terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Desconstruir na Trilha de Paz

     Época de amenidades, de festas religiosas, de confraternização e de vontade da paz mundial, todos estão repletos de boas intenções, estão todos tão dispostos a reiniciar, estão todos tão sedentos de serem aprovados, acariciados, amados, realmente acreditando que a magia dessas datas de fim de ano é a força suficiente para nos colocar definitivamente no almejado paraíso que é viver em felicidade.

     Nós esquecemos que tantas e tantas vezes esse tempo retorna a nossas vidas com as mesmas inviáveis esperanças, o fato de voltarmos nosso espírito para um mundo melhor, por si só cria uma aura bacana em todos nós, porém completamente insuficiente para a mudança, e sem mudança não há paz e sem paz não há felicidade.

     A trilha da Paz lembra-me do Triângulo das Bermudas uma entidade fantasma onde desaparecem as embarcações sem deixar rastros, assim também nesta trilha desaparecem os atos de intolerância, as atitudes de violência, através do encontro do "modus vivendi", isto é, o pacto entre todos os diferentes se aceitando como tal.

     Isto só é viável via a permanente luta pela desconstrução individual, a busca constante de expurgarmos em nós esses alguns milhares de anos da civilização ocidental, cuja base está edificada sobre a certeza de sempre estarmos certos e sempre sermos os melhores, pois não somos participantes e sim eterno competidores.

     Desconstruir a necessidade da vitória, pois esta só existe se tiver um perdedor, desconstruir a necessidade de ter mais, pois esta só existe na comparação com o outro, desconstruir a vontade de ter poder, pois este só existe com a escravidão do outro.
   

     Procurar e encontrar esta trilha da paz é o meu desejo para todos.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

É Tempo de Gotas de Afeto

     Domingo, gente reunida, mais do que pessoas porções de vida que entre um pedaço de carne, frases disputadas em sinceridade e eloquência, goles de cerveja, encontro de seres humanos carregadas de afeto, dedicados a debater o melhor eu de cada um, o melhor que podemos ser isto é viver.

     Foi muito bom antecipar o início do Natal, com este churrasco que como cimento liga vocês que me são os mais caros, que lotam de alegria este domingo de fim de dezembro, dois ou três desfalques que se por força maior não puderam participar não deixaram de estar presentes em nossos corações e tenho certeza nós nos seus, se não acredito na instituição família curto o ritmo do que deu certo, um conjunto querido de harmonia que desde já prenuncia um lindo Natal.

     Não pude deixar de partilhar com vocês estes pequenos momentos, gotas de afeto, flashes vividos, que seu tamanho como tesouro é por mim imerecido e só se justifica pela oportunidade de distribuí-los com vocês.

     Sim tarde de 24, minhas irmãs com suas habilidades de artistas preparavam com carinho a mesa de todos nós, enquanto minha mãe e eu conversávamos sobre um mundo só seu sonhado que é o próprio desencontro da realidade, juntos os quatros partilhamos o alimento que simboliza a força da nossa presença no tempo.

     Início da noite do mesmo dia, saio como caminhante em direção à casa da minha filha, onde agora em dois preparamos nossa ceia de natal, não poderia faltar à caminhada pelo Bom Fim em busca das impossíveis, porém encontradas, cervejas e a as três horas de uma conversa mais de amizade do que relação pai-filha, coroado o fim de noite com o telefonema emocionado do filho mais moço que, impossibilitado de sair de casa, me abraça com o carinho de sua voz.

     Meus filhos mais velhos me enviam fotos maravilhosas, que por impossibilidade tecnológica só desvendarei no dia seguinte, na primeira lá estou eu cabeludo, com ele diminuto de encontro ao meu corpo cabeça nos meus ombros privilegiando a diferença de tamanhos, uma foto onde o principal foco são seus bisavós, minha Oma e meu Opa, esta veio acompanhada de outra dele cabeludo menino criança e mais duas do irmão poeta quando ainda não se via como tal. 


     Fechando este colar de afeto, busco refúgio em meus livros aguardando a nova coleção de dias que irão complementar o fim de ano, depois do afeto vem os dias em que refletimos sobre esperança e paz.  

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

TI e o Imaginário do Trabalho Remoto.

     É interessante ver como no imaginário da comunidade de TI associa-se o trabalho remoto executado de casa a uma qualificação do padrão de vida, tudo se passa como se optando por esse tipo de ajuste nas relações profissionais com sua empresa, estivéssemos imediatamente guindados a um paraíso, trabalhando com o máximo de conforto e comodidade.

     A mim nunca me pareceu agradável deixar o trabalho invadir meu ambiente individual dedicado à experimentação do significado da vida, vejo essa intromissão como perda, pois abrimos mão da reserva de vida dedicada à cultura e ao lazer, que confesso já a identifico com tempos insuficientes, quando comparada aos enormes tempos dedicados a sermos úteis à engrenagem de geração de bens de consumo.

     Gosto de pensar saindo da oficina, conseguir separar a vivência profissional da pessoal, ou seja, desligar-me completamente das atividades exercidas no labor diário, sei que me iludo que ainda me vejo eventualmente tratando algum tema específico do escritório entre um e outro pensamento dedicado à vida, isso sem contar às vezes em que desperto com a solução de algo em um sonho inevitável.

     Então se abrir mão desta fronteira entre a vida laboral e a do espírito, aposto sem medo de errar, que em muitos momentos ocorrerá interferência do trabalho sobre o dia a dia, que por direito à vida, devo dedicar ao lazer d'alma e do corpo, dando a César o que é de César e a nossa espírito o que deste o é, inferência essa cujo prejuízo é irrecuperável.

     O ócio, ao contrário dos boatos espalhados por espíritos mal intencionados, é por excelência a oportunidade de dedicarmo-nos às coisas que realmente nos interessam: nossa sede de liberdade, nosso caminho pelos labirintos interiores de nossa alma que nos levam à realização individual.


     Não é solução partilhar nosso espaço privado com o do trabalho, afirma minha lógica interna, colocando todas as minhas fichas de que o caminho das pedras, que realmente tem chances de funcionar é a diminuição do tempo de trabalho com a definitiva busca de separação total ente esses dois conflituosos ambientes, o da produção de cultura e o da geração de riqueza.   

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

A boba Alegria de Pai

     A razão grita n'alma forte, seus planos festejarem com os colegas, juntar forças consolidar os resultados de um ano como time, achar na amenidade as afinidades que nos darão forças para conseguir o novo ano que planejamos sim inscrito na confraternização de fim de ano com a convicção de poder como parte costurar com o grupo os melhores caminhos, certo apenas reforçar a base forte de coleguismo que nos levará a tal.

     O sentimento também n'alma presente, esse aguarda ansioso a confirmação dos resultados garantindo o término do segundo grau do filho mais novo e a confirmação da data e hora da formatura, é preciso apenas estar junto nesse momento, mostrar o afeto que o tranquilize para saber que sempre terá um pai olhando por ele, afinal agora começa a colocação das pedras no jogo em sociedade da vida.

     Razão que costura a presença de todos na confraternização de fim de ano, pois avançamos muito nesse ano que termina e sem dúvida temos recursos humanos e técnicos para alavancar o sucesso do próximo, assim trabalhando para superar as pequenas dificuldades de um e de outro e de também participar desta síntese de resultados alcançados e alcançáveis.

     Confirmou-se a ótima notícia da batalha vencida, segundo grau concluído, alegria, e infelizmente também o conflito, pois coincidem os fatos o momento de em grupo comemorar e juntar força para os novos desafios com o da solenidade de formatura do filho mais novo, e agora era a batalha entre a razão e o sentimento, e só a mim cabia decidir não iria conseguir conciliar no tempo os dois fatos.

     Decidi pela formatura, lembrando Descartes o velho amigo de leituras filosóficas, o importante é decidir e persistir na decisão, e a comuniquei ao pessoal, minha impossibilidade de participar do encontro, eu percebi que n'alma de quem incentivei a superar os obstáculos soou como uma traição, pois se este o pode superá-los não encontrou minha disponibilidade de presença, e também percebi que apesar de minha modesta participação no conjunto, ao mesmo lhe agrada minha parte de cimento que por ser antigo reforça o êxito de todos.

     Decisão tomada, apoiada pelo meu filho mais velho, lá fomos nós minha filha e eu em direção à PUC, onde de cara o abraço forte recebido do querido filho formando mostrou-me logo o acerto da decisão, nós dois eu e ela éramos os únicos presentes, poucos em número, mas suficientes para ele perceber que nos inúmeros nós que a rede da vida se apresenta ele teria a tranquilidade de saber que embora talvez nada pudéssemos fazer para ele seríamos um farol sempre presente iluminando os arredores para que ele livremente exercesse seus projetos.      


