Lua cheia pálida
gelada com sua luz branca asséptica, madrugada estou maravilhado na minha
caminhada diária a contemplar essa beleza morta, quando a vejo bem o sei sua
majestade é dependente do sol que ela reflete o que não lhe tira o brilho e o
encanto sobre todos nós, nossos poetas lhe dedicam versos, nossos apaixonados
lhe dedicam amores, em mim hoje ela liberou alguns pensamentos e os partilho
com vocês.
Ao encontrar e respirar
o primeiro ar após nove meses bem cuidado no útero de minha mãe eu olhei em
volta e o que visualizei de imediato? Minha imagem de primogênito, sexo
masculino, loiro de olhos azuis, nascido em classe média com boas condições de
alimentação e educação, esse pacote todo venho de presente sem nada ter feito
além de vir ao mundo, portanto imerecidamente já me colocando em vantagem na
famosa corrida da “Seleção Natural” criada por Darwin melhor adaptado
socialmente para sobreviver que uma grande maioria, não que qualquer uma dessas
características seja melhor do que qualquer outra e sim que são privilegiadas
dentro do mundo torto que vivemos.
Também não sei o
porquê desde muito pequeno flertei com a liberdade, talvez a culpa por isso
possa ser dos meus pais, isso de ser livre tem como ponto de partida aceitar
muito bem a famosa ideia da confissão cristã, declare suas culpas conceituais
faça a penitência e conta zerada recomece a pecar de cabeça erguida, um pouco
fora do tema lembrei-me agora que depois descobri o catálogo mágico dos pecados
era só citar os dois de sempre, desrespeitei meus pais e pequei contra a
castidade resultando vida declarada e eu absolvido, mas o
que queria mesmo falar é que aceitava bem os castigos eram para mim uma grande carta
de alforria, um salvo conduto para buscar os meus prazeres de criança tendo
noção clara que tudo seria zerado com uma boa chinelada.
Depois mais
crescidinho nunca precisei o menor esforço para o que chamam “avançar na vida”
só me foi cobrado optar, tomar decisão, e as coisas aconteceram de modo que sempre
tudo andava bem, as oportunidades se jogaram na minha frente, óbvio por justas
causas no critério da competição viciada com todos os handicaps que a mim impuseram
não que eu fosse relapso por isso não merecedor, pelo contrário sempre fazendo
o que tive vontade o fiz com grande determinação, podem crer fiz de tudo, nunca
consegui fugir do rótulo de otimista que me colaram não poderia evitar sonhar
permanentemente com coisas boas se elas sempre ao meu encontro vinham e assim
levei a vida na fábula da cigarra e da formiga muito mais cigarra.