terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Desconstruir na Trilha de Paz

     Época de amenidades, de festas religiosas, de confraternização e de vontade da paz mundial, todos estão repletos de boas intenções, estão todos tão dispostos a reiniciar, estão todos tão sedentos de serem aprovados, acariciados, amados, realmente acreditando que a magia dessas datas de fim de ano é a força suficiente para nos colocar definitivamente no almejado paraíso que é viver em felicidade.

     Nós esquecemos que tantas e tantas vezes esse tempo retorna a nossas vidas com as mesmas inviáveis esperanças, o fato de voltarmos nosso espírito para um mundo melhor, por si só cria uma aura bacana em todos nós, porém completamente insuficiente para a mudança, e sem mudança não há paz e sem paz não há felicidade.

     A trilha da Paz lembra-me do Triângulo das Bermudas uma entidade fantasma onde desaparecem as embarcações sem deixar rastros, assim também nesta trilha desaparecem os atos de intolerância, as atitudes de violência, através do encontro do "modus vivendi", isto é, o pacto entre todos os diferentes se aceitando como tal.

     Isto só é viável via a permanente luta pela desconstrução individual, a busca constante de expurgarmos em nós esses alguns milhares de anos da civilização ocidental, cuja base está edificada sobre a certeza de sempre estarmos certos e sempre sermos os melhores, pois não somos participantes e sim eterno competidores.

     Desconstruir a necessidade da vitória, pois esta só existe se tiver um perdedor, desconstruir a necessidade de ter mais, pois esta só existe na comparação com o outro, desconstruir a vontade de ter poder, pois este só existe com a escravidão do outro.
   

     Procurar e encontrar esta trilha da paz é o meu desejo para todos.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

É Tempo de Gotas de Afeto

     Domingo, gente reunida, mais do que pessoas porções de vida que entre um pedaço de carne, frases disputadas em sinceridade e eloquência, goles de cerveja, encontro de seres humanos carregadas de afeto, dedicados a debater o melhor eu de cada um, o melhor que podemos ser isto é viver.

     Foi muito bom antecipar o início do Natal, com este churrasco que como cimento liga vocês que me são os mais caros, que lotam de alegria este domingo de fim de dezembro, dois ou três desfalques que se por força maior não puderam participar não deixaram de estar presentes em nossos corações e tenho certeza nós nos seus, se não acredito na instituição família curto o ritmo do que deu certo, um conjunto querido de harmonia que desde já prenuncia um lindo Natal.

     Não pude deixar de partilhar com vocês estes pequenos momentos, gotas de afeto, flashes vividos, que seu tamanho como tesouro é por mim imerecido e só se justifica pela oportunidade de distribuí-los com vocês.

     Sim tarde de 24, minhas irmãs com suas habilidades de artistas preparavam com carinho a mesa de todos nós, enquanto minha mãe e eu conversávamos sobre um mundo só seu sonhado que é o próprio desencontro da realidade, juntos os quatros partilhamos o alimento que simboliza a força da nossa presença no tempo.

     Início da noite do mesmo dia, saio como caminhante em direção à casa da minha filha, onde agora em dois preparamos nossa ceia de natal, não poderia faltar à caminhada pelo Bom Fim em busca das impossíveis, porém encontradas, cervejas e a as três horas de uma conversa mais de amizade do que relação pai-filha, coroado o fim de noite com o telefonema emocionado do filho mais moço que, impossibilitado de sair de casa, me abraça com o carinho de sua voz.

     Meus filhos mais velhos me enviam fotos maravilhosas, que por impossibilidade tecnológica só desvendarei no dia seguinte, na primeira lá estou eu cabeludo, com ele diminuto de encontro ao meu corpo cabeça nos meus ombros privilegiando a diferença de tamanhos, uma foto onde o principal foco são seus bisavós, minha Oma e meu Opa, esta veio acompanhada de outra dele cabeludo menino criança e mais duas do irmão poeta quando ainda não se via como tal. 


     Fechando este colar de afeto, busco refúgio em meus livros aguardando a nova coleção de dias que irão complementar o fim de ano, depois do afeto vem os dias em que refletimos sobre esperança e paz.  

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

TI e o Imaginário do Trabalho Remoto.

     É interessante ver como no imaginário da comunidade de TI associa-se o trabalho remoto executado de casa a uma qualificação do padrão de vida, tudo se passa como se optando por esse tipo de ajuste nas relações profissionais com sua empresa, estivéssemos imediatamente guindados a um paraíso, trabalhando com o máximo de conforto e comodidade.

     A mim nunca me pareceu agradável deixar o trabalho invadir meu ambiente individual dedicado à experimentação do significado da vida, vejo essa intromissão como perda, pois abrimos mão da reserva de vida dedicada à cultura e ao lazer, que confesso já a identifico com tempos insuficientes, quando comparada aos enormes tempos dedicados a sermos úteis à engrenagem de geração de bens de consumo.

