Se dissesse que
o via assustado eu estaria por certo faltando à verdade, de fato o que lia no
seu rosto era projetado pela palavra atônito, talvez pudesse classificá-lo melhor
como pasmo por visualizar em todos os espaços a vida exposta a esse paredão,
condenada à morte, não à física que é o prêmio maior, e sim à morte inanimada
de andarilhos zumbis.
Cada dia mais
corpos sem alma anulando-se como os grãos de areia no vai e vem das ondas do
mar, apenas ocupando um lugar tapando buracos é o que lhe via angustiado a
observar, já não mais tinha esperança de ressuscitá-los via-os incapazes de
decidir e ele sabia que tão somente o ato consciente de optar pode definir
vida.
Alguém tinha
escrito o roteiro e as pessoas nos bares, nas igrejas, nas escolas, nas
empresas, nas ruas, assim mesmo em todos os lugares o tinham estudado decorado
suas falas, treinado seus gestos, eficientes o executavam como que negando o
tempo, fazendo o hoje ser o próprio ontem sinônimo do amanhã ele não tinha como
isso entender, como se pode sempre pensar que não há nada a fazer além de sermos
sujeitos do não ser.
O via acordar
todo dia e se alegrar pelo simples sair ou ficar na cama, sim tão somente pelo
fato de assim o querendo tê-lo feito, sua alma ia acumulando felicidade a cada
seu novo passo sempre resultado do julgar entre inúmeras alternativas a de
melhor escolha para aquele seu momento, em contraponto não lhe era novidade
cruzar todo santo dia por outros seus iguais que teleguiados em seus atos
impensados passavam embebidos por uma coleção de maus fluídos tipo ansiedade, angústia,
depressão, estresse, com suas almas tristes e mal-humoradas refletindo a
permanente disposição de descarregar agressividade e mágoa.
Mesmo sob o risco
de vivenciar as chacotas de um novo Dom Quixote não se permitia fugir de dar
testemunho do seu modo de vida, por certo para os poucos que lhe enxergar
conseguiam não tinha algoritmos a ensinar apenas podia mostrar o seu eterno
apreender e talvez motivá-los para em seus caminhos internalizarem encontros
pessoais com a liberdade que é consequência natural do resistir.
Justa é a tarefa
de preservar o direito a existência plena de todos com as suas vidas pessoais
intransferíveis, obrigatória é seguir a vocação do pensar em si por si mesmo
para o alcance da felicidade e assim pensando no prazer continuou o caminhante
convicto que tropeçaria ainda em muitos outros temas no rastro futuro do seu
tempo.