segunda-feira, 28 de julho de 2014

Alegria, não acabou o Cinema.

     Se o público morreu, e isso é constatado pelo escasso número de frequentadores, os filmes que tenho visto felizmente me apontam um cinema mais vivo do que nunca, tenho tido a oportunidade de ver duas ou três vezes por semana filmes de excelente qualidade, que conseguem envolver-me com reflexão, emoção e lazer, isso tanto nas salas do novo mercado dos shoppings como nos espaços culturais novos ou tradicionais de Porto Alegre.

     Não sendo um entendido no tema cinema, sendo apenas alguém que gosta de ver filmes, não me nego a analisar, quando vejo os grandes campeões de bilheteria, sempre tendo como foco "efeitos especiais", muito movimento, muita ação sem dar tempo de pensar para o público, vejo-os como os festivais de fogos de fim de ano, bonitos para o tempo que dure, onde saímos como entramos sem nada agregar a nós mesmos, apenas não vemos passar mais uns grãos na ampulheta do tempo, mas passaram e são impossíveis de recuperá-los.

     Muita gente boa dirigindo, filmando, dedicando-se a sétima arte, com muito pouco dinheiro e grandes resultados, isso em todas as partes do mundo, mas o público educado pela televisão, onde buscar o espaço da propaganda tem prioridade, pelo mundo dos games que enfeitiçam, pela internet dos vídeos de minuto, não pode se sujeitar a parar uma hora e meia para saborear a inteligência, a graça e a beleza de um bom filme.

     Talvez vocês tenham razão não é apenas no cinema que as coisas andam desse jeito, na literatura vemos o mesmo, com bestsellers que são obras sem poesia, com frases esparramadas em estórias que reproduzem jogos, repetem-se em si mesmas, construídas em série de muitas páginas, como filmes de continuação programada, me cheiram tanto livros como filmes ao mau perfume da indústria por encomenda.

     As teses têm continuação? As teses têm efeitos especiais? As teses têm o movimento contínuo de um carrossel maluco? Por certo não, elas têm algo a dizer e um filme ou um livro que não tenha nada a dizer não sei como catalogá-lo, penso, presta um desserviço à causa da cultura.

     Não pense que não acredite que se possa fazer cinema com a câmera de celular ou algo do gênero, não vai por aí meu questionamento, claro defendo a ampliação das oportunidades de produzir que as novas tecnologias alavancam, mas não posso aceitar que o faça quem nada tem a dizer, e essa parece ser a grande oportunidade do nosso século: muito espaço para quem não pensa.

sexta-feira, 25 de julho de 2014

O Tempo nos Escritos de Proust

     Relendo Marcel Proust, por sinal em tradução brilhante do nosso grande poeta Mario Quintana, que também prima pela sensibilidade e qualidade literária, em outras palavras somando arte do autor com arte do tradutor, o que encontramos é uma prosa que se apresenta como pura poesia, que encanta por seus devaneios e beleza estética.

     Mas o que me proponho a discutir com vocês é o filósofo Proust, esta característica do autor nos passa muitas vezes despercebida, escondido no texto que nos enfeitiça pelo seu mágico estilo, muitos de suas colocações sobre a vida encontram eco no meu pensar, e talvez o que mais me agrade é sua maneira de ver a questão do tempo.

     Ele o investiga, através do protagonista principal revelando as diferentes características identificadas pelo narrador que nos revelam os mesmos personagens com comportamentos completamente diferenciados ao contracenarem com ele em diferentes tempos da estória.

     Um pouco naquela linha do pensamento "O homem é o homem e a sua circunstância", que nos faz questionar o conceito de sermos uma personalidade formada e avançarmos no tempo defrontando-nos com os obstáculos naturais das relações sempre reagindo com base nessas características básicas que nos definem.

     Também me agrada demais a colocação de um mesmo fato analisado nos diversos momentos que o tempo designa ao consumidor deste, que quando trabalha esta ocorrência no hoje o desgostaria profundamente, trabalhando a mesma noutros momentos pode apresentar-se como algo completamente indiferente, ou como apaixonadamente prazeroso.

     Proust explora os dois lados da moeda, a mudança no tempo do protagonista que enxerga e do que é visto ambos não são mais os mesmos em cada porção de tempo, sendo que o primeiro ainda carrega uma imagem distorcida do que ambos eram em momentos anteriores.