     Agora só me resta aguardar que o Papai Noel atenda minha cartinha e traga o presente que pedi os porta-retratos com as fotos de ainda crianças dos meus dois filhos mais velhos que juntando aos que já tenho dos dois mais novos, na minha embalagem de papelão cujo papel é se fazer de porta pedaços de vida, não que queira recordar o passado, mas gosto de olhando-os enxergar os homens e a mulher que serão depois do meu tempo, íntegros, humanos e gostando de si próprios enfim muito melhores do que eu pude ser.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Bom Cinema, Más Decisões.

     Poucas luzes neste início de semana para os apaixonados por cinema em POA, dois dias em sequência, dois fatos muito positivos: os documentários dos alunos de cinema da PUC e a Mostra de Direitos Humanos, dois problemas, sim em cada acontecimento uma decisão controversa.

     Na PUC, alunos mostraram seus trabalhos, seis grupos produzindo cada um o seu documentário, o resultado demonstrou a seriedade com que a instituição de ensino e seus professores tratam o cinema, confesso que para estudantes do segundo semestre vi muita qualidade, foi uma oportunidade bem aproveitada, o desafio era nos mostrar pessoas comuns vivendo situações incomuns, inusitadas, o que foi conseguido.
    
     Mas não poderia deixar de aparecer a polêmica, um dos documentários não foi exibido, foi censurado, por ser inadequado para menores, era um documentário que mostrava a transição de uma locadora de vídeos do modelo tradicional para a venda de vídeos pornô, não posso opinar sobre a decisão tomada, penso incorreram em dois erros, primeiro algo inadmissível para uma universidade censurar o trabalho artístico, quando seu papel seria fomentá-lo, promover o debate, segundo equívoco me parece o de usurpar o direito dos pais de assumirem a educação dos filhos, decidindo a universidade por eles.

     Uma proposta simples, certamente uma entra tantas outras soluções que não a censura, seria marcar a apresentação deste filme para o início e alertar aos pais com crianças que o filme era impróprio e que poderiam aguardar com seus filhos na antessala por seis minutos, que me parece que era o tempo da projeção, voltando para assistir os próximos. 

     No dia seguinte, no projeto "9ª Mostra Cinema e Direitos Humanos no Hemisfério Sul", o filme de abertura dirigido Lúcia Murat, "QUE BOM TE VER VIVA", muito bem dirigido por sinal, trouxe-nos os depoimentos de seis ex-torturadas pela ditadura e sua vida pós-acontecido, gostei muito do filme, envolvente, bem trabalhado em sua dinâmica e nos remetendo a pensar na impossibilidade absoluta de remediar o erro, a violência da tortura, bom tivemos problemas técnicos, acidentes ocorrem, vamos aceitar até pela precariedade de investimentos feitos na sala PF Gastal, que pela qualidade do trabalho do pessoal que promove cinema ali merecia melhores condições para os técnicos de projeção e para os cinéfilos.


     Porém iniciado os problemas técnicos, decidiu-se por obrigar-nos a conviver com os mesmos durante todo filme, quando me parece o correto seria de imediato suspender a sessão e remarcar a apresentação, pois as falhas técnicas repetiram-se várias vezes durante a exibição, congelamento de imagem com repetição do áudio, e tiraram a sequência do filme e como sabemos todos, uma segunda visualização nunca poderá substituir a emoção da primeira, rever é outra experiência.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Anjos & Demônios

     Partindo do pressuposto por um lado da unicidade do indivíduo e por outro da formação das maiorias de pensamento, tão comuns em nossa sociedade hoje, surpreende-me a escala diferenciada de reações apresentadas ante nosso comportamento habitual, quando entabulamos contatos individuais, de fato só verificamos comportamento hegemônico quando nos confrontamos com grupos, isto é no atacado, onde as vontades do ser humano submetem-se em benefício da manifestação do todo.

     Não estou analisando movimentos sofisticados e/ou complexos comportamentos, estou falando de um simples bom dia, e situando-o em um mesmo ambiente público onde pessoas dedicam-se a caminhar ou correr, as reações são as mais diversificadas, curtimos como retorno a esse singelo cumprimento desde uma reação agressiva, ofendida, de irritação, passando por um simples ignorar até um alegre sorriso, comportamentos tão díspares refletindo o fato de que o que somos em nada interessa, tão somente sofremos o que aos outros são, seus medos, suas fantasias e o seu mundo particular.

     O real só pode existir em um determinado momento e em nós mesmos, o que dispensa maiores explicações, ao nos contrapormos com o outro o enxergamos pelo somatório de nossas experiências anteriores, ou seja, nós o criamos à nossa maneira e semelhança, e o que mais me encanta nessa situação de criatura é que o nosso lado camaleão realmente pode corresponder a essa criação, pois desde sempre o demônio nada mais é do que uma das muitas caras do anjo.

     Se buscarmos enquadrar nossas vivências na régua definida em um extremo o maior índice de bondade e noutro o maior índice de maldade nenhum de nossos atos encontrará seu espaço em qualquer ponto dessa régua, essa escala de qualificação não se sustenta, apenas vivemos como conseguimos, quaisquer atitudes tomadas são apenas esta manifestação da vida e como tal válida no nível de ser humano individual, sempre que este se respeite.


     Estas linhas são apenas a manifestação de uma curiosidade e o desejo de alinhamento com quem as lê, não creio na dualidade entre o bem e o mal e sim em atitudes baseadas na honestidade consigo mesmo, eu creio na impossibilidade de em algum instante de qualquer relacionamento indiferente da intensidade coincidir a foto que autogero com a imagem que o outro projeta em si de mim. 

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

A Saudável e Antiga Temperança Grega

     Gosto muito desta ideia, quando tiramos do foco a existência do poder como uma força central e o distribuímos no agrupamento social, como reação temos a consequente dispersão da resistência no mesmo fórum, que se reflete no dilema de sermos nós indivíduos resistência ou poder seguindo os ritos respectivamente do conservadorismo ou da mudança.

     Temos aí um jogo de caráter permanente e conflituoso por si só, cuja arena é o dia a dia, onde existe necessidade de vigilância, principalmente da resistência, pois enquanto o poder exerce-se com a naturalidade da má formação pessoal, a resistência em contrapartida exige o trabalho continuado de identificar o abuso possível, em quaisquer atos por mais transvestidos de insignificância estejam, pois o seu somatório no contexto global torna-se opressão como um todo.

     Encontramos a importância que a Grécia antiga colocava para a temperança, nada mais nada menos do que a luta constante de dominar-se a si mesmo, exercer o controle sobre seus prazeres, não coibi-los nem classificá-los, apenas colocá-los no contexto de uma relação honesta consigo próprio, os grandes pensadores dessa época a reforçavam como qualidade que por si só serve de guia para a grandeza da cidade, a força da comunidade livre.

     É um tema que pondero como atualíssimo, pois se joga pesado em marketing buscando a submissão das pessoas ao consumo de políticas, ideias e coisas, em síntese exercer poder sobre o pensamento individual através de mantras muito bem urdidos gerando movimentos e atitudes sem a devida independência pessoal, isto é, submissos.

    Urge apoiarmos e incentivarmos esta temperança pessoal, pois o autodomínio, a busca do prazer real, só pode ser obtido sob o firme alicerce da criteriosa avaliação particular em cada decisão, contrapondo ao prazer ilusório filho de oportunidades geradas artificialmente por estes pensamentos terceirizados, é a própria resistência o ato de pensar, cuja visibilidade sempre resulta em exemplo, respeito sendo por si nascedouro de novos seres resistentes.


     A mudança depende desta manifestação continuada de resistência e seu fator multiplicador que só a vivência hoje, agora, dessa saudável e antiga herança dos grandes pensadores gregos, a temperança, pode nos ajudar a conseguir.

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Normal Love, cinema experimental uma impressão pessoal.

     Ontem na sala PF Gastal (Gasômetro) foi-me oportunizado ver o filme Normal Love de Jack Smith, abertura do Cine Esquema Novo 2014, confesso cheguei à sala de cinema completamente desinformado, a única pista era tratar-se de cinema experimental, e que equivocadamente imaginava serem experimentos dos dias de hoje.

     Confesso, o filme cumpriu seu papel a ponto de na caminhada de hoje de manhã que é o momento em que escrevo mentalmente minhas futuras postagens consegui perder-me no número de voltas feitas em torno Iguatemi, tão envolvido estava na análise do mesmo, de cara posso afirmar, ele cumpriu seu objetivo, pelo menos quanto a mim, que é fazer-me pensar.

     Claro além do próprio filme, havia algumas provocações adicionais:

- Primeiro minha completa ignorância do tema, pois sou desde sempre apenas um grande frequentador de salas de cinema, hábito este adquirido já quando criança nos dias de calor com as portas abertas do cinema, sem ar condicionado, poder sentar no muro de dois metros da minha casa no interior do RS e ver todos os filmes, todas as noites, e como adolescente, já em POA, viver a época de ouro do cinema autoral com Glauber aqui, Fellini na Itália e tantos outros contemporâneos pelo mundo todo.
- Depois a própria etiqueta experimental que, como o termo bem o diz, sempre representa um desafio para quem faz e para quem vê.
 - Finalmente o interesse de um pesquisador e especialista de cinema em saber minha opinião sobre o mesmo, possivelmente para ter o contraponto com os pensamentos da comunidade do cinema.

