Independe de vontade o
acaso é a oportunidade imperdível para quem se prepara, em nossa ampla tolice
imaginamos construir caminhos, sendo de conhecimento nosso que eles existem
desde sempre e o que nos cabe é descobri-los, prepararmo-nos significa
libertar-se da arrogância e desobstruir todos os empecilhos à manifestação
plena dos nossos sentidos, habilitando-nos a jogarmo-nos por inteiro na
corrente do rio que nos leva à plenitude.
Todas
as vezes que insensatamente sem olhar para mim mesmo construo castelos de areia
pensando serem obras perenes, assim o faço por guiar-me pela lógica ditada por
pretensos profetas de uma vida externa à minha, quando por certo a mais
minúscula obra só pode nascer de mim se partir do eterno conhecer-me, que se
revela pelo observar-me no maravilhoso espelho que é o outro.
Esmiuçando
cada gesto de outrem na geografia dos traços físicos humanos, seus fazeres mesmo
que imóveis, dizeres mesmo que em silêncio, adivinhando o pensamento que os
move não para classificá-los e sim para julgarmo-nos no único tribunal justo
que é o do encontro de nós mesmos, construímos internamente um novo ser a cada
momento e essa transmutação continuada é o que podemos chamar de estar vivo.
Nesta
guerra desenfreada entre a natureza e os homens e destes entre si, de fato quem
morre são sempre todos, evitar essa perda passa pelo olhar caridoso de quem
compreende a complexidade do outro e decifra em si todas as pretensas maldades
e bondades com as quais impensadamente etiqueta-o, como se na essência não fôssemos
todos feitos do mesmo barro, não vivêssemos as mesmas angústias e não
partilhássemos a enorme ignorância sobre quase tudo do universo.
Nunca
imaginei ser este um caminho fácil, porque o fácil tende a ser efêmero e vazio,
sempre tive a percepção que felicidade exige atenção e dedicação a quem conosco
compartilha o universo, independente do tipo de ser e o que ele represente,
deve ser alvo de todos os nossos sentidos.