terça-feira, 20 de dezembro de 2016

As Montanhas que a Fé não Remove

     Diz o dito popular que a fé remove montanhas o dia a dia em sua realidade parece discordar não só por sua comprovada incapacidade de afastar obstáculos geográficos como por sua impotência quanto a quaisquer mudanças para um homem melhor a não ser que nos arriscássemos a considerar aperfeiçoamento a perda da liberdade que se manifesta em um livre-arbítrio definido pelo estranho direito de abraçar uma verdade que a priori não é a sua e sim uma bondade de terceiros de uma entidade iluminada fruto de nossa fértil imaginação ou ainda a humilhante submissão que nos joga no masoquismo de uma censura permanente de conceitos cultuados por um código acordado de bom senso, portanto não nossos e que resulta no eterno abrir mão do crescimento como ser humano.

     O exercício despótico do poder é o primeiro monte intransponível não só a fé não o vence como até existe uma estranha aproximação entre ambos, onde há poder a fé cresce em sua proximidade, quase sempre cúmplice ajudando sua ampliação, conduzidos a respeitar e cooperar com o sistema dominador constituído independente de seu perfil, infelizmente nas questões da fé sempre se encontra intermediários com autorização para interpretar as tábuas da lei dentro de suas conveniências, para esse interposto sempre é aconselhável servir aos dois senhores ao que ele próprio criou para escravizar o homem e ao que pode pagar melhor por esse escravo, podemos ter certeza de que não é ao acaso que os arautos da fé estão sempre qual mariposa no entorno da luz a circular em torno do poder constituído.

     A diversificada fobia da discriminação é um segundo cume intransponível sua própria natureza com o conceito de eleitos estabelece a diferença entre os que acreditam e os que rejeitam o pacote fechado de bondades e culpas, a partir dessa primeira separação entre o trigo e o joio todas as outras se tornam possíveis muitas vezes desejáveis escudadas por leis e juízos falando em nome de um pseudo bem universal, como se pudéssemos simplificar todas as coisas nesse dualismo, discriminam-se comportamentos, gêneros, grupos sociais, raças que injustificadamente são associados ao mal por seu pensamento desalinhado das regras por definição cegamente aceitas.

     A perversa escravidão do homem pelo homem talvez seja o obstáculo mais difícil senão impossível de ser transposto prega-se o sucesso como uma benção mais forte do que o sentimento de justiça mesmo que esse sucesso seja o acúmulo de mais valia, movimentos de caridade milimetricamente calculada justificam a expropriação indevida como se distribuição das sobras pudesse limpar consciências, de fato agrupam-se rituais de mais iguais cobertos de méritos auto-ortogados em nome de um sobrenatural que os isenta dos compromissos com a humanidade.


    O que remove montanhas não é a fé e sim o compromisso com o gostar de si ao limite de transcender a submissão que nos diminui tornando-nos livres senhores tão somente de nós mesmos e como tais andando lado a lado cooperativamente com outros também libertos venceremos todos os obstáculos com os quais nos defrontaremos.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Conversa insana de bar

     Em torno de um trago línguas soltas refletem pensamentos do momento onde quase sempre mais vale ganhar a discussão do que ter razão e parece que o mundo virou uma enorme mesa de bar, o que por si só não é um mal caso como na parceria do boteco noutro dia estivesse tudo zerado pronto para um novo apito inicial e bola pra frente, a brincadeira do momento é juntar frases em forma de argumento sem compromisso com nenhum embasamento teórico ou prático, pensá-los está fora de cogitação é na força do grito palavras de ordem definidas como verdade primeira, portanto dispensam quaisquer justificativas ou razão desde que sejam gritadas com raivosa agressividade por falsos surdos empenhados em falar e descompromissados com o ouvir.

     Para que ler um livro se posso em qualquer citação ver a frase que me interessa mesmo que esteja fora do contexto da obra original ou inclusive que resulte de uma falsa interpretação desta, o importante é que me dê à razão e assim sirva como token incontestável a autorizar-me a gritar meus cantos de uma guerra antecipadamente ganha já que não reconheço o direito do adversário de ter algum tipo de reação inteligente, em outras palavras venço por decreto consagrando um desrespeito ao oponente e quase sempre derivando para um descambar em burlescas agressões como se o xingamento fosse a própria razão, por infelicidade é isso que encontro na maior parte das manifestações.

     Vejo também que nem sempre dá segurança este comportamento simplório muitas vezes é de bom tom ceder à tentação de criar nossas próprias mentiras falsificando os fatos no sentido de certificarem a nossa versão preferencialmente nos servindo como fala o dito popular de que um fato inventado repetido muitas vezes torna-se real no imaginário de quem nos cerca e até nós mesmos de modo inconsciente o renegamos como fruto de nossa fértil imaginação, satisfeitos propagamos inverdades sobre terceiros que como as penas de um travesseiro depois de espalhadas pelo vento impossível de ser recuperadas serão.

     Parece parte da receita nunca deixar de utilizar as ditas palavras sagradas Deus, família e propriedade, que tem a força de em seu nome validar qualquer coisa independente de ser uma simples argumentação, um ato violento ou até uma guerra de extermínio via subnutrição via desequilíbrio emocional via humilhação reiterada como o são as batalhas modernas, pois embora não sabendo os porquês essas invenções do homem permitem-lhe exercer a autoridade de tão bem plantadas que estão na dita moral da humanidade, chega a ser incompreensível pela negação de seu próprio significado os atos que se executam em nome dessa santíssima trindade de vocábulos que no fundo significam uma e mesma coisa o direito de exercer poder.


     Confesso minha impotência para lutar contra esse quadro mesmo assim não cedo ao impulso de retirar-me do campo de batalha, permaneço partilhando este mundão mesa de bar mesmo sendo a minha posição minoritária a que propaga e mantém a esperança do fim da exploração do homem pelo homem.       

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Descaminhos, o Homem e sua consciência.

     Pois é quando falamos do moralmente certo ou errado como indivíduo, o modo como cada um se percebe, da maneira que expõe suas motivações pessoais em suas manifestações públicas à interioridade que as mesmas desnudam ou nos obrigam a admitir o descaminho da consciência por forças de manipulação do coletivo ou somos forçados a aceitar que os novos tempos estejam carregados de um individualismo insano por sua superficialidade e egocentrismo autodestrutivo, cada qual com seu ódio gratuito feroz dispensado de razões que não justificam simples e puramente o seu existir.

     Fica dia a dia mais transparente na ingenuidade e virulência de seus argumentos a legião dos incapazes de vivenciar, experimentar ou compreender seu mundo interior, envolvidos que estão na superficialidade de palavras de ordem que colocam foco não apenas no desmerecimento do outro como também na atitude de agressão tanto por palavras como por atos assim compensando sua falta de autoestima com este falso autoelogio que é a diminuição de outrem, jogam no time que vê seu próximo como concorrente logo alguém a ser vencido.

     Prefiro sempre desconfiar dos acasos em particular da direção majoritária dos ventos da opinião e dos fenômenos políticos de efeito dominó em blocos de nações de forte sujeição econômica ao império, respeitadas as diferentes situações de maturidade política social e econômica as desestabilizações de estruturas de poder e sua renovação seguem sim uma preparada receita de bolo com objetivos maiores que os interesses internos do povo desses países.

     De qualquer maneira não podemos esquecer os esforços permanentes de orientação externos voltados a adequar a educação às necessidades de mão de obra para o dito mercado global, foco sempre na operação, buscando a formação de operadores para o sistema, desprestigiando o pensar global que coloque em risco a engenharia de poder hoje existente, na opinião deles o que o mercado necessita são especialistas de preferência desconectados das mobilizações em redes globais voltadas à realização do homem e da humanidade e em particular na desvinculação com a sua comunidade local.

     Quando recordo das discussões no passado sobre propaganda subliminar no intuito de ultrapassar a camada de segurança da consciência despertando o desejo do consumo livre de filtros individuais, constato que em nossa ingenuidade não nos apercebemos que isso seria utilizado para gestão dos homens a nível global, o simples fato de a sociedade ter geometricamente aumentado sua conectividade com a consequente escuta e armazenamento em grandes bancos de dados dos comportamentos individuais e coletivos permite hoje dar a mensagem correta, mesmo que fruto de falsificação grotesca, na mídia e nas redes sociais e assim obter a modelagem dos comportamentos políticos dentro da sociedade no chamado efeito rebanho. 

domingo, 4 de dezembro de 2016

Esparrama-se a Morte no seu Duplo a Vida.

     Em todo o acontecer o seu duplo faz-se presente o que nos facilita interpretar o existir por sua própria negação e amplia as possibilidades do nosso ponto de vista, portanto potencializa o pensar, desdobrando-se em várias visões com os seus diferentes ângulos consigo ver o que aparenta ser um mesmo fato que assim despido se mostra por inteiro a nós com sua existência multidimensional quem sabe uma extensão da realidade expandida hoje anunciada como o futuro na sua dimensão virtual.

     Na prática só me é permitido entender o carinho ou a agressão representada por uma delicadeza ou por uma grosseria independente de ser física ou intelectual se puder me colocar não só sobre a perspectiva do amante e do amado do agressor e do agredido como também de todos os partícipes diretos ou indiretos da ocorrência, deveria ser capaz não só de avaliar o dar e o sentir de um beijo o dar e o sentir de um soco independente de real ou figurativo, representado por sua imagem de um sorriso projetando felicidade ou de um olho roxo indicando dor, de um espírito enaltecido ou de uma alma humilhada como também das suas consequências nos parceiros que em sua cadeia de relacionamentos os atores irão interagir em sequência ao ato original.

     Do mesmo modo que vivo um pouco a cada instante posso exercitar a morte passo a passo consciente que não devo considerar essas duas ações entre si analógicas e sim complementares, sempre que possa virar-me do avesso pela percepção de que somos olhares e de que somos dados simultaneamente acumulo análises ampliando-as, à medida que consiga avançar ainda mais a ponto de sair de mim mesmo e visualizar-me pelo outro, sim não desconheço que são tantos outros, mas quanto mais o forem maior o big data que tenho à minha disposição a permitir-me construir os algoritmos necessários do verdadeiro conhecimento da minha essência isto é da própria existência que sabido transcende em direção ao outro.