     Gosto de pensar saindo da oficina, conseguir separar a vivência profissional da pessoal, ou seja, desligar-me completamente das atividades exercidas no labor diário, sei que me iludo que ainda me vejo eventualmente tratando algum tema específico do escritório entre um e outro pensamento dedicado à vida, isso sem contar às vezes em que desperto com a solução de algo em um sonho inevitável.

     Então se abrir mão desta fronteira entre a vida laboral e a do espírito, aposto sem medo de errar, que em muitos momentos ocorrerá interferência do trabalho sobre o dia a dia, que por direito à vida, devo dedicar ao lazer d'alma e do corpo, dando a César o que é de César e a nossa espírito o que deste o é, inferência essa cujo prejuízo é irrecuperável.

     O ócio, ao contrário dos boatos espalhados por espíritos mal intencionados, é por excelência a oportunidade de dedicarmo-nos às coisas que realmente nos interessam: nossa sede de liberdade, nosso caminho pelos labirintos interiores de nossa alma que nos levam à realização individual.


     Não é solução partilhar nosso espaço privado com o do trabalho, afirma minha lógica interna, colocando todas as minhas fichas de que o caminho das pedras, que realmente tem chances de funcionar é a diminuição do tempo de trabalho com a definitiva busca de separação total ente esses dois conflituosos ambientes, o da produção de cultura e o da geração de riqueza.   

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

A boba Alegria de Pai

     A razão grita n'alma forte, seus planos festejarem com os colegas, juntar forças consolidar os resultados de um ano como time, achar na amenidade as afinidades que nos darão forças para conseguir o novo ano que planejamos sim inscrito na confraternização de fim de ano com a convicção de poder como parte costurar com o grupo os melhores caminhos, certo apenas reforçar a base forte de coleguismo que nos levará a tal.

     O sentimento também n'alma presente, esse aguarda ansioso a confirmação dos resultados garantindo o término do segundo grau do filho mais novo e a confirmação da data e hora da formatura, é preciso apenas estar junto nesse momento, mostrar o afeto que o tranquilize para saber que sempre terá um pai olhando por ele, afinal agora começa a colocação das pedras no jogo em sociedade da vida.

     Razão que costura a presença de todos na confraternização de fim de ano, pois avançamos muito nesse ano que termina e sem dúvida temos recursos humanos e técnicos para alavancar o sucesso do próximo, assim trabalhando para superar as pequenas dificuldades de um e de outro e de também participar desta síntese de resultados alcançados e alcançáveis.

     Confirmou-se a ótima notícia da batalha vencida, segundo grau concluído, alegria, e infelizmente também o conflito, pois coincidem os fatos o momento de em grupo comemorar e juntar força para os novos desafios com o da solenidade de formatura do filho mais novo, e agora era a batalha entre a razão e o sentimento, e só a mim cabia decidir não iria conseguir conciliar no tempo os dois fatos.

     Decidi pela formatura, lembrando Descartes o velho amigo de leituras filosóficas, o importante é decidir e persistir na decisão, e a comuniquei ao pessoal, minha impossibilidade de participar do encontro, eu percebi que n'alma de quem incentivei a superar os obstáculos soou como uma traição, pois se este o pode superá-los não encontrou minha disponibilidade de presença, e também percebi que apesar de minha modesta participação no conjunto, ao mesmo lhe agrada minha parte de cimento que por ser antigo reforça o êxito de todos.

     Decisão tomada, apoiada pelo meu filho mais velho, lá fomos nós minha filha e eu em direção à PUC, onde de cara o abraço forte recebido do querido filho formando mostrou-me logo o acerto da decisão, nós dois eu e ela éramos os únicos presentes, poucos em número, mas suficientes para ele perceber que nos inúmeros nós que a rede da vida se apresenta ele teria a tranquilidade de saber que embora talvez nada pudéssemos fazer para ele seríamos um farol sempre presente iluminando os arredores para que ele livremente exercesse seus projetos.      


     Agora só me resta aguardar que o Papai Noel atenda minha cartinha e traga o presente que pedi os porta-retratos com as fotos de ainda crianças dos meus dois filhos mais velhos que juntando aos que já tenho dos dois mais novos, na minha embalagem de papelão cujo papel é se fazer de porta pedaços de vida, não que queira recordar o passado, mas gosto de olhando-os enxergar os homens e a mulher que serão depois do meu tempo, íntegros, humanos e gostando de si próprios enfim muito melhores do que eu pude ser.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Bom Cinema, Más Decisões.

     Poucas luzes neste início de semana para os apaixonados por cinema em POA, dois dias em sequência, dois fatos muito positivos: os documentários dos alunos de cinema da PUC e a Mostra de Direitos Humanos, dois problemas, sim em cada acontecimento uma decisão controversa.

