais da pureza do encontro no outro, precisamos de tantos artifícios para passar nossos sentimentos que corremos o constante risco da palavra que machuca quando apenas gostaríamos de estarmos juntos no silêncio das almas que se amam, a palavra que machuca quase sempre foi dita sem nenhuma intenção de fazê-lo.

        Esprememos, esfregamos, aumentamos sua profundidade, alargamos seu tamanho, a ferida agora é já maior em nós do que no outro, nos sentimos incapazes de corrigir o dano, nunca depende de nós derrotados as condições da rendição e como tal temos que ter o cuidado calmo de transferirmos a dor para nós, sabedores que mesmo cicatrizando sua ferida com o aumento da nossa chaga, sempre estaremos expostos à marca que deixamos e quanto mais privilegiados em preparo para vida formos os dois, mais complexas são as negociações para restabelecer o ponto de equilíbrio ditado pela paixão.