sábado, 31 de outubro de 2015

Vendaval de Barbárie

     Tempos difíceis, estamos vivendo um festival de barbárie na nossa terrinha querida, o Brasil foi invadido por uma onda de desinteligência, incompreensível pelo menos para mim é a falta de resistência a ela na sociedade, talvez a desesperança gerada por erros dos governos de esquerda abriram a guarda para o avanço de pensamentos pequenos, fascistas e discriminatórios, estamos produzindo atraso social em grandes quantidades, transformando-os em leis sem a contestação adequada das forças vivas do campo humano, estas estão envolvidas com a observação dos seus próprios umbigos e parecem nada mais ver.

     Tendo recentemente a alegria de ler Natureza Humana, Justiça versus Poder, que relata o debate entre os grandes Foucault e Chomsky, acontecido há mais de quarenta anos, época impactada pela descabida e obtusa Guerra do Vietnã, esses dois filósofos de grandes luzes pessoais lançam-me em direção à construção de um grande futuro, acordo desse sonho obrigando-me a viver a tristeza da impiedosa realidade nacional, com seus legislativos de intelectualidade padrão “idade média” que nos levam à imersão em uma nova época de trevas, criando leis contra o homem com a leviandade só justificada por sua incapacidade de fazer qualquer raciocínio.

     Nada disso deveria surpreender-me, somos um país que desmontou o sistema educacional, não apenas na qualidade da proposta do que ensinar como também na destruição da autoestima dos educadores a tal ponto que hoje só ministra aulas quem não vê oportunidade de outra carreira, ou seja, o faz com o desinteresse de quem não é respeitado na sua missão o que é acompanhado pelo completo desinteresse das novas gerações pelo conhecimento, salvo como sempre os heroicos resistentes que como exceções justificam a regra.

     Lembrando-me do debate onde apesar de discordarem quanto à definição de natureza humana manifestaram-se unânimes pela desobediência civil como resposta justa a leis criadas para oprimir com o intuito único de exercer o poder, senhores se isto já era tão claro naqueles anos como justificar estes desmandos que estamos vivendo nos três poderes aqui e agora, a não ser pelo feroz egoísmo dos homens que deles participam com objetivo claro de antropofagia, isto é, devorar seus iguais para acumular riqueza e poder.


     Somos hoje apenas a casca fina das frases de efeito, ocas por dentro por falta de conteúdo, agressivas por fora se impõem no grito sem a lógica de argumentos, verdadeiros manifestos de fé em ídolos de barro associados ao culto da ignorância, que lamentavelmente como um todo o grupamento social não está sabendo como anular e contrapor com avanços para a natureza do homem e da sociedade, sim urge assumirmos a resistência.  

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

No Rastro dos Sentidos

     Não necessitamos ter afinidade com a ciência para entendermos a rede que existe entre os cinco sentidos e a mente, mas precisamos gostar de nós mesmos para tratar com carinho cada um dos movimentos internos provocados pela constante coleta de informação desses órgãos, eles trabalham incansavelmente para que possamos organizar em nós uma imagem precisa da natureza do nosso entorno.

     Permitir como fazemos quase sempre que as sensações estejam fora da percepção, administradas por controle remoto pelo inconsciente, significa sim abrir mão de nós mesmos, pouco a pouco transformamo-nos em objetos insensíveis, verdadeiros robôs que apesar de privilegiados por ter uma atividade cerebral de exceção muito mal a aproveitam.

     Uma simples rosa, nossa visão permite ver seus traços delicados com suas diferentes deslumbrantes cores, nosso olfato identifica os tons de seus cheiros, doces perfumes, nosso tato permite sentir o aveludado de suas pétalas bem como o leve rasgar dos espinhos na nossa pele, tudo isso passa de roldão, como que despercebido, ficando catalogado em nosso particular big data o qual aproveitamos muito eventualmente.