     De início a surpresa foi o diálogo formado só por imagens e sons, o que sempre torna tudo mais difícil para quem filma e para quem vê, porém, muito mais rico abre todo campo para a imaginação e te permite passar teu próprio filme.

     Gostei muito da fotografia, as transformações interagindo com a natureza e os seres humanos, se viam duas palmeiras à medida que a câmera se movimentava já era uma pessoa, e no passo seguinte um novo ser se revela, as pessoas e a vegetação se misturavam e se confundiam em diferentes figuras.

     Quanto ao som não pude casá-lo com a imagem, me agradou como som, apesar de um pouco alto demais, porém não vi completude em relação às imagens, certamente por incompetência minha sou da geração de melodias simples com letras fortes, não tenho cultura musical apesar de concordar com o pessoal do século XIX que colocava a música como arte primeira e mais pura e gostaria de escutar suas frases como os personagens de Proust.
     
     A mensagem recebida, uma grande viagem (com ou sem aditivos químicos), comum à época, pela integração do homem com a natureza, nossa relação intimista com ela, uma espécie de jardim do Éden atualizado, sem esquecer a relação entre a serpente e a mulher chavão que hoje definitivamente está no politicamente incorreto e a referência sempre atual aos sacrifícios humanos exigidos pela barbárie da guerra, aí sim cada vez mais tema politicamente correto.     


     Não há uma linha direta entre o pensamento do cineasta e do assistente, isso é sabido, certamente vi um filme muito diferente do que ele filmou ou quem sabe o mesmo, pois como vim a descobrir agora este filme é de 63, isto é da minha geração, o que pode aproximar-me dos sentimentos que o mesmo quis expor.

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Faça-se a Luz!

     Estamos alguns anos após 2000 e na mesa do bar o tema "Idade Média" corria solto, a víamos com a primeira fase sem luz depois do gênesis "Deus criou os céus e a terra. A terra estava informe e vazia", o que nos interessava era o porquê e o como chegamos a um momento de obscuridade tão grande, principalmente em sequência a civilizações do porte das egípcias, gregas e romanas, entre uma e outra jogada, a bola da vez era a igreja, não por ser a igreja, mas sim por ser o único poder estabelecido e baseado numa impossibilidade que é a Fé.

     Recordando "No princípio, Deus criou os céus e a terra. A terra estava informe e vazia; as trevas cobriam o abismo e o Espírito de Deus pairava sobre as águas. Deus disse: Faça-se a luz!”. E a luz foi feita, sim, disse presente o renascimento com pensadores como Descartes, Michelangelo iniciando uma bela resposta para as trevas.
                                                                                                                                                         
     Graças ao pessoal da sala PF Gastal pude ver nesta semana documentários sobre Poe, Vitor Hugo e Sartre com seu "Castor" (a brilhante feminista Simone de Beauvoir) e as minhas releituras do mês compostas por obras de Poe, Bukowski, Proust e Henry Miller, que esplendor o mundo até 1970 onde as luzes iniciadas pelo renascimento e principalmente a partir de Dostoievski brilharam ao máximo.

     Agora um pouco adiante do ano 2200, um mundo de encontros não mais em mesas e sim em temas que espalhados pelo espaço compartilham pensantes, nos encontramos no ponto "idade das trevas" e estamos partilhando o sentimento de um conjunto de anos, 1970 a 2014, tentando compreender como foi possível uma segunda idade média e entre as muitas explicações a que unia mais pensamentos é a de ser uma consequência óbvia de um imperialismo (a igreja da época) com sua democracia (a fé da época).     


     Deus onde estais? Precisamos um novo “Faça-se a luz!”, com ou sem você necessitamos semear pensadores e derrubar a sofisticada máquina imperialista, diferenciadora de homens, estabelecida como verdade hegemônica sobre a humanidade.

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Quando Vamos Derrubar os Muros!

     Fronteiras entre nações, como explicá-las, ainda temos espaço no mundo globalizado para o conceito de nação? Por que não uma governança global estabelecida sobre trocas mediadas de serviços, bens, alimentos e arte, pois encontramos hoje nas nações apenas minorias oprimindo no âmbito interno e externo as mesmas e seu conteúdo principal os humanos.

     Uma governança global por certo começaria muito bem eliminando os grandes desperdícios gerados pelos gastos militares, pois esses se estabelecem na fictícia proteção contra imaginárias nações inimigas, e ainda lucraríamos com o fim dos dispendiosos mecanismos de gestão governamental que se reproduzem na direta relação com a quantidade de países.

     No mundo onde a arte, o trabalho e a informação são sempre e cada vez mais universais a migração é uma realidade e só não acontece em maior número pelo continuado construir de barreiras protecionistas que separam os diversos povos, buscando filtrar a convivência através de interesses normalmente não bem explicados.   

     Poderíamos trabalhar com a identidade de um grupo de pessoas para justificar a manutenção dessas estruturas arcaicas, porém isso já perdeu desde muito tempo o sentido, e só se mantêm através de constante e violento esforço de propaganda, estamos sempre inventando inimigos para unir seres humanos artificialmente ligados entre si dentro de muros, e a construção destes sempre foram a partir de conquistas feitas pela violência da guerra.

     Para exemplificar, quem torce por uma seleção nacional? Na verdade as pessoas torcem pelo seu time e pode-se ver claramente que se envolvem mais com os eventos entre nações pessoas que no dia a dia não curtem o esporte em questão e ainda assim por forte pressão midiática e se você gosta de corrida de automóvel você torce por um determinado piloto? Por um time de construtores? Sim e nunca por um estado constituído.


     Poderíamos encontrar um conceito de governança global, que substituindo o sistema representativo estabelecido na maioria dos países, estivesse baseado em mediação voluntária nas relações de trocas entre as pessoas, muitas já realizam trocas de maneira independente do lugar e só não o fazem com maior intensidade pela permanente repressão dos governos a esse tipo de iniciativa, temos que estimular o aprendizado da vida em rede e seus mecanismos de relacionamentos, quem sabe não é esse o caminho da liberdade que o homem sempre almejou.

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Abaixo todos os Juízos de Valor

     Droga, sim que queimem no inferno todos os juízes de valor, é uma batalha inglória tentar livrar-me deles, uma luta permanente enquanto circulo pela nossa cidade, Porto Alegre, cruzando caminhos com muitas pessoas e colocando uma etiqueta aqui, rotulando outro ali, tenho que estar me policiando constantemente, sabendo que não são meus esses malditos níveis de qualificação para mais ou para menos, mas como estão arraigados, como aparecem de supetão, como emergem a cada olhar.

     Gostamos de nos enganar imaginando que o que brota instantaneamente dentro de nós corresponde ao de mais nosso possível, algo tipo um instinto, uma verdade interna, quando de fato bem o sabemos é a continuada influência da civilização grudada na gente, em outras palavras não tem nada de nosso, tudo vem de outros.

     Sinto-me obrigado a contrapor violentamente esta maldita primeira impressão, despir-me dessa carga pesada para poder simplesmente olhar e curtir, sem passar por intermináveis escalas de valor, quando falamos de coisas ainda vá lá pode ser aceitável esse procedimento, mas para com as pessoas isso é inadmissível, porque tem que ser alta, baixa, magra, gorda, linda, feia quando são apenas e principalmente pessoas.

     A única certeza que tenho é a completa inadequação da comparação, pois é certo que determinar valor é comparar, mas comparar com quem? Com o que? De onde tiro os parâmetros se me conheço tão pouco, que nem comigo mesmo posso contrapor a presença do outro, nossos sentidos costumam nos trair constantemente e o bonito se torna feio sem que nada possamos fazer, pois o julgamento depende da quantidade de veneno presente em nosso fígado, em nosso espírito, na nossa alma.


     Quanto mais casca tiro, mais sujeira incrustada encontro e como é difícil limpar-se dessa achando a pureza do núcleo, descobrindo o que realmente somos, agregue a isso o fato de considerar que a tal da civilização, que é impossível evitar frequentar, tem como principal meta nos impingir receitinhas prontas de como não viver, mais aumenta minha determinação para me lapidar e assim abrir mão dessa nefasta herança.

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

No fundo do poço

     Poço, sim rumo ao fundo deste encontraremos as pistas que nos definem e que caracterizam o ser humano que somos fundo do poço é força de expressão, a busca do indivíduo por sua alma é além de difícil completamente imprevisível quanto ao seu conteúdo, assim vejo a vida e se considero que estamos todos em distâncias diferentes deste alvo que é ter clareza do que somos, devo compreender o fato de resultarem imagens diversas com respeito às pessoas e às coisas, não é justo exigir de quem está visualizando a grandiosidade do universo que tenha as mesmas respostas de quem olha as modestas riquezas de sua alma.