     Gosto desta questão de nosso “eu” atual não reconhecer os “eu” anteriores, pois o vê com os filtros que hoje tem e principalmente de não conseguirmos avaliarmos os atos daquele outro eu, pois não éramos os mesmos.

terça-feira, 22 de julho de 2014

Nada Como um Bom Chute no Traseiro

     O processo é bastante claro para mim, trabalho minhas convicções, transformo-as em ritos, tal como nosso querido animal o Burro, empaco na repetição interminável dos mesmos, sou tentado a perpetuar o mesmo ritual tal como a Terra que não se nega nunca a girar em torno do Sol.

     Certo não é uma repetição simples de fatos, talvez esteja mais próximo de uma estratégia de enxadrista que privilegia a posição das peças no tabuleiro e não uma sequência de jogadas, pois dependendo do adversário na partida a posição será alcançada por diferentes caminhos.

     Sim às vezes só consigo mudar o rumo a partir de um grande impacto, tipo um bom chute no traseiro, isto é, um movimento claro do parceiro de jogo, que me encaminha decisivamente favorável à condução do mesmo, e me obriga a rever as posições do tabuleiro que tanto amava, percebo que necessito encontrar novas posições capazes de me trazer a força e o equilíbrio.

     A mãe natureza já nos mostrou esse caminho há milhões de anos, quando o impacto feroz de um ser celeste qualquer a obrigou a redefinir a vida na Terra, a era dos dinossauros terminava, outro vida começava a impor-se, nem melhor nem pior do que a anterior, apenas uma manifestação diferente que a impulsionaria para um novo ciclo de realizações.

    Temos nossos ciclos, compará-los carece de sentido, pois os mesmos aí estão para serem vividos, e sempre em plenitude, gratidão é o que devemos ter aos incidentes que em nós geram estas mudanças, podemos dizer que em cada um desses movimentos renascemos, e assim nos desvinculamos por completo do período anterior como exigência primeira para o novo momento bem o vivermos.


     Não podemos aceitar a monótona repetição das mesmas coisas, nem sempre somos os agentes da mudança, nosso convívio é sim uma grande oportunidade para a mesma, apesar de só nós mesmos podermos realizá-la. 

quinta-feira, 17 de julho de 2014

Desafio em TI Sinônimo de Resultado

     Estamos na véspera, fim de tarde, um possível cliente, de oito meses de bom namoro ele acreditando que podíamos representar um caminho, nós confiantes em ter soluções para um novo cliente, estávamos executando ambos nossos papéis, avançando dentro da normalidade de um ciclo de negociação quase sempre longo, era o momento do parto, ele necessitava de uma entrega no fim de dois dias, como ponta de um iceberg de um grande negócio, o desafio estava lançado.

    Tínhamos todos os ingredientes da receita, um belo problema na mão, felizmente bem conhecido pelo cliente, um time de analistas e desenvolvedores multifacetado em conhecimento, preparado para encarar desafios, uma ferramenta sólida, de grande produtividade e principalmente a vontade de todos os envolvidos em fazer a festa, terminar o namoro com um belo casamento.

     Claro o candidato à cliente podia ser outro, o time também, a ferramenta temos outras no mercado, porém a oportunidade colocou-se em nossa mão com o time da GX2 e com a ferramenta GeneXus e nos pareceu a grande oportunidade de solidificarmos nosso conceito de produzir soluções com métodos ágeis.
  
     Bom, era quinta-feira, desafio aceito time ajustado cinco profissionais, um tempo integral e os outros em tempo partilhado nascia a lista dos tickets "A SER FEITO", todas as tarefas discutidas na reunião de planejamento tempos previstos confirmando a possibilidade de em um ciclo de dois dias entregarmos o solicitado.

     Bom, à medida que os tickets iam transitando entre a fila "DESENVOLVENDO", onde a palavra de ordem era não travar usar de imediato qualquer recurso necessário visando fazer acontecer, para a de "TESTE" e finalmente para a de "PUBLICAR", passando pelo "FEITO" e quando necessário pelo "SUSPENSO", sentíamos a importância do desafio transfigurando-se em resultado.


     Bom vocês já adivinharam o final da história, na sexta, fim de tarde desafio cumprido, desafio sinônimo de resultado, por quê? Conseguimos tirando de lado todas as vaidades trabalhando como um grupo horizontal onde todos os envolvidos tinham a mesma meta publicar a aplicação no fim da tarde de sexta-feira e colocaram nisso todos os seus defeitos e suas virtudes.     