     Parar! É preciso parar, esquecer ou no mínimo contornar a velocidade das coisas, para concentrarmo-nos no momento e em suas circunstâncias, curtindo o valor que nos traz sua ação sobre nós e o seu papel transformador, conscientes de que estamos mudando, reconhecendo-nos como mutantes, com o intuito de não permanecermos o estranho que quase sempre somos para nós mesmos.

     É simplesmente espetacular e indescritível o que ocorre a partir de uma pequena sensação, nossos mecanismos internos disparam e se contrapõem com todas as sensações já vividas, com todas as reações já realizadas e as analisa em função de sensações similares, tudo isto ocorre sem que haja qualquer noção inteligível de tempo e o que é mais importante resultam deste fato múltiplas opções de atitudes a serem tomadas que nos permitem exercer o livre arbítrio.


     Meu grito hoje é por busca de tempo para nos olharmos, enxergar o suficiente com o objetivo de sermos mais gente e melhores, oportunizar que o desperdício permanente das nossas potencialidades seja evitado, que possamos extrair água da pedra, não como mágica, mas como exercício pleno de nossas capacidades, mais inteiros assim poderemos em conjunto descobrir um mundo muito melhor.                 

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

A intimidação física e moral

     Não pretendo entrar no debate político-ideológico nascido a partir da proposta do tema da prova de redação do Enem, porém o momento me estimula a explanar alguns pensamentos sobre a violência, já lhes adianto que por convicção acredito ser muito mais ampla do que no geral o contempla o debate público, vivemos em uma sociedade com viés definido de exclusão e dominação.

     Quem recorda algumas de minhas reflexões anteriores sabe que gosto sempre da análise dos assuntos pelo lado amplo não restrito a casos particulares, gosto de propagar a ideia de uma luta forte contra a violência em geral, podemos discutir casos específicos como a violência contra a mulher, contra a criança, contra as diferentes raças e muitos outros, apesar de entender e valorizar quem assim dedique seus esforços, eu defendo a localização e denuncia de toda e qualquer violência.

     Gosto de focar sempre na questão da preparação do ser humano historicamente deficiente e predadora para todos os sexos, muito mais o é para o feminino, quadro simples uma família, que somada á escola, é a base da preparação para a convivência social, os dois mecanismos claramente identificados com a opressão, essa família é composta por crianças de diferentes sexos que não tenham duvida além de oprimidas o serão diferentemente por causa do sexo.

     Iniciamos pela própria relação entre os adultos onde na maioria dos lares a mulher é submetida a uma relação desigual tanto na parte de manutenção da casa como nas responsabilidades com os filhos, isso quando não submetida á própria violência física e quase sempre a violência moral de lhe tirarem a liberdade sobre seu corpo, à menina cresce neste ambiente apreendendo a aceitar seu futuro papel.

     Desde pequenos o tratamento na maioria dos casos é desigual, onde a futura mulher é colocada em uma cerceadora redoma, alega-se proteção, em verdade é a iniciação a submissão, o rapaz é estimulado a sair à rua interagir com o mundo no aprendizado da liberdade, embora esta seja muito restrita pelo jogo econômico-social do poder.             

      Ainda no desabrochar da sexualidade por ocasião da convivência com outras crianças, se os adultos descobrem as brincadeiras inevitáveis de descoberta do prazer, instala-se a repressão certamente mais acentuada contra a menina, afirmo que na maioria dos casos a menina será fortemente reprimida e na maioria das vezes o menino elogiado por seu padrão macho de comportamento, não deixa de ser uma opressão a obrigação deste papel de garanhão que ele deve carregar por toda a vida.  