     Amigos de grande afinidade de pensamento, por vezes se desencontram no discurso, por quê? Pela natureza desigual do momento vivido, o mesmo fato responde por interpretações aparentemente divergentes e que o futuro talvez demonstre ter o mesmo ideário em sua origem, apresentam-se de maneira diferente conforme o respectivo marco do tempo, se considerarmos que não se pode antecipar o tempo é obrigação de quem pode olhar-se no passado achar o elo que liga os mesmos.

     Existe em nós o tempo da construção onde levantamos tijolos construindo sonhos, realizando projetos, agregamos informação e conceitos, em continuação nos deparamos com o momento da desconstrução onde buscamos eliminar tudo o que trouxemos de desnecessário buscando o mínimo do mundo para acharmos o máximo de nós, não diria que estamos na hora do tudo feito e sim no momento do fazermos em nós.

     Descobrir em nossos gestos, em cada pensamento, na manifestação das vontades, atitude por atitude quem nos influência e por que, substituindo a repetição impensada de filosofia de outrem por respostas conscientes nascidas de reflexão nossa, pessoal, frente a cada fato que a vida nos proporciona.


     Neste processo de decodificação, transparência me parece importante, porém cercada de cuidados para não magoarmos quem nos estima, pois não somos beleza pura, não somos nem maior, nem menor que ninguém, apenas um ser individual único que em momento algum pode corresponder à completa expectativa de alguém. 

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Direita Volver Marche!

     Vamos fazer um "minha culpa", conseguimos um resultado eleitoral decididamente à direita, elegendo um congresso e possivelmente a maioria dos executivos aos quais podemos prender sem nenhuma dúvida a etiqueta "conservador", com certeza o preço a pagar será alto, estamos adiando por mais quatro anos a reforma política e o enfrentamento do importante desafio que é a melhora da educação.

     Só cabe a nós mesmos a responsabilidade por este fracasso são doze anos no poder e no quesito educação nada fizemos, mantemos um ensino com alto grau de deficiência, herdado por influência americana nos tempos da ditadura, quando penso que nesse período poderíamos ter liberado um primeiro time com a marca de qualidade do ensino integral, capaz de decidir com o discernimento de quem aprendeu a pensar as melhores opções para nosso país, só tenho a lamentar-me por termos jogado fora esses doze anos. 

     Não podemos esquecer que os propósitos da direita, com suas enfeitadas e bonitas frases que nada dizem, têm sempre foco em manter a elite no controle, via educação insuficiente, primando por evitar o desenvolvimento da capacidade de análise crítica, defendendo uma livre iniciativa estabelecida sobre a velha história de vender oportunidades iguais para desiguais.

     Sei que o momento não é de riso, mas me lembrei da piada que fala do religioso que dizia dar tudo ao Senhor atirando as moedas da coleta para cima e deixando que ele, o Senhor, servisse-se do que quisesse, é assim que vejo a direita defendendo a violência econômica, policial e social contra o povo a quem acusa de não aproveitar as oportunidades que a democracia lhes oportuniza por negligência, preguiça e má índole.


     Nossa tarefa tornou-se muito mais difícil, teremos que levantar trincheiras na sociedade civil, sem esperança de apoio significativo dos mecanismos públicos de gestão, o que imagino só seja possível com um forte comprometimento individual, para evitarmos a regressão do pouco que conseguimos de avanço, com cada um de nós vivendo um dia a dia com posicionamentos transparentes, corretos e de continuada vigilância.    

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Almas Gêmeas

     Quando escutei "Cara sou sua alma gêmea, penso igual a você", de imediato reagi, meu amigo a igualdade nos debilita, a diversidade nos fortalece, preciso que você raciocine do seu modo e não como eu, só assim podemos somar valor, eu concordo, sempre haverá intersecções, pontos de vista que se encontram, mas o que expande o espírito humano é o que eu não pensei o que não lhe havia ocorrido o que um terceiro nos oportunizou.

     Porque me vem à lembrança isso hoje? Boa pergunta, talvez o pós-eleição com seus resultados previsíveis e não desejados, ou quem sabe apenas a visualização de tantas unanimidades tão bem definidas como burras pelo nosso grande Nelson Rodrigues, o todo sempre é heterogêneo e como tal funciona, nosso corpo traz em si essa lição quando uma mesma célula original divide-se em milhares de células especializadas, cada uma apreendendo sua função e vivendo-a na prática e assim garantindo o funcionamento do todo.

     Seguiu o interrogatório: "Então por que escreves? Por que disponibilizas para todos teus escritos?". Não fugi de responder, passei a explicar a ideia de que por princípio somos semente, apreendemos e passamos adiante nosso conhecimento então "c'est fini", quer dizer, aí termina nossa missão, essa é a regra básica da natureza vive-se para entender mentalmente a vida e passar adiante a descoberta, para escrever necessito refletir e publicando faço minha parte e justifico meu existir.

     Não satisfeito largou de primeira: "Por que dedicas tuas horas à leitura?". Não titubeei, lendo busco provocar-me, encontrar espaços internos, oportunidade de vasculhar os inúmeros buracos negros ainda virgens em mim existentes, interessante como uma frase, uma palavra, um momento, desencadeia frenéticas pesquisas, movimenta uma complexa rede de interligações e permite preencher uma lacuna antes vazia na minha construção filosófica.

     Somos um pouco cópia, gerados como síntese da vida de todo o sempre, constituídos da soma dos que viveram, tudo que aqui esteve antes de nós, contemos o DNA desses e dos que viverão, pelo menos assim o vejo enquanto não nos habilitarmos a domar o tempo.

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Na dança das cores

   Navegando do preto, ausência de todas as cores e como tal tem a beleza de todas, pois as absorve, até o branco onde a presença de todas as cores possibilita que as reflitam, convivemos em uma sociedade onde um espetacular arco-íris marca sua presença através de um mesmo ser humano diversificado em sua pigmentação por sua adaptação na própria pele humana aos diversos comportamentos da natureza, nada nos diferencia no essencial apenas no transitório e isto é o pote de ouro que a lenda diz estar na origem deste arco-íris.

    Difícil entender como as diferentes transformações por que passaram os seres humanos durante seus muitos anos de convivência com diversos níveis de exposição a raios ultravioletas pode ser parâmetro de segregação, propiciam perseguições covardes a grupos e indivíduos, quando na verdade deveriam gerar orgulho de nossa capacidade não só de mudarmos nossos pigmentos como transferirmos geneticamente os mesmos à nossa prole como um conhecimento a ser repassado.

     Não posso furtar-me a uma manifestação clara contra o preconceito, os cinco sentidos me permitem ver a beleza do homem em todas suas cores, ouvir a graça dos sons emitidos por diferentes tons, cheirar os perfumes das diferentes peles, apalpar as diferentes densidades e anatomias, saborear o gosto que nos oferece a natureza especial de cada um.

     A falta de preparo intelectual, que nos humilha por sua mediocridade, aparece plena na intolerância da cultura dos slogans, no policiamento dos comportamentos, no cerceamento da liberdade do indivíduo e muito mais na exclusão social dos desfavorecidos, o que vemos é um grupo social disposto sempre a atirar a primeira pedra, no grande espetáculo global de apedrejamento que se tornou este mundo globalizado, onde a maioria sempre forma-se em torno de um pseudo politicamente correto para expurgar seus pecados nas costas do outro.


     Por aqui neste nosso Brasil, não nos vejo diferentes, e precisamos com urgência, partindo de cada um em iniciativa pessoal e intransferível trilhar o caminho da busca da cultura, sem esperarmos por iniciativa de outrem, dar o primeiro passo, pois desde sempre o todo depende da parte e cada célula tem o seu papel a cumprir, sem esperar ou cobrar do outro qualquer coisa, só a cultura extermina o preconceito e possibilita o nascimento do homem por inteiro.

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

No Olho do Furacão - Viajei!

     A viagem de sempre, são vinte e quatro anos de peregrinação à Meca do GeneXus, Montevidéu  a bela capital do Uruguai que ainda conserva em muito aquela imagem que tanto amamos da Paris do início do século passado que para nossa alegria espalhou-se pelo sul da América, com seus cafés, seus bares, seu povo. 

     Cá estou eu no centro do furacão em viagem interior, preparando-me para o deslocamento físico, misturando lembranças com vontades, recordando quando no apertado teatro de um banco, o Banco da República, se não me engano, éramos trezentos e representávamos trezentos, nós mesmos, e somávamos vontade a um ideal acalentado por cinco visionários, que incessante escreviam-no linha a linha.

     Hoje sei seremos três mil representando trezentos mil, e este patrimônio, esta comunidade é sim o grande legado, que a soma dos anos constrói e alimenta esta sim é a grande viagem onde todos os rumos ainda não se completaram, não sabemos ao certo o caminho e o estrago que o furacão definirá.

