domingo, 23 de abril de 2017

O Dia Que Me Revelei – Último Ato.

     Tinha colocado tudo a perder minando nas bases uma relação que era publicamente por mim jurada ser para sempre, de fato está no início do fim a partir dos fatos deste dia, por simples quebra de confiança, o sempre não existiria mais e desnecessário é dizer que fui eu que o interrompi, pelo detalhe de ser de minha natureza assim proceder.

     Não poderia ser diferente antes do sol se pôr estava expulso de casa, pode parecer estranho apesar de não querer romper a relação eu tinha consciência de que não havia nada a fazer, minha primeira reação foi sair enlouquecido à procura da outra, a parceira no momento da quebra do status quo vigente, procurava justificar dentro de mim tudo como uma paixão fulminante inevitável e estava disposto a entrar no epicentro do furacão jogar-me de corpo e alma como se envolvido neste encontrasse minha redenção.

     De fato não me dei conta no momento que também ela tinha quebrado regras, portanto ela lidava com suas próprias dificuldades, suas relações que me eram totalmente desconhecidas certamente a colocaram também nas cordas e por óbvio ela tanto como eu estava distante de encontrar o como justificar-nos, e assim aconteceu, o que nos uniu nos separou, foi impossível encontrarmo-nos novamente, por certo, este foi o amor mais perfeito de minha vida nunca tive oportunidade de maculá-lo.

     Alguns dias depois do emblemático sábado em um motel em pleno meio dia principiamos a difícil reconstrução da relação conjugal, nunca tinha deixado de amar minha mulher, menos ainda queríamos abortar a vida em família a qual lutávamos para viabilizar e assim entre altos e baixos labutamos por isso por uma dezena de anos antes da separação definitiva, o que envolveu de parte a parte muitas outras histórias e para ambos a alegria de um segundo filho, de fato ali naquele dia tudo tinha terminado era só uma questão de tempo.

     Talvez o que tenha tornado mais fácil manter tantos anos a convivência era o fato de que profissionalmente nossas vidas estavam em alta, viajávamos muito, o dinheiro era fácil e suficiente para ter um adequado padrão de vida, nunca desconsiderando a minha característica, teimosamente mantida até hoje, de sempre estar no limite da insuficiência, nunca acreditei em acumular apostando sempre em disponibilizar o melhor para quem comigo convive, não sei fazer conta de chegada, sei apenas que tendo ou simplesmente imaginando a possibilidade de tê-lo, estarei usando tudo no momento e por certo nunca me preocupei com sua falta futura.

     O que me mantém integro até este momento é saber que todos os partícipes do acontecido deram o melhor de si em todos os momentos e assumindo as rédeas de suas individualidades seguiram o plano de suas vidas na busca da felicidade e muitos e muitos anos na sequência dos fatos seguiram partilhando outras almas e situações e assim fizeram-se plenos de si mesmos.

   

sábado, 22 de abril de 2017

O Dia Que Me Revelei – Segundo Ato.

     A festa era política, também era alegria, música, bebida, comida, era social, sendo pessoas e relações tudo pode acontecer principalmente se as coisas já estão germinando embrionárias dentro de nós, poderia mentir para mim mesmo alegando resultado de uma bebedeira, álibi fácil com certeza, sei que estava sóbrio o suficiente para encantar-me com outra mulher, sempre soube que não existe posse e principalmente que não há relação exclusiva somos destinados a múltiplos relacionamentos e mesmo tendo me policiado até este dia a infidelidade crescia dentro de mim sem abrir mão do desejo de manter a família, não havia antagonismos e sim movimentos paralelos.

      Vi-me saindo com ela, tudo o que pretendíamos sintetizava-se em ficarmos juntos, em que lugar naquela hora do dia não vinha muito ao caso tanto para um como para o outro, quando nos demos conta simplesmente tínhamos abolido todas as circunstâncias desfavoráveis.

     Entendo que perdi, vamos admitir perdemos o que chamamos de discernimento, não que preze em demasia o conceito que quase sempre funciona como uma camisa de força, o fato é que perseguido por alta carga de adrenalina movia-me desprendido de todos os escudos de proteção, por consequência exposto a todos os riscos, independente de experiência, preparo e planejamento anterior que poderia ter, quando tomo a atitude de detonar o pavio aposto a priori na explosão mesmo que esta possa representar uma morte e um renascimento.