     O tom é a competição não aquele da sonhada construção de um mundo mais justo pelo crescimento do outro como baliza da melhoria global onde cada passo acima de um leva os outros consigo e sim o do rancor dos fracos de espírito incapazes de avançar e que por isso concentram todos os seus esforços para diminuir os outros assim satisfazendo seu amor próprio pela comparação entre os piores carregando consigo a humanidade nesta queda livre o desfiladeiro da desesperança.

     Esparrama-se a morte no seu duplo a vida cada vez mais apequenada em um tempo que é hoje diminuída por esta volúpia do movimento esta superficialidade das leituras pela metade e das manifestações impensadas, da visão estreita de um espírito mal formado incapaz de entender a diversidade das pessoas das coisas e dos fatos, assim o é não pelo acaso, mas pela ação deliberada de uma sociedade que necessita em todos os níveis especializar-se com intuito de ter o suficiente número de peças para o bom funcionamento desta máquina infernal que é a sociedade capitalista com seu objetivo de produzir lixo destruindo a natureza acumulando riqueza e semeando angústia e infelicidade.    

sábado, 19 de novembro de 2016

Cuidado são Frágeis os Humanos

     Andar juntos partilhando uma mesma direção exibindo pequenas amostras de nós mesmos exige cuidado justifica a apreensão já a partir do primeiro passo, não estamos falando de temor nos referimos à atenção ao carinho pelo existir do outro, encontros são sempre suscetíveis ao impacto interior em quem conosco se defronta o fato de sermos apesar de semelhantes únicos torna inevitável todo encontro ser sinônimo de confronto e como tal produz mudança.

     Quantas vezes por demais envolvidos com almejados projetos pessoais nada vemos além do nosso marco existencial interno e desabamos sobre outrem expectativas em nada pertinentes a quem nos acompanha pelo simples fato de nunca as termos negociado com este que deveria ser o nosso parceiro do caminhar, não pretendemos dizer que todos esses nossos temas não sejam candidatos a participarem da relação, pelo contrário, tudo que nos diz respeito é naturalmente interessante para este desde que cada palavra pensada, dita, cada gesto executado seja acompanhado do honesto perscrutar do efeito no outro como cuidado e prova de respeito igualitário entre nós.

     Nossa dimensão social é inegável, as junções de pessoas em diversas atividades de trabalho de lazer da exposição ao simplesmente existir vão acontecer, inclusive mais do que ocorrer vão deixar marcas em todos que participam, quando são em grupo todos estamos um pouco protegidos pelo anonimato da direção das palavras e dos gestos cada um pode tomá-los como não relevantes a si, porém quando vivenciados a dois não há como fugir tudo que é feito destina-se ao outro e é percebido por este como inevitavelmente destinado a si.

     Admito que possa não parecer natural que nossos atos que por direito são apenas de nossa vontade e responsabilidade tenham que ser por nós avaliados em seu impacto a quem deles participa, veja não estamos falando em bem ou em mal e sim de mudança, porém esta é a base do conhecimento humano apalpar a cada atitude o prazer e a dor em nós mesmos e nos outros, o que talvez até possamos definir como a essência do próprio existir humano.

     Um pouco por esse caminho aparece a dificuldade do acesso à felicidade que hoje encontramos nos seres humanos, obrigados ao despropósito da velocidade superficial do mundo contemporâneo com suas metas de consumo e poder são levados a reagir insistentemente às provocações cinicamente planejadas para evitar o tempo do pensar em si e menos ainda no outro, vale o grito de alerta cuidado que são frágeis os humanos busquemos qualificar nossas relações com o sadio dispor dos tempos de ouvir e de falar, com o prudente regular do agir e analisar as reações a cada nossa ação com o objetivo de ir moldando saúde a cada passo na direção do outro.        

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Abandonando a Máscara: Elite Econômica Assume o Poder.

     Momentos inesquecíveis são estes onde os donos da economia mundial resolvem eliminar os intermediários e assumir o poder, por todos os lados os movimentos são realizados nessa direção, o impulso da tecnologia de gestão das redes sociais o possibilita, suas manobras que permitiam tirar e colocar governantes lhes custavam encargos econômicos que hoje lhes parecem desnecessários se têm o controle porque não o exercer de fato e de direito, usando estas leis que sempre estiveram a seu serviço.

     Seus escravos feitores sempre cumpriram com fidelidade canina a proteção do falso investimento, na verdade espólio do trabalho do ser humano indevidamente apropriado em nome da tradição família propriedade e abençoado por seus deuses inventados, para esse trabalho os capangas só exigem pequena participação privilegiada no consumo de quinquilharias, as mesmas que no passado os impérios ofereciam aos habitantes dos mundos conquistados em troca de sua terra sua riqueza e sua liberdade.

     A velocidade do acontecer das mentirosas disputas entre empresas que de fato são dos mesmos donos nos leva a abrimos mão de pensar e viver, distraídos que somos por processos de disputa das migalhas do poder econômico que sempre concentra renda na mão dos mesmos, brigamos com o inimigo errado que são nossos iguais em uma verdadeira briga de foice no escuro na qual nos envolvemos na busca de um reconhecimento pela nossa dedicação bovina ao poder estabelecido.

     Entre nós a mediocridade impera acostumados que somos a um conjunto de frases feitas a justificarmo-nos como candidatos a posições que nunca serão nossas já que estão ocupadas pelas oitenta famílias que têm em conjunto a mesma propriedade que quatro bilhões e meio de seres humanos, se temos só oitenta vagas porque disputarmos entre milhares um lugar nesse oásis passando por cima de tantos, bem o sabemos que na verdade tudo caminha para diminuição dessas vagas pelo continuado injusto processo de acúmulo dos bens.

     A História nos mostra que abrindo mão de nossa existência individual nos colocando a serviço incondicional de quem comanda o que encontramos é apenas a ilusão de um poder, que não sendo nosso envaidece-nos por ter outros miseráveis iguais a nós sob nosso falso controle e nosso canibalismo apenas engorda os poucos poderosos de sempre.


     Tal qual peixe defronte à isca no anzol nos deixaram envolver por oportunidades inexistentes que só nos levam à autodestruição usando uma pretensa liberdade que nos coloca a serviço da ampliação imoral da injustiça do homem frente a si mesmo o que hoje já está tão enraizada dentro de nós que passou a ser um ato de fé a ponto de a elite econômica poder abandonar a máscara assumir o poder no sistema construído por ela e para ela com nossa ajuda inocente via luta fratricida contra nossos irmãos.          

sábado, 22 de outubro de 2016

Ponto Zero onde a vida e a estória se confundem.

     Somos todos escritores de estórias e as escrevemos para nelas acreditar, criamos nossa fé à imagem e semelhança do que nos conforte e justifique tornando para nós mesmos suportáveis nossos atos, não satisfeitos partimos para evangelizar a todos que encontramos pensando também destes encontrar a aprovação não dos nossos passos visíveis e sim daqueles secretos que tão bem escondemos e tememos que em algum dia sejam percebidos por outrem.

     Somos todos nós personagens de estórias escritas por muitos e diversificados autores com suas controversas e contraditórias biografias não autorizadas a nosso respeito onde nos vestem das fantasias que têm conosco nos reinventando à sua maneira, não que necessitem nos depreciar ignorar ou valorar é que se lhes exigem que cumpramos à nossa revelia o papel que lhes serve de alforria para os seus atos executar.

      O rastro deixado pelas letras espalhadas em diferentes pensares quase inelegível não nos permite montar um personagem são quase testemunho de nossa inexistência, percorremos nossos escritos e os que deixaram sobre nós buscando um equilíbrio que nos defina, tal montagem mostra-se impossível não pela complexidade sim pela parcialidade do montador que segue seu próprio roteiro.

     Se assim o imaginário nos escreve é porque nossos passos cambaleantes nem são tão próprios sendo sem dono refletem o multifacetado sonho de ninguém definido, certamente uma força desconhecida imprecisa de um ser que também criamos o que não mais permite separar o criador da criatura, certo é que não há espelho onde possamos algum dia olhar nossa imagem, logo mais um ponto na contabilidade de nosso inexistir.

     Perguntas-me porque assim me questiono se nunca me belisquei à procura da dor que me defina de pronto lhe respondo que é o que mais faço não sendo nenhum ato e nenhuma dor de fato em nada semelhante à outra resulta que vivo constantemente como o mar na areia da praia no seu eterno diferenciado ir e voltar jogado no ponto zero onde a vida e a estória se confundem em mim. 

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Sonhando em Ser Lobo, Devorada é a Ovelha.

     No imaginário identificava-se como lobo e adquiria o poder de comer muitas ovelhas assim seguia pastando os seus sonhos carnívoros no campo desandou a defender o direito dos lobos a servir-se de seus iguais no rebanho como se assegurasse para si um futuro promissor não mais de ovelha sim de lobo em seus devaneios não percebia que apenas validava o direito de a transformarem em um lauto jantar.

     Um lobo necessita de muitas ovelhas para viver talvez a cada dia faz-se necessário uma nova vítima, carnívoro como é sem esta morte, morto está, assim é construída a pirâmide da carnificina justificativa para grandes rebanhos de ovelha no interesse dos poucos lobos e estes por sua vez não se dão conta que exterminando o rebanho se condenam também à extinção.

     Na natureza esses exemplos reproduzem-se por todos os lados na ampla cadeia do existir onde cada morte alimenta outro ser sendo todos ora predador ora presa cada qual em seu adequado momento o que nos levar a pensar que não falamos de organismos unos e sim parte de uma coisa maior que é a vida.

