terça-feira, 21 de maio de 2019

Presos em Nossa Própria Armadilha.

                Bem-humorado tento compreender como conseguimos construir esta armadilha, na qual nem bem terminada, descobrimo-nos em um instante mágico, nela definitivamente aprisionados, como diz nosso poeta Gil a perfeição é uma meta defendida pelo goleiro da seleção, contra todos os prognósticos nos superamos embarcando nesta espiral destruidora das difíceis conquistas feitas por nossa jovem nação no último século.

                A cena que mais me veem á cabeça é a do cachorro correndo atrás do seu próprio rabo em um divertido mais infrutífero circular sobre si mesmo, com o tamanho que temos de riqueza territorial e de população, retirar moeda de circulação, estimular o seu acumulo no topo da pirâmide, só pode ter como resultado diminuição do crescimento e aumento da miséria, vamos dando voltas em torno de nossos problemas sem  encaminharmos solução.

                Comprando respostas prontas estendidas no varal da ignorância, o povo assim armado enfrenta os leões como opção de sobrevivência, quem lhes as vende bem sabem que a nada respondem, são meros instrumentos de ilusão a segurar o natural ímpeto de libertação, não que esta classe média agarrada nas migalhas que sobram da elite tenha as perguntas, apenas tem nas arquibancadas o terrível horror de um dia com a maioria estar no palco a gladiar.

                A fábrica de certezas desumaniza o homem ao retirar-lhe a capacidade de questionar-se, subtraindo-lhe o poder de tomar decisões, por isso a importância destas circularem em pouco tempo e em grande quantidade, no formato de palavras de ordem mantendo-o distraído enquanto tomam sob suas rédeas o controle de sua vida, colocando-o escravizado a serviço dos interesses de uma minoria.

                O medo é um divisor de águas na humanidade pois em inevitável reação ou conduz o homem a abraçar a morte em vida submetido a autoridade e disciplina ou o encoraja a engajar-se como rebelde resistente na busca em si próprio do caminho, assim caminham os homens autoritários a propagar o temor, oferecendo-se como resposta com o objetivo de exercer domínio.

                Todos os projetos autoritários sempre tratam como seu primeiro inimigo a capacidade do pensamento crítico porque em sua fraqueza não podem aceitar serem contestados e como aliados a crença em um ser superior que tudo sabe e a todos julga, do qual se dizem escolhidos validando assim quaisquer de seus atos apesar da natural insegurança.
  
                O ato de viver só é prazeroso quando sabemos e curtimos sua finitude, só podemos ser felizes entendendo as leis do acaso que é o nosso grande maestro e sob sua batuta desconstruímos o conceito de bem e mal considerando que todos os caminhos em todos os momentos são merecedores e dignos de nossa imersão por completo como sinônimo de plenitude.

                Aprisionados nas teias que tecemos fortalecemo-nos na investigação, no questionamento, na consciência de homem livre que nos integra na natureza aumentando nossa potência e assim percebemos que a liberdade é impossível de nos ser subtraída a não ser por nós mesmos ao optarmos pela escravidão.

quinta-feira, 16 de maio de 2019

Desafios na História do Empoderamento

                No céu encoberto de uma humanidade em crise de identidade no que lhe é mais caro a sua natureza humana, o desafio da construção do super-homem de Nietzsche aumenta sua sedução e nos lembra sua profecia que o mundo em sua época não estava preparado para sua “transvaloração dos valores” e que o futuro saberia lê-lo.

                Quanto mais nos aparecem salvadores tanto mais somos instigados a entender a vida como ela é para cada um de nós, este caminho da rejeição da verdade do outro como suporte para o meu viver, receita da muleta tão em moda no discurso dos redentores da humanidade, realiza a construção do homem livre.

                A insanidade dos dogmas instantâneos que o momento atual estimula, por  sua farsa, por sua continuada negação de si mesma, abre o espaço para desacreditar as teses que sustentam o efeito rebanho dos ficcionistas da verdade e nos permitem ir de encontro á vida no que ela tem de mais belo sua permanente incerteza.

                Assim me moldo a mim mesmo como agente de uma vida particular que só eu posso experimentar e absolutamente solitário posso cumprir minha vocação na direção do outro andando sempre lado a lado com ele, ambos transmutados em expressões puras e simples de próprio existir.

                O comportamento de rebanho onde a continuada exigência de atos de fé em contradição com o livre viver aponta por todos os lados sua funesta consequência, cada vez mais vemos falta de alegria, desanimo e depressão que ou negam o direito a existência ou desaguam em bestial violência e como bem sabemos os dois representam o desamor por si próprios.

                Enquanto nos distraímos com os redemoinhos provocados pelas correntes de ar das redes sociais esquecemos de nós mesmos ao buscar lhes respostas intelectuais, esta resposta está na rua no dia a dia que vivemos, no continuado ampliar do cuidar de si mesmo com o carinho de quem sabe do quanto é importante amar-se.

                Não necessitamos de oráculos, não precisamos de seguidores, mais do que respostas almejamos perguntas, abaixo a tranquilidade das verdades para que estas sejam substituídas pelas incertezas com seu poder de nos impulsionar para simplesmente ser vida.

                Não aceitando o desafio da própria desconstrução estamos nos creditando a sermos escravos da ignorância e da mediocridade abrindo mão de nossa humanidade e do papel de construtores de um mundo melhor, estamos entregando nosso destino à morte em vida.