     Não me sai da cabeça, a Elis Regina nossa grande Elis cantando "ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais", assim vejo nosso momento como comunidade GeneXus, temos os alicerces da mudança, sim já  foram construídos, mas existe um tudo ainda por fazer, temos a tecnologia temos a possibilidade de fazê-lo mas nossas aplicações ainda são as mesmas dos tempos dos tabuladores, acanhadas respostas ao dia a dia, claro com muitos Gigabytes de tecnologia embarcada.

     Reencontrando este time profissional, esclarecido e amante da mudança, eu aposto na revolução que esta comunidade irá construir, sei que vou encontrar-me com muitos insatisfeitos como eu, que percebemos o ninho perfeito armado o suficiente para afrontarmos todas as forças que nos empurram para as soluções conservadoras e realmente inovarmos.


    Estamos aparelhados, somos massa crítica, bom então é a hora de colocarmos nossa contribuição e fazermos a mudança, pois essa só nós como comunidade podemos fazê-la. 

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Entre o singular e o plural

     Gosto de mulher, no plural, poderia gostar de homem? Certamente que sim e até optado por ser bissexual, escolha bastante comum na década de 1960, foi uma decisão particular minha que independe de conceito de bem ou mal como qualquer outra decisão que tomamos e vamos em frente, isto é, assumimos e assim o fazem as mulheres e os homens.

     Insisti acima com o “gosto de mulher no plural” o que vale para quem escolheu outro modelo de relação também, pois mesmo tendo apreço a quem no dia a dia decide-se a abortar novas relações com outros parceiros, admito que a mim não pareça natural, uma pessoa no singular não pode preencher a gama de interações que me são necessárias, por isso mais importante do que a opção tomada é o plural que me encanta e me atrai certo que também não poderei ser único a completar uma mulher.

     Assim vejo os homens e as mulheres fazendo suas escolhas e os estimo e respeito em primeiro lugar por terem escolhido, pois decisões são sempre corretas independente do caminho tomado, já dizia Descartes o importante não é decisão tomada, mas o ato de decidir.   

     Não sou médico, não sou psicólogo, logo apenas manifesto-me sobre o que é para mim o tema, não estamos falando de genética, não estamos falando de circunstâncias especiais de vida, não estamos falando de anomalias, estamos falando apenas de definir o gostar, buscar seu espaço particular de afetividade, buscar um modelo de relação com os outros que não necessita ser apoiado nem criticado, tão somente respeitado.

     O homem livre, o ser humano independente do sexo, constrói sua rede de relações de maneira individual, prepara-as e aperfeiçoa-as à sua maneira sem que interferência externa alguma o possa modificar, ele edifica seus sentimentos, seus alvos do gostar, como opção tomada no somatório de todos os instantes de sua vida, reassumindo-os a todo o momento.

     Obviamente que o entorno o obriga a posicionar-se, porém não o modifica, apenas oportuniza o escolher, livre e independente dos caminhos assumidos no passado, uma sempre nova decisão, seus e só seus são os caminhos e a felicidade que deles advêm.


     Quando aceito o individual de cada escolha obrigatoriamente eu como ser humano estou desautorizando qualquer possibilidade de não aceitação, de crítica, de preconceito, e não só como também a simples ideia de colocar em questão ou de analisar uma escolha de outrem não é admissível, pois só a estes compete decidir e analisar suas opções.

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

De pernas para cima!

       Acordei e finalmente reencontrei-me com a civilização, na cozinha a barata com suas finas e delgadas pernas, confortavelmente deitada de costas, debatia-se, mexendo-as entre a vida e a morte, realmente era a prova de existência e a mostra da civilização que aí esta.

     Meu software interno de imediato chamou-me atenção para Kafka, acordando e vivendo sua metamorfose, enquanto deliciava-me com esses pensamentos, em paralelo, de maneira concorrente foi me lançado Raul Seixas, sim metamorfose ambulante, Raul Seixas o homem das cobras e aranhas que coitadas realmente não têm culpa nenhuma de eu ter visto uma barata agonizante.

     Vocês estão dizendo, vejam como este cara está confuso, ele mistura todas as coisas, acostumados que estamos em ver a reta como melhor caminho entre dois pontos, ilusão esta que o tempo sempre destrói nos trazendo a realidade do que não podemos entender.

     Enquanto essas tarefas executavam-se em paralelo na minha mente, a inteligência das pessoas envolvidas iluminava a imagem de Lucy, não exatamente a imagem da mulher, bonita e muito boa atriz por sinal, e sim o tema recorrente da ficção inteligente, olha aí novamente o Senhor Tempo, que tão bem trabalha o roteiro do filme.

     Seria impossível enumerar aqui a quantidade de interelações que conseguimos trabalhar, as histórias paralelas que vivenciamos em nosso cérebro, quando os confrontamos com os ridículos dez por cento que nos dignamos a utilizar, assim pensei retornando ao filme.

     Lembrei-me de que não sei se antes, durante ou depois de Proust, quando se defronta com o passado e o presente disputando em seu ser o mesmo espaço, brigando segundo a segundo um som lembra outro não se sabe mais qual se ouve, vemos uma paisagem, vemos outra, não sabemos em qual tempo estamos vivendo certamente nos dois simultaneamente.

     Sim amigos nós precisamos domar o tempo e para tal fugirmos destes malditos “dezporcento” que insistimos em como limite colocar na nossa capacidade de viver.     

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Um passo uma Lembrança outro passo...

     Alô, bom dia, como vai você... Sim, essa cantiga do início da adolescência atinge-me em cheio durante minha caminhada, já perceberam que estou em um dia leve, o fato que provocou lembrá-la é eu insistir em cumprimentar as pessoas com as quais me deparo neste caminhar diário cujo objetivo é manter a circulação em dia, e nunca são poucas as pessoas que encontro entre elas trabalhadores, corredores, passantes e também outros caminhantes.

     Um olhar bem amigo... Claro não é surpresa o continuado e repetido ar de desconfiança que desperta nosso enxergar, nosso cumprimentar, tão diferentes como as pessoas são as reações que se manifestam, algumas se negam ao cumprimento, o que respeito como sinal de uma distância que se quer manter, outras aos poucos sendo cativadas retornam cada dia mais simpáticas, o que recebo com alegria na alma.
  
     Um claro sorriso... Vejo principalmente, quase sempre no trabalhador, que começando cedo tal qual é o horário em que gosto de caminhar, responde com espontaneidade e calor humano a nossa atitude, talvez mais desarmado, talvez mais espontâneo, talvez mais simples, por outro lado, provavelmente devido ao longo tempo de opressão social, retornar a essa saudação é muito mais complicado para a mulher.

     Um aperto de mão... De qualquer maneira estamos em uma "sinuca de bico" difícil o contato entre as pessoas tem que vencer esta dicotomia, violência, invasão de privacidade, depressão e como contraponto a civilidade, a convivência fraterna e fortaleza pessoal.

     De nada custa ao coração... As questões do coração são sempre difíceis, pois estamos em permanente luta conosco mesmo somando e subtraindo impressões de quem encontramos impressões estas por mais que insistimos em colocar como comprovadas são apenas sensações produzidas pela nossa sensibilidade interna, nossos personagens nós os construímos ao nosso bel-prazer e sem o compromisso com o que na realidade o são, principalmente se de fato não os conhecemos, aplicamos rótulos comandados pelo somatório de nossas experiências anteriores.
  

     Fazer um bem assim ao seu irmão... Não vamos discutir se seria bom para quem a recebe a nossa atenção, estamos falando de disponibilidade para correr riscos, as aproximações entre pessoas sempre têm como inevitável desafiar nossa tranquilidade e acrescentar o belíssimo bônus que representa o encontrar-se no outro.

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Porque é tão difícil votar!

     Tenho conversado com o pessoal neste momento que antecede as eleições, tenho ouvido mais justificativas de exclusão, estamos falando cada vez de mais pessoas a explicar seu voto pela exclusão de outrem do que pela opção consciente por um candidato, não creio que o problema seja das pessoas a concorrer ou dos partidos disputantes e sim uma questão sistêmica.

     Bom, senhores, constatado que o espírito é o de buscar o “dos males o menor”, ficamos dependentes de resultados improváveis na próxima gestão, não estamos procurando a calmaria e sim fugindo da tempestade, merece o assunto certamente outra abordagem, não a analise dos candidatos, não o estudo dos partidos e sim o sistema político "democracia representativa" ainda atende as necessidades do mundo atual.

     Parece-me muito misterioso que todas as discussões sobre governo estão a mais de duzentos anos em torno do mesmo eixo, anarquismo, socialismo e democracia, a humanidade discute desde sempre até hoje o fim do direito divino, o que vamos admitir foi uma solução muito bem construída pela revolução francesa e os pensadores da época.