     Este festim não só observamos e estudamos como o usamos para construir nossas teorias sociais e econômicas antropofágicas em uma sociedade hoje pautada pelo imaginário direito de sermos lobos de nós mesmos onde parece não conseguimos perceber nenhum dos paradigmas das fábulas acima descritas, ou seja, de que um lobo necessita devorar muitas ovelhas para sobreviver e como todos somos ovelhas candidatos a lobos sonhamos viver à custa de nossos semelhantes que por sua vez alimentam a mesma utopia em uma cadeia interminável de autoextermínio.

     Não pareceria muito mais simples sabendo de antemão que produzir para todos capazes somos de distribuirmos em parâmetros mais justos a produção do todo evitando ao máximo as grandes desigualdades, mobilizando-nos de modo cooperativo para um trabalho dirigido a saciar a humanidade e não o indivíduo, em que nossos talentos diferenciados somem-se em lugar de buscar subtrair do outro.

     Nosso domínio do conhecimento e da tecnologia nos garante permanente crescimento da riqueza, ocuparmo-nos em crescer e inovar nós poderíamos em lugar de gastar grande parte de nosso esforço a saquear o trabalho do outro em proveito próprio como se essa extorsão fosse a nossa única chance de bem viver, o alto custo desta guerra fratricida nos rouba a possibilidade de abundância para todos assim sonhando em ser lobo formamos uma pirâmide de devoradas ovelhas.                  

sábado, 8 de outubro de 2016

O Triste Canto Bipolar das Urnas

     Eleições em 2016 com seus resultados bipolares de um lado o grande vencedor a abstenção os votos brancos os votos nulos do outro a consolidação do golpe com o poder nas bases municipais distribuído entre os partidos de direita com direito a cereja do bolo da alegria infantil pelo esmagamento do projeto de poder do partido dos trabalhadores, ou seja, refletimos como população tanto de um lado como do outro da balança uma mesma sensação de “Não estamos nem aí para o governo, simplesmente o sofremos”, um negando voluntariamente seu direito ao voto e outro mais preocupado com a vingança e o aniquilamento de um projeto político.

     As redes sociais manifestam certo ufanismo pela derrocada da esquerda nesse último episódio eleitoral, está cristalizado nas manifestações postadas um gostinho de vingança o que podemos creditar a existência de uma grande mágoa por repetidas vitórias eleitoral do time liderado por Lula, a direita festeja muito mais uma vendeta do que a alegria pela conquista do poder municipal pelos seus candidatos percebe-se assim um ar de alma lavada.

     As manifestações do pessoal da esquerda por outro lado demonstram atordoamento frente ao resultado onde em quase todos os cantos não conseguiu nem chegar ao segundo turno mesmo havendo uma clara opção pelo voto útil como em Porto Alegre, suas colocações na rede espelham que, apesar de entenderem as dificuldades do momento esperavam números melhores, um sentimento de que iniciar do zero é preciso sendo reconstruir-se no médio ou longo prazo a única opção que sobrou.

     Não nos é difícil entender o cenário que gerou os resultados, uma operação de desmonte da esquerda iniciou-se a partir da segunda vitória da presidenta Dilma admitamos trabalhada nos três poderes e com o engajamento da grande mídia no processo, no legislativo a busca da salvação individual ante sua unânime imoralidade no trato dos bens públicos viu no golpe a oportunidade de autodefesa e perdão, no judiciário elitista nação particular eternamente ocupada com o aumento dos seus privilégios no seu vazio de poder encontrou na escolha de alvos seletivos apoiado na mídia seu momento de notoriedade, no executivo esgotado em sua capacidade de construir soluções públicas sem partilhar a maior parte dos recursos na rede de cumplicidades interpartidárias corrompidas por compromissos visando tão somente à manutenção do poder.


     Canto triste sim porque repleto de desencanto possibilita a minoritária elite de sempre continuar sua espoliação predatória do que é de todos, aumentando as já enormes diferenças sociais agora com o apoio de iludidos candidatos a ascensão social manipulados pela mídia parte interessada comprometida com o espólio acrescida pela força do uso cientifico das redes de comunicação, transformaram nós todos em instrumentos uteis ao dirigir nossa luta contra alvos equivocados propositalmente plantados e assim permitir o aumento da exploração do homem pelo homem que é o único caminho da acumulação capitalista.         

terça-feira, 20 de setembro de 2016

Oh Meu! Pare de Mentir para Mim.

     Como queres que eu entenda sua inteligência seletiva que finge não perceber que a grande maioria da população não tem nenhuma possibilidade de competir contigo, insistes em catalogá-la no rol dos desinteressados pelo trabalho pela vida por atingir qualquer objetivo, se tivesses os pés na realidade serias sabedor que este local de chegada é inexistente, quando muito um ou outro caso prêmio de exceção no sorteio do acaso ocorre apenas para justificar a regra, essa verdade que você plantou em si mesmo sabendo nascida morta em sua lógica já que acreditar em oportunidades iguais para diferentes potenciais nada mais é do que discriminação poderosa exercida em benefício dos mais bem aquinhoados.

     Mais difícil é acreditar na sua visão econômica que esconde o fato de que qualquer acumulação só pode ser possível de ocorrer pela apropriação indevida do trabalho de outrem, algo que a simples operação matemática que envolve a quantidade obtida de cada um multiplicada pelo número de forças de trabalho alocadas bem demonstra, quanto e de quantos mais essa é conta direta da mais valia transformada em lucro sempre que possível reaplicada em capital, tanto mais tiro direta ou indiretamente de tantas mais pessoas mais eu tenho, o mais cruel disso é que forçosamente para manter esses privilégios precisamos de um enorme número de despreparados obrigados a se sujeitar a um estado tão próximo da insuficiência mínima que os jogamos no fio da navalha de um lado trabalho humilhante e do outro encaminhamento ao banditismo.

     Está bem que eu não tenha lá muitas luzes, todavia percebo não precisar de tantas para visualizar o que está em jogo em cada casta, sabidamente só tem um o próprio banqueiro do jogo como o seu ganhador final, organizados em castas onde em cada uma delas são distribuídos bilhetes para concorrer a um avanço de nível, o número de vagas além de ser limitado é determinado por um sorteio dirigido onde eventualmente não se consegue evitar um penetra o que não chega a ser uma perda, pois cria o mito da possibilidade de furar os bloqueios servindo também talvez até melhor ao sistema, resta a todo mundo continuar a fazer suas oferendas para agradar aos deuses confiando em sua ajuda num possível sorteio para a almejada promoção a hostes cada qual mais próxima dos mesmos.

     Você sabe por certo que não estou julgando-o, estou admitindo minhas limitações pessoais, para compreender que poder ilusionista é este que lhe enfeitiça ao ponto de acreditar que possa ter algo de justo no mais forte esmagar o mais fraco, fraco este criado frágil pelo próprio poderoso exatamente para ser vencido para ser explorado através de um processo continuado por gerações de sonegação de alimento, saúde e educação neste vampirismo social que construímos tão difícil me é crer que nisto acredite que me pego falando sozinho oh meu, pare de mentir para mim. 

domingo, 11 de setembro de 2016

A Arte Encantos e Desencantos.

     Ao insistirmos em associar a arte ao supérfluo desdenhamos de fato a vida que encarna essa tentativa de associação harmoniosa de palavras ritmos ou imagens, abrir mão da arte como manifestação clara da presença do ser humano é desistir de se investigar, independente de qual rótulo a associamos, ou seja, como esta se classifique é sempre o enfrentamento do homem pelo homem ante o ato de existir que cada uma das manifestações artísticas à sua maneira exprime e perpetua.

     Nos desencantos podemos contabilizar talvez como mais importante de quem a destrata por não lhe creditar devido valor a quem a defende como vital para o ser humano e não encontra tempo para com ela conviver, para abraçá-la hora e meia em uma sala de cinema não há tempo, para mística transformação das palavras escritas nos conceitos pensados por quem a lê inexiste essa hora e meia, para curtir uma pintura uma ilustração uma música uma fotografia um grafite, em síntese viver o prazer da essência de ser humano que por sua arte se desvenda sempre falta essa hora e meia que infelizmente está ocupada por todo e qualquer movimento destinado a distrair-se de si mesmo.

     Nos encantos registro o prazer de nos espaços culturais nos cafés nos bares nas ruas encontrarmos com quem se possa trocar opinião sobre leituras feitas filmes vistos saraus que participamos e tantas outras manifestações culturais experimentadas colhendo a gratidão do convívio com companheiros livre pensadores, cientes que só podem formar-se pelo continuado digladiar com as diferentes manifestações artísticas que vivenciadas explodem em valor dentro de cada um.

     Entristece-me quando me vejo a olhar esta máquina tão bem azeitada do excesso de informações parceira da insuficiência de conteúdos, hoje sabemos sobre tudo um pouco sem nos determos no entender muito de alguma coisa, somos muito rápidos estamos sempre na busca do fazer algo sem tempo para a contemplação de nós e dos outros, é certo que isso serve a alguém e que esse alguém não é o ser humano, mas sim um impessoal conceito nascido da velocidade de movimento que à sociedade nós imprimimos, nos leva sem rumo a corrermos para todos os lados tipo moscas tontas ou formigas disciplinadas sem parar para pensar aonde se quer chegar, pois se o fizermos concluiremos que quase tudo que realizamos sendo de uma completa inutilidade não nos traz prazer nem felicidade.

     Encontro na arte no ato de realizá-la e ou de partilhar a arte realizada a oportunidade de redenção para humanidade, pois esta se oferece como caminho inevitável de encontro do tempo para consigo mesmo cuja vivência nos levará a exercer a vocação inata do homem que é de lançar-se na direção do outro se realizando como animal social o que é da sua natureza. 

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Nós Duas Descendo a Escada, Vamos Juntos Nesta.

     Estive na estreia ontem do filme “Nós Duas Descendo a Escada” no Cine Guion, resumindo a experiência fui, vi e gostei, portanto recomendo irmos juntos com elas nesta descida de escadas que eleva o ser humano, cinema universal com assinatura gaúcha descortinando um coletivo de profissionais apaixonados pela arte das imagens em movimento a qual se dedicam nesta película liderados pelos lúcidos diretores Milton e Fabiano.