     Apoio decididamente as feministas na luta contra a insistência do poder estabelecido de retirar da mulher o direito à posse do próprio corpo com leis ilegítimas sobre aborto e comportamento social, o que se reproduz em quase todas as organizações dais quais ela participe.      

domingo, 25 de outubro de 2015

Promessa da Encruzilhada

     No imaginário do blues a encruzilhada era o momento de assinar o contrato com o demo e assim garantir no presente o sucesso como músico e no futuro distante a colocação no inferno d’alma, tudo dentro dos conformes da civilização cristã onde a festa, a alegria, a felicidade pessoal, o prazer dos sentidos, são aqui e agora a própria manifestação do mal, pois ao bem cabe o recolhimento, a tristeza, o sofrimento, a negação do prazer.

     Hoje nas fantasias ilusórias do poder o grande sonho é recuperar em meio da atual complexidade mundial os conceitos estabelecidos na encruzilhada do bem e do mal, associar sempre que possível à esquerda os ideais de liberdade, igualdade, solidariedade coletivos como usurpadores da liberdade individual, e à direita a oportunidade de disputar no corpo a corpo um diferencial para si na comparação com o outro a oportunidade do paraíso anunciado pela riqueza que representa o viver à custa de outrem.

     Não nos parece difícil montar este circo como pão sempre o há a receita esta completa, repetimos as mentiras com a insistência necessária para terem a cara de verdade, temos para isso a grande mídia que apesar de sua crise existencial nunca deixou de trabalhar para o poder, também temos dinheiro suficiente para trabalhar espertamente nas redes sociais com mensagens em vídeo, textos e caricaturas que associam pedaços de realidade fora do contexto com a esquerda e vinculando-os aos fatores de antemão conhecidos como responsáveis pela insatisfação do homem moderno.

     A parte da direita na encruzilhada é muito fácil de ser exercida, pois o enaltecimento da vitória pessoal como justificativa plena e completa de toda e qualquer atitude, amparada pelo seu deus construído sob sua medida para associar o sucesso à bem-aventurança, homologa toda a hipocrisia de seu comportamento, glorificando a mistificação pela inverdade como salvação do homem e do mundo.

     Já à esquerda com seus escrúpulos em relação ao homem está na parte mais difícil do debate, sabe que a igualdade só pode ser construída a partir do alicerce das oportunidades distribuídas de maneira homogênea entre todos na sociedade, obrigada a jogar o jogo na casa do adversário e com as regras por ele determinadas corre demasiadamente o risco de contaminar-se com a corrupção do poder.


     Em particular não acredito mais no jogo das massas, jogo todas as minhas fichas no crescimento individual do homem livre, que por sua força, sua independência, sua resistência, serve como profeta evangelizador do novo homem, que ao ser visto em sua serenidade, no continuado viver o melhor presente, frutifique em outros iguais livre pensadores.            

sábado, 24 de outubro de 2015

Pílula Dourada não é Literatura.

    Por certo é um desserviço para a humanidade um determinado tipo de escritos que circulam por opção econômica das editoras no formato de livros, infelizmente aparecem como literatura quando são apenas pílulas douradas, frases de impacto escritas com objetivos claros e específicos de preencher uma necessidade detectada de antemão, na prática, feitos por encomenda visando um público pré-existente que os consumirá.

     Na lista dos mais vendidos mais um recorde de vendas, milhares de leitores muito bem orientados pela mídia de tempo em tempo elegem um novo guru, o assunto aqui são os famosos escritos de autoajuda, temo-nos de todos os tipos para quaisquer os gostos e necessidades, produzidos em série aparecem revezando-se nas listas dos dez mais, são puro ilusionismo tipo canto da sereia que é encantado não existe.

     Quando inventariamos as vendas farmacêuticas estão lá sempre no topo os antidepressivos, os percentuais de consumo desse tipo de medicamento são altíssimos, fala-se em números tipo quarenta por cento da população adulta os consome, não encontramos sinais de diminuição e sim de aumento do consumo, manter quimicamente um equilíbrio é parte da solução, sem investir no crescimento pessoal não resolve e cria dependência.

     Imagino que lhes pareça que estou misturando alhos com bugalhos, paciência tenho motivos para associá-los, podemos começar por similitudes quanto aos usuários, iniciados no consumo poucos abandonam o hábito, também a maioria é seduzida a complementar seu uso com outro produto do mesmo perfil, são as pílulas douradas que prometem a felicidade.

