segunda-feira, 21 de outubro de 2024

O Atual Cinema Alemão e Suas Reflexões Sobre a Mulher.

 

               Uma parceria de sempre renovado sucesso, Cinemateca Capitólio e Instituto Goethe, nos permitiu o acesso a uma reflexão sobre o protagonismo da Mulher em duas épocas distintas, os ótimos filmes ‘Conversando sobre o tempo’ e ‘Sissi & Eu’.

 

               Os dois tem finais dignos da qualidade do filme, no primeiro vemos o sorriso tomar conta e explodir de maneira incontida no rosto da protagonista ao acompanhar a apresentação instrumental de sua filha, por sinal é neste final seu único momento de sorriso.

 

               No segundo após a morte da imperatriz vemos sua apaixonada dama de companhia, retornar a beleza natural da Grécia, junto aos penhascos frente ao mar para curtir a sua imperatriz agora transformada em uma poderosa e livre águia como era seu desejo.

 

               O certo é que as mulheres dos dois filmes têm personalidades muito fortes que transcendem ao fundirem-se com seus corpos físicos, fugindo aos padrões habituais de beleza, as atrizes merecem nosso aplauso por sua interpretação.

 

               No conversando sobre o tempo, a protagonista vive todos os contrapontos do mundo moderno, a questão profissional versos vida amorosa e sexual, a vida no interior e na capital, a maternidade e a profissão, o sucesso e a repressão de uma sociedade machista.

 

               Em Sissi & Eu, nos deparamos com o fato de que as mulheres livres, apesar da forte repressão, não são exclusividade dos novos tempos, sempre houveram e como hoje são e foram brilhantes.

 

               Os homens nos dois filmes mostram sua fraqueza em situações para as quais não estão preparados, ou seja, em viverem uma situação de igualdade na relação com uma mulher, neste momento por despreparo sua força sucumbe.

 

               Tanto para nós homens, como para as mulheres, os filmes nos remetem a diversidade de papeis que podemos viver em sociedade e principalmente a continuada tomada de decisão com o consequente direcionamento de vida a partir desta.

 

               Foi para mim uma experiência gratificante, viver estes dois filmes como público, imagino que este impacto benéfico o foi para tantos outros assistentes, parabéns ao atual cinema alemão pela qualidade da reflexão, pela excelência dos atores e direção, cinema é vida, emoção e reflexão e isto realmente nos proporcionaram.  

sexta-feira, 18 de outubro de 2024

Grande Evento onde Filme e Debate se Desencontram.

                Cineciência, projeto em andamento na sala Redenção, teve na ultima quarta-feira o ótimo filme ‘Filhos da Esperança’ e um excelente debate sobre a queda da fertilidade da humanidade nos tempos de hoje.

 

               O debate foi realmente de um nível muito alto, graças as competências das Dra. Norma e Dra. Adriana, serviu a todos nós de uma severa advertência sobre as causas de declínio da fertilidade no mundo moderno e os recursos disponíveis para preveni-la.

 

               Quanto ao filme, dispensa comentários é daqueles que toma por inteiro a atenção do público, uma forte denúncia contra o autoritarismo tanto governamental como da resistência, em um mundo extremamente dividido em facções e altamente poluído.   

 

               Só lendo os dois parágrafos anteriores já é possível visualizar o desencontro entre os dois eventos, ótimos cada qual, porém a única motivação para o tema da fertilidade no debate é o plano de fundo do filme, onde todo o filme acontece em um mundo onde a 18 anos não ocorria nenhum nascimento.

 

               Em nenhum momento o filme se propõe a discutir a questão fertilidade da humanidade, de fato só constata sua existência, toda a ação mostra uma sociedade poluída tanto ambiental como na solidariedade humana.

 

               Um debate sobre o mesmo deveria a princípio tratar do autoritarismo governamental contraposto por várias facções de resistência também autoritárias e a esperança de usar um possível nascimento como trunfo de poder e não de salvação.

 

               Muito do que nos mostrou o filme de 2008, narrando um acontecimento de 2026, mostra-se uma antevisão do que vemos hoje nos diversos campos de batalha como o oriente médio e a Ucrania.

 

               A miséria dos emigrantes em uma Londres em 2026, esmagados entre a violência do estado autoritário inglês que os segrega e as várias facções de resistência, me jogou diretamente dentro da situação hoje vivida na Palestina e no Libano.

 

               Com o agravante que lá não são imigrantes e sim a população nativa sendo esmagada por um estado autoritário que exige domínio total sobre esta população.

               Cineciência, projeto em andamento na sala Redenção, teve na ultima quarta-feira o ótimo filme ‘Filhos da Esperança’ e um excelente debate sobre a queda da fertilidade da humanidade nos tempos de hoje.

 

               O debate foi realmente de um nível muito alto, graças as competências das Dra. Norma e Dra. Adriana, serviu a todos nós de uma severa advertência sobre as causas de declínio da fertilidade no mundo moderno e os recursos disponíveis para preveni-la.