     História de amor não é um tema inédito para o mundo do cinema, o que as diferencia é o fato de ter a assinatura particular de quem a escreve, de quem a dirige e da equipe que viveu as filmagens do planejamento até sua finalização com consequente entrega para as distribuidoras e principalmente do cinéfilo que a assiste na tela grande com sua leitura única e é esta que tenho a pretensão de reproduzir nestas linhas.

     Começo descobrindo que “Nós duas descendo a escada” é Porto Alegre, as protagonistas circulam pelos lugares que são nosso dia a dia, na zona sul do nosso lindo Guaíba lembram nossos fim de tarde de olhar sonhador, no mercado público onde tantas vezes circulamos em tão boas companhias, já tivemos nossas confidências nestes mesmos bares que elas frequentam e olhamos os mesmos gastos grafites de nossos muros, também subimos e descemos as escadarias como a da Borges atrás de um encontro com a nossa sanidade que esperávamos encontrar na outra ponta, não faltou nem mesmo este corredor de entrada para as salas de cinema do Guion que percorremos aqui hoje para vê-las, os seus sonhos suas desilusões acontecem onde vivemos os nossos também.

     E como está bonita nossa cidade Porto Alegre no filme!

     A naturalidade da relação entre as duas protagonistas é um dos pontos altos do roteiro contextualizando uma desaprovação categórica, a discriminação, rejeitando o habitual comportamento que é o encaixotamento em guetos a que normalmente estão expostos os diferentes gêneros minoritários com seu confinamento a locais de convivência exclusiva, a oportunidade do encontro nos corredores de um prédio qualquer com atração imediata seguida da busca da conquista e sua concretização, seus encontros e desencontros carregados de afeto e sexualidade expressam realidades por todos nós vividas desde sempre.

     Merece referência também a questão social sendo que transparece para mim espectador que apesar de ambas estarem inseridas na classe média, uma representa os abastados desta e a outra está localizada na extremidade oposta desse extrato social, como não poderia deixar de ser carregam essa diferença de poder aquisitivo para a intimidade de sua relação, os conflitos inerentes ao desnível de situação econômica manifestam-se no jogo de poder e resistência que são experimentados por ambas resultando nas situações de crise durante o desenrolar do filme.


     Sua presença em uma das sessões do filme tem meu aval não que vocês o necessitem recomendo porque gostei e as coisas boas devem ser partilhadas entre todos nós, nós duas descendo as escadas, vamos juntos nessa. 

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Droga nós Conseguimos Extinguir o Ser-Humano.

     Nosso belicismo desfilou acompanhando-nos desde nossos primeiros passos no planeta, enquanto não eliminarmos todos os nossos concorrentes no passado longínquo não descansaremos, não sem antes piratear alguns genes que pudessem nos ajudar a ser o que somos hoje, não satisfeitos partimos como trogloditas a destroçar a natureza e por fim um trabalho insano de buscar extinguirmo-nos como seres humanos, agora o homem pode festejar conseguimos extinguir o ser humano.

     O sonho dourado da transcendência acalentado por Nietzsche de despojarmo-nos da casca ético-moral impingida a nós pela civilização e lançarmo-nos para a potência do super-homem do além-homem transmutou-se nesta carcaça sub-humana sem alma que hoje aí está com nossos movimentos desorientados sem livre-arbítrio iludidos pela fantasia mesquinha do direito de vivermos da existência e do trabalho do outro.

     Este grau de selvageria disfarçada pelo fino verniz de um ideal de progresso para a humanidade com seus negócios mal cheirosos sempre nos vangloriando do número de mortes, as quais os gângsteres gravavam como marcas em suas armas e nós o fazemos pelo acúmulo de objetos inúteis de ostentação social, cada um desses símbolos de poder está de modo inevitável e definitivo comprometido com a exploração de alguém, com a fome de um, com a miséria de outro, com a morte de alguém, o que não podemos identificar e aceitar como atitude de um humano.

     Tornou-se inviável separar o trigo do joio para tal teríamos que começar do zero queimar a roça, plantar novamente, cuidá-la desde o início acompanhando todo o crescimento com vigilância redobrada, mesmo assim muitos focos brotam em meio aos jovens de preocupação com a qualidade de vida, não aquela do falso brilhantismo do excesso de acúmulo do exagero de consumo que só pode ser conseguido com a ilegítima usurpação do trabalho alheio, e sim com a realização própria pelo trabalho para a humanidade o que na medida adequada corresponde às necessidades inerentes ao ato de viver, talvez aí esteja a semente de nossa recuperação como um conjunto de indivíduos.


     As ciências exatas são o pavor atual da maioria permito-me entender esse fenômeno como reflexo de nossa vocação atual para avestruz enfiando nossas cabeças em buracos para fugir do perigo representado pela lógica do pensar o que por certo nos amedronta, os nossos filósofos eram grandes matemáticos e hoje pacíficos nós aceitamos sermos arrastados pela vida de rebanho evitando sempre pensar e decidir o que historicamente nos definiu como espécie.

domingo, 4 de setembro de 2016

Libertou-se Meu Grito “O GOLPE Espelha Minha Servidão.

     Sufocava-me preso na garganta a angústia dos últimos acontecimentos nesta caricatura de nação que é o nosso amado Brasil, a acalentada necessidade de RESISTIR convivia com a indesejável impotência de um livre pensador frente ao inevitável GOLPE de ESTADO que crescia no útero de uma terra amaldiçoada pelo espectro dos usurpadores de sempre a serviço da desigualdade entre os homens, nasceu o Golpe libertou-se meu Grito “O Golpe espelha minha servidão”.

     Vejo Platão revirar-se no túmulo o seu sonhado governo de uma aristocracia de sábios filósofos tem aqui agora sua antítese com o governo da ignorância, não são tiranos déspotas não são medíocres democratas não são oligarcas estabelecidos pelo seu próprio poder econômico ou por sua brilhante falsa retórica, são apenas medíocres serviçais da escravidão do homem pelo homem que se aproveitando do continuado esforço de despreparar a população para pensar por si só servem decididamente ao desmonte de qualquer indício de avanço no sonho de deixarmos de ser apenas instrumentos dos objetivos do capital, como qualquer outra máquina usada no seu único e exclusivo interesse.

     O resistir urge acontecer no seio da sociedade não através de receitas prontas, pois já as experimentamos e nos deixaram o gosto amargo de criar este acinte que nos desgoverna hoje, bem o sabemos que estão prolongando artificialmente uma concepção de organização social já morta que conduz a sociedade para esta antropofagia que denominamos sociedade de consumo capitalista com seus deuses graduados pelo tamanho do seu vampirismo de mais valia adorados pelo volume de sangue extraído do trabalho humano.

     Quão longe estamos daquele homem idealizado aquele que se realizava pelo seu trabalho para a humanidade ao nos encaixarem como peças especializadas neste gigantesco mecanismo de gerar uma riqueza supérflua e um homem aleijado pela pequenez do seu pensar, brilhante no detalhe completamente incapaz de entender-se como um todo universal.

     Os homens livres hão de brotar lançar suas flores inundar a terra com seus frutos serão maioria e contaminarão a natureza com a doçura de suas vidas é o contraponto obrigatório do poder quando exercido com crueldade e tirania a resistência nasce e cresce no interior da lama podre esta que é morte alimenta a vida, pois o tirano pelo excesso condena-se a sua ruína.

     Não aceito a servidão não quero escravos, o ato de resistir não depende de uma palavra de ordem não tem um mentor a receitá-lo, resistir é um ato unipessoal libertário que se completa na vocação humana do ir ao encontro do outro sendo o caminho da desobediência civil na situação a qual nos submetem um ato certamente justo desta resistência, assim sintetizo meu grito dizendo que não me sinto obrigado a compactuar com que aí está.                        

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

O Caminhante, na Pré-História da Organização Social.

     Seu andar nos caminhos do tempo não lhe permitiu evitar sucessivos momentos de convivência com comportamentos sociais baseados em hierarquia de comando o que não lhe exigiu muito esforço de análise para entendê-los como mecanismos cuja inteligência é pré-histórica se examinarmos o quesito formas de organização social e mesmo não se promiscuindo pesou no seu dia a dia essas características do engenho quanto a sua ineficácia em relação aos seus objetivos, quanto a mostrar-se insalubre emocionalmente para os envolvidos refletindo uma barbárie violenta e principalmente por ser um teatro permanente onde cada um dos papeis são representados sem vivência real dos mesmos.

     No contraponto dessa discussão ele avalia as funções colaborativas como um tema fascinante, para falar em rede sem a pretensão de conhecimento específico de biologia reporta-se sempre ao exemplo do corpo humano que funciona com eficiência e eficácia em alto padrão onde todas as células nascem iguais e, na medida em que o todo tem necessidade, cada uma é especializada em uma das muitas funções a serem executadas no conjunto completo, sem a necessidade de hierarquia e comando cada qual fazendo sua função, ele parte então para transpor esse princípio para as estruturas sociais caminho pelo qual imagina conseguir nos sensibilizar para a construção de um modelo justo.

     O sucesso que vemos em exemplos da natureza advém sempre da especialização e nunca do comando estando mais para o conhecimento e exercício de sua natureza do que por obediência a um terceiro, o comando é uma invenção nefasta e cruel do ser humano por desatender os dois lados do jogo o comandante e o comandado, onde o primeiro dedica-se grande parte do seu tempo útil a justificar-se perante si mesmo com fantasmagóricas funções sociais e administração do medo de estar sendo enganado, já o segundo obrigado a viver uma mentira permanente, dedica-se à arte de encontrar reconhecimento fugindo habilmente do trabalho sem perder sua condição de sobrevivência.