     O processo é perverso funciona em espiral, parte de um incômodo pessoal, a necessidade de superá-lo, a recepção de mensagens com promessa de felicidade eterna, a adoção do remédio ou do livro como descoberta de caminho, a euforia e o entusiasmo inicial do seu consumo, a frustração por descumprimento de função, e estamos de volta ao ponto de partida: o incômodo pessoal...

     Não considero correto misturar literatura com a indústria de produção de livros, descobrir uma estória com seus personagens, comportamentos, encadear situações, prender a atenção por cada parte e pelo todo, isso é escrever um livro, isso é literatura, porém aproveitar-se do conhecimento que temos de que pessoas em números expressivos têm necessidade de resolver seus problemas de autoestima, equilíbrio pessoal e publicar escritos para iludi-los são apenas negócios, acredito no viver a leitura de um livro e não no consumir uma sequência de frases motivacionais.  

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Caminhante Solitário Social

     O que temos não é uma frase solta, tampouco estamos desenhando e encadeando palavras, é em verdade um conjunto de metas que pretendem nortear este momento pessoal, embora possam ser também aderentes a outros espaços de tempo em minha vida, eventualmente terem caracterizado desde sempre minha existência, hoje gostaria de facilmente ser visto por esses sinais definidores e assim identificado por quem tivesse vontade de fazê-lo, muito prezo a sensação de prazer do movimento, o gosto de estar comigo mesmo e sempre ver os outros em seu lado talentoso.

     A opção pelo movimento que mostra o caminhante destacado no título, alimenta-se do prazer enorme que sinto ao observar a panorâmica móvel de trezentos e sessenta graus de meu entorno enquanto me desloco, visualizo os locais e suas pessoas seus seres vivos suas coisas, todos sempre me trazendo quantidade e qualidade de recados importantes tanto estéticos como intelectuais, me delicio com eles explorando em mim as mais diversas sensações o que realça a importância dos sentidos, e variadas ideias dando peso à importância do pensar, é no próprio movimento que me dedico a construir textos, me dá prazer elaborá-los em pleno deslocamento, por longo tempo  fico ruminando-os até encorajar-me a representá-los em escritos sendo que muitos, em outro momento,  transformam-se em postagens neste blog.

     Já o termo espremido entre o primeiro e o último, solitário, é a própria preocupação com o existir, não se explica não se justifica é apenas uma constatação por si mesmo, e se não consigo torná-lo compreensível no mínimo o tenho muito presente na constância com que o trabalho em mim, não me é muito importante se de fato o que sou é real, talvez seja apenas imagem projetada de algum sonhador que por sua vez bem poderia ser resultado de outro sonho sonhado, ser solitário é o tempo que tenho para mim e o divido com o imaginário de outros que também tiveram seu tempo nos livros, nos filmes e nas imagens que vejo.

     Social, sim me importa muito a leitura das pessoas e seus talentos que comigo cruzam, para elas dirijo as atenções do meu olhar, do meu cheirar, do meu escutar, esses três sentidos se destacam, pois os outros dois, o saborear e tatear, são aproximações perigosas que o bom senso exige evitar e guardar para momentos especiais, gosto de um bom dia solene e vigoroso seguido de algumas sentenças funcionais o que sempre é uma espécie de proteção à aproximação exagerada, busco evitar o receber e fazer confidências que nos arrastam para o envolvimento.


     Conheço por demais minhas fraquezas, manter os mecanismos de proteção é defender minha saúde física e mental, sou presa fácil das redes que os encontros propiciam por isso a distância premeditada, preciso muito cuidar do entender-me tenho muitas coisas a explorar em mim e admito já perdi muito tempo distraindo-me com relações onde além de não poder nada entregar de curtir-me esquecia.                       