     Estaremos perdendo nosso momento na história, trabalhando sobre uma unanimidade que tem se mostrado insuficiente, não funcionando como resposta as necessidades de gestão das nossas comunidades, estaremos condenados a perder a oportunidade de construímos outra ideia de autogestão da sociedade humana.

     O quadro assemelha-se ao da avestruz colocando a cabeça na toca: não enxerga nada, mas todos a veem, assim não enxergamos o quanto estamos de todo vulneráveis a um sistema político que não aceita contraponto instala-se como verdade absoluta e quem o contesta é visualizado como um doente social, um herege enfeitiçado pelas forças do mal.


     Hoje vamos votar, sim o faremos, mas precisamos urgentemente colocar na mesa a busca de um novo contrato social, caso não o obtivermos nos condenaremos a acelerar a negação da alma humana e sua aviltante degradação.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Coração Ancorado

       Muito mais que guerreiros, nós humanos somos nômades, talvez até a postura combativa tenha origem exatamente nesta característica de sermos uma comunidade com vocação a se deslocar, e a busca de novos espaços obrigatoriamente nos leva a ter uma postura agressiva como resposta aos desafios do novo, nos é difícil adivinhar na caminhada o perfil hostil ou amigável do que iremos encontrar.

       Não podemos negar a história nos mostra, estamos sempre em busca de lugares novos, assim foi a migração dos asiáticos para a América onde formaram suas comunidades indígenas, a colonização europeia na África com a exploração do homem e do solo, os portugueses com seus barcos navegando para a América e hoje nossos esforços em busca do espaço e seus novos mundos, sem esquecermos que os que mais parecem acomodados dedicam-se cada vez mais ao turismo sim pessoas buscando frequentemente deslocar-se em busca do novo.

       Os nômades têm por característica a formação de comunidades, o povo em movimento dá muita importância ao conjunto social, estabelecido com igualdade, pois só do conjunto proviam suas necessidades e cuidavam de sua prole, já quando estacionamos, formamos nosso gueto chamado de famílias, demarcamos lugares, criamos cercas, estabelecemos posses sobre seres vivos ou mortos.

     As relações humanas comportam-se também diferenciadamente nas duas situações, como nômades tendemos a encontros livres com parceiros dedicados ao realizar-se em momentos de felicidade conjunta onde cada parte realiza-se vivendo o presente sem projeção de futuro, por outro lado enterrados em um lugar, antinaturais em minha opinião, construímos a monogamia jogando a âncora e aprisionando nosso coração, não exatamente em alguém e sim acorrentados a imagem construída em nossa alma e dane-se nossa parceira que passe a mesma o resto do seu tempo de vida tentando corresponder a essa fantasia que é só nossa.   
    
       Nossa postura é abrir mão da surpresa do encontro desconhecido cheio de emoções contraditórias onde se aproximam vidas diferentes buscando realização através da interação entre pessoas livres, por montarmos no tempo a mulher dos nossos sonhos construída dia a dia em nossa alma, isso é tão nosso como o é depois cobramos durante uma vida que nossa parceira se adapte a esse nosso sonho.

      Confesso que não tenho nenhuma autoridade para afirmar isso, porém penso que no caso da mulher isso me parece ter um agravante, pois enquanto nós homens inventamos uma mulher normalmente baseados em uma de carne e osso, elas têm seu príncipe encantado construído desde sempre, já a partir de seus sonhos de menina. 

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Abraçados a Gaia

     Que momento, parece que encontramos todos, a paixão permanente que é Gaia, descrita pelos gregos como a Terra, a Mãe Terra, elemento primordial de uma potencialidade geradora fantástica, parece que deveríamos balizar pela observação da natureza o nosso dia a dia de comportamento humano, encontrando finalmente o equilíbrio e a realização plena.

     Como em todas as paixões, alto índice de emoção e insuficiente reflexão, esta nos concentra a buscar na natureza em sua capacidade de autoconservação, na sua continuada recomposição, com sua pretensa harmonia, os exemplos para o comportamento humano e a obtenção da chave tão procurada para a harmonia e felicidade do Homem?

     Do homem primitivo, com seu pavor do desconhecido ao homem atual com a tranquilidade do domínio, nesse longo caminho enxergamos nossas várias faces, inicialmente prestávamos nosso culto e sacrifícios aos deuses todos eles significantes de manifestações desconhecidas e não explicadas da natureza, nossa posição era extremamente defensiva baseada no fato de que cada passo dado era no objetivo de conseguir sobreviver.

     Hoje com a fácil bondade do vencedor, aparentemente definimos que a natureza depende de nossa boa vontade para sobreviver, um pouco de soberba é claro, e começamos a tratá-la de modo carinhoso, nos posicionando como seres superiores, que penalizados com a inocência presente na ignorância a perdoa com ar de liberalidade.

     Mas o que podemos aprender com a natureza, a força do leão ao matar o veado para alimentar os filhotes, a fraqueza da ovelha ao ser morta pelo tigre, a quantidade de vegetais destruídos por pragas de formigas, o caminho novo gerado pela raspagem violenta do esplendoroso tufão, a transformação em um despojado e submisso cão do antigo livre e altivo lobo, onde estão os caminhos da preservação e da harmonia só vejo nela a eterna luta pela vida.

     É-me importante descobrir se temos todo este poder que acreditamos ter, o que duvido muito, e se com a natureza não estamos apreendendo a construir uma sociedade perfeita de rainha, zangão e uma multidão de operárias abelhas. 

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

A Moral como instrumento de Posse

     Deparo-me no vai e vem dos dias, defesas intransigentes de procedimentos pessoais, frequentemente justificadas pela moral, como se esta fosse um salvo conduto e eliminasse a necessidade de questionamentos adicionais sendo assim tudo explicando e validado por um simples carimbo: “É moral”.

     Amigos, moral nada mais é que o conjunto de costumes, regras, tabus e convenções estabelecidas por cada sociedade, assim sendo como podemos medir a clarividência de um agrupamento social em um determinado período de tempo? Todos se acham tomados de luzes, o que sistematicamente o tempo acaba por desmentir, e sempre quando relemos a história, percebemos que as definições foram estabelecidas pela classe dominante, que é quem exerceu em sua época o poder.

     As sinalizações identificadas nos códigos morais são todas associadas à posse e à proteção desta, a deter poder sobre as coisas e as pessoas, e não poderia ser diferente, pois domínio e posse convivem quase sempre em uma relação de causa e efeito, e o conjunto humano que os cultiva se posiciona de modo conservador tanto pelo viés moral ou imoral cada um de sua maneira representando o "Status Quo".

     O buscar consciente de ser Amoral me parece o procedimento mais adequado, ignorar e não transgredir, buscar seu próprio referencial, isso nos aproxima da ética no sentido grego antigo de ser, uma ação genuinamente humana, e como tal não pode ser dissociada do indivíduo.

     Parece-nos muito mais simples adotarmos a moral como guia à nossa vida, mas ninguém pode nos garantir que ela trilha o caminho da justiça, como sempre na vida os valores são impostos pelos vencedores, logo não temos como separar a moral do exercício do poder e da obediência.

     Quando nos acusam de não sermos éticos, estão apenas definindo que mentimos para nós mesmos, em outras palavras creditam-se o falso poder de nos conhecer melhor que nós próprios nos conhecemos.


     Qualquer posicionamento tomado em nome da moral é apenas obediência, submissão, apoiando-se no vazio por falta absoluta de coordenadas próprias de pensamento. 

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

O Ressentimento me Qualifica?

       Domingo, meio-dia, nas mãos de alguns, copo de cerveja, na de outros, vinho, as palavras chaves eram ética e moral, estava posta a mesa do debate, sim Dia dos Pais todos meus filhos  presentes e sem exceção zelosos na defesa de sua opinião, quando um levantou a questão do ressentimento, o quanto o era eu aderente a este, mas o tema morreu no seu início, afinal realmente ética e moral como tema cativam muito mais e reforço minha ideia de em postagem posterior colocar minha opinião. 

       Sendo uma faísca sem consequência na conversa de domingo, assim não o foi na minha discussão particular, aquela comigo mesmo, já na caminhada de segunda este foi o tema principal, e fiquei remoendo-o até apresentá-lo nesta postagem, por sinal tendo sido a mesma postergada devido a uma boa gripe de uma semana que insistiu em abater meu ânimo.

       Confesso meu primeiro impulso foi de rejeição, passo seguinte foi buscar consolidar meu sentimento inicial com o verdadeiro significado da palavra, busquei informações "Ação ou efeito de ressentir; em que há mágoa, angústia ou rancor" e não satisfeito corri atrás dos sinônimos e encontrei misturados entre outros, ciúme, inveja, zanga e até dor.

     Como não consigo ver muita afinidade entre minha maneira de pensar com nenhum desses conceitos, pois é clara nossa tendência à cegueira quando falamos de nós mesmos, saí a buscar o que visualizavam eles de circunstâncias e encaminhamentos de minha vida pregressa que assim permitiam associar minhas atitudes a sentimentos que realmente não cultivo em minha alma.