 

               Quanto ao filme, dispensa comentários é daqueles que toma por inteiro a atenção do público, uma forte denúncia contra o autoritarismo tanto governamental como da resistência, em um mundo extremamente dividido em facções e altamente poluído.   

 

               Só lendo os dois parágrafos anteriores já é possível visualizar o desencontro entre os dois eventos, ótimos cada qual, porém a única motivação para o tema da fertilidade no debate é o plano de fundo do filme, onde todo o filme acontece em um mundo onde a 18 anos não ocorria nenhum nascimento.

 

               Em nenhum momento o filme se propõe a discutir a questão fertilidade da humanidade, de fato só constata sua existência, toda a ação mostra uma sociedade poluída tanto ambiental como na solidariedade humana.

 

               Um debate sobre o mesmo deveria a princípio tratar do autoritarismo governamental contraposto por várias facções de resistência também autoritárias e a esperança de usar um possível nascimento como trunfo de poder e não de salvação.

 

               Muito do que nos mostrou o filme de 2008, narrando um acontecimento de 2026, mostra-se uma antevisão do que vemos hoje nos diversos campos de batalha como o oriente médio e a Ucrania.

 

               A miséria dos emigrantes em uma Londres em 2026, esmagados entre a violência do estado autoritário inglês que os segrega e as várias facções de resistência, me jogou diretamente dentro da situação hoje vivida na Palestina e no Libano.

 

               Com o agravante que lá não são imigrantes e sim a população nativa sendo esmagada por um estado autoritário que exige domínio total sobre esta população.

domingo, 13 de outubro de 2024

A Perfeição é uma Merd..., Ops Meta!

 

               Este refrão forte da canção de Gilberto Gil, em seu final nunca consegui ouvir como meta e sempre como merd..., algum problema psicológico por traz deste fato, talvez, mas sempre considerei a ideia de perfeição um injusto domínio da razão sobre os sentidos.

 

               Os sentidos, que hoje sabemos são muito mais do que cinco, quantidade que a humanidade ainda não tem condições de definir, são os que alimentam a razão como atividade extra além da principal que é possibilitar vida.

 

               Já a razão, super pressionada e influenciada por terceiros, é uma construção complicada e rebelde aos sentidos, se somos adeptos da vida por sua ação nefasta corremos o risco de deixar de vive-la.

 

                  Perfeito, por si só é uma farsa, quem o define, com que autoridade, como aplica-lo em tão diferentes experiências de vida senão como uma experiência autoritária de quem não tem este direito.

 

               Não nascemos iguais, não tropeçamos em circunstâncias similares, não temos nem mesmas mortes, ser humano significa uma construção feita com ajuda de todos os sentidos em reação aos múltiplos acasos.

 

               Temos aí um trabalho muito particular de cada um de nós, montar este quebra cabeça tão especial que é cada ser humano, buscando em si como maximizar cada momento da sua existência.

 

               Como racionais construímos esta dualidade entre o bem e o mal, no dia a dia não há bem que não contenha o mal, nem mal que não contenha o bem, somos multifacetados e não duais.

 

               Sempre que possível devemos fugir deste curral, que são conceitos imputados em cada um de nós com o propósito de delimitar nossos passos, assim nos tiram a força de interpretar cada um dos nossos sentidos, nos conduzindo mais para a morte do que para a vida.

 

               Interpretar os sentidos não é uma tarefa fácil, complicada ainda mais por um time de entendidos sempre dispostos a interferir na nossa vida, mas esta tarefa de grande isenção é tão somente ela que nos possibilita viver em plenitude.

sexta-feira, 11 de outubro de 2024

Tchekhov & Problemas Humanos.

 

               Uma noite especial, ontem foi o dia de revisitar a obra de Tchekhov com seu maravilhoso conto “Enfermaria número 6”, primeiro na cinemateca Capitólio, no festival de filmes Tcheco Eslovacos, já adivinharam que chegando em casa me debrucei sobre o livro que tinha na minha prateleira para mais uma vez reler o conto.

 

               Ver estes filmes da década de 60, feitos na Tcheco Eslováquia durante a primavera de praga, tem sido um privilégio para quem acompanhou de longe aqueles momentos, começo por parabenizar esta parceria importante entre a diplomacia destes países e a cinemateca Capitólio.

 

               Final do século XIX, início do século XX, foi um momento muito criativo na literatura mundial e entre tantos outros maravilhosos escritores da época Tchekhov tem um espaço muito especial na análise dos problemas humanos.

 

                Os poucos livros que guardo empilhados aqui em casa, para relê-los de tempos em tempos intercalados com os mais atuais, me gratificam em momentos como este da noite de ontem, por certo não dormi enquanto não terminei a leitura do conto.

 

                    Tanto a Capitólio, como a saudosa P.F. Gastal já tinham me oportunizado viver duas experiências similares, de somar a experiência especial da leitura com as imagens em movimento do filme.