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Dilema da Aceitação

     Um dos temas que sempre me agradou é a questão do processo de crescimento do homem e a revolução interna permanente ao qual ele se submete por convivência com os seres vivos, independente do tipo e da característica da relação, um caso particular que me parece muito interessante é o que chamaria de dilema da aceitação, ao qual por sinal sempre estamos expostos ao ingressarmos em um grupo pré-existente de seres humanos.

     Não gostamos de portas fechadas, buscamos entradas abertas para inserção social em um tipo de específico de viver, ou em um conjunto organizado de ideias, ou em uma opção de lazer, ou que seja em qualquer coisa, na maioria das vezes não procuramos pelo tema propriamente dito e sim por necessidade de sermos aceitos em um ou vários grupos sociais, o que ocorre tanto nos ambientes físicos como nos virtuais de convivência, talvez até mais nestes últimos nos dias de hoje.

     Os agrupamentos de pessoas têm sempre um código interno, particulares são sua moral e ética estabelecidas de maneira formal ou informal, sempre resulta em cumprir as regras de parte do candidato a ser iniciado, se avançamos um pouco percebemos que a necessidade de inserção social exige do indivíduo mudanças como salvo conduto para a participação neste ou naquele time.

     As mudanças podem ser interiores ou apenas manifestações externas, independente do caso prático de uma ou outra são traumáticas por igual, se internas pelo ruído permanente que os conflitos íntimos causam no bem-estar pessoal, caso externas pelo estado de vigilância continuada com intenção de evitar trair-se em frente a todos e expor-se à rejeição.

     Quando pensamos em transformação pessoal sempre temos como motivação a nossa relação com o mundo, porém temos diferentes maneiras de vivenciá-la sendo a mais inadequada a da capitulação, isto é, me modifico por osmose de ideias de outros, aceitando como verdade minha a que não me pertence e como tal fraudando a mim mesmo. 

     De fato estamos sempre em transformação, ou seja, o problema não está no ato que é desejável e sim no processo, quando mudamos precisamos da sintonia fina com nossos mecanismos internos de ser e pensar, avançar na nossa construção pessoal é para nós tarefa única e intransferível.     

     Coroar a hipocrisia como padrão de comportamento talvez seja a escolha feita com mais constância na convivência social, quando buscamos distrair-nos da solidão e garantir aceitabilidade, com isso substituímos a desejável transparência obtida na coerência com os valores e aspirações pessoais por uma experiência menor, esta opção pela diafaneidade, mesmo que com tal postura coloquemos em risco sermos aceitos, é sempre desejável.             

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

A Força do Ato Justo

     Lembro-me sempre daquela cena de um dos filmes do grupo inglês Monty Python, em plena Roma antiga no Coliseu, contemplando os gladiadores estavam vários pequenos grupos de esquerda ocupados em discutir entre si, pequenas diferenças resultavam em impossibilidade de convivência harmônica entre eles.

     Essa é uma lição antiga que ainda não apreendemos, continuamos a apresentar armas entre nós mesmos, a lutar por prioridades de pautas que na maioria das vezes são sim importantes, porém irrelevante é a discussão de sua ordem no plano das lutas sociais, em muitas oportunidades o que vemos é a submissão à tentação da vaidade tão comum por ocasião dos discursos, já lhes manifestei meu pensamento em outras oportunidades para mim tudo passa pela questão da resistência ao poder.

     As situações de conflito ocorrem a cada instante na relação entre o homem e a mulher, por exemplo, a questão do aborto é fundamental, pois devolve à mulher o direito ao seu corpo e a sua integridade, na relação entre as diversas raças a descriminação por características físicas é odiosa e em obsoluto inaceitável, no fato econômico a má distribuição da renda, renda essa gerada por recursos onde todos somos sócios por igual e teimosamente concentra-se nas mãos de poucos por clara apropriação indevida, opções de modo de vida são desrespeitadas constantemente como se possível fosse alguém determinar o comportamento pessoal de outro ser humano.  

