domingo, 29 de maio de 2016

Cara Não Sou Empresa

     Meritocracia palavra bonita nos lábios dos neoliberais a me condenarem a ser um capital humano capaz de gerar fluxos de renda, cara não sou empresa, essa apologia às leis do mercado na defesa que só a livre concorrência entre empresas, em um contexto onde tudo são empresas incluindo você e eu, pode estabelecer a chegada ao paraíso do bem-estar no consumo é a própria negação do homem, que insisto busca o prazer e não a geração de renda.

     Tenho sérias dificuldades de entender o mecanismo de autoimolação a lei da concorrência como criação de uma sociedade moderna autossuficiente e benéfica ao ser humano, pode ser apenas a ilusão de um valor desmedido creditado aos privilégios de berço de quem se enxerga poderoso ao pisar em alguém sem ver a pirâmide que carrega nas costas formada por seus exploradores.

     Tampam-nos os olhos escondem as oportunidades, ocupam-nos com futilidades para furtar-nos o tempo de entender esse processo perverso e nos invadem com mantras de marketing glorificando o falso sucesso que funciona tal qual a rédea solta no cavalo a incentivar nosso galope para conduzir o outro em nossas costas com o seu afã de seu sucesso baseado em nossa escravidão, sim escravo de quem escravo é doutro escravo também.

     Deixem-me viver como brado global a ser sonhado pelos homens é a utopia que não quer vingar como homem máquina nos sujeitamos à cadeia de produção, iludidos por um futuro que todos sabemos não existe e construído por um passado que nada tem a haver conosco se há uma certeza esta única é a do presente.

     Nem mesmo a natureza nos suporta nesta interminável cadeia de produzir infelicidade e tem-se rebelado cada vez mais aos nossos desatinos como que a mostrar-se como arauto do nosso equivocado caminho de semeadura de destruição de tudo e de todos essencialmente de nós mesmos.

     Urge pararmos e repensar nossa existência, aplicarmo-nos a gostar de nós mesmos a cada momento em seu instante presente descompromissado com o que já existiu e sem pensarmos em créditos no tempo que virá, só aqui e agora pode o prazer existir e mais que direito é obrigação usufruí-lo. 


     Abro mão de qualquer ilusão de concorrer com outrem de comparar-me com alguém na busca incessante do preocupar-me comigo mesmo, descobrindo-me aos poucos onde mais posso estar a me fazer feliz, sabendo de antemão que tão somente assim posso na vocação natural do ser humano de lançar-se em direção ao outro irradiar verdade.