Não escrevo em
primeira pessoa por entender de respostas e sim por não saber as perguntas, por
buscá-las com insistência e afirmá-las como rastos vivos de um existir,
encontrada a questão certa, transito por um terreno mais calmo, sem
sobressaltos, caminhando ao encontro de momentos de realidade, verdade relativa
minha e são nesses que acredito nos eventos reais de cada um, para um instante
muito específico de uma pessoa em particular temos a resposta correta para a
pergunta certa, o que podemos definir como o orgasmo de um espírito, quantos
mais o tivermos mais inteiros o seremos.
As tentações são
enormes para criar o meu deus, com ele conseguiria ter todas as respostas e
obter todos os perdões, além do bônus de ser eterno, venço-as não por
puritanismo e sim por teimosia, eu poderia estar mais próximo de naufragar na sedução
do panteísmo, o famoso Deus sou eu e o todo, apenas não
consigo gostar de bengala, transitando no meio que acredita no conceito de
eternidade definida como o pequeno espaço de tempo onde como espelho sou confronto
ao outro, assim oportunizo descobertas, concluo ser o contraponto para alguém
já justifica por completo o existir.
Não estamos
falando de palco lotado, estamos falando do clamor no deserto, levantar a voz
na solidão do homem para poder ser ouvido por si próprio, esse maravilhoso
mecanismo de falarmos conosco mesmo, de concentrarmos argumentos nas diversas
direções que se nos abrem cada tema, distribuindo nossos veredictos
contraditórios na busca de um consenso conosco mesmo, sem dúvida uma dádiva
abençoada com a qual nos contemplamos.
Cada um tem a sua
morte própria, pessoal intransferível exatamente do seu tamanho, verdade expressa
pelo poeta Rainer Maria Rilke, dignidade perante mim mesmo é o meu sonho de
morte, os outros nada tem a ver com isso é uma questão pessoal não passa por
ninguém senão por mim mesmo, o que me permite ser aceito, marginalizado, reconhecido,
contestado, apoiado, ignorado ou percebido e em quaisquer desses casos posso eu
valorizar de forma positiva as opções de outrem por respeitar a sua dignidade.
São essas algumas
cartas na mesa que fazem neste momento a definição legítima e particular que
direciona e justifica meus movimentos, descarto como fator de mudança os tão em
moda agrupamentos e sustento para tal o desabrochar de individualidades que
somadas em ritmo crescente vão transformando de dentro para fora este
envelhecido modelo baseado na hipocrisia aí estabelecido.