     Lembrar tudo é impossível, mas a sequência de marcas que ficaram é inapagável logo posso reproduzi-las partindo do encanto entre nós dois desligados do entorno, passando pela decisão de sairmos para um lugar onde pudéssemos curtir a intimidade e sem nenhum tipo de freio nos demos ao luxo de passar na casa do noivo dela pegar o automóvel disponível, despreocupados com todos que lá estavam, com nossos passos guiados só pela paixão.

     Tenho que admitir que juntar todos os lados, e são muitos, dos momentos vividos é impossível nem mesmo temos a certeza do que nos move quando mais entendermos todos os movimentos das pessoas envolvidas direta ou indiretamente com um dado fato, todos têm suas razões que independem complemente das nossas e que por certo nunca saberemos como definitivamente vão interferir na nossa vida, sei que de minha parte naquele momento não queria saber.

     Rumamos em decisão por nós não questionada em momento algum para o apartamento que fiz de meu, mesmo sendo nosso meu e de minha mulher, onde nossas profanas marcas ficaram gravadas nos lençóis violando o contrato antigo e em vigor de amar até que a morte nos separasse.


     Não tivemos nem o cuidado de apagar os rastros e evitar as testemunhas isso não nos passou pela cabeça, nós assumimos o ato publicamente sem nunca querer tê-lo divulgado, envoltos numa magia a dois que não questionamos apenas vivenciamos. 

sexta-feira, 21 de abril de 2017

O Dia Que Me Revelei – Primeiro Ato.

     Tudo andava bem, as questões relacionadas ao dia a dia colocadas no bom rumo, dinheiro não tinha nem faltava era suficiente para manter minha família agora acrescida de um filho e de uma casa em construção, na voz do povo algo tipo tudo nos conformes, o amor de uma mulher, a alegre beleza de curtir o primeiro filho, o lado profissional impulsionado por um vento favorável, amigos na medida do necessário tanto na família como na militância política e também no ambiente de trabalho, porém o pavio estava acesso e eu tinha consciência deste fato apesar de mantê-lo escondido de todos inclusive de mim mesmo.

     Sábado encontro da turma para fazer fundos para a campanha do nosso grupo político pertencente a ala mais à esquerda dentro do movimento trabalhista, feijoada feita no capricho, temperada com a discussão da estratégia política contra a ditadura agonizante e acompanhada das bem vindas caipirinhas e cervejas.

     Construí meu modo de ser dentro da camisa de força de uma família tradicional, catolicismo importado da Europa na vivência dos meus antepassados, genética germânica com sua inevitável carga de disciplina, organização e privilégios inegáveis. Riqueza? Não, uma vida simples de classe média baixa, frequentando colégio de religiosos por conta de sacrifícios financeiros, alimentação adequada somada à dedicação completa dos pais ao núcleo familiar, o diferencial parecia ser a potência do pensar crítico a empurrar-me sistemática e continuadamente na busca de romper esse círculo de proteção.

     Tudo andando nos conformes meu filho na casa dos meus pais, minha mulher que não gostava de política no trabalho, e eu a caminho daquele ambiente de discussão e diversão, espaço de resistência que eu não conseguia abrir mão em tempos de autoritarismo.

     E meu filho, eu tinha um menino nenê ainda, era sábado não havia outra opção do que estar na segurança da companhia dos meus pais, não teria como lembrar qual de nós dois eu ou minha mulher o tínhamos deixado lá, mas trazia-me a segurança de estar em lugar bem protegido, amado com certeza tornava desnecessária minha preocupação com ele, quanto a minha mulher tinha saído para trabalhar, sabia que ela voltaria no fim da tarde, confesso para mim não tinha nenhuma importância o que ela faria este era um problema que eu catalogava como de alçada tão somente dela.

     Lá pelas tantas meu foco estava em uma companhia muito agradável, alguém que agora nem lembro o nome, ela estava muito acima de uma nominação, era a cada instante mais tudo o que eu queria e eu por certo não fugiria.