     Tendo a sorte lhe sorrido desde sempre pode dedicar-se a um espaço horizontal caminhando sobre o cabo de aço estendido da sociedade industrial de consumo sem cair para o lado da briga de foice no escuro que é a ascensão hierárquica nem desabar para o outro lado da submissão a comandos desnecessários e tinha consciência que esse privilégio lhe foi concedido sem nenhum merecimento próprio originário de um sorteio desconhecido ao qual retribui como caminhante resistente do qual nesse relato seguirá dando testemunho.

domingo, 7 de agosto de 2016

O Caminhante, na Escadaria da Obsolescência.

     Ele conhecia bem os degraus por quais já tinha passado intuía como seriam os que viriam a desafiá-lo no porvir, consciente que carregava consigo esta máquina espetacular física mental na escadaria da obsolescência, a famosa fadiga dos metais é algo do qual o ser humano não está desobrigado a experimentar, é assim que somos destinados a voltar a ser terra neste ciclo orgânico finito romanticamente imaginado como sem fim.

     O que era independia dessas considerações apesar de ignorar completamente a composição e finalidade desta sua parte definidora sabia-o bem que partia dela instigá-lo a medir-se consigo mesmo no tempo, avaliando as mudanças no corpo e na mente com os quais tinha grande parceria, seduzia-o o fato de que cada vez tinha mais tempo para dedicar-se a esse rito, quanto menos qualidade da matéria mais realista apresentava-se a hipótese de descortinar esse eu sou, parecia-lhe que os pensamentos e sentidos do vigoroso corpo o afastavam de desvendar o mistério que era. 

     Velho de corpo e espírito é assim que se definia e se sentia bem com isso, apesar de entender perfeitamente porque preconceituosamente lhe classificavam com frases delicadas tipo da terceira idade ou do melhor tempo ou ainda jovem de espírito, nada mais são que reflexos do estágio da humanidade onde se cultua a juventude como ideal a ser alcançado por seu melhor encaixe na sociedade de consumo que necessita de força e velocidade irrefletida de preferência.

     Como velho reserva-se o direito e obrigação consigo mesmo de relacionamentos livres onde possa conviver com diálogos de terceiros tão somente quando o são similares aos que interiormente pratica, carregados de questionamentos para encontrar descobertas, repletos de incertezas de quem sabe que a verdade é uma utopia a ser aproximada e principalmente isentos do vazio das palavras reproduzidas em série pelos mecanismos de persuasão hoje desenvolvidos.

     Não lhe assusta ser classificado de politicamente incorreto, seu compromisso a cada dia que passa é consigo mesmo, assalta-o a ideia de relações que só aconteçam quando e pelo tempo do desejo dos envolvidos, sem abrir mão de nunca ser indelicado reserva-se a decisão de só falar a ouvidos que querem ouvi-lo e escutar a todos evitando contestá-los apesar de nunca endossar as falsas verdades aquelas que claramente não são consequências do livre pensar do interlocutor e sim uma mecânica reprodução de palavras espalhadas ao vento.    


     O tempo lhe é precioso, dedica-o a considerar-se com atenção e observar os outros em si assim nessa sina de caminhante atinge a vivência do prazer que no fundo é a inspiração que lhe motiva a assumir o que é sabedor que só por ser velho o pode fazê-lo. 

sábado, 6 de agosto de 2016

Reflexos da Natureza Humana Violentada.

     Na Sala Redenção, neste início de agosto, o meu primeiro encontro com a diretora Claire Denis no seu filme Noites sem Dormir (J'ai pas Sommeil, França, 1993, 110 min), posso resumir como gratificante assistir sua reflexão forte sobre o homem migrante. Por sinal, tema de grande atualidade e importância no debate atual global da humanidade, película que não tem a pretensão de oferecer respostas e sim mostrar algumas das diferentes peças que compõe este quebra cabeças de difícil solução, possibilita-nos navegar por caminhos diversos na análise do problema e possível encontro de soluções.

     Os guetos, como consequência resultante da incomunicabilidade, mostram-se distribuídos por todo o filme. Migrantes do leste europeu, migrantes da África, seu isolamento social, suas dificuldades econômicas, sua vida em pequenos grupos e as diversas opções individuais frente à injusta exploração da sociedade, sua vulnerabilidade social, tudo isto nos é jogado na cara de maneira singela real, crua e sem disfarce.

     Nestas ilhas humanas os relacionamentos internos são ambientados no saudável carinho, compartilhando a alegria do convívio através de intermináveis gestos de ajuda mútuos, sempre limitados pela situação econômica a que estão sujeitos, incapazes de abrir seus dilemas pessoais ao grupo. Vivem a solidariedade sem afastarem os fantasmas internos que os amedrontam, vemos então que só há alguma alegria em seus pequenos grupos de mais chegados, todo o entorno social fora destes são relações sombrias com o mundo.

     Um dos protagonistas, o irmão mais velho, negro violinista, dedica-se a montar móveis como trabalhador ilegal para seu sustento, mergulhado na solidão só quebrada pelo dia a dia vivido com o filho pequeno e o contínuo acalento do seu sonho de ir viver na natureza da África uma vida simplória com a mulher, o filho amado, a terra banhada pelo mar e seus frutos que por sinal o separa dos sonhos da mulher branca presa à necessidade da Paris cidade.

     O outro protagonista, seu irmão mais novo, é gay cantor-dançarino de casa noturna focada no público de sua opção de gênero, involuntariamente enquadra-se simultaneamente em diversos guetos: no dos imigrantes, no dos homossexuais, no dos negros, no dos artistas da noite dita marginal e no principal deles, que é o dos pobres. Sua personalidade multifacetada ora é o ser carinhoso da sua relação familiar, ora é o individuo de relação apaixonada e conflitante com o namorado, ora cumpre o papel de amistoso relacionamento com a vizinhança e finalmente o do seu ganha-pão: assassinato em série de velhinhas com finalidade de roubo, o que faz com uma naturalidade impressionante desprovida de qualquer emoção.


     Uma loira jovem bonita, sozinha, vinda da Lituânia para Paris por uma promessa profissional feita na sua terra por um parisiense sedutor do primeiro escalão que agora a adia para um futuro amanhã inexistente, como Judas, ela denuncia para a polícia o jovem e saqueia o dinheiro por ele roubado e segue seu caminho. O filme envolveu-me por inteiro e convida para posterior reflexão mesmo sendo uma situação de difícil entendimento pela dificuldade de nos colocarmos no lugar dos migrantes. 

domingo, 31 de julho de 2016

O Caminhante, no Paredão da Vida.

      Se dissesse que o via assustado eu estaria por certo faltando à verdade, de fato o que lia no seu rosto era projetado pela palavra atônito, talvez pudesse classificá-lo melhor como pasmo por visualizar em todos os espaços a vida exposta a esse paredão, condenada à morte, não à física que é o prêmio maior, e sim à morte inanimada de andarilhos zumbis.

     Cada dia mais corpos sem alma anulando-se como os grãos de areia no vai e vem das ondas do mar, apenas ocupando um lugar tapando buracos é o que lhe via angustiado a observar, já não mais tinha esperança de ressuscitá-los via-os incapazes de decidir e ele sabia que tão somente o ato consciente de optar pode definir vida.

     Alguém tinha escrito o roteiro e as pessoas nos bares, nas igrejas, nas escolas, nas empresas, nas ruas, assim mesmo em todos os lugares o tinham estudado decorado suas falas, treinado seus gestos, eficientes o executavam como que negando o tempo, fazendo o hoje ser o próprio ontem sinônimo do amanhã ele não tinha como isso entender, como se pode sempre pensar que não há nada a fazer além de sermos sujeitos do não ser.

     O via acordar todo dia e se alegrar pelo simples sair ou ficar na cama, sim tão somente pelo fato de assim o querendo tê-lo feito, sua alma ia acumulando felicidade a cada seu novo passo sempre resultado do julgar entre inúmeras alternativas a de melhor escolha para aquele seu momento, em contraponto não lhe era novidade cruzar todo santo dia por outros seus iguais que teleguiados em seus atos impensados passavam embebidos por uma coleção de maus fluídos tipo ansiedade, angústia, depressão, estresse, com suas almas tristes e mal-humoradas refletindo a permanente disposição de descarregar agressividade e mágoa.

     Mesmo sob o risco de vivenciar as chacotas de um novo Dom Quixote não se permitia fugir de dar testemunho do seu modo de vida, por certo para os poucos que lhe enxergar conseguiam não tinha algoritmos a ensinar apenas podia mostrar o seu eterno apreender e talvez motivá-los para em seus caminhos internalizarem encontros pessoais com a liberdade que é consequência natural do resistir.

     Justa é a tarefa de preservar o direito a existência plena de todos com as suas vidas pessoais intransferíveis, obrigatória é seguir a vocação do pensar em si por si mesmo para o alcance da felicidade e assim pensando no prazer continuou o caminhante convicto que tropeçaria ainda em muitos outros temas no rastro futuro do seu tempo.        


terça-feira, 26 de julho de 2016

O Caminhante, no Limiar da Luxúria.

     Ele o sabia bem tinha escolhido o caminho menos fácil, como ser pensante exposto a uma quase infinita conjunção temporal de séries de causa e efeito nas relações humanas onde camadas sobre camadas de conceitos foram depositadas no seu subconsciente, não teria simplicidade para descobrir o que era sua sexualidade natural, a mistura de intuições com juízos da razão dificultava a descoberta de um entendimento a priori sobre o tema, a sensação dominante presente em si era que a sexualidade no homem em tudo era algo similar à exuberância da seiva nos vegetais, o que permitia identificar-se com a luxúria no sentido puro da palavra.

     Sempre existem portas candidatas a serem transpostas e essas muitas vezes ele necessitava abrir, observava-o calmo com a necessária consciência da importância de ir descobrindo e ultrapassando uma por uma no caminhar do assumir-se, esse vagar lento justificava-se na necessidade sempre presente do outro, em cada passo uma ausência deste anula o processo e o torna vazio, não querendo receber ou provocar feridas abertas em nenhuma alma sempre se cobrava a devida cautela.