     Somos fortes em deixar pistas, em deixar rastros, os meus são por demais salientes, visíveis, expostos e não me foi difícil identificá-los apresentaram-se sob uma característica marcante de não me agarrar ao passado, mais do que isso, simplesmente arquivá-los na pasta do esquecimento, são rastros reais que não mais serão por mim pisados e nunca mais poderão me levar à sensação de ressentimento, quando eu o sei nada tem a ver e sim é apenas minha vocação de evitar contatos desnecessários, não consegui vestir o chapéu, mas pude observar o quão fácil é interpretarmos movimentos de terceiros e associá-los a maneiras de pensar que em nada lhes são justos. 

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Ti e as Algemas da Fé.

     O desencontro entre a fé, baseada na impossibilidade da dúvida e a ciência que é a própria dúvida me leva a refletir sobre as juras que diariamente o fazemos em relação a metodologias, ferramentas, linguagens e soluções na área de TI. 

     Nosso comportamento tentado pela fé, ou seja, a acreditar em verdades simplesmente por acreditar, tirando a possibilidade de duvidar, é completamente incompatível com a racionalidade exigida pela tecnologia da informação.

     Montamos nossas verdades em cima de conceitos que usamos no dia a dia, nos agrupamos em guetos tecnológicos, escolhemos nossos sacerdotes, nossos gurus, negando a principal verdade da ciência que é a evidente permanência e constância no erro como impulsionador do novo.

     Pois diferente da fé que sempre está certa, pois é apenas um ato de vontade, a ciência sempre está errada é na verdade a melhor foto de um momento, o que conseguimos estabelecer como marco e que de antemão sabemos o tempo o irá senão desmentir projetá-la a outro patamar.

     Como podemos não duvidar do caminho que escolhemos para nossos projetos, se assim o fizermos estamos nos contradizendo como técnicos, nossas opções merecem a dúvida constante como oportunidade de fazermos o projeto necessário para o amanhã que nos atenderia hoje.

     Temos tomado seguidas vezes a cômoda opção de já tudo sabermos, de ter encontrado o caminho da salvação, o próprio paraíso tecnológico onde temos a melhor solução, o mais produtivo método, esquecendo-nos de que o céu só existe para quem desistiu da vida.


     Vamos pagar o preço da dúvida, vamos questionar nossos métodos, vamos discutir o como e o porquê das ferramentas com as quais trabalhamos, vamos impulsionar o futuro, buscar a descoberta do amanhã, que só o questionamento sério, a pesquisa continuada, a humildade do conhecimento e principalmente o abandono da vaidade que nos estaciona no que já é passado, sem abrirmos mão de apresentar resultados no presente.

terça-feira, 5 de agosto de 2014

A Força de uma Imagem

     Entro no apartamento me informam que ela está no quarto, chego lá e a vejo na cama, deitada, imóvel, linda, muito pálida, só o rosto fora do edredom cercado de seus cabelos brancos, em minha memória grava-se este instantâneo carregado de emoção, essa imagem irá me perseguir a partir deste dia semana adentro, sim a fragilidade da vida presente na minha mãe.

     O alívio que foi ver apesar de tão somente os lábios e os olhos mexerem-se, e a emoção de ouvir a história desencontrada, como sempre, que ela passou a me contar, nem sei se contar-me era de fato a situação, penso mais narrava, mais contava a ela mesma, sim são somente suas essas histórias, atemporais como os sonhos, misturando mortos e vivos, nada de noção de tempo, mistura de protagonistas reais com situações inverossímeis.

     Certo o pensamento me traz de volta para a imagem, não propriamente a imagem, pois ela está em constante mudança, mas as sensações do momento ficaram e emocionalmente envolvido, tive receio e continuo vendo que tenho pouco tempo para curti-la sinto necessidade de mais visitá-la e é difícil aceitar que o tempo esgota-se para nós.

     As imagens movimentam coisas importantes dentro da gente, assim como as crianças que estão nos porta-retratos ao lado da cama encontro permanente com os filhos que já não são de convivência diária em corpo presente, porém sempre tal qual um ímã tem a convergência do nosso pensamento atraído, seduzido pelo prazer de tê-los como tais.

     Todas as imagens completam-se por sensações e pensamentos, são por si só um mundo em um momento, têm a força de uma história eterna na escassez do tempo, nos permitem sentir carinho, sentir força, sentir vida completa em nós com os outros, são um ponto que se prolonga no infinito como uma reta do nosso existir.


     Não sei se possível é, sei que não tenho em mim condições de fazê-lo, não tenho nenhum controle sobre as imagens que guardo e que se me apresentam no tempo, porém independendo da minha vontade elas existem e são parcelas importantes da minha vida, como seria bom se as tivesse sob meu controle, por mim escolhidas e definidas, hoje me contento em simplesmente vivê-las.    

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Alegria, não acabou o Cinema.

     Se o público morreu, e isso é constatado pelo escasso número de frequentadores, os filmes que tenho visto felizmente me apontam um cinema mais vivo do que nunca, tenho tido a oportunidade de ver duas ou três vezes por semana filmes de excelente qualidade, que conseguem envolver-me com reflexão, emoção e lazer, isso tanto nas salas do novo mercado dos shoppings como nos espaços culturais novos ou tradicionais de Porto Alegre.

     Não sendo um entendido no tema cinema, sendo apenas alguém que gosta de ver filmes, não me nego a analisar, quando vejo os grandes campeões de bilheteria, sempre tendo como foco "efeitos especiais", muito movimento, muita ação sem dar tempo de pensar para o público, vejo-os como os festivais de fogos de fim de ano, bonitos para o tempo que dure, onde saímos como entramos sem nada agregar a nós mesmos, apenas não vemos passar mais uns grãos na ampulheta do tempo, mas passaram e são impossíveis de recuperá-los.

     Muita gente boa dirigindo, filmando, dedicando-se a sétima arte, com muito pouco dinheiro e grandes resultados, isso em todas as partes do mundo, mas o público educado pela televisão, onde buscar o espaço da propaganda tem prioridade, pelo mundo dos games que enfeitiçam, pela internet dos vídeos de minuto, não pode se sujeitar a parar uma hora e meia para saborear a inteligência, a graça e a beleza de um bom filme.

     Talvez vocês tenham razão não é apenas no cinema que as coisas andam desse jeito, na literatura vemos o mesmo, com bestsellers que são obras sem poesia, com frases esparramadas em estórias que reproduzem jogos, repetem-se em si mesmas, construídas em série de muitas páginas, como filmes de continuação programada, me cheiram tanto livros como filmes ao mau perfume da indústria por encomenda.

     As teses têm continuação? As teses têm efeitos especiais? As teses têm o movimento contínuo de um carrossel maluco? Por certo não, elas têm algo a dizer e um filme ou um livro que não tenha nada a dizer não sei como catalogá-lo, penso, presta um desserviço à causa da cultura.

     Não pense que não acredite que se possa fazer cinema com a câmera de celular ou algo do gênero, não vai por aí meu questionamento, claro defendo a ampliação das oportunidades de produzir que as novas tecnologias alavancam, mas não posso aceitar que o faça quem nada tem a dizer, e essa parece ser a grande oportunidade do nosso século: muito espaço para quem não pensa.

sexta-feira, 25 de julho de 2014

O Tempo nos Escritos de Proust

     Relendo Marcel Proust, por sinal em tradução brilhante do nosso grande poeta Mario Quintana, que também prima pela sensibilidade e qualidade literária, em outras palavras somando arte do autor com arte do tradutor, o que encontramos é uma prosa que se apresenta como pura poesia, que encanta por seus devaneios e beleza estética.

     Mas o que me proponho a discutir com vocês é o filósofo Proust, esta característica do autor nos passa muitas vezes despercebida, escondido no texto que nos enfeitiça pelo seu mágico estilo, muitos de suas colocações sobre a vida encontram eco no meu pensar, e talvez o que mais me agrade é sua maneira de ver a questão do tempo.

     Ele o investiga, através do protagonista principal revelando as diferentes características identificadas pelo narrador que nos revelam os mesmos personagens com comportamentos completamente diferenciados ao contracenarem com ele em diferentes tempos da estória.

     Um pouco naquela linha do pensamento "O homem é o homem e a sua circunstância", que nos faz questionar o conceito de sermos uma personalidade formada e avançarmos no tempo defrontando-nos com os obstáculos naturais das relações sempre reagindo com base nessas características básicas que nos definem.

     Também me agrada demais a colocação de um mesmo fato analisado nos diversos momentos que o tempo designa ao consumidor deste, que quando trabalha esta ocorrência no hoje o desgostaria profundamente, trabalhando a mesma noutros momentos pode apresentar-se como algo completamente indiferente, ou como apaixonadamente prazeroso.

     Proust explora os dois lados da moeda, a mudança no tempo do protagonista que enxerga e do que é visto ambos não são mais os mesmos em cada porção de tempo, sendo que o primeiro ainda carrega uma imagem distorcida do que ambos eram em momentos anteriores.