     Urge a tomada de posição intransigente individual no varejo, no dia a dia, que seja o nosso exemplo baluarte de evangelização para o acréscimo das pessoas justas momento a momento, a cada situação de conflito sempre o posicionamento transparente de denúncia do poder e anúncio do exercício da resistência devem ser vividos e se mostrarem capazes de ser enxergados, provocando à reflexão de terceiros quanto à justiça de seus procedimentos, ampliamos assim a nossa capacidade de pensar, bem como também o fazem os que conosco cruzam caminhos.

     Desde sempre não me agrada o discurso voltado para o outro, me conforta a troca fraterna de opiniões até como desafio continuado e crítico ao meu pensar, não acreditando que o texto em si possa somar a alguém algum conteúdo, a não ser como um amadurecer interno da obrigação de refletir funcionando como contraponto, por outro lado entendo a influência poderosa que tem o observar das atitudes de outrem, o quanto me alegra quando as percebo como justas e tanto que me ajudam a decidir-me por portar-me com mais justiça.   

     Não é necessário juntarmos centenas de pessoas para gritarem palavras de ordem, porém é imprescindível termos sempre em maior número independente de se conhecerem ou partilharem teses, pessoas caminhando lado a lado praticando, independente do tamanho, atos de justiça. 

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Difícil Entender, Devo Ser Muito Burro...

     Desculpe-me o querido animal, que pelo que sei é bastante inteligente, mas acordei com esta frase na cabeça “Difícil Entender, Devo Ser Muito Burro...”, bom só soprá-la nos seus ouvidos nada significa me sinto na obrigação de explicar-lhes, é o que farei, vamos falar de coisas que muitos dizem mortas, mas que de fato estão mais vivas do que nunca: o conceito de esquerda e direita e suas contradições no dia a dia.

     Quando escutei em uma conversa da qual participava o conceito de que Michel Foucault com o avançar da idade foi se posicionando mais à direita, só pude aceitar tal afirmação pela juventude dos postulantes, não que com o passar da idade seja muito difícil a transição do pensamento mais de esquerda para mais de direita, pois o aproximar-se da morte nunca o é sem consequências, mas sim pela justificativa usada de que tenha passado a preocupar-se com o indivíduo em substituição ao foco inicial que era a coletividade.

     Quando falamos da tão sonhada sociedade de homens livres, usufruindo igualmente da distribuição dos frutos da produção, só a podemos conceber se construída sob o alicerce sólido de homens completos, lançados para exercer a potência, capazes de se enfrentarem de igual para igual na busca do consenso, que nada mais é que a soma coletiva dos inúmeros talentos pessoais, se for para construí-la sob a forma de rebanhos estaremos criando novos candidatos à Stalin que tanto mal fez a mais importante tentativa de uma sociedade comunista, justa e igualitária.

     Lembrei-me da injusta acusação feita a Camus, a partir de sua desavença com Sartre, de um volver à direita, brilhantes ambos pensadores de esquerda desentenderam-se basicamente sobre a necessidade de seguir uma disciplina partidária apesar dos disparates autoritários acontecidos na antiga União Soviética, como se possível fosse faltar com a verdade, no intuito de salvar uma boa ideia, por meio da subtração do conhecimento de sua má execução.

     A ideia que bem define a direita é a de a titulo de mérito pessoal reservar-se o direito de parasitar outros seres humanos direta ou indiretamente, e hoje a justifica desenvolvendo toda uma filosofia conceitual de meritocracia, que esquece propositalmente das históricas diferenças de chances a que a sociedade submete todos nós, é a própria lei do acaso somado a um comportamento oportunista que descamba sempre em pré-conceito e prepotência.                             

     Desenvolver ao máximo seus talentos sempre foi uma posição igualitária, de esquerda, o que nada mais é do que uma defesa intransigente do Homem, da construção de todas suas potencialidades e de sua colocação a serviço de outros homens e da natureza, de tal maneira que os frutos da sociedade sejam igualmente partilhados por todos.