     Sua procura por alguém que como ele estivesse disposto a desnudar-se começar do zero a exploração dos sentidos apreender cada um dos movimentos mensurar novamente o prazer pela experiência sem os malditos juízos que lhes foram impostos e que inevitavelmente levam para construção de defesas prévias a cada ato, afetam a própria execução e mais influenciam no sabor.

     Sua língua a tatear a outra em toda sua rugosidade sua aspereza amaciada pelo sabor da suave saliva essa mistura única só por ambos produzida é a ideada reconstrução do beijo por uma mente limpa de preconceitos, seu simples deslizar dos dedos por entre diversos inumeráveis fios de cabelo em um cafuné costurado com a paciência de apreendê-los um a um na sua textura no seu fazer parte do outro é a almejada restauração do carinho, o ruído surdo ao arrepio dos nervos o sentir do encontro descontrolado dos músculos verdadeiras esculturas vivas a se tocarem dançando ao ritmo do dar e receber prazer é a sonhada reedificação da relação sexual.


       Em todas as frentes de luta que o via exercer essa foi uma das que mais me impressionou em sua busca pela recuperação da identidade própria seguiremos mostrando outras facetas deste caminhar não hoje, pois para por aqui.

sábado, 16 de julho de 2016

O Caminhante, no Impacto da Contradição.

     Foi de supetão, vocês sabem como é quando você esbarra no nada, foi assim que o vi na cúpula principal da igreja travado no silêncio das imagens aturdido por um barulho interior que lhe causava aquela revelação, não conseguia expressá-la em gestos ou palavras, estava nele e isso era tudo, aguardava recuperar-se do impacto da contradição que estava viva nele, isso o sabia bem só o conseguiria embalando seus pensamentos no ritmo dos passos de seu caminhar quando então o instante explodiria tal qual um “Big Bang” em um fluxo de palavras sequenciadas no tempo.

     Os primeiros passos desenhavam a palavra “Incerteza” como tradução aproximada do seu momento interior, no primeiro esbarrão casual com um transeunte o entendimento começa a funcionar como razão surgindo o contraponto representação interna do outro carregado de “fé”, ou seja, começamos a falar de certeza o que lhe parecia incompreensível no desenvolvimento dos seus juízos internos.

     Pensava “aceitar como verdade absoluta os princípios por uma entidade religiosa...” enquanto ouvia toda uma argumentação para convencê-lo e convertê-lo à rebelião que crescia em seu interior, “essa noção de acreditar que remete para uma atitude de fidelidade...”, não podia compreender o discurso tentando justificar um dogma que por si só, por um ato de fé, deve ser assumido como verdade e apenas isso “se é por decreto não o pode nem mesmo ser argumentado”, tinha vontade de pedir que as colocações feitas pelo outro fossem suspensas o respeito ao outro o mantinha atento apesar de não poder compreendê-lo.

     Passaria por certo enfrentando novos encontros com certezas de todos os tipos filosóficas, políticas, econômicas, sociais sendo que uma simples olhada para trás no tempo lhe mostrava a hipocrisia dessas verdades sempre construídas como justificativa para rios de sangue em nome de deuses para tal inventados, sim os deuses que criamos são os mentores das guerras inclusive da mais terrível que é a humilhação do homem pelo homem, ocorrendo aos milhares no dia a dia dos nossos tempos e desde sempre.

     Ele tinha de si para consigo tão somente a incerteza e essa lhe abria os olhos para a infinita quantidade de decisões a tomar onde a inexistência de um guia gratificava-o pelo olhar trezentos e sessenta graus que a cada passo era obrigado a dar para a escolha do passo seguinte, ninguém lhe podia cobrar coerência a vivia passo a passo, tinha noção clara que o tempo e o espaço eram as únicas verdades que o definia desde que reduzidos à ocasião.

    Apesar de respeitar e estudar todas para ele nesse instante, tão somente nesse instante, nunca seria parte integrante de uma entidade religiosa, conceito que estendia para professar qualquer tipo de fé.


     Não se esgota aí esse caminhar, seguirei a contar-lhes seus passos, se assim lhes interessar...      

domingo, 10 de julho de 2016

O Caminhante, no Fascínio do Buraco Negro.

     Mesa do bar seus copos meio cheios meio vazios eternizados na disposição de cada gole, na lucidez de cada argumento, assim se compunha o grupo, assim ele se dizia presente, todo o tempo o percebi a transpirar o brilho do reencontro com a sua inocência original, seu empenho na retórica era um mecanismo de defesa, todas as conversas sobre o nada que em sua lógica de construções verbais sempre escondem o que realmente é significante, vivia ele a convicção da existência dessa deformação do espaço-tempo que não era o buraco negro engolidor de estrelas, mas cada um dos companheiros de mesa verdadeiros buracos negros consumidores de seres humanos em sua inocência personificando o próprio paraíso.

     É certo que as imagens pensadas na sua conversa interior e as expostas nas palavras moldadas a partir de seus lábios para serem ouvidas têm praticamente nenhuma intersecção possível, nada sugerem terem nascido da mesma autoria, em tudo representam a coexistência de seres diferentes em um mesmo corpo, porém não percebi nenhuma maldade nisso, ambas carregavam verdades em si mesmas apenas as interiores não se expunham por saberem-se indesejadas de serem ouvidas.

     Sei que estou sendo indiscreto ao mostrar-lhes todas essas pistas, inclusive já os vejo a apontarem-lhe o dedo na rua etiquetando-o com o rótulo da loucura, o que é práxis comum nossa ao depararmo-nos com um ser humano que não entendemos, como se assim o classificando teríamos o enigma decifrado e de desentendido em um passe de mágica passaria a compreendido por ser insano.

     Certo mal estar, não é bem essa a palavra, mas uma sensação de estranhamento talvez defina melhor, assim eu lia a expressão de quem com ele se encontrasse no exato momento de cada aproximação, testemunho essa como a reação mais usual, o que o constrangia por não conseguir evitar percebê-lo.

     Para evitar essa situação indesejável iniciou diminuindo as palavras e não satisfeito com os resultados passou a encurtar significados, especializou-se em frases vazias e finalmente em evitar encontros ao tentar passar despercebido, mas essa solução não lhe satisfazia e desse impasse ocuparam-se as suas horas em busca do caminho da realização de sua vocação social e aí estava eu torcendo por ele e nesse momento no aguardo de seus próximos passos.


     Não preciso lhes dizer que não foi sempre assim que também vi muitas vezes em meio a multidões, participando de grandes ou pequenos grupos, sendo parte ativa dos movimentos dirigidos na ocupação do espaço que nos é concedido por direito, com objetivo de esticar os limites da humanidade em todas as direções na busca de transcendência e realização, sobra à interrogação de como será sua próxima onda.                   

segunda-feira, 4 de julho de 2016

O Caminhante, no Império do medo.

     Era na Cidade Baixa nos descaminhos desse bairro em Porto Alegre o vi andando abraçado, ele e seu duplo nessa intuitiva atração apaixonada contraposta por uma perene repulsão lógica, vivenciando o discurso interno do qual não posso garantir a exatidão das palavras, por ser de memória, porém atesto o seu sentido e aqui o reproduzo como segue:

- “Você é a personificação do medo, tens pavor a todos os objetos pertencentes ao teu espaço visível ou não”, lhe dizia seu duplo no ponto cego do dobrar de uma esquina.

- “Como posso ter medo? Se o único que me podem tirar é a vida e para tal serão obrigados a me presentear com a morte!”, respondia-se a si mesmo com palavras fortes apesar da fumaça de tabaco que as embebia.

- “Medo dos objetos existentes no espaço a ti externo e que são em ti representados, sabes que são em ti imagens e amedronta-se por de fato não conhecê-los”, foi a nova provocação lançada por seu contraditório.

- “Tendo o homem imposto seu domínio sobre a natureza por certo não necessito do conhecimento prévio para entender que posso enfrentá-la em igualdade, logo qualquer medo só o seria por carga emocional e nunca por entendimento”, lembrando-se neste instante do seu medo infantil por baratas e ratos o que não evitava sua ação de exterminá-las a chineladas ou chutes certeiros.

- “Mas os seres humanos de ti estão afastados, observa-os, tangencia-os e sempre os mantêm a uma segura distância”, aproveitou-se o parceiro de caminhada da passagem de grupos de pessoas em algazarra para tentar acertar-lhe essa punhalada fatal.

- “Por certo me assustam os meus iguais, por aí sou obrigado a assumir o medo como real...”, sim tinha caído na armadilha, não conseguiria mais fugir desse tema e assim interrompe-se o diálogo transmutando-se para um monólogo interior como segue:

     “Se só aceito o bom contrato, aquele que deve ser assinado por pessoas livres e de porte igual, como não me submeter ao Império do medo se até hoje não encontramos instrumentos para avalizar a liberdade e o porte de um ser humano, se não admito ser bengala de ninguém, pois isso me coroaria com uma superioridade inaceitável em relação ao outro, também meu estado é de resistente rejeitando a priori qualquer possibilidade de domínio de outrem sobre mim.”

     Se eu continuo não sabendo colocar os substantivos e adjetivos que “definam o meu personagem” pelo menos o verbo exposto na ação relatada talvez forneça a matéria prima para que vocês próprios o possam pintá-lo e abusando de vossa paciência em breve continuarei...

                

quinta-feira, 30 de junho de 2016

O Caminhante, na Fronteira do Real.

     O silêncio de seus passos perturbava meus ouvidos a ausência completa de algum detalhe identificador afetava minha visão, ao aproximar-me por certo encontraria sem resposta qualquer tentativa de tato, o percebia tal qual um holograma contrapondo um ser vivente, apostaria todas as minhas fichas que não encontraria nele cheiro nem gosto, o que mais me espanta é que isso me surpreenda.

     No meu foco determinado pelo fato de que o movimento sempre gera atenção, podia adivinhar eu podia ler suas elucubrações mentais, essas inventavam futuros misturados com flashbacks do passado a construir suas histórias do presente, para ele era sempre madrugada por mais que o sol estivesse a pino, socializava-se no vazio constante de outras existências, não o via diferente de um andante solitário, entretanto o enxergava completo e íntegro.