     Gosto desta questão de nosso “eu” atual não reconhecer os “eu” anteriores, pois o vê com os filtros que hoje tem e principalmente de não conseguirmos avaliarmos os atos daquele outro eu, pois não éramos os mesmos.

terça-feira, 22 de julho de 2014

Nada Como um Bom Chute no Traseiro

     O processo é bastante claro para mim, trabalho minhas convicções, transformo-as em ritos, tal como nosso querido animal o Burro, empaco na repetição interminável dos mesmos, sou tentado a perpetuar o mesmo ritual tal como a Terra que não se nega nunca a girar em torno do Sol.

     Certo não é uma repetição simples de fatos, talvez esteja mais próximo de uma estratégia de enxadrista que privilegia a posição das peças no tabuleiro e não uma sequência de jogadas, pois dependendo do adversário na partida a posição será alcançada por diferentes caminhos.

     Sim às vezes só consigo mudar o rumo a partir de um grande impacto, tipo um bom chute no traseiro, isto é, um movimento claro do parceiro de jogo, que me encaminha decisivamente favorável à condução do mesmo, e me obriga a rever as posições do tabuleiro que tanto amava, percebo que necessito encontrar novas posições capazes de me trazer a força e o equilíbrio.

     A mãe natureza já nos mostrou esse caminho há milhões de anos, quando o impacto feroz de um ser celeste qualquer a obrigou a redefinir a vida na Terra, a era dos dinossauros terminava, outro vida começava a impor-se, nem melhor nem pior do que a anterior, apenas uma manifestação diferente que a impulsionaria para um novo ciclo de realizações.

    Temos nossos ciclos, compará-los carece de sentido, pois os mesmos aí estão para serem vividos, e sempre em plenitude, gratidão é o que devemos ter aos incidentes que em nós geram estas mudanças, podemos dizer que em cada um desses movimentos renascemos, e assim nos desvinculamos por completo do período anterior como exigência primeira para o novo momento bem o vivermos.


     Não podemos aceitar a monótona repetição das mesmas coisas, nem sempre somos os agentes da mudança, nosso convívio é sim uma grande oportunidade para a mesma, apesar de só nós mesmos podermos realizá-la. 

quinta-feira, 17 de julho de 2014

Desafio em TI Sinônimo de Resultado

     Estamos na véspera, fim de tarde, um possível cliente, de oito meses de bom namoro ele acreditando que podíamos representar um caminho, nós confiantes em ter soluções para um novo cliente, estávamos executando ambos nossos papéis, avançando dentro da normalidade de um ciclo de negociação quase sempre longo, era o momento do parto, ele necessitava de uma entrega no fim de dois dias, como ponta de um iceberg de um grande negócio, o desafio estava lançado.

    Tínhamos todos os ingredientes da receita, um belo problema na mão, felizmente bem conhecido pelo cliente, um time de analistas e desenvolvedores multifacetado em conhecimento, preparado para encarar desafios, uma ferramenta sólida, de grande produtividade e principalmente a vontade de todos os envolvidos em fazer a festa, terminar o namoro com um belo casamento.

     Claro o candidato à cliente podia ser outro, o time também, a ferramenta temos outras no mercado, porém a oportunidade colocou-se em nossa mão com o time da GX2 e com a ferramenta GeneXus e nos pareceu a grande oportunidade de solidificarmos nosso conceito de produzir soluções com métodos ágeis.
  
     Bom, era quinta-feira, desafio aceito time ajustado cinco profissionais, um tempo integral e os outros em tempo partilhado nascia a lista dos tickets "A SER FEITO", todas as tarefas discutidas na reunião de planejamento tempos previstos confirmando a possibilidade de em um ciclo de dois dias entregarmos o solicitado.

     Bom, à medida que os tickets iam transitando entre a fila "DESENVOLVENDO", onde a palavra de ordem era não travar usar de imediato qualquer recurso necessário visando fazer acontecer, para a de "TESTE" e finalmente para a de "PUBLICAR", passando pelo "FEITO" e quando necessário pelo "SUSPENSO", sentíamos a importância do desafio transfigurando-se em resultado.


     Bom vocês já adivinharam o final da história, na sexta, fim de tarde desafio cumprido, desafio sinônimo de resultado, por quê? Conseguimos tirando de lado todas as vaidades trabalhando como um grupo horizontal onde todos os envolvidos tinham a mesma meta publicar a aplicação no fim da tarde de sexta-feira e colocaram nisso todos os seus defeitos e suas virtudes.     

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Revivendo a Revolução Industrial

     Jornada de trabalho de quatorze horas, uma das características da Revolução Industrial renasceu, sim vejo milhares de trabalhadores nas paradas entre seis e sete horas da manhã e retornando entre sete e meia e oito e meia, isso de segunda a sexta, sem esquecermo-nos que muitos trabalham no sábado em turno reduzido, mas trabalham.

     Ou devemos contar apenas o momento que o ponto foi batido, desconsiderando que esses enormes períodos de tempo envoltos em conseguir transporte e deslocar-se entre o trabalho e a casa, nem o governo nega isso, validando-o através da lei que admite como acidente de trabalho os períodos de deslocamento de e para o mesmo.

     Olho para a família, como casal, os dois trabalham com objetivo de ter condições mínimas de sustentabilidade, com essa enorme jornada realizada pelos dois, o que realmente sobrou para a família, quando vejo críticas fáceis dizendo que os pais abandonam a educação dos filhos aos colégios, mas como educar os filhos entre nove da noite e cinco da manhã.

     Isso que obrigatoriamente passa esse período por necessidades de um terceiro turno na própria casa, em sua limpeza, preparação dos alimentos, higiene e cuidados pessoais, quando lemos as histórias daquela época e as comparamos com as de hoje, a modernidade em nenhum momento apresenta-se como solução que permita ao homem debruçar-se sobre si mesmo e apostar na sua felicidade e na da convivência com seus entes-queridos.

     Não estamos nem colocando o fato de o aperfeiçoamento das formas de coação no ambiente de trabalho, do quase inexistente conforto do deslocamento que tem como consequência a devolução para suas casas de pessoas emocionalmente prejudicadas, altamente estressadas, propensas a comportar-se inadequadamente onde ainda lhe parece possível desabafar que é exatamente com quem nada tem a ver com isso que são seus familiares.

     Meu amigo não se iluda, essa cadeia não é perversa somente com as classes economicamente desfavorecidas, estende-se também até bem perto do topo da pirâmide social, onde vemos as pessoas nervosas em seus veículos do início ao fim do dia, com um pequeno consolo consumirem mais sem fugir de nenhum dos problemas que antes colocamos.


     Vida equivalente à da Revolução Industrial em pleno século XXI nos envergonha como humanos, e clama por nosso despertar... 

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Top dez

     Circular entre as listas top dez define o viver século XXI assunto obrigatório nas redes sociais, nas mesas de chope, nas conversar das esquinas, enfim parece que só o muito clicado é realmente digno de ser vivido.

     Conversando com um amigo, refletimos sobre o tema, e concluímos o que temos é a mais absoluta falta de assunto, porém temos um guia prático para emitir alguns sons e sermos ouvidos, esses famosos top dez que iludem fazendo-nos pensar que estamos por dentro, por dentro do que? Bom, aí já é pedir de mais, é top dez e sou partícipe da maioria.

     Bom caro amigo as vantagens são óbvias, não preciso refletir, o tema está para nós como uma fratura exposta, visível, claro, já decidido e mastigado é só me manifestar sobre o mesmo, mais do que isso é só reproduzi-lo e serei aceito como parte do rebanho, sou maioria.

     Deve ser uma questão de economia, devo estar desinformado, algum relatório científico, certamente top dez, deve ter dito que parar e buscar algo dentro de si, refletir sobre essa busca, deve ser prejudicial à saúde física e/ou mental, e comentá-lo com alguém, deve ser altamente antissocial.

     A tecnologia não nos tem ajudado muito, não consigo vascular os meus neurônios, fazer um selfie do pensamento do momento, montar um pequeno filme, nem ao menos tirar uma simples foto, talvez isso seja a prova que o pensamento está em extinção, pelo menos poderíamos ter alguma ONG que defendesse a preservação do mesmo.

     Vamos admitir realmente se desconheço os dez mais não tenho como comunicar-me, sou considerado um cara sem assunto, desconectado, algo tipo um "Neo" que acredita em oráculos e pensa que existe um mundo onde as regras de Descartes são utilizadas na busca da verdade.


     Como vamos seguir o popularmente conhecido "Penso, logo existo" se em sua síntese ele tem como fundamento o ato de duvidar, o que é completamente vedado à geração top dez?  Talvez o futebol seja a solução é um tema que pelo menos gera milhares de teses admitindo o contraditório, acho que vou me aprofundar nesse tema e ganhar meu passe livre nas rodas de conversa...