     Na PUC, alunos mostraram seus trabalhos, seis grupos produzindo cada um o seu documentário, o resultado demonstrou a seriedade com que a instituição de ensino e seus professores tratam o cinema, confesso que para estudantes do segundo semestre vi muita qualidade, foi uma oportunidade bem aproveitada, o desafio era nos mostrar pessoas comuns vivendo situações incomuns, inusitadas, o que foi conseguido.
    
     Mas não poderia deixar de aparecer a polêmica, um dos documentários não foi exibido, foi censurado, por ser inadequado para menores, era um documentário que mostrava a transição de uma locadora de vídeos do modelo tradicional para a venda de vídeos pornô, não posso opinar sobre a decisão tomada, penso incorreram em dois erros, primeiro algo inadmissível para uma universidade censurar o trabalho artístico, quando seu papel seria fomentá-lo, promover o debate, segundo equívoco me parece o de usurpar o direito dos pais de assumirem a educação dos filhos, decidindo a universidade por eles.

     Uma proposta simples, certamente uma entra tantas outras soluções que não a censura, seria marcar a apresentação deste filme para o início e alertar aos pais com crianças que o filme era impróprio e que poderiam aguardar com seus filhos na antessala por seis minutos, que me parece que era o tempo da projeção, voltando para assistir os próximos. 

     No dia seguinte, no projeto "9ª Mostra Cinema e Direitos Humanos no Hemisfério Sul", o filme de abertura dirigido Lúcia Murat, "QUE BOM TE VER VIVA", muito bem dirigido por sinal, trouxe-nos os depoimentos de seis ex-torturadas pela ditadura e sua vida pós-acontecido, gostei muito do filme, envolvente, bem trabalhado em sua dinâmica e nos remetendo a pensar na impossibilidade absoluta de remediar o erro, a violência da tortura, bom tivemos problemas técnicos, acidentes ocorrem, vamos aceitar até pela precariedade de investimentos feitos na sala PF Gastal, que pela qualidade do trabalho do pessoal que promove cinema ali merecia melhores condições para os técnicos de projeção e para os cinéfilos.


     Porém iniciado os problemas técnicos, decidiu-se por obrigar-nos a conviver com os mesmos durante todo filme, quando me parece o correto seria de imediato suspender a sessão e remarcar a apresentação, pois as falhas técnicas repetiram-se várias vezes durante a exibição, congelamento de imagem com repetição do áudio, e tiraram a sequência do filme e como sabemos todos, uma segunda visualização nunca poderá substituir a emoção da primeira, rever é outra experiência.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Anjos & Demônios

     Partindo do pressuposto por um lado da unicidade do indivíduo e por outro da formação das maiorias de pensamento, tão comuns em nossa sociedade hoje, surpreende-me a escala diferenciada de reações apresentadas ante nosso comportamento habitual, quando entabulamos contatos individuais, de fato só verificamos comportamento hegemônico quando nos confrontamos com grupos, isto é no atacado, onde as vontades do ser humano submetem-se em benefício da manifestação do todo.

     Não estou analisando movimentos sofisticados e/ou complexos comportamentos, estou falando de um simples bom dia, e situando-o em um mesmo ambiente público onde pessoas dedicam-se a caminhar ou correr, as reações são as mais diversificadas, curtimos como retorno a esse singelo cumprimento desde uma reação agressiva, ofendida, de irritação, passando por um simples ignorar até um alegre sorriso, comportamentos tão díspares refletindo o fato de que o que somos em nada interessa, tão somente sofremos o que aos outros são, seus medos, suas fantasias e o seu mundo particular.

     O real só pode existir em um determinado momento e em nós mesmos, o que dispensa maiores explicações, ao nos contrapormos com o outro o enxergamos pelo somatório de nossas experiências anteriores, ou seja, nós o criamos à nossa maneira e semelhança, e o que mais me encanta nessa situação de criatura é que o nosso lado camaleão realmente pode corresponder a essa criação, pois desde sempre o demônio nada mais é do que uma das muitas caras do anjo.

     Se buscarmos enquadrar nossas vivências na régua definida em um extremo o maior índice de bondade e noutro o maior índice de maldade nenhum de nossos atos encontrará seu espaço em qualquer ponto dessa régua, essa escala de qualificação não se sustenta, apenas vivemos como conseguimos, quaisquer atitudes tomadas são apenas esta manifestação da vida e como tal válida no nível de ser humano individual, sempre que este se respeite.


     Estas linhas são apenas a manifestação de uma curiosidade e o desejo de alinhamento com quem as lê, não creio na dualidade entre o bem e o mal e sim em atitudes baseadas na honestidade consigo mesmo, eu creio na impossibilidade de em algum instante de qualquer relacionamento indiferente da intensidade coincidir a foto que autogero com a imagem que o outro projeta em si de mim.