     Se me acusarem de estar a ver fantasmas o negarei com veemência, posso até concebê-lo na fronteira do real com o imaginário, que ele existe em mim não há como duvidar por mais etéreo que o seja sinto o vento provocado pelo seu deslocamento no espaço da minha convivência parecendo um hálito frio a refletir vida, ou pelo menos a representar uma morte que anda e uma ideia que subsiste.

     Já perceberam o trabalho que tenho em buscar descrevê-lo, como se fosse possível definir alguém, aí está uma utopia que insistimos em apropriarmos como viável em nós outros, quando falei em não detalhe penso todos entenderam que é exatamente o excesso desse a quem devo debitar a culpa por essa impressão, sendo muitos os caracteres que o compõe eu não pude conseguir deter-me em um em particular.

     Preciso contar a estória desse caminhante, precisar é um termo por demais poderoso vamos ficar no correto que é quero contá-la, para tanto é que me esforço em desenhar esse protagonista, sem ele não há história nenhuma, poderia talvez deixar a própria sequência de fatos rabiscarem seu perfil, confesso essa última opção me deixa inseguro quanto aos objetivos aos quais me tracei quando iniciei esse texto, meu medo é que no fim de tudo fique o nada.

     Todavia lhes adianto dificuldades à parte eu não falharei, essa estória terá a continuidade adequada, me deem uns pares de dias e poderão então conhecê-lo, rastrear seu caminhar e imagino que não se arrependerão.



quarta-feira, 22 de junho de 2016

Não Quero Crer que Existas

     Encontro-os todo dia e não quero crer que existam, espaços vazios fuga permanente do pensar hospedado em seres humanos embalados pelo já refletido seguindo a programação de um animador invisível a consumirem-se por inteiro no ritual da manada com seus caminhos de antemão traçados que lhe consomem o precioso bem que é a vida.      

     É tempo de se surpreender não que o deseje, apenas me defronto com tal situação, estanco sobre o eterno desencontrar-se, caminho traçado ao desencanto de quem escolheu vegetar nada contra a natureza apenas não posso aceitar a opção do vegetativo viver.

     Fixo meu olhar nas tuas pupilas e as encontro ausentes de vida, perdidas entre escolhas falsas ao achar-se envolvido em decisões de outrem tomadas como se as fossem suas, concordo é certo que não tenho nada a ver com isso, entretanto não me imagino longe do envolver-me nessa trama mal urdida e assim o faço todo dia.

     Toco neste tema não por gosto pessoal e sim muito mais pela inevitável transcendência na direção do outro com o qual se não tenho compromisso me é impossível deixar de vivenciar o rastro de insatisfação a cercar-me por todos os lados, sim me afetam esses descaminhos nem o é por ter um caminho, mas principalmente por não poder coassinar tal roteiro.

     Preciso assinar contratos com o risco, não o fazendo condeno-me a isolar-me na negativa da possibilidade da convivência o que senão impossível pelo menos indesejável o é, mostrando-me incapaz de iluminar me condeno a esparramar trevas.

     A nossa solidão encontra-se na do outro e assim lado a lado podemos percorrer os tempos sem imobilizarmo-nos cumprindo a máxima da vida que é o movimento, mas gosto de olhar para os lados e sentir a força do humano no outro que caminha comigo sua liberdade é o motivo maior de acréscimo à minha alegria.

     Não quero compromissos comigo assinamos nossos contratos no interesse maior de cada um e assim não sendo prefiro evitá-los, pois só livre pensadores podem crescer andando lado a lado, e assim projetaremos ao infinito a potência que somos como seres humanos, sendo essa uma luta que por certo sou militante como tal me traz prazer acompanhar homens e mulheres que nela estão.    

quinta-feira, 2 de junho de 2016

Vislumbro o Ocaso da Ilusão

     Ressalvando o fato de que tudo pode não passar de um particular desejo ardente, um sonho por mim acalentado, de alguém que se assume como um incurável otimista o que não se mostra suficiente para me afastar da ideia de que os dias da ilusão estão contados, no horizonte vejo o ocaso da ilusão que transparece como reflexo nos rostos dos que compartilham espaço comigo na sociedade.

     Esta fábrica de desejos invenção da humanidade cresceu, encorpou e por seu próprio excesso produtivo está prestes a desacreditar-se, estampa-se o cansaço em quase todos que me cercam pela sensação frustrante de fugacidade do prazer instantâneo, vem-me a imagem de um isqueiro descartável vazio de seu gás que ao seu manuseio responde com faíscas inúteis por sua esterilidade.     

     O bom vento anunciando o fim da manipulação do homem pela semeadura de anseios artificiais contém em seu ventre notícia alvissareira de uma forte avaria ao jogo do poder, esse jogo multifacetado complexo que insiste em nos iludir através de alvos que são apenas suas pobres representações tem na manipulação do desejo seu mais forte aliado.

     Em nosso papel de Dom Quixote ao apontarmos nossas armas contra legítimas caricaturas de poder que por falsas ao enfrentar nosso combate esfumaçam-se no ar, trazendo-nos a sensação equivocada de vitória quando de fato em nada afetam o poder propriamente dito e tornam esta guerra interminável por consequência.

     O poder não mais se necessita de obrigações e proibições é mais simples criar desejos e apontar os caminhos para satisfazê-los, trabalhar o controle social pelo despertar do anseio adequado ao correspondente comportamento esperado, esmiúça-se todos os gestos todos os movimentos e instigamos via estímulos adequados oferecendo-os ao custo de posicionamento social monitorado, assim se exercem poder não em nome de alguém e sim em nome de um anônimo interesse global, enquanto isso nos outros brincamos de nações e suas instituições, de eleições e seus partidos políticos, de renda e sua distribuição desigual, de educação e sua camisa de força, enfim de privilégio de eleitos do momento. 


     A força do exagero do controle social me parece mina por dentro o mesmo, historicamente o ser humano não consegue evitar forçar o domínio até a corda arrebentar e é o que vejo no momento atual o ponto de ruptura muito próximo as descontinuidades sempre são repentinas.

domingo, 29 de maio de 2016

Cara Não Sou Empresa

     Meritocracia palavra bonita nos lábios dos neoliberais a me condenarem a ser um capital humano capaz de gerar fluxos de renda, cara não sou empresa, essa apologia às leis do mercado na defesa que só a livre concorrência entre empresas, em um contexto onde tudo são empresas incluindo você e eu, pode estabelecer a chegada ao paraíso do bem-estar no consumo é a própria negação do homem, que insisto busca o prazer e não a geração de renda.

     Tenho sérias dificuldades de entender o mecanismo de autoimolação a lei da concorrência como criação de uma sociedade moderna autossuficiente e benéfica ao ser humano, pode ser apenas a ilusão de um valor desmedido creditado aos privilégios de berço de quem se enxerga poderoso ao pisar em alguém sem ver a pirâmide que carrega nas costas formada por seus exploradores.

     Tampam-nos os olhos escondem as oportunidades, ocupam-nos com futilidades para furtar-nos o tempo de entender esse processo perverso e nos invadem com mantras de marketing glorificando o falso sucesso que funciona tal qual a rédea solta no cavalo a incentivar nosso galope para conduzir o outro em nossas costas com o seu afã de seu sucesso baseado em nossa escravidão, sim escravo de quem escravo é doutro escravo também.

     Deixem-me viver como brado global a ser sonhado pelos homens é a utopia que não quer vingar como homem máquina nos sujeitamos à cadeia de produção, iludidos por um futuro que todos sabemos não existe e construído por um passado que nada tem a haver conosco se há uma certeza esta única é a do presente.

     Nem mesmo a natureza nos suporta nesta interminável cadeia de produzir infelicidade e tem-se rebelado cada vez mais aos nossos desatinos como que a mostrar-se como arauto do nosso equivocado caminho de semeadura de destruição de tudo e de todos essencialmente de nós mesmos.

     Urge pararmos e repensar nossa existência, aplicarmo-nos a gostar de nós mesmos a cada momento em seu instante presente descompromissado com o que já existiu e sem pensarmos em créditos no tempo que virá, só aqui e agora pode o prazer existir e mais que direito é obrigação usufruí-lo. 


     Abro mão de qualquer ilusão de concorrer com outrem de comparar-me com alguém na busca incessante do preocupar-me comigo mesmo, descobrindo-me aos poucos onde mais posso estar a me fazer feliz, sabendo de antemão que tão somente assim posso na vocação natural do ser humano de lançar-se em direção ao outro irradiar verdade.

quinta-feira, 21 de abril de 2016

Resgate Improvável no Curto Prazo

      Perda incalculável em grandeza sendo seu resgate improvável no curto prazo este é o saldo para a esquerda brasileira dos últimos acontecimentos verificados nesta “mui amada terra de Santa Cruz”, admito que muito longe ainda de alcançar a qualidade e o tamanho do avanço das lutas populares existentes nos momentos anteriores ao golpe militar de sessenta e quatro, ainda assim ostentávamos ganhos sociais bem definidos e positivos no contexto político econômico.

     Também precisamos aceitar que a falta de coragem para assumir um governo de esquerda é a causa primeira do lamentável teatro do ridículo que presenciamos no último domingo, triste por escancarar que passamos os últimos treze anos engordando esta direita oportunista no próprio seio do governo e não satisfeitos por privilegiá-la nos lambuzamos com seu instinto predador dos bens públicos ao nos tornarmos seus cúmplices fechando os olhos para seu continuado depredar do patrimônio popular.

    Descontando o próprio PT tão somente o PSOL e o PC do B foram unânimes em votar contra o golpe, por cúmulo de ironia, partidos políticos que nunca estiveram nos planos para a composição de uma base de governo, como parceiros sempre se preferiram os fisiologistas da direita, o número pequeno de votos é o atestado inegável de que nenhum esforço foi feito para a construção de uma sólida esquerda nacional desmascarando a sede hegemônica do atual grupo no poder que prioriza sempre antes da luta contra o fascismo o desmonte dos concorrentes de esquerda.