     Cresce hoje o barulho da direita pela obsolescência da necessidade de argumentar na sociedade do curtir, da falta de tempo para pensar, do escândalo da proliferação de imagens fora de contexto e contra o ruído só nos resta tapar os ouvidos, construir a partir de nós mesmos os momentos sociais de igualdade e sustentabilidade e assim exercer nossa posição de esquerda.        

domingo, 11 de outubro de 2015

Não há Limite para o Sonho!

     Acordado ou não o sonho é inevitável e ilimitado, não lhe é barreira o tempo, o espaço, muito menos o outro, seus limites são o infinito de nossa existência olhada de dentro para fora por nós mesmos, talvez seja o único local onde podemos olhar de frente a morte, dialogarmos com ela e a vencermos, posso me ver morto sabendo-me vivo.

     Quanto ao outro, claro está que nada pode contra meus sonhos, ou contra os seus, determino, ou determinamos, todos os parâmetros desta convivência sem chance de qualquer interferência, posso ser feliz, desastrado ou impotente a meu bel-prazer sem a menor manifestação de vontade de outrem, minha vitória ou derrota só eu as determino de acordo com o momento dos meus deuses internos e sua consequente projeção no meu estado de espírito.

     Se for do tempo que falo, olho-me no espelho e me vejo igual desde sempre e para sempre, os que me veem de fora se veem iludidos por uma forma e uma postura que em nada corresponde ao meu eterno e contínuo período interno, no qual os eventos reais se sucedem, e meus gestos, minhas falas, enfim minhas atitudes do ponto de vista deles não correspondem à realidade do meu ser são apenas ilusões vividas por eles nunca por mim.

     Se olho o espaço o sei infinito pelo simples fato de me ser permitido mesmo não saindo do lugar andar sempre em frente, mesmo nunca chegando desde sempre lá estar, vejo a mim mesmo esperando no lugar que sei que sempre meu será, pois posso e sou onipresente, todos os lugares me pertencem e me representam e assim o são para todos vocês.

     Se assim divago é por bem querer a vida, por saber que por mais que tentem, não poderão interferir nos meus propósitos, caso me perguntem qual a graça de uma vida assim já vivida? Minha resposta é sempre andamos sobre nossos passos e essa repetição é que nos leva em frente, este jogo de perguntas e respostas já é previamente resolvido e assim o é porque sempre encontro as perguntas partindo de respostas que de antemão sei.   

     Está aí o único direito que me reservo, ao qual não permito contestação, o direito de sonhar de olhos abertos ou fechados e dono de um mundo só meu construí-lo da maneira e do jeito particular desejado pela minha alma, e tal direito que me outorgo é universal logo um direito de todos e como tal a única realidade justa e verdadeira.


     Que assim seja, concluo essa reflexão de domingo chuvoso, desejando que nossos sonhos se encontrem na imensidão do tempo e do espaço e sejam felizes para sempre.  

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Mulher como Mistério, Homem com Medo.

     Salvo em nossa infância quando brincamos entre crianças com nossa sexualidade independente de parceiros e traumas, o que é argumento favorável à defesa da tese da artificialidade dos fantasmas internos que aparecem por ocasião das relações adultas (serão adultas?) entre homens e mulheres, a espontaneidade infantil contraposta aos ardis da maturidade demonstra a carga de pré-conceitos da qual somos vítimas por imposição social durante o aprendizado de crescimento (ou seria uma domesticação?).

     Não esquecendo que a intervenção opressora de adultos abusando da inocência dos pequenos é a única causadora de abalos no equilíbrio psicológico dos menores, o que não acontece nas relações estabelecidas entre eles na mesma faixa etária que resulta em preparação para vida, não são exercício de poder e sim construtoras de relacionamentos e posturas em relação a futuras ligações afetivas, são nada mais que experiências. 