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Revivendo a Revolução Industrial

     Jornada de trabalho de quatorze horas, uma das características da Revolução Industrial renasceu, sim vejo milhares de trabalhadores nas paradas entre seis e sete horas da manhã e retornando entre sete e meia e oito e meia, isso de segunda a sexta, sem esquecermo-nos que muitos trabalham no sábado em turno reduzido, mas trabalham.

     Ou devemos contar apenas o momento que o ponto foi batido, desconsiderando que esses enormes períodos de tempo envoltos em conseguir transporte e deslocar-se entre o trabalho e a casa, nem o governo nega isso, validando-o através da lei que admite como acidente de trabalho os períodos de deslocamento de e para o mesmo.

     Olho para a família, como casal, os dois trabalham com objetivo de ter condições mínimas de sustentabilidade, com essa enorme jornada realizada pelos dois, o que realmente sobrou para a família, quando vejo críticas fáceis dizendo que os pais abandonam a educação dos filhos aos colégios, mas como educar os filhos entre nove da noite e cinco da manhã.

     Isso que obrigatoriamente passa esse período por necessidades de um terceiro turno na própria casa, em sua limpeza, preparação dos alimentos, higiene e cuidados pessoais, quando lemos as histórias daquela época e as comparamos com as de hoje, a modernidade em nenhum momento apresenta-se como solução que permita ao homem debruçar-se sobre si mesmo e apostar na sua felicidade e na da convivência com seus entes-queridos.

     Não estamos nem colocando o fato de o aperfeiçoamento das formas de coação no ambiente de trabalho, do quase inexistente conforto do deslocamento que tem como consequência a devolução para suas casas de pessoas emocionalmente prejudicadas, altamente estressadas, propensas a comportar-se inadequadamente onde ainda lhe parece possível desabafar que é exatamente com quem nada tem a ver com isso que são seus familiares.

     Meu amigo não se iluda, essa cadeia não é perversa somente com as classes economicamente desfavorecidas, estende-se também até bem perto do topo da pirâmide social, onde vemos as pessoas nervosas em seus veículos do início ao fim do dia, com um pequeno consolo consumirem mais sem fugir de nenhum dos problemas que antes colocamos.


     Vida equivalente à da Revolução Industrial em pleno século XXI nos envergonha como humanos, e clama por nosso despertar... 

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Top dez

     Circular entre as listas top dez define o viver século XXI assunto obrigatório nas redes sociais, nas mesas de chope, nas conversar das esquinas, enfim parece que só o muito clicado é realmente digno de ser vivido.

     Conversando com um amigo, refletimos sobre o tema, e concluímos o que temos é a mais absoluta falta de assunto, porém temos um guia prático para emitir alguns sons e sermos ouvidos, esses famosos top dez que iludem fazendo-nos pensar que estamos por dentro, por dentro do que? Bom, aí já é pedir de mais, é top dez e sou partícipe da maioria.

     Bom caro amigo as vantagens são óbvias, não preciso refletir, o tema está para nós como uma fratura exposta, visível, claro, já decidido e mastigado é só me manifestar sobre o mesmo, mais do que isso é só reproduzi-lo e serei aceito como parte do rebanho, sou maioria.

     Deve ser uma questão de economia, devo estar desinformado, algum relatório científico, certamente top dez, deve ter dito que parar e buscar algo dentro de si, refletir sobre essa busca, deve ser prejudicial à saúde física e/ou mental, e comentá-lo com alguém, deve ser altamente antissocial.

     A tecnologia não nos tem ajudado muito, não consigo vascular os meus neurônios, fazer um selfie do pensamento do momento, montar um pequeno filme, nem ao menos tirar uma simples foto, talvez isso seja a prova que o pensamento está em extinção, pelo menos poderíamos ter alguma ONG que defendesse a preservação do mesmo.

     Vamos admitir realmente se desconheço os dez mais não tenho como comunicar-me, sou considerado um cara sem assunto, desconectado, algo tipo um "Neo" que acredita em oráculos e pensa que existe um mundo onde as regras de Descartes são utilizadas na busca da verdade.


     Como vamos seguir o popularmente conhecido "Penso, logo existo" se em sua síntese ele tem como fundamento o ato de duvidar, o que é completamente vedado à geração top dez?  Talvez o futebol seja a solução é um tema que pelo menos gera milhares de teses admitindo o contraditório, acho que vou me aprofundar nesse tema e ganhar meu passe livre nas rodas de conversa...