     Não somos cegos e sabemos que o perfil de políticos frágeis e corruptos nasceu e foi embalado nos porões da ditadura militar, que assim os necessitava para dar uma falsa sensação de legitimidade em seu processo autoritário opressor contra os interesses do homem e da natureza, o que hoje como um câncer espalhou-se por todo o organismo nacional atingindo-o por inteiro, penso devemos considerar o momento como uma oportunidade, tanto de reconstrução da esquerda como das estruturas de governo em suas três faces o executivo, o legislativo e o judiciário.

     Não é possível abrir mão de colocarmos nas ruas nas redes sociais nos espaços públicos em geral uma grande mobilização para unir a esquerda em torno da manutenção da democracia, desmascarando assim o golpe branco, ampliando a luta para extirpar as condições favoráveis à corrupção combatendo-a no presente e nas estruturas que a farão possíveis no futuro ainda acrescendo um grande empenho na busca do voto compromissado com os anseios populares.

      Eleições gerais coincidência de mandatos em todos os níveis, a reforma política sempre lembrada sempre adiada como prioridade para a construção de um novo pacto social destinado a coibir a má distribuição de renda e ampliar os direitos do homem, a educação no seu sentido amplo de cultura do pensar está no rol principal das nossas necessidades atuais.

terça-feira, 12 de abril de 2016

Escravo Eu sou Indolente e Insubmisso

     Surpreende-me deveras a defesa insana de um conjunto de argumentos discriminantes utilizados por uma elite econômica e intelectual, referem-se à separação dos homens em dois grupos, de um lado o grupo representado por uma grande maioria que nasceu e se criou preguiçosa obrigando a sociedade a forçá-la a trabalhar e de outro lado uma minoria iluminada que voluntariamente é apaixonada pelo labor diário a ponto de defini-lo como sua fonte de redenção pessoal, assim o fazem como se não fôssemos todos humanos sempre buscando realizar o mínimo necessário para garantir a justa qualidade de vida, se não admitirmos que os grilhões não possuem o mesmo peso para todos é porque não buscamos ver a verdade.

     Eu não me iludo, nós servos sim estamos organizados em uma hierarquia com tantos degraus e posições quanto são os necessários para garantir o bom funcionamento da sociedade de consumo, se os mentores nos permitem por certo mais do que consentir nos exigem o canibalismo social é porque a eles não interessa quem é o sujeito presente na lista “top alguma coisa”, convém que exista a lista por ser ela a própria fonte do desejo e desta resulta a realização da maior parte da caminhada na disputa ao direito de submissão sendo este o único direito admitido pelo poder.

     Quebrar esta cadeia apesar de tarefa simples exige decisões difíceis, estar à margem é uma atitude que não encaixa como solução, abdicar representa a morte, se quero a vida preciso participar do processo como ponto de resistência só vivendo a reação dentro do próprio sistema posso acreditar em esperança de mudança, pensar nesse tema lembra-me do paralelo com as guerras passadas onde sempre a não submissão do invadido minava pouco a pouco o poder usurpador levando-o a expor seus pontos fracos e a partir destes a sua derrota.

     Escravo sofisticado qualidade que não invalida o rótulo, impelido para uma estrada de caminho único com margens amplas que permitem zigue-zagues desde que não comprometam os predefinidos objetivos, necessito manter-me entre esses limites sempre que não queira marginalizar-me, o pouco que me sobra é a consciência do espaço que aí eu ocupo.
   
     Indolente o sou sempre que convocado para um labor que se justifique por si mesmo, o trabalho não é um objetivo em si deve ter uma razão de ser como atividade prazerosa e com resultado em qualidade de vida para a humanidade e a natureza.


     Insubmisso em respeito a mim como indivíduo negando-me a qualquer cumplicidade com atividades que ofendam ao homem ou à natureza, compromissado prioritariamente com a integridade interior aquela refletida na preocupação consigo e que me leva a ser justo.

sábado, 9 de abril de 2016

Golpe Branco o Preço da Traição

     Na plateia, pois foi o que nos sobrou, frente a frente com um espetáculo inusitado por seu absurdo acompanhamos na esteira do tempo os passos ensaiados de um golpe de estado branco, feito com a desfaçatez dos hipócritas que com sua fala mansa vendem como verdade o poder como fim em si mesmo, de fato é apenas retórica vazia que contamina o filme da vida nacional com um conjunto de planos onde todas as cenas têm foco no interesse particular e não no coletivo.

     Foi assim pouco a pouco sendo escrita a história em paralelo com outras similares na América Latina para conter a expansão da esquerda, sendo por demais conhecidas as orquestrações das forças econômicas e midiáticas não lhes faltou espaço para manipulação das taxas de câmbio, das taxas de juros, das altas de preços, das notícias com suas colunas de opinião a formarem sequências organizadas de fatos artificiais, sempre apoiados pela medição científica dos resultados via pesquisas de satisfação, claro nós sabemos é assim mesmo estamos em um tempo cuja especialidade é ter como forma de governo a geração de desejos na população.

     Assim como não compactuo com este golpe branco em andamento admito que a facção de esquerda atualmente no poder tenha responsabilidade por criar todas as condições para que o mesmo ocorresse ao trair as causas da esquerda, por consequência as do povo brasileiro, compondo um governo com as forças de direita, os mesmos que hoje estão a derrubá-lo, esta turma de golpistas foi alimentada em suas forças conspiratórias no próprio seio do governo e vejam só o preço que pagamos por esta traição: o golpe branco em andamento.

     Podemos sonhar ainda com a volta à origem algo que nos sonegaram no ano de sessenta e quatro, imagino agora a existência de oportunidade ímpar de uma guinada à esquerda, o que pode ser realizado primeiro expurgando os golpistas, depois costurando um governo com seus parceiros naturais os que carregam as diferentes bandeiras do pensamento revolucionário, tão somente assim poderíamos reavivar a chama do apoio popular e sedimentar as conquistas sociais obtidas acrescentando qualidade e quantidade de bem estar às classes menos favorecidas e a população em geral.

     Um governo assim constituído não teria facilidades e sim oportunidades para uma grande cruzada com o propósito de distribuir melhor as benesses do trabalho e eliminar realmente os acordos entre empresários e os agentes do poder, são conhecimentos da sabedoria antiga que a única forma de alcançar o justo é não faltar com a verdade consigo mesmo, logo esqueçamos o que as maiorias querem ouvir e concentremos nosso discurso na verdade interna cultivada em si independente do número de candidatos a ouvi-lo.                      

segunda-feira, 28 de março de 2016

Ação dos Interesses Internacionais sobre a Nação

     Não precisamos procurar uma nação é só girar o globo e de olhos fechados apontar o dedo para um lugar qualquer, também não será necessário montarmos um “Big Data” dos diversos movimentos internos do seu povo e as origens das determinações que os ocasiona, quando Foucault fala que no inicio do que chamamos de período moderno na troca dos séculos XVIII e XIX mudou a maneira de governar com a substituição das leis de proibição/deveres para o povo por estratégias indiretas de estimulo e controle do desejo individual/coletivo escancarava o mundo globalizado no qual estamos inseridos onde nos é muito difícil separar o sutilmente sugerido do desejo real.

     Não precisamos procurar uma nação é só girar o globo e de olhos fechados apontar o dedo para um lugar qualquer, também não será necessário montarmos um “Big Data” dos diversos movimentos internos do seu povo e as origens das determinações que os ocasiona, quando Foucault fala que no início do que chamamos de período moderno na troca dos séculos XVIII e XIX mudou a maneira de governar com a substituição das leis de proibição/deveres para o povo por estratégias indiretas de estímulo e controle do desejo individual/coletivo escancarava o mundo globalizado no qual estamos inseridos onde nos é muito difícil separar o sutilmente sugerido do desejo real.

     Não me surpreende a circulação com intuito claro de ridicularizar descrições de “Operação Conspiração Internacional” que corre pelas redes sociais, vejo como uma cortina de fumaça que pelo seu conteúdo ingênuo desacredita e esconde as reais decisões globalizadas, será simples coincidência o dólar baixar exatamente quando os navios começam a levar a nossa supersafra de grãos e o aproveitamento como bônus de associar o fato às dificuldades enfrentadas pela dupla Dilma/Lula, comemorando como vitória a baixa da moeda que na prática é um grande prejuízo para nossa agricultura.

     A desestabilização do governo brasileiro onde o papel da movimentação dos capitais internacionais é por demais conhecido tem motivo claro de enfraquecer uma liderança positiva de esquerda na América Latina e obstruir o caminho de liderança econômica da China com o BRICS onde somos partícipes, o momento torna desnecessários movimentos militares derruba-se a esquerda na Argentina, Bolívia, Venezuela, Brasil repetindo o que os golpes militares fizeram na década de sessenta com manipulações econômicas dos interesses internacionais apoiados por grupos econômicos internos.

     O próprio combate à corrupção nos mostra o quanto é possível criar no imaginário da grande maioria da população o “bom combate”, derrubando a esquerda com seus deslizes envolvendo modestos sítios e apartamentos o problema estaria resolvido, esquecemos de que quem realmente engordou suas contas em paraísos fiscais apresenta-se como candidato a substituí-la, o que significa de fato colocar a raposa no galinheiro, os mecanismos são os mesmos de sempre aumento continuado e injustificado dos bens de primeira necessidade, o que aporta forte no orçamento da maioria das pessoas sensibilizando-as, manipulação dos capitais internacionais sempre apoiados por um forte esquema midiático.   


     Esta esquerda que está no poder ao deixar-se contagiar por convivência com os agentes da manipulação econômica tornou-se merecedora das críticas e de ser pressionada a corrigir o rumo, é sua obrigação cortar na carne em uma operação interna tipo “mãos limpas” como pré-requisito para um grande movimento de combate à corrupção em todos os poderes, e assim purificada retomar em plenitude o exercício do governo que lhe pertence por direito.