     O desenvolvimento de uma aura de mistério especificamente em relação à mulher, nada mais é do que uma extensão da falta de naturalidade nas relações entre seres humanos em geral, todos guardamos defesas ao relacionarmo-nos com alguém, por termos sido preparados para tal, manipulamos nossas palavras e atitudes escondendo a motivação real do seu executar, e o fazemos tão bem que até de nós mesmos conseguimos ocultá-la.

     O Mistério interessa, mantém a chama do interesse, com a permanente busca de decifrá-lo multiplicamos encontros fugindo da tendência natural de relações diversificadas, não estamos falando de má fé, estamos sim tratando da consequência visível de um processo de colonização cultural.

     O medo acompanha o homem nas suas relações com o sexo feminino, por mais que seja escondido ou disfarçado por atitudes machistas, ele está sempre presente, o próprio machismo deve ser visto como um mecanismo de defesa. Posso ter medo do que possuo? Mas impor dominação é admitir o medo e só a exerço para vencer a insegurança que tenho na relação.

     Estivemos muito próximos de superar essa questão do mistério e do medo no entorno da década de sessenta, após um grande avanço na questão da liberdade nas relações entre os dois sexos, a sociedade como um todo retornou a uma posição conservadora, principalmente pelo advento da AIDS e acredito que tão somente após a liberação econômica da mulher, que por sorte está em avançado andamento, retomaremos o caminho para relações livres e maduras.   

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Desagregação de Corpo e Alma!

     Uno é o homem equilibrado no atender as necessidades do corpo e o espírito, a harmonia dessas duas partes compondo um todo saudável é sobrevivência de qualidade, o que só é possível neste contrato vital entre as individualidades onde uma respeita a outra, a subjugação de uma pela outra desagrega a entidade gerando a decadência, juntos representam o ilimitado e se autoalimentam crescendo em potência, a saúde da sociedade é dependente em quantidade de seres assim estabelecidos.

     Hoje a desagregação nos chega via definição de um padrão físico e mental ao qual devemos nos submeter, e com que força insistente se manifesta esta requisição, com ameaça de não sermos belos, de não termos sucesso, de não sermos felizes caso não nos moldemos pelo figurino proposto, passa sempre pela reprodução em série de perfeitos seres humanos definidos por outrem.

     Sabemos que o criador do modelo não é alguém específico, são apenas múltiplos interesses econômicos que necessitam manter em movimento a máquina de consumo, para tal são investigados todos os nossos comportamentos, explorados nossos pontos fracos, exaltados nossos pontos fortes e abusadamente construídas estratégias de manipulação e controle, a cada dia mais apoiadas em algoritmos de análise comportamental aplicados sobre enormes e ilegítimos armazéns de dados.

     Por incrível que pareça salvo honrosas exceções, não conseguimos enxergar o fato de que ao chegar neste padrão sugerido, perdemos valor em vez de agregar, pois fomos feitos para sermos diferentes em talentos e completarmo-nos uns aos outros e não apenas mais um artigo produzido em série dentro de uma esteira padronizada de fabricação de tolos e obedientes robôs. 

     Não sei por que ainda me surpreendo se conheço a velocidade e a quantidade de ordens de comando que nos são impingidas, sempre dentro do obsoleto esquema dual da punição e da recompensa, onde nosso posicionamento em relação à proposta feita define ora um, ora outro, ora prêmio, ora castigo, o certo é que perdemos a qualidade de seres multifacetados e nos defrontamos contra o precipício entre o bem e o mal, como se tal abismo existisse.   


     Que abismo está em nossa frente? Qual é o precipício de que falamos? O da permanente insatisfação com o que temos, pois a posse é efêmera, a inquietude humana é de nossa natureza e deve ser atendida e incentivada, a posse não é falta de consistência por si só, fundamenta-se em critérios de perda e ganho, se possuo me diferencio e me iludo, pensando ser vitorioso na comparação com quem não o tem.