 

               A primeira foi com Dostoiévski, no seu lindo livro, poesia pura, “Noites Brancas”, por sinal, ao ver o filme por sua qualidade em expressar o autor sentia como se tivesse lendo linha a linha o conteúdo do livro, o que por certo confirmei ao relê-lo ao chegar em casa.

 

               A segunda foi com Proust, o filme do livro “A Prisioneira”, um dos meus preferidos nos sete volumes do “Em busca do tempo perdido”, conseguiu colocar amplamente o ambiente psicológico-filosófico proposto pelo autor.

 

               A terceira foi esta de ontem á noite, onde os cinco protagonistas foram extremamente fiéis a narrativa do problema humano proposta por Tchekhov no entorno da questão dos cárceres em dos hospitais psiquiátricos.

 

               E o tema que está sempre por trás dos seus contos, a eterna busca por entender a grande questão, ainda não resolvida, do porquê da existência humana, tão bem caracterizada na exposição do dia a dia de pessoas comuns e que por isso são especiais.                

sexta-feira, 4 de outubro de 2024

A Paixão, Vocação Alimentada por Acasos.

 

               Quando na vida nos libertamos dos nossos medos, das nossas inseguranças, vivendo como homens livres, nossa alma vocacionada aproveita todos os acasos para construir alegrias, tristezas, angustias, desejos que compõe a Paixão.

 

               Não é a mesma um ato de vontade, não é fruto de um planejamento, simplesmente acontece e seus frutos não podem ser qualificados, são apenas o que são, envolvimento profundo com extremas manifestações da alma expostas por inteiro.

 

               O grande mestre Marcel Proust na sua obra prima em busca do tempo perdido, em dois dos seus sete volumes, A Prisioneira e A Fugitiva, que por sinal de tempos em tempos dedico-me a releitura, abre este leque gigante e maravilhoso da psicologia da paixão.

 

               Bem que gostaríamos de dizer que ela é uma sequência finita de momentos de doçura, de empatia e de felicidade, mas a conhecemos bem em seus múltiplos espectros com suas faces e humores.

 

               Por mais que tentemos contê-la cercada pelos frios fios da razão, ela nos escapa por todos os lados, ora por um nos tornando repleto de jubilo, ora por outro nos transformando em um poço de ansiedade.

 

               Que completude não seríamos se todos estes eu que ela cria em nós no tempo, se manifestasse em um mesmo momento, seriámos o próprio sorriso cercado por lagrimas, vivenciando contraditórias emoções.

 

               Sem ela somos devorados pelo tédio das receitas escritas por outros, com alma vazia autômatos criados por nós a nossa revelia.

 

               Que este jogo entre a sensibilidade e a racionalidade aconteça sim, não precisamos escolher vencedor e sim curtir as delicias da batalha.

 

               Não há nenhuma boa causa que possa justificar abrir mão da mesma, ela é muito mais que o bem e o mal, é um ser em plenitude.

 

               Em busca dos bons ares da paixão, libertemos nosso espirito dos preconceitos lá plantados, deixando corpo e alma disponível para que ela de nós tome posse.       

terça-feira, 1 de outubro de 2024

Mentimos Todos, Inclusive Você!

               Sem preocupação pois antes de ser uma sentença é uma simples constatação, sem ansiedade pois antes de ser um afronte a ética e/ou a moral é uma simples questão de sobrevivência, ou seja, um mecanismo de defesa a salvaguardar nossa existência.

 

               No ritmo do andar dos ponteiros que mede os segundos, vamos construindo a nossa mentira pessoal sobre todas as coisas, se mentimos para nós mesmos como não a propagarmos aos outros.

 

               Seu advento em nós, alheio a nossa vontade, deve-se a nossa profunda incapacidade de reconhecer a verdade, tanto a nossa como a absoluta (se existir uma), o que nos força a construí-la em forma de uma inocente mentira.  

 

               Caso, por algum fenômeno imponderável, decidíssemos romper este processo de construção minuciosa dessa intima mentira, que vamos lapidando no tempo transformando-a em um ato de fé, por certo a vida em nós pelo menos se paralisaria por falta de chão onde pisar.

 

               Somos de fato o artista de um único quadro, o da nossa vida, e colocamos todo nosso empenho nele, buscando os tons adequados das cores para exprimirem tudo o que construímos sobre nós mesmos.

 

               Muito mal a nós faríamos se conduzíssemos nossa vida pelo pensamento de terceiros, estes estão lá com as circunstâncias próprias deles, por certo diferentes das nossas, portanto para nós inadequadas.

 

               Então estamos falando de uma virtude, ser mentor de si mesmo, a aderência ao que chamamos de verdade é substituída por um ato de criação, que quando nosso principio e fim coexistirem em um mesmo tempo, será nossa obra completa plena de vida.

 

               Todas as referências em nosso entorno estão sujeitas aos seus particulares acasos, sendo sempre referencias do outro a serem respeitadas, nunca indicação para a completude de nosso viver.

 

               Benvindo ao mundo da constante criação do ser humano maravilhoso que somos ao somarmos nossas fraquezas com nossas fortalezas.